Neste ano, talvez a humanidade, ou melhor quase toda a vida na Terra acabe.
Recentemente saiu uma nota no Boing Boing comentando sobre os 250 - duzentos e cinquenta - miniterremotos que aconteceram no parque de Yellowstone desde o dia 26 de dezembro que podem estar ligados ao supervulcão dormente que existe no parque.
Para aqueles que desconhecem o que é um supervulcão, onde exatamente ele se localiza no parque Yellowstone o que isso pode significar para toda a raça humana, vamos fazer uma transcrição do excelente livro Breve história de quase tudo, de Bill Bryson, com grifos de Ibrahim Cesar:
Na década de 1960, enquanto estudava a história vulcânica no Parque Nacional de Yellowstone, Bob Christiansen, do US Geological Survey, intrigou-se com algo que, estranhamente, não incomodara ninguém antes: ele não conseguia encontrar o vulcão do parque. Sabia-se havia muito tempo que Yellowstone possuía uma natureza vulcânica - daí todos os seus gêiseres e outras exalações vaporosas - , e os vulcões costumam ser bem visíveis. Mas Christiansen não avistava o vulcão de Yellowstone em lugar nenhum. A única coisa que conseguiu encontrar foi uma estrutura conhecida como caldeira.
Quase todos, quando pensam em vulcões, imaginam as formas cônicas clássicas de um Fuji ou um Kilimanjaro, criadas quando o magma em erupção se acumula em um monte simétrico. Esse tipo de vulcão pode se formar com uma rapidez impressionante. Em 1943, em Parícutin, no México, um camponês se surpreendeu ao ver um trecho de sua terra fumegando. em uma semana, ele era o proprietário aturdido de um cone com mais de 152 metros de altura. Depois de dos anos formara-se um vulcão com quase 430 metros de altura e mais de oitocentos metros de diâmetro1. No todo, existem cerca de 10 mil desses vulcões intrusamente visíveis na Terra, com apenas algumas centenas deles extintos. Mas existe um segundo tipo de vulcão menos famoso, que não envolve a formação de montanhas. São vulcões tão explosivos que se abrem numa única ruptura poderosa, formando uma vasta cratera, a caldeira. Yellowstone obviamente era deste segundo tipo, mas Christiansen não encontrava a caldeira em parte alguma.
Por coincidência, justamente naquela época, a NASA decidiu testar algumas câmeras novas de grande altitude tirando fotografias de Yellowstone. Um funcionário atencioso enviou algumas cópias às autoridades do parque para que pudessem utilizar nos cartazes dos centros de visitantes. Assim que Christiansen pôs os olhos nas fotos, percebeu por que não fora bem-sucedido em suas tentativas: praticamente todo o parque - 9 mil quilômetros quadrados - era uma caldeira. A explosão havia deixado uma cratera com quase 65 quilômetros de diâmetro - grande demais para ser percebida no nível do solo. Em algum momento do passado, Yellowstone deve ter explodido com uma violência bem além da escala de qualquer coisa conhecida pelos seres humanos.
Yellowstone, ao que se revelou é um supervulcão. Situa-se no alto de um ponto quente enorme, um reservatório de rocha pastosa que se eleva de pelo menos duzentos quilômetros sob a Terra. O calor do ponto quente é o que aciona todas as chaminés, gêiseres, fontes quentes e vulcões de lama. Abaixo da superfície existe uma câmara de magma com 72 quilômetros de diâmetro - mais ou menos da mesma dimensão do parque - e treze quilômetros de espessura no ponto mais espesso. Imagine uma pilha de TNT com mais ou menos o tamanho de Rhode Island, elevando-se uns treze quilômetros no céu e atingindo os cirros mais altos: é sobre algo que os visitantes de Yellowstone estão pisando. A pressão que tal concentração de magma exerce sobre a crosca elevou Yellowstone e o território que o circunda, cerca de meio quilômetro acima da altura que teria normalmente. Se aquilo explodisse, o cataclismo seria inimaginável. De acordo com o professor Bill McGuire, da University College de Londres, “não seria possível permanecer nem a mil quilômetros daquilo” enquanto estivesse em erupção. As consequências posteriores seriam ainda piores.
[...]
Desde a sua primeira erupção conhecida, 16,5 milhões de anos atrás, Yellowstone explodiu cerca de cem vezes, porém as três erupções mais recentes são as mais descritas. A última erupção foi mil vezes maior que a do monte Saint Helens2 ; a penúltima foi 280 vezes maior; e a última foi tão grande que ninguém sabe ao certo quão grande foi. Foi pelo menos 2500 vezes pior que a do Saint Helens, e talvez 8 mil vezes mais monstruosa.
Não há termos de comparação. A maior explosão dos tempos recentes foi a de Krakatoa3, na Indonésia, em agosto de 1883, produzindo um estrondo que reverberou ao redor do mundo por nove dias e agitando as águas até o canal da Mancha. Mas se imaginarmos que o volume de material ejetado de Krakatoa teria o tamanho de uma bola de golfe, a maior das explosões de Yellowstone teria o tamanho de uma esfera atrás da qual poderíamos nos esconder. Nessa escala, a dos monte Saint Helens não seria maior que uma ervilha.
[...]
E ainda nem falamos das consequências climáticas. a última erupção de um supervulcão na Terra foi em Toba, no norte de Sumatra, 74 mil anos atrás4. Ninguém sabe sua extensão; sabe-se apenas que foi colossal. Os núcleos de gelo da Groenlândia mostram que a explosão de Toba foi seguida de pelo menos seis anos de “inverno vulcânico” e só Deus sabe de quantas estações de más colheitas. Acredita-se que o evento possa ter deixados os seres humanos à beira da extinção, reduzindo a população global a nada mais do que alguns milhares de indivíduos (na Wikipédia se diz ter exterminado entre 60% e 75% dos seres humanos).
[...]
Os geólogos perceberam que somente uma coisa poderia causar tal fenômeno: uma câmara de magma inquieta. Yellowstone não abrigava um supervulcão antigo, e sim um ativo. Também mais ou menos nessa época eles conseguiram calcular que o ciclo de erupções do parque era de, em média, uma explosão gigantesca a cada 600 mil anos. O interessante é que a última ocorreu há 630 mil anos. Yellowstone, ao que parece, está com o prazo vencido.
Um documentário da BBC estima que no caso de uma erupção do Yellowstone, praticamente toda a vida animal e vegetal no continente seria exterminada. Não há meios de prever por quanto tempo haveria o “inverno vulcânico”, mas sua extensão seria medida em anos. Um “inverno vulcânico” é a redução da temperatura causada por cinzas vulcânicas e ácido sulfúrico obscurecendo o Sol e diminuindo o albedo (aumentando assim a reflexibilidade da Terra). Colheitas seriam prejudicadas, sem falar na economia, extremamente dependente de importações. Mergulharia a população mundial em um crise climática e econômica digna de uma distopia. Assustador no mínimo.
Agora, com os últimos 250 mini-terremotos, talvez Yellowstone queira tirar o atraso. Aproveitem bem o ano de 2009 - vai que pode ser o último !
Fonte (CTRL-C + CTRL+V)
Anexo: Os pontos vermelhos no mapa delimitam as extremidades da caldeira do vulcão.
Recentemente saiu uma nota no Boing Boing comentando sobre os 250 - duzentos e cinquenta - miniterremotos que aconteceram no parque de Yellowstone desde o dia 26 de dezembro que podem estar ligados ao supervulcão dormente que existe no parque.
Para aqueles que desconhecem o que é um supervulcão, onde exatamente ele se localiza no parque Yellowstone o que isso pode significar para toda a raça humana, vamos fazer uma transcrição do excelente livro Breve história de quase tudo, de Bill Bryson, com grifos de Ibrahim Cesar:
Na década de 1960, enquanto estudava a história vulcânica no Parque Nacional de Yellowstone, Bob Christiansen, do US Geological Survey, intrigou-se com algo que, estranhamente, não incomodara ninguém antes: ele não conseguia encontrar o vulcão do parque. Sabia-se havia muito tempo que Yellowstone possuía uma natureza vulcânica - daí todos os seus gêiseres e outras exalações vaporosas - , e os vulcões costumam ser bem visíveis. Mas Christiansen não avistava o vulcão de Yellowstone em lugar nenhum. A única coisa que conseguiu encontrar foi uma estrutura conhecida como caldeira.
Quase todos, quando pensam em vulcões, imaginam as formas cônicas clássicas de um Fuji ou um Kilimanjaro, criadas quando o magma em erupção se acumula em um monte simétrico. Esse tipo de vulcão pode se formar com uma rapidez impressionante. Em 1943, em Parícutin, no México, um camponês se surpreendeu ao ver um trecho de sua terra fumegando. em uma semana, ele era o proprietário aturdido de um cone com mais de 152 metros de altura. Depois de dos anos formara-se um vulcão com quase 430 metros de altura e mais de oitocentos metros de diâmetro1. No todo, existem cerca de 10 mil desses vulcões intrusamente visíveis na Terra, com apenas algumas centenas deles extintos. Mas existe um segundo tipo de vulcão menos famoso, que não envolve a formação de montanhas. São vulcões tão explosivos que se abrem numa única ruptura poderosa, formando uma vasta cratera, a caldeira. Yellowstone obviamente era deste segundo tipo, mas Christiansen não encontrava a caldeira em parte alguma.
Por coincidência, justamente naquela época, a NASA decidiu testar algumas câmeras novas de grande altitude tirando fotografias de Yellowstone. Um funcionário atencioso enviou algumas cópias às autoridades do parque para que pudessem utilizar nos cartazes dos centros de visitantes. Assim que Christiansen pôs os olhos nas fotos, percebeu por que não fora bem-sucedido em suas tentativas: praticamente todo o parque - 9 mil quilômetros quadrados - era uma caldeira. A explosão havia deixado uma cratera com quase 65 quilômetros de diâmetro - grande demais para ser percebida no nível do solo. Em algum momento do passado, Yellowstone deve ter explodido com uma violência bem além da escala de qualquer coisa conhecida pelos seres humanos.
Yellowstone, ao que se revelou é um supervulcão. Situa-se no alto de um ponto quente enorme, um reservatório de rocha pastosa que se eleva de pelo menos duzentos quilômetros sob a Terra. O calor do ponto quente é o que aciona todas as chaminés, gêiseres, fontes quentes e vulcões de lama. Abaixo da superfície existe uma câmara de magma com 72 quilômetros de diâmetro - mais ou menos da mesma dimensão do parque - e treze quilômetros de espessura no ponto mais espesso. Imagine uma pilha de TNT com mais ou menos o tamanho de Rhode Island, elevando-se uns treze quilômetros no céu e atingindo os cirros mais altos: é sobre algo que os visitantes de Yellowstone estão pisando. A pressão que tal concentração de magma exerce sobre a crosca elevou Yellowstone e o território que o circunda, cerca de meio quilômetro acima da altura que teria normalmente. Se aquilo explodisse, o cataclismo seria inimaginável. De acordo com o professor Bill McGuire, da University College de Londres, “não seria possível permanecer nem a mil quilômetros daquilo” enquanto estivesse em erupção. As consequências posteriores seriam ainda piores.
[...]
Desde a sua primeira erupção conhecida, 16,5 milhões de anos atrás, Yellowstone explodiu cerca de cem vezes, porém as três erupções mais recentes são as mais descritas. A última erupção foi mil vezes maior que a do monte Saint Helens2 ; a penúltima foi 280 vezes maior; e a última foi tão grande que ninguém sabe ao certo quão grande foi. Foi pelo menos 2500 vezes pior que a do Saint Helens, e talvez 8 mil vezes mais monstruosa.
Não há termos de comparação. A maior explosão dos tempos recentes foi a de Krakatoa3, na Indonésia, em agosto de 1883, produzindo um estrondo que reverberou ao redor do mundo por nove dias e agitando as águas até o canal da Mancha. Mas se imaginarmos que o volume de material ejetado de Krakatoa teria o tamanho de uma bola de golfe, a maior das explosões de Yellowstone teria o tamanho de uma esfera atrás da qual poderíamos nos esconder. Nessa escala, a dos monte Saint Helens não seria maior que uma ervilha.
[...]
E ainda nem falamos das consequências climáticas. a última erupção de um supervulcão na Terra foi em Toba, no norte de Sumatra, 74 mil anos atrás4. Ninguém sabe sua extensão; sabe-se apenas que foi colossal. Os núcleos de gelo da Groenlândia mostram que a explosão de Toba foi seguida de pelo menos seis anos de “inverno vulcânico” e só Deus sabe de quantas estações de más colheitas. Acredita-se que o evento possa ter deixados os seres humanos à beira da extinção, reduzindo a população global a nada mais do que alguns milhares de indivíduos (na Wikipédia se diz ter exterminado entre 60% e 75% dos seres humanos).
[...]
Os geólogos perceberam que somente uma coisa poderia causar tal fenômeno: uma câmara de magma inquieta. Yellowstone não abrigava um supervulcão antigo, e sim um ativo. Também mais ou menos nessa época eles conseguiram calcular que o ciclo de erupções do parque era de, em média, uma explosão gigantesca a cada 600 mil anos. O interessante é que a última ocorreu há 630 mil anos. Yellowstone, ao que parece, está com o prazo vencido.
Um documentário da BBC estima que no caso de uma erupção do Yellowstone, praticamente toda a vida animal e vegetal no continente seria exterminada. Não há meios de prever por quanto tempo haveria o “inverno vulcânico”, mas sua extensão seria medida em anos. Um “inverno vulcânico” é a redução da temperatura causada por cinzas vulcânicas e ácido sulfúrico obscurecendo o Sol e diminuindo o albedo (aumentando assim a reflexibilidade da Terra). Colheitas seriam prejudicadas, sem falar na economia, extremamente dependente de importações. Mergulharia a população mundial em um crise climática e econômica digna de uma distopia. Assustador no mínimo.
Agora, com os últimos 250 mini-terremotos, talvez Yellowstone queira tirar o atraso. Aproveitem bem o ano de 2009 - vai que pode ser o último !
Fonte (CTRL-C + CTRL+V)
Anexo: Os pontos vermelhos no mapa delimitam as extremidades da caldeira do vulcão.