Questão de soberania

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Jornal do Brasil - 18 de novembro de 2007

Gilberto Amaral


Investidos da autoridade de ex-presidente da República, os senadores José Sarney e Fernando Collor de Melo têm usado a tribuna do Senado para chamar a atenção das autoridades competentes para o estado de penúria a que estão relegadas as nossas Forças Armadas, mormente no contexto político vivido atualmente pela América Latina e, em particular, por nossos vizinhos da América do Sul.

Não constitui segredo as aspirações hegemônicas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, inquieto por “exportar” sua doutrina bolivariana para as nações vizinhas, e implantar no Continente o tal “socialismo do século XXI”, que a ninguém foi dado conhecer o teor de tal ideologia.

Por razões históricas, de nossa própria formação, o Brasil está imerso em realidade distinta de nossos vizinhos da América do Sul e da própria América Latina. Temos uma língua diferente, manifestações culturais com características próprias, dimensão e economia que se distinguem de nosso entorno. Essas características nos dão, em princípio, uma enorme desvantagem em termos de convivência e integração com os países que nos cercam.

Tanto o senador Sarney como Collor enxergam nestas diversidades uma necessidade crescente de busca de boa convivência, dentro do princípio de que é na diferença que devemos buscar a interação pela complementariedade. Entretanto, o fator Chávez nos vem tirando da vanguarda do processo de integração, por questões conjunturais ou por tibieza.

Não se pode negar nem desconhecer que germina no entorno de nossas fronteiras uma grave situação política, e que há sinais evidentes de crises potencialmente danosas aos interesses brasileiros. Nossa política externa não pode assistir sem reagir, como exigem as circunstâncias, à manipulada disseminação de sentimentos anti-brasileiros.

Reconheça-se, porém, que a política externa de um país não está dissociada de outros fatores, entre os quais desponta o seu poderio militar. Se um arco de instabilidade cerca o país, não podemos deixar de estar preparados, tanto no âmbito diplomático, como de defesa, para enfrentar esses problemas, cumulativos e simultâneos. Há que assumir, realisticamente, a existência de problemas e antecipar soluções, através de políticas de Estado e não de reações tópicas e desconexas.

O Itamaraty e as Forças Armadas são instituições que tradicionalmente têm preparado seus quadros com racionalidade. Mas há também que reconhecer-se que as Forças Armadas sofrem com a falta de motivação e respeito aos seus valores básicos. Sem a adoção de posição belicista, preocupa a ineficácia de nossa defesa antiaérea, a precariedade da defesa naval e a crítica situação dos estoques de munição. É preciso refletir sobre a fragilidade de nossos heróicos pelotões de fronteira e sobre o sucateamento da indústria bélica nacional. São itens básicos para a manutenção da soberania da Nação.


Algumas outras matérias interessantes sobre o assunto:

Jornal do Brasil - 15 de julho de 2007
Editorial - Brasil Corre Para Reduzir Prejuízo


Antes tarde do que nunca. A decisão de dar prioridade às verbas de reaparelhamento das Forças Armadas dentro do que prevê o orçamento federal deve ser elogiada. Chega muito tarde diante da vantagem, em termos de (des)equilíbrio regional, representada pela corrida armamentista empreendida na Venezuela. É um alento, mas não será suficiente.

O próprio vice-presidente da República já reconheceu tanto que esse investimento deveria ser de 2,5% do PIB quanto que o valor acenado é muito inferior ao necessário.

A determinação do ministro Waldir Pires aos seus comandados demonstra o quanto o país perdeu em uma gestão trôpega e vacilante como seu papel à frente do apagão aéreo. A projeção da necessidade de armamento demanda prazos muito maiores e um planejamento estratégico de décadas.

É preciso casar exatamente a necessidade com o recurso, de forma a otimizar o segundo deprimindo a primeira. Pedir às três forças que apresentem um plano de reaparelhamento, a essa altura, significa empurrar a decisão ainda mais para longe.

Atrasos assim podem custar muito. O Brasil pretende gastar no projeto do submarino nuclear acalentado há anos pela Marinha em Iperó, São Paulo. Infelizmente, quando a belonave se tornar operacional, estará em inferioridade numérica flagrante em relação aos submarinos que Hugo Chávez planeja comprar da Rússia.

Equipados provavelmente com torpedos e mísseis iranianos, seriam a extensão real da influência de Teerã às cercanias dos Estados Unidos. De que forma estaríamos protegidos?

Se debaixo da água a questão é a longo prazo, no céu, a situação é triste. Como reconhece o comando da Aeronáutica, além da Venezuela, o Chile e até o Peru nos superam em poderio. Os militares não se queixam, preferem dizer que é possível compensar a defasagem se houver capacidade de formação humana de alto nível.

No fundo, no fundo, lamentam a decisão do presidente Lula de anular a licitação internacional, iniciada antes que o PT assumisse o poder - na visão do presidente Lula, antes da criação do mundo - de aquisição de caças de interceptação, o Projeto FX.

Os Sukhoi russos hoje com Chávez eram os preferidos dos Jaguares (caçadores) da FAB. O pacote incluia ainda os radares de longo alcance - marcam o alvo sem que este se dê conta - sem falar num jato que vai de Anápolis à Guiana e volta sem reabastecer. No pacote de Pires, o Projeto FX é retomado, mas o tempo perdido não será recuperado.

É estranha também a "prioridade" no desenvolvimento de mísseis terra-ar, ar-ar e outros. O ministro não sabe, mas o Brasil já tem projetos no qual a "inteligência" é acoplada externamente, reduzindo custos, mas mantendo a eficiência.

Em terra, o ministério da Defesa elegeu a modernização dos blindados como opção, trocando lagartas por rodas. O foco é a luta na Amazônia, mas a obsolescência marca esses veículos, cuja blindagem é cenográfica quando até traficantes do Rio têm munição que as perfura. Podem servir para retiradas mais seguras.

A iniciativa brasileira tem um motivo. Corríamos o risco de ficar atrás até da Argentina, cuja penúria nesse setor é ainda mais gritante. A força aérea portenha só teria, hoje, 20 caças operacionais, seus navios usam munição da Segunda Guerra para treinar e o Exército pensa antes em comprar caminhões de transporte do que em ter tanques.

Como lá o ministério da Defesa é outro, a reação foi mais rápida: numa canetada, o presidente Néstor Kirchner comprou helicópteros pesados dos EUA e repôs toda a frota naval em serviço. Para o governo brasileiro, a dor de cotovelo falou mais alto.
Correio Braziliense - 24 de setembro de 2007
Defesa Nacional
Com As Asas No Chão

Leonel Rocha
Da Equipe do Correio

Crise aérea trouxe à tona um problema enfrentado há anos pela Aeronáutica: a frota envelhecida. Apenas 37% dos aviões estão disponíveis para ações de defesa. E oito em cada 10 aeronaves têm mais de 17 anos de uso

A Força Aérea Brasileira é um pássaro de vôo baixo. O problema é antigo. Mas agora, com o envolvimento da Aeronáutica na crise da aviação civil, descobriu-se que a velha FAB também tem olhos frágeis e muita dependência.

Responsável pelos quatro Cindactas, os Centros Integrados de Defesa e Controle do Tráfego Aéreo, a força foi atingida pelos estilhaços das duas maiores tragédias da aviação civil brasileira: a queda do Boeing da Gol, em setembro do ano passado, no Mato Grosso, causando a morte de 174 passageiros; e a explosão do avião da TAM, em 17 de julho último, no aeroporto de Congonhas, quando morreram 199 pessoas.

Os dois acidentes ocorreram no mesmo período em que sargentos controladores de vôo se rebelaram. Eles denunciaram excesso de trabalho, baixos salários e falhas nos equipamentos dos centros de controle do tráfego aéreo e militar mantidos pela Aeronáutica.

O comandante da Força, Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, foi várias vezes ao Congresso depor em duas comissões parlamentares de inquérito que investigam o caos aéreo no país.

Ele sempre apontou o histórico baixo orçamento para justificar a ineficiência no controle do tráfego que ainda hoje alimenta uma crise política que envolve a Infraero, a estatal que cuida dos aeroportos, e a Agência Nacional de Aviação Civil.

Saito passou a ser depoente freqüente nas audiências do Legislativo. Em uma delas, entregou documento secreto onde confessa, além dos problemas no sistema de controle da aviação civil, o baixo poder de fogo da FAB.

Relatório secreto da Aeronáutica, apresentado há duas semanas na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso e obtido pelo Correio, traça um cenário assustador.

O capítulo sobre as Conseqüências do não atendimento das necessidades orçamentárias faz um alerta: “O não atendimento das reais necessidades impacta nas metas a serem alcançadas no período, condenando a Força Aérea Brasileira a permanecer no atual estado de obsolescência de seus equipamentos e precário emprego operacional como força de defesa dos valores nacionais”.

Penúria da frota

A situação da frota é de penúria. Das pouco mais de 700 aeronaves, menos de 500 podem ser utilizadas. Dessas, somente 263 estão disponíveis para a defesa aérea. Uma quantidade próxima de aviões velhos está nos hangares em manutenção.
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Segundo a própria força, a constrangedora disponibilidade de 37% dos aviões está longe da meta mínima que é um pouco mais da metade para ter capacidade de defender o território.

Mais de 200 aviões de combate e de reconhecimento, helicópteros de transporte (o Brasil não tem os de ataque) e aeronaves radar estão nos parques de material aeronáutico e tão cedo não sairão do hangar porque dependem de verdadeiras reconstruções.

Só três projetos — o do A-29, nome técnico do Supertucano fabricado pela Embraer; o F-2000, o usado comprado da França; e o R-99, um moderno avião radar de reconhecimento — estão com a utilização um pouco acima da média, segundo o documento produzido pela Aeronáutica.

São equipamentos que estão dentro do prazo de garantia e, se não receberem manutenção exigida pelo fabricante, a Aeronáutica não poderá reclamar defeitos. Depois do prazo, cairá na vala comum da manutenção.

O relatório da força revela que, além de poucas, as asas da FAB são antigas. Oito em cada 10 aeronaves têm mais de 15 anos de operação. “Os custos para a manutenção de uma frota cada vez mais envelhecida são significativos”, diz o documento. E alerta o Congresso Nacional para a gravidade de um orçamento abaixo das necessidades mínimas da força, que tem a maior interface de prestação de serviços com a população civil.

O trabalho elaborado pela FAB traz revelações que preocupam os especialistas em defesa nacional. Ele faz um ranking do poder aéreo na América Latina. E a posição do Brasil não é boa. O país não tem, segundo o documento, mísseis de médio alcance (ar-ar) e ar-superfície, helicópteros de ataque ou bombas inteligentes.

Todas essas armas são comuns nas forças do Peru, Venezuela e Chile, esse último considerado o país com maior poder militar da América Latina (veja ilustração). De acordo com o relatório da FAB apresentado aos congressistas, os venezuelanos são a maior potência no item “defesa aérea” na região.

No ranking geral, o Brasil manteve a primeira posição com certa folga na América Latina. Não em conseqüência de maiores investimentos nas Forças Armadas, mas pelo tamanho do aparato militar, pela maior quantidade de caças, blindados, navios e efetivos, embora muitos deles próximos à obsolescência.

O governo brasileiro anunciou a compra de 12 caças Mirage 2000C usados, que serão incorporados até o próximo ano. Adquiriu também nove F-5E/F da Arábia Saudita e seis helicópteros UH-60L Black Hawk americanos, também usados. Mas nenhum desses equipamentos torna-se eficiente no chão. A única força cujo patrono é o civil Alberto Santos Dumont, o inventor do avião, está no chão.

"O não atendimento das reais necessidades impacta nas metas a serem alcançadas no período, condenando a Força Aérea Brasileira a permanecer no atual estado de obsolescência de seus equipamentos e precário emprego operacional como força de defesa dos valores nacionais"

Correio Braziliense - 24 de setembro de 2007
Defesa Nacional - Pobres e Desarmadas

Leonel Rocha
Da Equipe do Correio


Exército, Marinha e Aeronáutica enfrentam um grande desafio neste século 21: se o país mantiver atual modelo, com efetivo numeroso e pouco investimento tecnológico, a máquina de guerra brasileira entrará em colapso.

Nas próximas semanas, o Congresso Nacional vai votar a lei do Orçamento Geral da União. E nela o dinheiro que o governo poderá gastar com as Forças Armadas em 2008. O Legislativo dirá que tipo de política deseja para a defesa nacional. Se mantiver o atual modelo, o país gastará mais de 80% dos R$ 44,3 bilhões de orçamento total previsto com pessoal e encargos. Os congressistas poderão, entretanto, reduzir o efetivo e redirecionar os recursos para a modernização da tecnologia de defesa.

O orçamento ideal somente para custeio, modernização e reaparelhamento da atual máquina de guerra brasileira, proposto pelos comandantes, era de R$ 14,6 bilhões. Mas o projeto de lei orçamentária encaminhada pelo governo resultou num corte de quase 50% (veja quadro). “Não temos as Forças Armadas à altura do que representa o Brasil no mundo”, observa o coronel da reserva do Exército, Geraldo Cavangnari, professor do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas (Unicamp).

No atual modelo, que conta com grande efetivo de pessoal e pouca atuação interligada entre as forças, o poder de fogo e de dissuasão da defesa nacional é baixo. A Força Aérea Brasileira (FAB), por exemplo, só tem capacidade para colocar em operação, hoje, 37% do seu poderio bélico. Com o agravante de que 80% dos aviões de caça e de reconhecimento, radares e outras armas antes sofisticadas têm mais de 15 anos de uso. No caso da Marinha, dos 21 navios de combate, apenas 10 estão em operação. E somente dois dos cinco submarinos podem estar de prontidão. Todos os equipamentos da esquadra brasileira, que é a espinha dorsal do poder naval, operam com restrições. No Exército, a maior e mais sucateada das Forças Armadas, os cinco grupos e nove baterias antiaéreas do país só têm condições de abater caças inimigos no velho estilo manual sem mira ou disparadores eletrônicos, emperrados por falta de peças do computador instalado.

Professor da National Security Alfairs, no Centro Hemisférico de Estudos de Defesa da Universidade dos Estados Unidos, o capitão de mar-e-guerra reformado Salvador Raza calcula a necessidade de orçamento para a estrutura militar brasileira: R$ 73,5 bilhões. Quase 67% a mais do que a proposta financeira encaminhada pelo governo Lula. Raza é coordenador do curso de Relações Internacionais da Facamp, em Campinas. Ele sugere a redução drástica no efetivo fardado, com a realocação dos recursos da folha de pagamento para a formação intelectual da tropa e em modernização tecnológica. E alerta: qualquer aumento no orçamento só deve ser feito depois da definição, pelo Congresso, do novo modelo de defesa nacional.

Critérios

Raza sugere que, para definir a remodelagem das Forças Armadas, o Congresso deve exigir respostas a elaborar quatro perguntas aos comandantes: 1) que capacidades de armamento o orçamento militar está comprando hoje; 2) como assegurar a qualidade de formação com o gasto de pessoal, evitando que se mantenha como a principal despesa; 3) quais mecanismos de eficácia o Congresso pode assegurar para a gestão militar; e 4) quais as macro-premissas do novo modelo e as condições de atualização permanente. “O país vem jogando dinheiro fora com o atual modelo e está montando uma bomba que poderá explodir em 10 anos, quando estaremos ainda mais obsoletos”, alerta o oficial da reserva.

Especialista de renome internacional, Raza foi convidado no ano passado para, junto com outros 60 experts de reputação mundial, discutir a elaboração do modelo tecnológico e de economia de defesa das forças armadas indianas e a integração com os militares chineses. “O nosso modelo é obsoleto, com duas gerações atrás até dos nossos vizinhos da América do Sul”, destaca.

Levantamento feito pela organização não-governamental Contas Abertas, que faz análises dos orçamentos públicos, mostra que os programas mais estratégicos para cada uma das forças não são inteiramente executados pelo governo Lula. O Calha Norte, por exemplo, que tem participação das três armas na proteção de faixa de fronteira de 100km no extremo Norte do Brasil, teve apenas 6,7% de todo o orçamento proposto — de R$ 191,5 milhões — executado no ano passado. Nos primeiros oito meses deste ano, pouco mais de meio por cento dos recursos do Calha Norte foram liberados pelo Ministério do Planejamento. O Proantar, o programa antártico que a Marinha brasileira desenvolve, recebeu R$ 12,9 milhões. É pouco mais da metade do previsto na lei orçamentária.

A liberação de apenas 21,7% do Programa Desenvolvimento de Infra-estrutura Aeroportuária explica, em parte, a crise aérea. Outro ponto vulnerável na defesa, apesar do esforço dos militares, é a Amazônia. Em caso de invasão da região, hipótese hoje considerada absurda apesar de estudada formalmente pelas Forças Armadas, o Brasil não teria condições de defendê-la. “Se houvesse uma situação dessas, seria um desastre porque não conseguiríamos chegar ao local com a esquadra nem de forma eficiente com os armamentos das outras forças”, alerta Salvador Raza.

Salvador Raza, capitão de mar-e-guerra reformado e especialista em estratégia militar

Estadão.com.br - 21 de outubro de 2007
Editorial - O Abandono das Forças Armadas


O relato do brigadeiro Juniti Saito aos membros da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, sobre as condições operacionais da Força Aérea Brasileira (FAB), revelou um País com precária capacidade de defesa e praticamente nenhuma possibilidade de apoiar as ações da política externa que necessitem de alguma demonstração de força. Quando se considera que o estado de sucateamento não está restrito à Aeronáutica - os comandantes do Exército e da Marinha já passaram pela Comissão e seus relatos foram igualmente acabrunhadores -, a conclusão óbvia é que, há muito tempo, os governos abandonaram as Forças Armadas à sua própria sorte, numa demonstração de desinteresse pela defesa da integridade territorial do País e do modo de vida da população.

Há anos o governo destina às Forças Armadas um orçamento suficiente para o pagamento dos gastos com pessoal - e até para permitir o aumento dos efetivos militares -, mas é extremamente avaro quando se trata de prover os meios para reequipamento, manutenção e treinamento. Durante um longo período, também foi “normal” faltar recursos para a compra de fardamentos e de “rancho”, o que determinava expediente de meio-dia nos quartéis e fim antecipado do período de engajamento dos recrutas. Funcionando assim, com tal precariedade de meios, é claro que as Forças Armadas não poderão, numa emergência, cumprir com eficiência os seus deveres constitucionais.

Essa situação está claramente exposta em documento encaminhado há dias ao Congresso pelo Comando da Marinha, mas que se aplica às demais Forças. “A atual condição de aprestamento já representa uma perigosa redução da capacidade do sistema de defesa nacional, o que limita significativamente as opções do País para fazer frente a crises político-estratégicas”, adverte o documento. “A perda de credibilidade da capacidade dissuasória nacional tende a fragilizar a política externa brasileira em todos os foros de atuação e decisão”, conclui.

Não faltam números para demonstrar o estado de sucateamento a que chegaram as Forças Armadas. Na FAB, das 719 aeronaves possuídas, apenas 267 estão voando, enquanto 220 estão nos parques de manutenção. As restantes 232 estão no chão por falta de recursos para compra de peças. A FAB não tem mísseis ar-ar de médio alcance, mísseis ar-superfície, helicópteros de ataque e bombas inteligentes - equipamentos que constam dos inventários do Peru, Venezuela e Chile.

Na Marinha, menos de metade dos navios de combate está em condições de uso, e assim mesmo com restrições operacionais. Nos próximos três anos, 17 navios - ou 20% da frota - terão de dar baixa. O caso da corveta Barroso mostra em que pé está o programa de reaparelhamento da Força Naval: em construção há mais de dez anos, quando, um dia, ficar pronta estará tecnologicamente defasada.

A artilharia antiaérea do Exército, por falta de recursos para manutenção de computadores e componentes eletrônicos, tem capacidade de mira e disparos apenas manuais. Carros de combate produzidos na década de 1970 estão sendo reformados. Estão sendo comprados tanques de segunda e terceira mãos, enquanto o Chile compra a última geração do mesmo equipamento. Faltam recursos para a reposição de munição e há veículos em serviço que saíram da fábrica há mais de 30 anos.

As Forças Armadas brasileiras perdem hoje, por qualquer critério de comparação, para as do Chile, Peru e Venezuela, em termos operacionais. Essa situação não condiz nem com as pretensões do governo Lula de liderar a região nem com o cenário estratégico regional, crescentemente instável. A Venezuela de Hugo Chávez, por exemplo, desenvolve um programa de rearmamento, com modernos equipamentos russos, e uma política de confrontação capazes de desequilibrar a região. Há dias, ameaçou intervir militarmente na Bolívia para garantir o governo Evo Morales. De tempos em tempos, reivindica a região do Essequibo, equivalente a dois terços da Guiana. A situação na fronteira norte inspira cuidados.

O presidente Lula ignorou as advertências do então ministro da Defesa José Viegas sobre a iminência de um apagão aéreo e, quatro anos depois, deu no que deu. Agora, os comandantes militares alertam para algo vital para o País: o sucateamento das Forças Armadas e as trágicas conseqüências que daí podem advir. É bom ouvi-los.

Época - 29 de outubro de 2007
Da Redação - E Lula Vai Dar Dinheiro Aos Militares

Helio Gurovitz
Diretor de Redação


Na previsão de Orçamento que o governo Lula enviou ao Congresso para 2008, o valor destinado às três Forças Armadas – Marinha, Exército e Aeronáutica – passa dos R$ 9 bilhões, valor 50% superior aos gastos de 2007. Trata-se, segundo estimativas, do maior investimento no setor militar desde o fim da ditadura.

Pode haver várias justificativas para esse aumento. Há anos os militares não recebem recursos compatíveis com as necessidades de defesa de um país como o Brasil, as três armas estão sucateadas e precisam do dinheiro até para comprar uniformes. Mas uma explicação parece se destacar das demais: há décadas a América Latina não vê alguém gastar tanto dinheiro em armas como o líder venezuelano Hugo Chávez.

É verdade que não se pode falar em corrida armamentista no continente. Também é verdade que o risco de guerra entre o Brasil e a Venezuela é praticamente nulo. Mas as armas não existem apenas para fazer guerra. Elas são um elemento fundamental para exercer pressão e definem a liderança regional nas negociações econômicas e políticas.

Ao investir no aumento de seu poderio militar, Chávez causa um perigoso desequilíbrio de forças na região amazônica. Na última semana, destacamos o editor Guilherme Evelin para avaliar o tamanho do risco-Chávez e tentar entender a extensão real da ameaça que ele representa à liderança brasileira na América Latina.

O resultado é a reportagem da página 38, um mergulho no mundo bélico e na mente do mais imprevisível e folclórico dos líderes latino-americanos. De acordo com a apuração de Guilherme, hoje o nome de Chávez desperta mais preocupação que simpatia nos representantes do governo e no próprio Lula.

Há até certa ironia nos fatos. Lula – um líder de esquerda, perseguido e preso durante a ditadura militar – está prestes a se tornar o presidente brasileiro que mais dinheiro vai destinar às Forças Armadas desde que a ditadura acabou. E isso, em boa medida, para que a liderança continental do Brasil não seja desafiada por aquele que se tornou um dos maiores ícones da esquerda latino-americana: Hugo Chávez.

O Brasil deve ter medo dele?

Por que o crescente poderio militar de Hugo Chávez ameaça a liderança brasileira na América Latina – e como o Brasil planeja modernizar suas Forças Armadas

Guilherme Evelin, Isabel Clemente e Matheus Leitão

Há mais de um século, o brasil não se envolve em guerra com seus vizinhos. A última foi a Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870. Morreram 60 mil brasileiros. De lá para cá, o Brasil, maior país em extensão territorial e população da América Latina, tem mantido relações pacíficas no continente.

O Brasil hoje também não tem disputas de fronteiras. Isso contribuiu para firmar a imagem do continente como uma das regiões mais estáveis e desmilitarizadas do mundo. Segundo o Stockholm International Peace Research Institute (Sipri), instituto sueco dedicado ao monitoramento de gastos militares, a América Latina é a região do mundo que dedica proporcionalmente menos recursos aos orçamentos de suas Forças Armadas – 1,4% do PIB regional.

Desde 2005, um elemento perturbador foi introduzido nesse quadro de relativa paz e tranqüilidade. O governo Hugo Chávez, na Venezuela, começou a fazer compras maciças de equipamentos militares. A primeira investida venezuelana foi a compra de 100 mil fuzis de assalto Kalashnikov AK-103 e AK-104, fabricados na Rússia.

A partir daí, a Venezuela continuou a freqüentar com avidez e assiduidade o mercado de armas global. Acertou com a Espanha a encomenda de oito navios de guerra, parte de um negócio de 1,2 bilhão de euros. Na China, Chávez foi buscar radares móveis. O pacote de compras bélicas de Chávez inclui ainda helicópteros, submarinos, mísseis terra–ar.

A aquisição mais valiosa foi feita em julho de 2006: 24 caças Sukhoi, de fabricação russa, aviões de guerra mais poderosos e modernos que qualquer outro hoje existente na América do Sul. De acordo com o último relatório do Sipri, a Venezuela, em 2006, pelo segundo ano consecutivo, foi o país da América do Sul que mais aumentou gastos militares: 20% em termos reais.

Chávez diz que está se armando para modernizar equipamentos obsoletos das Forças Armadas venezuelanas e para se preparar para um eventual ataque dos Estados Unidos, elevados à condição de Grande Satã pela retórica barulhenta do presidente da Venezuela. Chávez até cunhou uma doutrina militar – a “guerra assimétrica” – para fazer contraponto à doutrina de guerra preventiva do governo George W. Bush, nos EUA.

Apesar das declarações de Chávez, há uma crescente inquietação no Brasil e em outros países sul-americanos quanto à escalada armamentista da Venezuela ter outros fins. Há duas semanas, Chávez disse que poderia transformar a Bolívia em um novo Vietnã, se a oposição boliviana tentasse derrubar seu aliado Evo Morales da Presidência.

Estamos diante de um fanfarrão ou de alguém que é preciso levar a sério por seu desejo expresso de se perpetuar no poder? Chávez é um militar que, antes de vencer eleições, tentou assumir o governo na Venezuela por um golpe. Tenente-coronel reformado do Exército, Chávez ainda usa adereços militares em suas campanhas políticas. Em comícios, costuma aparecer com uma boina vermelha usada por pára-quedistas. Seus seguidores políticos gostam de usar a boina vermelha, transformada em símbolo do chavismo.

Os sinais do militarismo do regime chavista aparecem também na formação das milícias bolivarianas, grupos de civis que apóiam seu regime. Chávez apresenta-se como católico, ora cita Deus, ora o Diabo. Em discurso na ONU em 2006, ao ocupar o púlpito em que Bush estivera no dia anterior, disse ainda sentir cheiro de enxofre.

Aproximou-se de figuras controversas, como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o russo Vladimir Putin, de quem compra armas, e Fidel Castro, para quem chegou a cantar em sua visita mais recente a Havana, no período de convalescença do ditador cubano.

Aos 53 anos, é casado pela segunda vez e tem quatro filhos. Na juventude, Chávez foi jogador amador de beisebol. Até hoje, gosta de aparecer na TV com trajes esportivos e tacos de beisebol. Em 1999, pouco depois de assumir o governo, mandou criar e publicar uma história em quadrinhos em que o herói usava boina, bastão de beisebol e resolvia todos os problemas da Venezuela – uma óbvia referência a si próprio. Os oficiais das Forças Armadas que ousam desafiá-lo costumam ser mandados para a reserva ou para a prisão.

Chávez cunhou uma doutrina militar, a “guerra assimétrica”, para fazer contraponto à doutrina de guerra preventiva do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Seu projeto é implantar o “socialismo do século XXI”. O próximo passo seria irradiar sua “revolução bolivariana” pela América Latina.

O Orçamento da Venezuela para 2008 prevê gastos de US$ 193 milhões para “fortalecer movimentos alternativos na América Central e no México e assim se desatrelar do domínio imperial” dos EUA. Na semana passada, o jornal Correio Braziliense revelou que o venezuelano Maximilian Arvelaiz, homem de confiança de Chávez, percorre há quase um mês capitais brasileiras com a missão de organizar a primeira Assembléia Bolivariana do Brasil, em dezembro, no Rio de Janeiro.

O estatuto do movimento prevê a construção de “um poder popular” e a formação de “uma federação socialista latino-americana”. Para apoiar Arvelaiz, Chávez enviou mais 15 diplomatas à embaixada e a consulados em Brasília, sob o pretexto de que se trata de um reforço nas relações bilaterais.

No Brasil, as ações e o discurso de Chávez, no início ignorados, começam a repercutir mal. “A hipótese de uma corrida armamentista na América do Sul parece estar-se concretizando, tendo em vista os gastos de mais US$ 4 bilhões da Venezuela nos últimos dois anos e as indicações de que Chávez continuará a investir em material bélico”, disse a ÉPOCA o ex-presidente da República e senador José Sarney (PMDB-AP). “Nosso país é um tradicional defensor da solução pacífica das controvérsias e uma corrida armamentista seria inaceitável para o Brasil.”

Isso não quer dizer que o Brasil esteja parado. De acordo com oficiais do Exército brasileiro, o investimento em equipamento das Forças Armadas em 2008 será o maior desde o fim do período militar. Marinha, Exército e Aeronáutica terão a sua disposição o mais alto orçamento dos últimos 12 anos para comprar e renovar equipamentos bélicos.

Esses gastos, segundo o projeto de lei orçamentária enviado ao Congresso, serão de R$ 9,1 bilhões, e podem chegar a R$ 10,1 bilhões. O aumento é de quase 50% em relação aos R$ 6,9 bilhões deste ano.

O governo Lula anunciou outras medidas para aumentar o aparato bélico brasileiro. O programa de construção do submarino nuclear pela Marinha, que se arrasta desde 1979, deverá receber, a partir de 2008, R$ 130 milhões por ano.

O objetivo é que o submarino fique pronto em uma década. O governo passou também a considerar prioritária a retomada do programa FX de aquisição de 12 caças modernos para a Força Aérea Brasileira. Estuda-se a alocação de R$ 2 bilhões para o programa.

Em 2003, pouco depois de chegar ao Palácio do Planalto, o presidente Lula suspendeu a compra desses mesmos caças, sob a alegação de que prioritário era o Programa Fome Zero. A política industrial que s o governo promete apresentar nos próximos dias prevê incentivos para fortalecer a indústria bélica nacional.

Detalhes ainda não foram divulgados, mas é certa a liberação de financiamentos especiais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Fico imaginando o que pode atrapalhar o nosso país. Apenas a nossa omissão e apenas a nossa submissão. Está na hora de construir o PAC das nossas Forças Armadas, da nossa Defesa”, afirmou o presidente Lula em setembro.

Estamos mesmo no limiar de uma corrida armamentista na América do Sul, desencadeada por Chávez e à qual o Brasil aderiu para não ficar para trás? O governo Lula nega oficialmente que os aumentos dos gastos militares sejam uma reação a Chávez.

A elevação do orçamento militar, diz o governo, é uma resposta ao sucateamento das Forças Armadas, que não recebem investimentos para modernização há quase duas décadas.

“Essa é uma discussão que acompanho há dez anos e digo que não há relação entre a decisão do governo de voltar a investir nas Forças Armadas com as decisões de Chávez”, afirma o deputado José Genoíno (PT-SP), uma espécie de porta-voz do PT para assuntos militares. Mesmo assim, dois ministros e um governador de Estado afirmaram a ÉPOCA que, em foro reservado, Lula diz se preocupar com o fator Chávez na América Latina.

Isso não quer dizer que vivamos uma corrida armamentista no continente. Em artigo publicado pelo Observatório Político Sul-Americano, departamento de pesquisa do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), o cientista político Rafael Villa diz que as compras de armas por Chávez visam obter apoio interno para seu regime na Venezuela, que tem nos militares um de seus principais sustentáculos políticos.

“Faz-se certo alarmismo em torno de uma corrida armamentista na América do Sul, por causa da retórica de Chávez, mas o que está acontecendo no Brasil e em outros países da região é uma modernização de equipamento bélico obsoleto, por causa da queda dos níveis de investimento militar desde os anos 90”, diz a colombiana Catalina Perdomo, pesquisadora do Sipri.

“É um exagero falar em corrida armamentista, porque o orçamento de defesa do Brasil, além de pequeno, é desequilibrado. Há uma enorme parcela de gastos dirigida ao pagamento de salários e pensões”, diz Mark Stocker, economista especializado em defesa do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.

Segundo estimativas de 2004, o Brasil destinava 70% do orçamento do Ministério da Defesa para gastos com pessoal e apenas 2,88% para reequipamento militar. A deterioração do equipamento militar brasileiro tem causas também políticas. Está relacionada a uma perda de prestígio das Forças Armadas após a redemocratização do país. Elas teriam sido relegadas nos últimos anos a um “ponto de desleixo”, segundo o coronel da reserva Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas (Unicamp).

Brasil em guerra

As Forças Armadas brasileiras se envolveram em poucos conflitos desde sua criação. A única grande guerra que o Brasil enfrentou com seus vizinhos na América do Sul foi a Guerra do Paraguai (1864-1870). Desde a Segunda Guerra Mundial, o Brasil participa apenas de missões de paz de organismos internacionais

Guerra Cisplatina

Em abril de 1825, Brasil e Argentina entram em guerra pelo domínio brasileiro na província Cisplatina. O conflito termina três anos depois, com a mediação da Inglaterra. A antiga Cisplatina se torna um país independente, o Uruguai. A derrota abala a imagem do imperador dom Pedro I e é decisiva para sua abdicação, em 1831

Guerra do Paraguai

Entre 1864 e 1870, Brasil, Uruguai e Argentina combateram o Paraguai na guerra mais sangrenta da América Latina, que matou mais de 150 mil pessoas. O imperador dom Pedro II comandou pessoalmente as Forças brasileiras, que eram pobres e mal preparadas. A guerra colaborou para o fim da monarquia quase 20 anos depois

Segunda Guerra Mundial

O Brasil entra na guerra em 1944, depois que navios foram afundados pelos submarinos alemães. Cerca de 25 mil militares brasileiros lutaram na Itália e ajudaram a vencer as forças nazistas

Missões de paz

Desde a Segunda Guerra Mundial, as Forças Armadas brasileiras não se envolvem em conflitos. Elas já participaram de 28 forças de paz de organismos internacionais, com batalhões de soldados ou apenas observadores. Em algumas, soldados brasileiros entraram em combate. Hoje o Brasil participa de outras 15 missões de paz

Suez

Em sua primeira participação em missões de paz, o Brasil manteve 600 militares na região do Canal de Suez entre 1957 e 1967. O objetivo era acabar com o conflito entre egípcios e israelenses. Tudo fracassou em 1967, quando Israel deflagrou a ofensiva conhecida como Guerra dos Seis Dias, em que venceu seus adversários árabes

República Dominicana

Em 1965, um batalhão do Exército e um grupamento de Fuzileiros Navais estiveram na República Dominicana a serviço da Organização dos Estados Americanos (OEA) para pacificar o país após a derrubada do governo de Rafael Trujillo pelos Estados Unidos

Angola

Entre 1995 e 1997, as Forças Armadas brasileiras mantiveram mais de 1.000 soldados nas forças de paz em Angola, para colaborar na pacificação do país após a guerra civil e na organização de um novo governo

Haiti

Com cerca de 1.200 homens no país desde 2002, o Brasil lidera uma força de paz da ONU para manter a paz no Haiti. Desde sua chegada, as tropas brasileiras conseguiram reduzir a ação de gangues nas favelas de Porto Príncipe

Os comandantes militares tratam de dar contornos dramáticos ao sucateamento das forças. Em agosto, em depoimento no Senado, o comandante da Marinha, Júlio Soares de Moura Neto, descreveu a situação da força naval brasileira nos seguintes termos: “Ela vive um crítico estado de degradação e obsolescência material, de vulnerabilidade estratégica, de redução de atividades, sem precedentes na história contemporânea da nação”.

Segundo Moura Neto, dos 21 navios da esquadra, 11 estão parados e dez operam com restrições. Dos cinco submarinos, dois estão parados, dois operam com restrições e apenas um não tem problemas. Há duas semanas, ao depor na Câmara dos Deputados, o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, revelou que, dos 719 aviões da FAB, apenas 267 têm condições de voar. Os outros 452 estão à espera de manutenção, sem condições de uso, 232 deles retidos no solo por falta de dinheiro para comprar peças.

Segundo o ex-embaixador Rubens Barbosa, a ameaça de guerra não é o único motivo para investimentos militares. “O país precisa se defender, não de ataques externos, mas do tráfico de drogas e armas nas nossas fronteiras.”

Seria uma ingenuidade, no entanto, imaginar que o armamento pesado adquirido por Chávez não tenha sido usado como pretexto pelos militares brasileiros para obter do governo federal mais recursos para as Forças Armadas.

Outra ingenuidade seria pensar que as verbas extras anunciadas não tenham implicitamente o objetivo de reequilibrar o tabuleiro militar na América do Sul, onde a Venezuela está hoje em posição de vantagem por causa dos caças russos Sukhoi 30. “Passou a existir um desequilíbrio muito grande, porque não temos um armamento como o deles.

O Sukhoi é uma arma de última geração, não temos nada comparável e, obviamente, isso nos preocupa porque nossos aviões estão decrépitos”, afirma o general José Benedito de Barros Moreira, secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa.

“Com esses aviões, a Venezuela, em tese, poderia fechar o espaço aéreo sobre grande parte da Amazônia. Nenhum país da América do Sul tem resposta possível para esse tipo de avião”, diz Domício Proença Júnior, professor da Coppe/UFRJ e doutor em estudos estratégicos.

Segundo os especialistas, os Sukhois venezuelanos, armados com mísseis de longa distância, um equipamento não disponível no Brasil, podem derrubar qualquer coisa a seu alcance sem correr riscos. Daí o potencial de fechar a Amazônia. O Brasil conta hoje com seis caças Mirage comprados da França, mas eles não são páreo para o Sukhoi. “Se vier a comprar caças comparáveis ao Sukhoi, o Brasil só estará equilibrando esse jogo”, diz Domício Proença.

“Temos consciência de que, para mantermos a posição privilegiada na América do Sul e atingirmos novos patamares no cenário internacional, não podemos descuidar da nossa defesa”, disse o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em entrevista interativa aos leitores de ÉPOCA (leia na página 45).

“Estamos elaborando o Plano Estratégico Nacional de Defesa, que definirá a missão de cada força e os equipamentos necessários para sua atuação. Os novos aviões da FAB, tanto de transporte, quanto de caça, estarão no plano.” Mesmo se isso se concretizar, as razões serão mais políticas que bélicas. Nem os militares, cujo dever de ofício é alimentar uma saudável paranóia em relação à defesa nacional, levam a sério uma hipótese de confronto militar com a Venezuela de Chávez.

Em conferências, o cientista político Moniz Bandeira, especializado em questões internacionais e uma das referências intelectuais do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty, resumiu assim a possibilidade de um ataque da Venezuela ao Brasil: “É ridículo.Veja as dimensões demográficas, territoriais e econômicas do Brasil e da Venezuela.

Não basta comprar armamentos da Rússia para que se possa fazer uma guerra. Uma vez que a Venezuela não tem um parque industrial e importa do exterior a maioria dos produtos manufaturados que consome, seria muito difícil para Chávez empreender e sustentar qualquer guerra com outro país”.

O verdadeiro conflito entre o Brasil e Chávez não é militar. A disputa é pela liderança política na América do Sul

Quem tem motivos para temer Chávez do ponto de vista militar, segundo o coronel Geraldo Cavagnari, são seus vizinhos Colômbia e Guiana. A Colômbia tem uma fronteira de 2.000 quilômetros com a Venezuela, por onde circulam os guerrilheiros das Farc, inimigos do governo Álvaro Uribe e simpáticos a Chávez.

Historicamente, os dois países não se entendem sobre os limites territoriais no Golfo da Venezuela, uma região rica em petróleo. Há mais de um século, os venezuelanos também reclamam o território a oeste do Rio Essequibo, o equivalente a dois terços do território da Guiana. Mesmo assim, Cavagnari duvida que Chávez venha a se aventurar em invasões, porque sabe que a reação internacional seria imensa e imediata.

O verdadeiro confronto entre Brasil e Chávez, dizem os especialistas em questões estratégicas, não é militar, mas político. Envolve uma disputa com o Brasil pela liderança da América do Sul. Como maior país da região, o Brasil aspira a essa posição e quer chegar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Num documento, do final do ano passado, preparado para o Real Instituto Elecano, instituição espanhola dedicada a estudos de segurança e defesa, os pesquisadores Carlos Malamud e Carlota García Encina descrevem a estratégia política de Chávez. “Para a Venezuela, o braço militar serve para reforçar a diplomacia do petróleo, dirigida para conseguir aliados e aumentar sua influência. Os exageros armamentistas de Chávez servem para projetar uma imagem de poder, tanto nacional quanto regionalmente.”

Política externa, ensinam os manuais, não se faz apenas com diplomacia, mas com a caneta cheia de tinta para preencher talões de cheques e fuzis. Assentado nas imensas reservas de petróleo da Venezuela e agora munido de Kalashnikovs e caças Sukhoi, Chávez tem as duas coisas para continuar sua política de conquistar influência e aliados em países vizinhos como Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua e Argentina.

“Chávez usa o petróleo e o poder militar para perpetrar uma política agressiva de influência ideológica na política interna de outros países”, diz o cientista político José Augusto Guilhon de Albuquerque, da Universidade de São Paulo (USP).

Na definição de vários especialistas, a América Latina vive hoje um duelo ideológico entre duas correntes de esquerda que assumiram o poder em vários países da região. Chávez é o principal emblema da esquerda que ainda vê na implantação de um regime socialista a solução para os problemas sociais.

É um “stalinista primitivo”, na definição feita a ÉPOCA por Teodoro Petkoff, ex-ministro da Venezuela e um de seus principais adversários políticos. Por ter abraçado as regras da economia de mercado e dos regimes democráticos, o governo Lula no Brasil passou a ser considerado a principal referência de uma esquerda socialdemocrata no continente.

Na semana passada, a Assembléia Nacional da Venezuela aprovou uma reforma constitucional, proposta por Chávez, com a qual ele busca o aumento de seus poderes, a possibilidade de permanecer eternamente na Presidência, a instauração de uma “economia socialista” e a censura da imprensa em momentos de “estados de exceção”.

Uma das definições mais famosas de guerra sobrevive há mais de dois séculos. Seu autor é Carl von Clausewitz, militar prussiano, um dos teóricos clássicos do assunto. Segundo ele, a guerra é a continuação da política por outros meios. Ao anunciar os investimentos para rearmamento das Forças Armadas brasileiras, como nunca antes, o governo Lula está fazendo política por outros meios.

Mesmo que diga que Chávez não é o alvo nem a causa do aumento dos orçamentos militares, o Brasil, com essa decisão, deixa claro que quer continuar a ser a principal liderança da América do Sul. Ao iniciar seu governo, com a proposta de integrar o Conselho de Segurança da ONU, Lula achou que este era um direito natural do Brasil. Os movimentos de Chávez parecem tê-lo convencido de que a liderança política tem um preço.

Estado de São Paulo - 04 de novembro de 2007
Planejamento Militar De Chávez É De Longo Prazo

Roberto Godoy


Além dos armamentos já comprados, expectativa é de garantir aviões, submarinos, navios e radares até 2010


O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, mantém um bem estruturado plano de modernização das Forças Armadas, projeto de longo prazo que ultrapassa as compras já formalizadas de 24 caças Sukhoi (Su-30), 53 helicópteros, 5 mil rifles de precisão Dragunov, um número não revelado de baterias antiaéreas do míssil Tor-M1 e 100 mil fuzis Kalashnikov, russos.

Até 2010, ele quer ter garantido, ao menos sob contrato, o fornecimento de outros 120 aviões de combate, 15 submarinos lançadores de mísseis, 138 navios, 25 radares tridimensionais e fábricas inteiras para produção de sistemas de defesa. Se possível, quer ainda alguma capacidade nuclear. É para gerar energia elétrica, garantiu Chávez numa apresentação em Moscou, há quatro meses.

Há dois prováveis parceiros bem cotados para essa empreitada - a Rússia, que responde pela maioria das encomendas dos novos equipamentos de defesa da Venezuela, e o Irã, de Mahmud Ahmadinejad, que ofereceu o serviço.

Em junho, depois de assinar acordos com o presidente Vladimir Putin nas áreas de petróleo, energia, alimentos, petroquímica, transporte ferroviário, pesca e construção pesada, Chávez, como é de seu costume, foi às compras: fechou negócio com cinco submarinos diesel-elétricos classe Kilo 636, de 4 mil toneladas de deslocamento e alcance na faixa de 14 mil quilômetros. O Kilo leva 18 torpedos de 533 milímetros, 24 minas e 8 mísseis táticos ou antiaéreos.

A operação foi mantida em sigilo até a semana passada, quando foi revelada por Sergei Landiguin, diretor da agência russa Rosoboronexport. Em uma outra fase, seria incorporada uma frota de seis novos modelos Amur, de 1,6 mil toneladas e dotados de tecnologia furtiva.

Todos esses dados constam, também, de um documento encaminhado na manhã do dia 30 de outubro pela Nova Organização pela Democracia Liberal na Venezuela (NDLV) aos governos do Brasil, da Colômbia, da Argentina, da Guiana e dos Estados Unidos, à Organização dos Estados Americanos (OEA) e à Organização das Nações Unidas (ONU).

O grupo faz oposição ao presidente Hugo Chávez e é formado por empresários, políticos e profissionais liberais. A representação local da NDLV será aberta em São Paulo até janeiro.

BOM GASTADOR

Para um ex-governador de Estado da Venezuela, militante do NDLV, o grande pacote militar de Chávez vai custar, a longo prazo, cerca de US$ 60 bilhões - metade de toda a riqueza que o país produz em um ano. Todavia, acredita o político, pode ser que em 10 ou 12 anos tenha valido a pena para o presidente: se tudo der certo, ele será então o líder da mais poderosa potência militar da América do Sul.

Essa condição hoje é do complexo militar do Brasil. Um estudo da inteligência do Ministério da Defesa, a que Estado teve acesso, alerta para a necessidade de investimentos na revitalização das três Forças “para evitar a superação e a perda do poder dissuasivo”. O texto do ministério cita especificamente Venezuela e Chile.

Diz que os dois países sabem exatamente o tamanho dos recursos que terão a longo prazo, enquanto os comandos brasileiros “não têm segurança dos prováveis valores do orçamento para 2008”. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, acha que a argumentação está superada. “Nosso orçamento foi praticamente duplicado para 2008 - pode chegar a R$ 10 bilhões na fase de execução”, afirma.

Chávez conta com a valorização do petróleo para financiar o programa. Quando começou a negociar a aquisição de novos equipamentos, o barril era cotado a US$ 40. Nos últimos dez dias passou dos US$ 93 e pode chegar a US$ 100. A Venezuela é o terceiro maior produtor entre integrantes da Opep. Coloca no mercado 2,4 milhões de barris/dia, faturando US$ 223 milhões a cada 24 horas.

Estado de São Paulo - 06 de novembro de 2007
A Linguagem Que Chávez Entende


O senador José Sarney não tem usado meias-palavras para se referir ao regime que o coronel Hugo Chávez está implantando na Venezuela. Para ele, a democracia de Chávez é uma “marca de fantasia”. De fato, um regime que permite a perenização do caudilho no poder, priva as minorias e a oposição das liberdades fundamentais e permite que o país seja governado sem que as necessárias garantias legais estejam em funcionamento é uma autêntica ditadura. Da mesma forma, um país que se arma até os dentes, sem que haja razões plausíveis para tal, constitui uma ameaça para seus vizinhos, por mais que o caudilho fale em fraternidade e solidariedade latino-americana.

Tivesse o coronel Hugo Chávez ficado na compra dos 100 mil fuzis Kalashnikov e se poderia acreditar que seu objetivo era, simplesmente, defensivo. Ou que ele, pensando em ficar no poder indefinidamente, estava armando milícias para impor o seu despotismo aos venezuelanos que não abdicaram de ser livres.

Mas o coronel está gastando cerca de US$ 6 bilhões na compra de aviões de ataque de grande performance, de helicópteros de combate, de navios de desembarque de tropas, de submarinos e de baterias de mísseis. Com esse tipo de equipamento não se mantém nem se restabelece a ordem interna, qualquer que seja. Além disso, o programa de aquisições militares de Chávez não se esgota com as encomendas que fez recentemente na Rússia. Há planos para a compra de novos e modernos equipamentos que podem ser utilizados em operações que os militares classificam de “projeção de poder” - como, por exemplo, mais 120 aviões de combate de última geração.

O coronel Hugo Chávez, que esta semana se tornou ditador (perpétuo) constitucional da Venezuela, com a aprovação de uma constituição liberticida, prepara-se para uma aventura militar. O general Alberto Müller Rojas, que assessorou Chávez na elaboração dos planos militares, garante que a Venezuela não está iniciando uma corrida armamentista e que não conta com recursos militares para se constituir em ameaça ao Brasil. Mas não é apenas o Brasil que é afetado pelo armamentismo chavista. É o equilíbrio estratégico de toda a região que é alterado.

É tão absurdo supor que as forças venezuelanas invadiriam o Brasil como não tem sentido imaginar que os Estados Unidos invadirão a Venezuela, simplesmente porque o coronel Chávez acha que o presidente Bush exala enxofre. Mas foi o próprio Chávez quem disse que poderá intervir militarmente na Bolívia, para sustentar o regime de Evo Morales, e é perfeitamente possível que venha a ocupar a região do Essequibo, na Guiana. Quanto à Bolívia, não se pode esquecer que está em vigor um tratado que permite à Venezuela manter bases militares em território boliviano; e que os helicópteros e aviões que Morales usa em seus deslocamentos são venezuelanos, como também o são os seus guarda-costas. E, desde que assumiu o poder, Chávez pôs o olho gordo no Essequibo, que considera território integrante de seu país, ilegalmente sob a soberania da Guiana.

Uma aventura militar nas nossas fronteiras obrigaria o governo brasileiro a uma enérgica tomada de posição - que não poderia se restringir a condenações retóricas nos foros diplomáticos multilaterais.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, nega que o governo brasileiro esteja preocupado com o que se passa na Venezuela. Noblesse oblige. Mas o fato é que nem o governo Lula, que há mais de quatro anos tem demonstrado uma incompreensível tolerância em relação às extravagâncias do caudilho Chávez, pode ignorar os efeitos políticos que a aceitação de uma ditadura no Mercosul causará nos meios internacionais - uma vez que isso significaria rasgar a Cláusula Democrática, coonestando um regime de exceção. O governo brasileiro também não poderá deixar de considerar que, a persistir o estado de sucateamento de nossas Forças Armadas, não disporá de nenhum recurso efetivo para dissuadir o coronel Chávez de suas veleidades expansionistas.

O Brasil não conterá o caudilho com palavras suaves e chamados à razão.

Chávez só entende uma linguagem. Fará bem o governo brasileiro se, como foi anunciado há dias, acelerar o programa de reaparelhamento das Forças Armadas, dotando-as rapidamente dos meios necessários para a defesa nacional.


Jornal do Brasil - 07 de novembro de 2007
Editorial - Um Perigoso Sucateamento


O Brasil não está em posição confortável do ponto de vista da defesa aérea. O diagnóstico, por si só preocupante, ganha mais densidade por ter sido apresentado pelo comandante da Aeronáutica. Para evitar o constrangimento geral, o brigadeiro Juniti Saito assegurou que o governo "está trabalhando" para atenuar o quadro. Nesse contexto, anunciou para 2008 a reabertura do processo de licitação para compra de aviões caça - interrompido desde o primeiro mandato do presidente Lula.

Trata-se de um passo inicial rumo ao reaparelhamento das Forças Armadas, tão necessário quanto urgente. O projeto da compra de caças surgiu no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002, mas foi suspenso logo na primeira reunião ministerial de Lula, em janeiro de 2003. O presidente, com pompa e circunstância, comunicou então que os recursos destinados àquela rubrica (US$ 700 milhões) seriam repassados ao Programa Fome Zero.

No exterior, a decisão de Lula ganhou aplausos - o ex-presidente da Costa Rica e ganhador do Nobel da Paz de 1987, Oscar Arias, publicou artigo em jornal local para cumprimentar o colega brasileiro. E recomendava o cancelamento da compra em caráter definitivo. No plano interno, contudo, deixou a caserna em alerta. De mãos atadas, os militares viram, aos poucos, o crescimento do poderio bélico dos vizinhos - sobretudo a Venezuela do megalômano general Hugo Chávez, que recentemente reaparelhou sua Força Aérea com modernos aviões de combate Sukhoi, de fabricação russa.

Diante do tempo (e do terreno) perdido, o governo brasileiro decidiu aumentar o orçamento da Defesa dos atuais R$ 6,5 bilhões para quase R$ 10 bilhões no ano que vem. Um alívio, mas não uma solução.

As palavras do brigadeiro Saito seguem o tom esboçado em discurso pelo comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, durante reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, há um mês. Diante dos parlamentares, o militar traçou um quadro angustiante da situação das Forças Armadas - operam com maquinário ultrapassado, efetivo diminuto e orçamento limitado.

De acordo com o general, 78% dos blindados hoje em operação têm mais de 34 anos (anteriores, portanto, à era da informática) e 58% das viaturas, mais de duas décadas. Peri informou que o Brasil é o país sul-americano que menos gasta em defesa, além de manter um efetivo que supera apenas o do Exército argentino. Muito pouco para quem tem 15,7 mil quilômetros de fronteira para resguardar.

Na mesma comissão do Senado, na semana passada, foi a vez do brigadeiro Saito (a portas fechadas) alertar que a Força Aérea Brasileira está perdendo poder frente às esquadrilhas de guerra do Chile, do Peru e - claro - da Venezuela. Especialistas avaliam que a FAB precisa completar a implantação das versões modernizadas do caça F-5, que devem voar até 2020, e dos Mirage-2000, comprados da França com 15 anos de uso. E retomar a modernização dos caças- bombardeiros AMX.

Com a Amazônia vilipendiada pela ação do tráfico de drogas e da biopirataria e com o visível crescimento do poderio bélico dos vizinhos, fica a lição: se o Brasil quer mesmo a paz, tem de dotar as Forças Armadas de recursos para a guerra.

Segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Chávez e Ahmadinejad se reúnem para firmar "aliança contra o imperialismo"
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da Efe, em Teerã

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e seu colega venezuelano, Hugo Chávez, se reúnem nesta segunda-feira (19), em Teerã, para afiançar a aliança entre seus países.

Chávez e Ahmadinejad confirmaram sua "aliança contra o imperialismo" com suas posturas na cúpula da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), na qual exigiram um papel político do cartel para proteger os interesses de seus integrantes.

Durante sua breve visita a Teerã - de aproximadamente cinco horas -, Chávez deve assinar protocolos de entendimento entre os dois países em vários âmbitos, incluindo o industrial, segundo fontes iranianas e venezuelanas nesta capital.

No entanto, ainda não se sabe se o governante venezuelano pedirá a ajuda de Teerã no programa de energia nuclear que seu país planeja desenvolver.

Apoio

Na cúpula da Opep, Chávez manifestou mais uma vez seu apoio à República Islâmica, e advertiu que o valor do petróleo pode disparar até os US$ 200 por barril caso os Estados Unidos invadam o Irã por causa de seu programa nuclear.

Ahmadinejad descartou que seu país use o petróleo como arma em caso de um conflito bélico com os EUA, embora tenha ameaçado com uma "resposta dura" em caso de ataque americano.

Além disso, considerou que o atual preço do petróleo é inferior ao preço real, e exigiu a utilização de outra moeda para a venda da commodity, ao considerar que o enfraquecimento do dólar afeta negativamente os interesses dos países exportadores.

Após sua presença no Irã, o presidente venezuelano viajará à França e, possivelmente, a Portugal.



Alguns outros tópicos sobre o assunto:

Venezuela anuncia o desenvolvimento de um programa nuclear
http://www.adrenaline.com.br/forum/showthread.php?t=169136

Chavez por que você não se cala !!!
http://www.adrenaline.com.br/forum/showthread.php?t=168641

Lula reaparelha Forças Armadas de olho na transferência de tecnologia
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Petrobras confirma descoberta de petróleo em Santos
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Petróleo mostra que 'Deus pode mesmo ser brasileiro', diz 'Economist'
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Assembléia Nacional sanciona reforma constitucional na Venezuela
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Venezuela faz sobrevôo ilegal na Amazônia
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PAC da Defesa
http://www.adrenaline.com.br/forum/showthread.php?t=160825

5.000 Fuzis Dragunov? Haja Sniper
http://www.adrenaline.com.br/forum/showthread.php?t=158704
 
Sim, de fato "acordamos " , agora temos que reposicionar o Brasil no contexto internacional com o seu devido peso estrategico e politico

Engraçado é ver o bode velho do Sarney choramingando s situaçao das Forças armadas, ora, foi a falta de visao do desgoverno dele que iniciou/ajudou a enterrar o parque de defesa brasileiro , as forças armadas e quase todo Know-how adquirido

Será que os fantasmas da Engesa , Celma, Marconi ente outras estao assombrando ele agora?

Saarneeyyy , Saarneyyy, buuuuuu, he,he,he
 
Soberania na minha opniao e ter armamento forte

A nossa esquadra esta reformando submarinos, a nossa aviaçao assiste as compras de supersonicos russos por chaves, a nossa cavalaria capenga com tanques e carros de assalto cuja lataria apodrece, nossas armas leves nao poe medo nem em CV, pcc da vida.
Ao inves do governo gastar com amantes de senadores e deputados, que gaste nao 12 mais 30 bilhoes por ano em segurança de nosso territorio verde e azul onde localiza se a maior riqueza o petroleo.
abraços
albino picado
 

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