Esse é um assunto bem interessante.
Irei contar um pequeno resumo dos motivos que me levaram à sair de casa e o motivo de eu preferir muito mais morar sozinho e sem as mordomias que a moradia com os pais trazem.
Lá quando eu tinha 7 anos, meus pais resolveram se separar, e foi uma treta gigante, pois os dois queriam a guarda dos filhos (eu e minha irmã, na época com 2 anos). Depois de 2 anos de processos, ficou que eu iria morar com meu pai e minha irmã com a minha mãe.
Não achei ruim, pois sempre gostei muito do meu pai e de visitar ele nos fins de semana enquanto os processos tramitavam, além de sempre ver minha irmã e minha mãe. Morar com ele se mostrou muito bom também, pois éramos muito amigos, sempre saindo para andar de bike, fazer trilhas, assistir filmes e afins. Resumindo, ele era meu melhor amigo e eu o melhor amigo dele.
Porém, ele arrumou uma namorada. Ela sempre era gente boa comigo e participava dos nossos rolês de pai e filho, mas como ela era legal comigo e com a minha irmã, não me importava e até gostava. Eis que, após +- dois anos de namoro, meu pai e a namorada resolveram casar (meu pai tinha uma condição financeira excelente, pois era um dos únicos dentistas da cidade). Na época, meu pai me perguntou o que achava da idéia, e eu aprovei, pois ela era bem legal. Pff... não podia estar mais enganado.
Após o casamento, tudo mudou. A mulher virou o demônio dentro de casa, inventava coisas pro meu pai e o mesmo descia o sarrafo em mim. Começou com uma lenga-lenga de Deus em casa, onde tudo que eu gostava era errado, e isso acabou influenciando meu pai que, de um cara muito gente fina, que eu conversava sobre tudo, mudou completamente. Nós não conversávamos mais nem fazíamos nada juntos. O clima só foi piorando, e ficou de tal forma que a minha irmã nem ia mais lá e acabou brigando feio com meu pai depois de uns anos, onde até hoje não se falam mais.
Depois de um tempo, eu só morava lá, não vivia nem interagia com ninguém. Saía de manhã pra escola, voltava, almoçava e já saía de novo, só voltando à noite e ia direto pro meu quarto.
Porém, o que não poderia piorar, piorou. Minha madrasta ficou grávida e teve a minha segunda irmã. Me tiraram do meu quarto, pois "o nenê precisa de mais espaço" e me colocaram no quarto menor. Após um ano do nascimento, ela engravidou de novo e, novamente, me trocaram de quarto, só que dessa vez, para o quarto que ficava no térreo, onde a empregada ficava e era usado meio como um depósito para as tralhas da casa.
Inclusive, é dessa época meu avatar, onde eu era uma caricatura do adolescente revoltado. Felizmente, eu tinha e ainda tenho amigos muito bons, que eu sempre pude contar nas horas que as coisas pesavam em mim e eu ficava pensando besteira.
Quando saí de casa, foi extremamente prazeroso. Aquele sentimento de ter seu próprio canto, onde você tem liberdade de fazer o que quiser e quando quiser, não tem preço. Mesmo com meu pai me "sustentando" para fazer a faculdade, pois era integral, não ia para minha cidade nem a pau, somente nas férias de fim de ano mesmo, pois não tinha como ficar na cidade da facul, já que não tinha ninguém lá.
Como não me dei bem com o curso (novamente com muita briga e discussões), acabei largando e voltando para aquele poço depressivo que eles chamavam de casa, doido para arrumar um trabalho e alugar qualquer pocilga que tivesse uma cama, geladeira e internet. Pouco mais de um ano após voltar, arrumei um trampo que pagava R$ 600,00. Aluguei uma kitnet e saí de casa, sem pensar duas vezes.
Após alguns anos, comigo já trabalhando em um lugar melhor, em um ap legal e tals, eu e meu pai nos entendemos. Ele me chamou para morar com ele novamente, pois "iria economizar, aí poderia comprar um carro bacana e uma casa ou ap". Mas, como conheço o que me espera lá, principalmente por causa da minha madrasta, prefiro viver tranquilo e de forma humilde do que morar em uma casa que tenha piscina, carros importados e cachorro "de marca" e não ter paz.
[]s