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[TÓPICO DEDICADO] Indique um vídeo no YouTube

PC-pilot

Old Member
Registrado
Tem tópico de músicas e tem de filmes mas não achei de vídeos no YT, resolvi criar um para o pessoal indicar vídeos interessantes.

Segue minha indicação:



 

Até.
 
 






 
“A arte é, como toda a atividade, um indício de força e energia.” [Álvaro de Campos]



“Partir! Nunca voltarei, nunca voltarei porque nunca se volta. O lugar a que se volta é sempre outro. A estação a que se volta é outra. Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.” [Álvaro de Campos]
 
 
 
Sou vidrado em esporte radical e boa fotografia. Então pra ter minha atenção é fácil, basta juntar essas duas artes. :megusta:

 




 
Última edição:

Até.
 
“Indefesa do Humano. De todos os seres, o humano é o mais necessitado: só tem vontades e desejos, um conjunto de centenas de necessidades. Abandonando a si próprio, vive na terra sem segurança nenhuma a não ser sua miséria. A luta pela vida, cada dia renovada, a necessidade que o constrange, e as imperiosas exigências materiais, preenchem a sua existência. Ao mesmo tempo, outro instinto o atormenta; o de perpetuar a sua raça. Ameaçado por todos os lados pelos perigos que o rodeiam, usa de sua prudência sempre vigilante para poder escapar. Com passo inquieto, lançando em volta olhares angustiosos, segue o seu caminho em luta constante com os casos e com seus inúmeros inimigos. O humano não se sente seguro entre os da sua raça e nem nos mais longínquos desertos. “Qualibus in tenebris vitae, quantisque periclis degitur hocc’aevi, quodcunque est!” [Lucr. 11, 15]” [Arthur Schopenhauer]



“Nós modernos temos, com relação aos gregos, a vantagem de dois conceitos que nos são dados como consolo para um mundo onde tudo conduz à escravidão e que, por isso, encara com pavor a palavra “escravo”: falamos da “dignidade do homem” e da “dignidade do trabalho”. Tudo se atormenta para perpetuar miseravelmente uma vida miserável; esse medonho esforço inevitável impõe o trabalho exaustivo que agora, seduzido pela vontade, o homem, ou melhor, o intelecto humano muitas vezes olha admirado como algo cheio de dignidade. Mas a fim de que o trabalho tenha direito a um título honrado, é preciso, antes de tudo, que a própria existência para a qual ele é apenas um meio de tormento tenha mais dignidade e valor do que vem mostrando até agora às filosofias e às religiões. No esforço inevitável do trabalho de milhões, o que podemos encontrar, além do impulso de existir a qualquer preço, o mesmo impulso todo-poderoso pelo qual as plantas atrofiadas espalham suas raízes sobre a rocha nua?!

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Dessa assustadora luta pela existência, só podem emergir os homens isolados que imediatamente voltam a se ocupar da cultura artística por meio de nobres quimeras, para que não caiam no pessimismo prático, esse que a natureza despreza como sendo a verdadeira anti-natureza. Confrontado com o grego, o mundo moderno cria em geral apenas aberrações e centauros. Do mesmo modo que a criatura fabulosa na entrada da Poética de Horácio, o homem isolado é formado de pedaços multicoloridos, e, com freqüência, nesse homem mostram-se ao mesmo tempo a ambição da luta pela existência e a da necessidade de arte: de tal fusão anti-natural resultou o esforço inevitável de desculpar e consagrar aquela primeira ambição antes da necessidade de arte. Por isso, acredita-se na “dignidade do homem” e na “dignidade do trabalho”.

[Os gregos não precisam dessas alucinações conceituais, entre eles se expressa com aterradora sinceridade que o trabalho é um ultraje — e uma sabedoria mais velada, que raramente vem à fala, mas que vive por toda parte, leva à conclusão de que as coisas humanas também são um nada ultrajante e lastimável e a “sombra de um sonho”(2). O trabalho é um ultraje porque a existência não tem valor em si mesma: mas ainda que essa existência brilhe com o adorno sedutor das ilusões artísticas, e então pareça realmente ter um valor em si mesma, ainda assim vale aquela frase segundo a qual o trabalho é um ultraje — no sentimento da impossibilidade de que, lutando pela mera sobrevivência, o homem possa ser um artista. Nos tempos modernos, não é o homem com necessidade de arte, mas sim o escravo quem determina as noções gerais: nas quais sua natureza tem que indicar com nomes enganosos todas as relações, para poder viver. Tais fantasmas, como a dignidade do homem e a dignidade do trabalho, são os produtos indigentes da escravidão que se esconde de si mesma. Tempo funesto, em que o escravo precisa de tais conceitos, em que é incitado para a reflexão sobre si e sobre aquilo que está além dele! Sedutor funesto, que aniquilou a situação de inocência do escravo com o fruto da árvore do conhecimento! Agora ele tem que se entreter dia após dia com tais mentiras transparentes, que todo bom observador reconhece na pretensa “igualdade para todos” e nos chamados “direitos do homem”, do homem como tal, ou na dignidade do trabalho. Ele não pode nem de longe compreender em que nível e em que altura é possível falar de “dignidade”, onde o indivíduo se ultrapassa totalmente e não precisa mais trabalhar nem depor a serviço de sua sobrevivência individual.

E mesmo neste ponto alto do “trabalho” os gregos experimentaram um sentimento semelhante à vergonha. Com instintos do grego antigo, Plutarco disse certa vez que nenhum jovem bem nascido, ao observar o Zeus em Pisa, terá a ambição de ser ele próprio um Fídias, ou de ser um Policleto ao ver a Hera em Argos: e tampouco desejará ser Anacreonte por deleitar-se com sua poesia. Para o grego, o conceito indigno de trabalho cabe tanto para a criação artística, quanto para qualquer artesanato banal. Mas quando a força urgente do impulso artístico faz efeito, ele precisa criar e sujeitar-se aquele esforço inevitável do trabalho. E assim como um pai admira a beleza e o talento de seu filho, embora pense com uma contrariedade envergonhada no ato da procriação, o mesmo acontecia no caso do grego. A admiração entusiasmada diante da beleza não chegou a cega-la com relação a seu devir — que parecia como tudo que devém na natureza, como uma necessidade violenta, como um impelir-se para a existência. O mesmo sentimento que leva o processo de procriação a ser considerado como algo a se ocultar com vergonha, embora o homem sirva nele a uma meta mais elevada do que a sua conservação individual. Esse mesmo sentimento também envolvia com um véu a gênese das grandes obras de arte, apesar de inaugurar-se através delas uma forma mais elevada de existência, do mesmo modo que uma nova geração se forma por meio do ato de procriação. A vergonha parece penetrar, com isso, no lugar onde o homem é apenas ferramenta de manifestações da vontade, infinitamente maiores do que ele pode estimar na configuração singular do indivíduo.

Agora temos o conceito geral que deve ordenar as sensações que os gregos tinham com relação ao trabalho e à escravidão: ambos valiam para eles como um ultraje inevitável, diante do qual sentiam vergonha, ao mesmo tempo um ultraje e uma inevitabilidade. Nesse sentimento de vergonha abriga-se o conhecimento inconsciente de que a própria meta necessitava daquelas condições, mas de que em tal necessidade reside o assustador e a ferocidade animal da natureza da Esfinge, que se estende na glorificação da vida cultural artisticamente livre, como um belo manto sobre o corpo de uma virgem. A formação, que constitui a principal e verdadeira necessidade da arte, repousa sobre um fundamento assustador: mas este se faz reconhecer na sensação crepuscular de vergonha. Para que haja um solo mais largo, profundo e fértil onde a arte se desenvolva, a imensa maioria tem que se submeter como escrava ao serviço de uma minoria, ultrapassando a medida de necessidades individuais e de esforços inevitáveis pela vida. É sobre suas despesas, por seu trabalho extra, que aquela classe privilegiada deve ver-se liberada da luta pela existência, para então gerar e satisfazer um novo mundo de necessidade.

A partir do que foi dito, temos de consentir em apresentar, como o eco de uma verdade cruel, o fato de que a escravidão pertence à essência de uma cultura: decerto, com essa verdade, não resta mais nenhuma dúvida sobre o valor absoluto da existência. Ela é o abutre que rói o fígado do pioneiro prometeico da cultura. A miséria dos homens que vivem penosamente ainda tem de ser aumentada para possibilitar, a um número limitado de homens olímpicos, a produção de um mundo artístico. Aqui está a fonte daquela raiva que os comunistas e socialistas, e os seus pálidos descendentes, a raça branca dos “liberais” de todos os tempos, nutriram contra as artes, como também contra a antigüidade clássica. Se a cultura fosse realmente do agrado de um povo, se aqui não governassem poderes inexoráveis, que são a lei e o limite do homem singular, então o desprezo pela cultura, a glorificação da pobreza de espírito e o aniquilamento iconoclasta das pretensões artísticas seriam mais do que uma insurreição das massas oprimidas contra homens singulares ameaçadores: seriam o grito da compaixão, que contornaria os muros da cultura. O impulso para a justiça e para a igualdade do sofrimento faria submergir todas as outras noções. Realmente, um grau excessivo de compaixão rompe aqui e ali todos os diques da vida cultural; um arco-íris do amor compassivo e da paz apareceu com os primeiros raios de luz da Cristandade, e embaixo dele nasceu seu mais belo fruto, o Evangelho de João. Mas também há exemplos de que religiões poderosas petrificam por longos períodos um determinado nível cultural, podando com foice implacável tudo aquilo que ainda quer crescer com força. Não se deve esquecer do seguinte: a mesma crueldade que encontramos na essência de toda cultura também está na essência de toda religião poderosa, e principalmente na natureza do poder, que é sempre má; assim, entendemos igualmente que uma cultura destrua a fortaleza elevada dos direitos religiosos, com seu grito de liberdade ou, no mínimo, em nome da justiça. Aquilo que quer viver nesta constelação assustadora das coisas, ou seja, aquilo que precisa viver é, no fundo de sua essência, imagem da dor original e da contradição original, precisando vir aos nossos olhos, órgãos de medida do mundo e da terra, como ambição incessante da existência e como eterna contradição de si própria na forma do tempo, e portanto do devir. Cada instante devora o precedente, cada nascimento é a morte de incontáveis seres, gerar, viver e morrer são uma unidade. Por isso, podemos comparar até mesmo a cultura magnífica com um vencedor manchado de sangue, que em seu desfile triunfal arrasta os vencidos como escravos, amarrados a seu carro: e eles, a quem um poder benfeitor deixou cegos, continuam gritando, quase esmagados pelas rodas do carro: “dignidade do trabalho!”, “Dignidade do homem!” A exuberante cultura-Cleópatra sempre joga pérolas de valor incalculável em seu cálice de ouro: essas pérolas são as lágrimas da compaixão para com os escravos e a miséria dos escravos. Do amolecimento do homem moderno nasceram as monstruosas calamidades sociais do presente, e não da verdadeira e profunda misericórdia com relação àquela miséria; e se chegasse a ser verdade que os gregos sucumbiram por causa da escravidão, é muito mais certo que nós sucumbiremos por causa da falta de escravidão: nem para os primeiros cristãos, nem para os germânicos, essa escravidão parecia ser indecente, quanto mais censurável. Que efeito sublime tem sobre nós a contemplação dos servos medievais, com as relações interiormente fortes e delicadas entre eles aquele que pertencia a uma ordem mais alta, com o cerco profundo de sua existência — que sublime — mas tão cheio de censuras!

Quem não pode refletir sem melancolia sobre a configuração da realidade, quem aprendeu a compreende-la como sendo o nascimento contínuo e doloroso daquele homem cultural emancipado em cujo serviço todo o resto tem de consumir-se, também não será mais enganado pelo brilho mentiroso que os modernos estendem sobre a origem e o significado do estado. O que mais o estado pode significar para nós, senão o meio com o qual o processo social descrito anteriormente é levado adiante, sendo garantida sua duração sem entraves. O impulso para a sociabilidade ainda pode ser muito forte nos homens isolados, mas a mola de ferro do estado oprime tanto as massas mais numerosas que agora aquela separação química da sociedade precisa ser produzida, acompanhando sua nova construção piramidal. De onde surge, porém, este poder súbito do estado, cuja meta está além do exame e além do egoísmo do homem singular? Como se gerou o escravo, a toupeira cega da cultura? Em seu instinto de direito popular, os gregos o denunciaram, e mesmo no apogeu de sua civilização e de sua humanidade, jamais deixaram de pronunciar palavras como: “O vencido pertence ao vencedor, com mulher e filho, com bens e sangue. É a violência que dá o primeiro direito, e não há nenhum direito que não seja em seu fundamento arrogância, usurpação, ato de violência”.

Aqui vemos novamente a rigidez sem compaixão com que a natureza, para chegar à sociedade, forjou a ferramenta cruel do estado — aquele conquistador com mão de ferro, que nada mais é do que a objetivação do instinto mencionado. Quem considera a grandeza e poder indefiníveis desse conquistador nota que se trata apenas de meios para uma intenção, que se evidencia neles, mas também se oculta. Como se uma vontade mágica emanasse deles, as forças mais fracas aderem-se velozmente, de modo enigmático, e é miraculosa a sua transformação em uma afinidade que até então não existia, na presença daquela avalanche de violência que de repente ganha volume, e sob o encanto daquele núcleo criador.

A monstruosa inevitabilidade do estado, sem o qual a natureza não conseguiria se redimir pela sociedade, no brilho e no espelho do gênio, exprime-se quando vemos como os que foram submetidos pouco se preocupam com a origem assustadora do estado, tanto que não há no fundo nenhum acontecimento que a historiografia ensine de maneira pior do que a realização daquelas usurpações súbitas, violentas e, pelo menos em um ponto, não esclarecidas. Exprime-se quando os corações se contrapõem involuntariamente frente à mágica do estado em geração, com o pressentimento de uma intenção de fundo invisível, no lugar onde o entendimento calculador só é capaz de ver uma adição de forças; e por fim, quando se considera ardentemente o estado como meta e cume de sacrifícios e deveres do homem singular. Que conhecimentos o prazer instintivo do estado não supera! Mas deveríamos pensar que voltar os olhos para o surgimento do estado seria procurar sua salvação a uma distância enorme. E onde não se podem ver os monumentos de seu surgimento, terras devastadas, cidades destruídas, homens que voltaram a ser selvagens, ódio ardente entre povos?! O estado, de nascimento infame, é uma fonte contínua e fluida de fadiga para a maioria dos homens, em períodos que retornam constantemente, o archote devorador da espécie humana — e no entanto um som nos faz esquecer de nós mesmos, um grito de guerra que entusiasmou incontáveis feitos heróicos verdadeiros, talvez o objeto mais elevado e digno para a massa cega e egoísta, que só nos momentos mais monstruosos da vida do estado tem a estranha expressão da grandeza em sua face!

No que concerne à altura solar da sua arte, temos que definir os gregos a priori como “os homens políticos em si”; e realmente a história não conhece nenhum outro exemplo de um desencadeamento tão medonho do impulso político, de um sacrifício tão incondicional de todos os outros interesses a serviço desse instinto de estado — no máximo, poderiam ser indicados com o mesmo título os homens do Renascimento italiano, para uma comparação ou por motivos semelhantes. Entre os gregos, esse impulso é tão carregado que sempre volta a se enfurecer contra si mesmo e a fincar os dentes na própria carne. Essa rivalidade sangrenta de uma cidade contra a outra, de uma facção contra a outra, essa cobiça mortífera das pequenas guerras, o triunfo de tigre sobre o cadáver do inimigo abatido, em poucas palavras a renovação ininterrupta daquelas cenas de batalha e horror em Tróia, em cuja contemplação vemos Homero mergulhar cheio de entusiasmo, como autêntico heleno — em que sentido interpretar tal barbárie inocente do estado grego? De onde ele retira sua desculpa diante da cadeira do juiz do direito eterno? Orgulhoso e quieto, o estado avança: quem o conduz pela mão é a magnífica mulher que floresce, a sociedade grega. Por essa Helena, ele fez aquela guerra — que juiz de barba grisalha poderia condena-lo? —

No meio dessa misteriosa conexão que pressentimos entre o estado e a arte, cobiça política e geração artística, campo de batalha e obra de arte, entendemos por estado, como já foi dito, a mola de ferro que impele o processo social. Sem estado, no natural bellum omnium contra omnes,(3) a sociedade não pode de modo algum lançar raízes em uma escala maior e a’lem do âmbito familiar. Agora, após a formação do estado por toda parte, o impulso do bellum omnium contra omnes, de tempos em tempos, concentra-se em terríveis nuvens de guerra dos povos, descarregando-se como que em trovões e relâmpagos mais raros, mas também muito mais fortes. Nos intervalos, contudo, sobra tempo para a sociedade germinar e verdejar, sob o efeito daquele bellum concentrado e dirigido para dentro, a fim de deixar a flor luminosa do gênio brotar assim que surjam alguns dias mais quentes.

Tendo em vista o mundo político dos helenos, não quero ocultar em quais manifestações do presente acredito reconhecer perturbações perigosas da esfera política, tão críticas para a arte quanto para a sociedade. Se deve haver homens que, por nascimento, situam-se fora dos instintos do povo e do estado, deixando o estado prevalecer somente quando o tomam em seu próprio interesse: tais homens inevitavelmente haverão de imaginar como meta última do estado a mais imperturbável vida em conjunto de grandes comunidades políticas, nas quais seria permitido que eles perseguissem antes de tudo as próprias intenções, sem limites. Com essas noções na cabeça, irão fomentar a política que oferece a tais intenções a maior segurança, enquanto é impensável que devam se sacrificar como que conduzidos por um instinto inconsciente, à tendência estatal, impensável justamente porque carecem daquele instinto. Todos os outros cidadãos do estado permanecerão às escuras, seguindo cegamente aquilo que a natureza intenta através deles com seu instinto estatal; só os que estão de fora deste instinto sabem o que eles querem do estado e o que o estado deve conceder-lhes. Por isso não há como impedir que tais homens adquiram uma grande influência sobre o estado, porque eles o consideram como meio, enquanto todos os outros, sob o poder daquelas intenções inconscientes do próprio estado, é que são apenas meios para as finalidades do estado. E agora, para alcançar as mais elevadas exigências de suas metas egoístas pelos meios estatais, antes de tudo o estado deve libertar-se completamente daquelas contrações terríveis e irregulares da guerra, de modo a ser usado racionalmente; e, nessa situação, a guerra é uma impossibilidade. Aqui convém, primeiro, podar e abrandar o máximo possível os impulsos políticos particulares e, pela fabricação de grandes corpos estatais equilibrados e das garantias mútuas de segurança entre eles, tornar altamente improvável o êxito de uma guerra de ofensiva, e com isso da guerra em geral. É assim que procuram arrancar de qualquer detentor isolado do poder as questões da decisão de guerra e paz, sobretudo para que possam apelar ao egoísmo das massas ou de seus representantes: para tanto têm de apagar lentamente os instintos monárquicos dos povos. Aproximam-se desse fim pela expansão generalizada da concepção de mundo liberal e otimista, que tem suas raízes nas doutrinas do Iluminismo e da Revolução Francesa, isto é, em uma filosofia totalmente não-germânica, não-metafísica, autenticamente superficial e românica. No movimento nacionalista dominante hoje em dia e na expansão do direito de voto universal, não posso deixar de ver antes de tudo os efeitos do medo da guerra, sim, e enxergo no fundo desse movimento que quem propriamente tem medo são aqueles eremitas monetários, internacionalistas, despatriados, que, por sua falta natural do instinto estatal, aprenderam a utilizar abusivamente a política e os estado e a sociedade como aparatos de seu próprio enriquecimento, por meio da bolsa. Contra o desvio da tendência estatal para a tendência monetária, a ser temido deste ponto de vista, o único antídoto é a guerra e sempre a guerra: em cuja agitação fica muito claro, pelo menos, que o estado não se fundamenta no medo do demônio da guerra, como instituição protetora dos homens egoístas, mas que no amor à terra natal e ao príncipe produz-se um ímpeto ético, que aponta uma determinação muito mais elevada. Assim, quando indico, como característica perigosa da política presente, uma mudança dos pensamentos revolucionários a serviço de uma aristocracia monetária egoísta e desestatizada, quando, do mesmo modo, compreende a monstruosa expansão do otimismo liberal como resultado da economia monetária moderna, caída em mãos que lhe são estranhas, e vejo todos os males da situação social, incluindo a decadência necessária da arte, ou nascerem daquela raiz ou crescerem junto com ela num emaranhado: terei que entoar oportunamente um canto de louvor à guerra. Atemorizante, seu arco de prata ressoa: e cai como a noite, é Apolo, o deus que consagra e purifica o estado. Mas primeiro, como diz o começo da Ilíada, ele atira a flecha nos animais de carga e nos cães(4). E só então de encontro aos próprios homens, e por toda parte os cadáveres ardem sobre fogueiras. Que seja dito então: a guerra é uma necessidade para o estado, tanto quanto o escravo é para a sociedade. E quem gostaria de se privar desses conhecimentos, se perguntassem honestamente pelos fundamentos da perfeição inigualável da arte grega?

Quem considera a guerra e sua uniforme possibilidade, a condição de soldado, com relação à essência do estado descrita até aqui, deve concluir que, pela guerra e na condição de soldado, uma imagem é colocada diante de nossos olhos, talvez o modelo original do estado. Aqui vemos, como efeito geral da tendência guerreira, uma separação e uma divisão imediata da massa caótica em castas militares, pela qual a construção da “sociedade guerreira” se ergue em forma de pirâmide, sobre uma vasta camada inferior dos escravos. A finalidade inconsciente do movimento como um todo põe sob seu jugo cada homem singular, provocando uma espécie de transformação química nas particularidades de naturezas heterogêneas, até que alcancem uma afinidade com suas finalidades. Nas castas superiores nota-se um pouco melhor o que está em jogo, no fundo, nesse processo: a geração do gênio militar — que conhecemos como o fundador original do estado. Em alguns estados, por exemplo na Constituição Espartana de Licurgo, pode-se distinguir claramente o molde daquela idéia fundamental do estado, a geração do gênio militar. Imaginemos agora o estado militar original em viva atividade, em seu “trabalho” próprio, e levemos toda a técnica da guerra para diante de nossos olhos. Não podemos evitar de corrigir nosso conceito, espalhado por toda parte, da “dignidade do homem” e “dignidade do trabalho”, perguntando-nos se o conceito de dignidade também serve para o trabalho que tem como finalidade o aniquilamento de homens “dignos”, se serve também para os homens a quem esse “trabalho digno” é confiado, ou se nessa tarefa guerreira do estado tais conceitos não se anulam mutuamente, como coisas contraditórias entre si. Eu teria de pensar que o homem guerreiro é um meio para o gênio militar, e que seu trabalho também é apenas um meio para o mesmo gênio; não é como homem em sentido absoluto e como não-gênio que lhe cabe um grau de dignidade, mas ele como meio para o gênio — que também pode admirar seu aniquilamento como meio para a obra de arte guerreira, — aquela dignidade, nesse caso, de ser dignificado como meio para o gênio. Mas o que se mostra aqui em um único exemplo vale do sentido mais geral: cada homem, como conjunto de seus atos, tem dignidade à medida que é instrumento do gênio, de modo consciente ou inconsciente; a conseqüência ética que se conclui imediatamente daí é que o “homem em si”, o homem em sentido absoluto não possui nem dignidade, nem direito, nem deveres: o homem só pode justificar sua existência como a de um ser totalmente determinado, servindo a finalidades inconscientes.

Segundo essas considerações, o Estado perfeito de Platão é certamente algo maior do que pode acreditar mesmo o seu adorador de sangue mais quente, sem falar na expressão risonha de superioridade, com a qual nossos eruditos “historiográficos” sabem rejeitar tal fruto da antiguidade. Aqui, uma intenção poética inventa e pinta com rudeza a meta própria do estado, a existência olímpica e a geração e preparação sempre renovadas do gênio, diante de que tudo mais não passa de instrumento, auxílio e condição de possibilidade. Platão olhou atrás e os pilares de Hermes, terrivelmente devastados na vida do estado em sua época, e percebeu ainda algo de divino em seu interior. Acreditou que era possível extrair esta imagem divina, e que o lado exterior, furioso e barbaramente desfigurado, não pertencia à essência do estado: todo o ardor e a elevação de sua paixão política se lançam sobre esta crença, sobre este desejo — ele se consome nessa brasa. Que ele não tenha colocado o gênio em seu conceito geral no cume de seu estado perfeito, mas apenas o gênio da sabedoria e do saber, que ele tenha excluído por completo o seu estado os artistas geniais, isso foi uma conseqüência intransigente do julgamento socrático sobre a arte, que Platão tinha feito seu, uma batalha consigo mesmo. Essa lacuna mais exterior e quase acidental não deve nos impedir de reconhecer, do conjunto da concepção do estado platônico, o hieróglifo imenso de um ensinamento secreto da conexão entre estado e gênio, que permanecerá sendo eternamente o que se deve interpretar em sua profundidade: o que pretendemos ter adivinhado de tal escrito secreto ficou dito neste prefácio.”
[“O Estado grego”, Friedrich Nietzsche]​

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“A Felicidade é um Sonho. Sentimos a dor, mas não a ausência da dor; sentimos a inquietação mas não a ausência; o temor, mas não a tranquilidade. Sentimos o desejo e a aspiração, como sentimos a sede e a fome; mas, apenas satisfeitos, se acabam, como o bocado que, uma vez engolido, já não existe para o nosso paladar. Enquanto possuamos os três maiores bens da vida, saúde, mocidade e liberdade, não temos consciência deles, e só com a perda deles é que os apreciamos, porque são bens negativos. Somente os dias de tristeza é que nos fazem recordar as horas felizes da vida passada. À medida que os prazeres aumentam, nossa sensibilidade diminui; o hábito já não é um prazer. As horas passam lentamente quando estamos tristes; correm rapidamente quando são agradáveis; porque a dor é positiva e faz sentir sua presença. O aborrecimento nos dá a noção do tempo e a distração nos faz esquecer. Isto prova que a nossa existência é mais feliz quando menos a sentimos: de onde se deduz que mais feliz seríamos se nos livrássemos dela. Uma grande alegria, assim não a julgaríamos se ela não viesse atrás de uma grande dor. Não podemos atingir um estado de alegria serena e duradoura. Esta é a razão porque os poetas são obrigados a rodear seus protagonistas de tristes ou perigosas circunstâncias, para no fim os livrar delas. No drama e na poesia épica, o herói sofre mil torturas: nos romances os heróis lutam pondo em relevo os tormentos do coração humano. “A felicidade não passa de um sonho – dizia Voltaire, tão favorecido pelo destino? – a única realidade é a dor”. E acrescenta: “Há oitenta anos que a experimento e nada faço senão resignar-me e dizer a mim mesmo que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas, e os homens para serem devorados pelos desgostos”.” [Arthur Schopenhauer]
 
 

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