Livros - [ TÓPICO DEDICADO ]

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Em "Akhenaton: a história do humano contada por um gato" (de 1992), “traduzida do siamês” por Gérard Vincent, o leitor é convidado a vislumbrar a vida de um gato narrador que tenta passear, filosoficamente, pela história da Humanidade, e fica muito aquém da proposta (ainda assim melhor que um humano letrado e especializado em vários assuntos). Um observador perspicaz, seguro de suas informações de primeira mão, não hesita em se tornar um historiador para nosso maior prazer. Misturando habilmente anedota com erudição, viajando no tempo e no espaço, saltando do Egito dos faraós para a Paris contemporânea, Akhenaton, sem qualquer restrição, conta a história da vida do homem e da mulher, de sua sexualidade, seus amores, suas fraquezas, suas raras qualidades animais ou humanas. A guerra, a violência, a maldade combinam-se constantemente com o temor de Deus, a angústia da morte e o medo para criar esta história, a nossa história. Cronista do "longo tempo", estaria nosso gato pessimista? Cáustico e realista, ele responderá. Ele não acredita em nada, não espera nada, não espera nada. Isso é sabedoria felina? Para descobrir, vamos dar a língua ao gato. Outra nostálgica leitura da juventude! :vinho:

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(...) “Eu posso dormir vinte horas por dia e me divertir com uma calma catastrófica. Quanto aos desejos, eles são de três tipos. Desejos naturais e necessários: beber, comer, dormir, aquecer, conhecer Nefertiti de vez em quando. Desejos naturais e desnecessários que diversificam o prazer e que tento satisfazer: prefere os pratos sofisticados que Édouard prepara para mim ao rato que passa. Quanto aos desejos necessários, nem natural, como a riqueza, as honras, a glória, cuja os humanos gostam tanto, eu não os sinto.” (...)

“Diz-se que os povos felizes não têm história. Não há pessoas felizes. Então só há história. Deve ser escrito. Vou tentar, mas quero dizer, modestamente, ser como Deus no Universo, presente em todos os lugares, visível em nenhum lugar. eu não trago nenhuma mensagem. Se você quer viver, você tem que desistir ter uma ideia clara do que é a humanidade, não se trata de mudá-la, mas de conhecê-la. A maneira como todas as religiões falam sobre Deus revolta por tratá-la com certeza, leveza, familiaridade. Especialmente os sacerdotes, que sempre têm este nome em seus lábios e isso me irrita. É uma espécie de espirro que lhes é habitual: a bondade de Deus, a ira de Deus, ofender a Deus, essas são as suas palavras. Isto é considerá-lo como um homem e, o que é pior, como um burguês.” (...)

“A memória carrega os rastros de tudo que vivenciamos, vivi, sofri por minha raça. Eu sou a testemunha absoluta. Eu vivo (ou morro) quando dezenas de milhões de homens e as mulheres são aniquiladas por epidemias de peste. Expectador das festas galantes cantadas e pintadas por Lulliet Watteau. Eu moro nos apartamentos dos ricos e em bordéis para pobres, em saunas e fornos. Eu vivo (ou morro) nas trincheiras de o Argonne, na Stalingrado sitiada, na morte de Dresden, na Hiroshima aniquilada. Tudo isso relatarei em uma linguagem que não excluirá certa preciosidade. Dormimos tanto em dicionários que sabemos todas as palavras, não confundindo, claro, ataraxia e enteléquia, errância e erro, avatar e acidente e, sempre, entre duas palavras, escolhendo a menor. a imaginação nós faltando (não inventamos nada desde Bastet), nenhuma fantasia se interpõe entre o que é e o que nós percebemos.” (...)

(...) “Como já disse, a teoria antropomórfica do mundo revelou-se absurda diante da moderna biologia – o que não quer dizer, naturalmente, que um dia a al teoria será abandonada pela grande maioria dos homens. Ao contrário, estes a abraçarão à medida que ela se tornar cada vez mais duvidosa. De fato, hoje, a teoria antropomórfica ainda é mais adotada do que nas eras de obscurantismo, quando a doutrina de que um homem era um quase-Deus foi no mínimo aperfeiçoada pela doutrina de que as mulheres inferiores. O que mais está por trás da caridade, da filantropia, do pacifismo, da “inspiração” e do resto dos atuais sentimentalismos?

Uma por uma, todas estas tolices são baseadas na noção de que o homem é um animal glorioso e indescritível, e que sua contínua existência no mundo deve ser facilitada e assegurada. Mas esta idéia é obviamente uma estupidez. No que se refere aos animais, o mesmo num espaço tão limitado como o nosso mundo, o homem é tosco e ridículo. Poucos bichos são tão estúpidos ou covardes quanto o homem.

O mais vira-lata dos cães tem sentidos mais agudos e é infinitamente mais corajoso, para não dizer mais honesto e confiável. As formigas e abelhas são, de várias formas, mais inteligentes e engenhosas; tocam para a frente seus sistemas de governo com muito menos arranca-rabos, desperdícios e imbecilidades. O leão é mais bonito, digno e majestoso. O antílope é infinitamente mais rápido e gracioso. Qualquer gato doméstico comum é mais limpo. O cavalo, mesmo suado do trabalho, cheira melhor. O gorila é mais gentil com seus filhotes e mais fiel à companheira. O boi e o asno são mais produtivos e serenos. Mas, acima de tudo, o homem é deficiente em coragem, talvez a mais nobre de todas as qualidades. Seu pavor mortal não se milita a todos os animais do seu próprio peso ou mesmo da metade do seu peso – exceto uns poucos que ele degradou por cruzamentos artificiais --, seu pavor mortal é também daqueles da sua própria espécie – e não apenas de seus punhos e pés, mas até de suas risotas.

Nenhum outro animal é tão incompetente para se adaptar ao seu próprio ambiente. A criança, quando vem ao mundo, é tão frágil que, se for deixada sozinha por aí durante dias, infalivelmente morrerá, e essa enfermidade congênita, embora mais ou menos disfarçada depois, continuará até a morte. O homem adoece mais do que qualquer outro animal, tanto em seu estado selvagem quanto abrigado pela civilização. Sofre de uma variedade maior de doenças e com mais frequência. Cansa-se ou fere-se com mais facilidade. Finalmente, morre de forma horrível e geralmente mais cedo. Praticamente todos os outros vertebrados superiores, pelo menos em seu ambiente selvagem, vivem e retêm suas faculdades por muito mais tempo. Mesmo os macacos antropoides estão bem à frente de seus primos humanos. Um orangotango casa-se aos sete ou oito anos de idade, constrói uma família de setenta ou oitenta filhos, e continua tão vigoroso e sadio aos oitenta quanto um europeu de 45 anos.

Todos os erros e incompetências do Criador chegaram ao seu clímax no homem. Como peça de um mecanismo, o homem é o pior de todos; comparados com ele, até um salmão ou um estafilococo são máquinas sólidas e eficientes. O homem transporta os piores rins conhecidos da zoologia comparativa, os piores pulmões e o pior coração. Seus olhos, considerando-se o trabalho que são obrigados a desempenhar, são menos eficientes do que o olho de uma minhoca; o Criador de tal aparato ótico, capaz de fabricar um instrumento tão cambeta, deveria ser surrado por seus fregueses. Ao contrário de todos os animais, terrestres, celestes ou marinhos, o homem é incapaz, por natureza, de deixar o mundo em que habita.

Precisa vestir-se, proteger-se e armar-se para sobreviver. Está eternamente na posição de uma tartaruga que nasceu sem o casco, um cachorro sem pelos ou um peixe sem barbatanas. Sem sua pesada e desajeitada carapaça, torna-se indefeso até contra as moscas. E Deus não lhe concedeu nem um rabo para espantá-las.

Vou chegar agora a um ponto de inquestionável superioridade natural do homem: ele tem alma. É isto que o separa de todos os outros animais e o torna, de certa maneira, senhor deles. A exata natureza de tal alma vem sendo discutida há milhares de anos, mas é possível falar com autoridades a respeito de sua função. A qual seria a de fazer o homem entrar em contato direto com Deus, torná-lo consciente de Deus e, principalmente, torná-lo parecido com Deus. Bem, considere o colossal fracasso desta tentativa. Se presumirmos que o homem realmente se parece com Deus, somos levados à inevitável conclusão de que Deus é um covarde, um idiota e um pilantra. E, se presumirmos que o homem, depois de todos esses anos, não se parece com Deus, então fica claro imediatamente que a alma é uma máquina tão ineficiente quanto o fígado ou as amígdalas, e que o homem poderia passar sem ela, assim como o chimpanzé, indubitavelmente, passa muito bem sem alma.

Pois é este o caso. O único efeito prático da se ter uma alma é o que ela infla o homem vaidades antropomórficas e antropocêntricas – em suma, com superstições arrogantes e presunçosas. Ele se empertiga e se empluma só porque tem alma – e subestima o fato de que ela não funciona. Assim, ele é o supremo palhaço da criação, o reductio ad absurdum da natureza animada. Não passa de uma vaca que acredita dar um pulo à Lua e organiza toda a sua vida sobre esta teoria. É como um sapo que se gaba de combater contra leões, voar sobre o Matterhorn ou atravessar o Helesponto.

No entanto, é esta pobre besta que somos obrigados a venerar como uma pedra preciosa na testa do cosmos. É o verme que somos convidados a defender como o favorito de Deus na Terra, com todos os seus milhões de quadrúpedes muito mais bravos, nobres e decentes – seus soberbos leões, seus ágeis e galantes leopardos, seus imperiais elefantes, seus fiéis cães, seus corajosos ratos. O homem é o inseto a que nos imploram, depois de infinitos problemas, trabalho e despesas, a se reproduzir.” (...)
[“Livro dos insultos” - bom complemento a citada obra, de Henry Louis Mencken.]​

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“Ética”, concluída em 1675, é a obra-prima de Baruch Spinoza que influenciou, e continua influenciando, o pensamento de inúmeros grandes filósofos. Spinoza acreditava que Deus era a engrenagem que movia o Universo, e que os textos bíblicos nada mais eram que símbolos, os quais dispensam qualquer abordagem racional. De acordo com sua visão, os textos aí contidos não traduzem a realidade que envolve o Criador e sua criação. Na esfera da sociedade protestante que dominava a Holanda não havia espaço para um pensamento considerado herético como esse, portanto os líderes judeus, recebidos com clemência por estes religiosos, não podiam tolerar uma atitude que investia contra os próprios alicerces do Cristianismo. Spinoza foi acusado de blasfemador e afastado da Sinagoga de Amsterdã, sendo deserdado pela família. Imprescindível e inestimável para aqueles que buscam se aprofundar na filosofia de Espinosa.

Uma das principais dificuldades para se entender a Ética de Espinosa é o fato de que ele emprega, de forma bem peculiar, uma série de expressões da Filosofia clássica (substância, vontade, modo, efeito, natureza, essência, Deus) que possuem um longo histórico de utilização e desenvolvimento na Filosofia. O filósofo tinha ciência disso, e é claro, começa a obra dando definições muito específicas para os termos que articulam o seu sistema. No entanto, por simples questão de hábito mental, é muito difícil, no decorrer da leitura da obra, não nos apoiarmos pelo menos às vezes nas definições tradicionais com as quais estamos acostumados. Por exemplo, quem se acostumou com a filosofia aristotélica achará a princípio confuso que Espinosa afirme existir apenas uma substância, ou que da noção de natureza ele exclua qualquer causa final/finalidade. Com efeito, o filósofo tinha uma visão da natureza que não difere muito daquela dos biólogos de hoje, e enxergava a noção de causa final como um apetite humano projetado sobre a natureza e erigido como princípio. Isso sem falar na noção de virtude, que em Spinoza, designa quase que o oposto daquilo que muitos filósofos haviam defendido. Para ele, a base da virtude é o desejo, o esforço de cada coisa para permanecer no seu ser. Além disso, há noções que, embora ele procure definir de maneira precisa, não são fáceis de compreender, ou acabam gerando em nós algumas ambiguidades. Um exemplo é a noção de atributo. Com efeito, atributo é um termochave da filosofia de Espinosa e, nada obstante, trata-se igualmente de um dos mais problemáticos na Ética. No mundo de Spinoza, tudo que existe ou é Deus ou está em Deus, que é a única substância. As coisas particulares que existem são modos pelos quais os atributos de Deus se expressam. E como Deus, considerado enquanto causa de todas as coisas, é extensão e pensamento simultaneamente, sendo estes atributos da única substância divina, então também os modos pelos quais esses atributos se expressam - como as coisas particulares - podem ser considerados sob os aspectos da extensão ou do pensamento. Essa é a base da solução de Espinosa para o problema mente/corpo: não se trata de substâncias diferentes, mas de modos pelos quais diferentes atributos da mesma substância se exprimem. É por considerar a unicidade da substância e por entender que mente e corpo são a mesma coisa vista sob aspectos diferentes que Spinoza pode tratar todos os afetos humanos em termos de leis naturais. Coisas que por muito tempo os filósofos condenaram como vícios provenientes do desvio da vontade livre tornam-se, para Espinosa, efeitos e estados oriundos de causas naturais, tão ou quase tão inevitáveis quanto a respiração ou as batidas do coração. O esforço básico das coisas é para manterem o seu ser. A essência do ser humano está em sua potência, em seu esforço para manter o seu ser. A esse esforço Spinoza dá o nome de desejo, de modo que a essência do ser humano é o desejo. A alegria é o afeto que acompanha o aumento do nosso poder de agir e de permanecer na existência, podendo ter causas internas ou externas. A tristeza reflete um decréscimo da nossa capacidade de agir. Todos os demais afetos - amor, ódio, inveja, gratidão, comiseração, crueldade, esperança, temor, etc. - são decorrentes desses três afetos básicos: alegria, tristeza e desejo. Deles também deriva o nosso conhecimento do bem e do mal, que não passa da consciência que temos de nossos afetos. Mas se é verdade que todos esses afetos são naturais e causados, como pode o ser humano se comportar eticamente? Seria ele um eterno escravo dos afetos? Ou haveria uma forma de regular os afetos e de construir uma ética? É essa solução que o filósofo busca nas duas últimas partes da Ética (IV e V partes) e que o leitor deverá avaliar se é satisfatória, dadas as premissas estabelecidas ao longo da obra. Claro que cada premissa, axioma e preposição pode ser questionada por um leitor crítico. Mas antes disso é preciso assimilar o argumento de Spinoza, o que exige uma leitura empática voltada simplesmente a adentrar o universo da obra, mergulhando profundamente em seus conceitos e raciocínios.​

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“Chamo de servidão a impotência humana para regular e refrear os afetos. Pois o homem submetido aos afetos não está sob seu próprio comando, mas sob o do acaso, a cujo poder está a tal ponto sujeitado que é, muitas vezes, forçado, ainda que perceba o que é melhor para si, a fazer, entretanto, o pior. Propus-me, nesta parte, demonstrar a causa disso e, também, o que os afetos têm de bom ou de mau. Mas antes de começar, gostaria de dizer algumas breves e preliminares palavras sobre a perfeição e a imperfeição, sobre o bem e o mal.

Quem decidiu fazer alguma coisa e a concluiu, dirá que ela está perfeita, e não apenas ele, mas também qualquer um que soubesse o que autor tinha em mente e qual era o objetivo de sua obra ou que acreditasse sabê-lo. Por exemplo, se alguém observa uma obra (que suponho estar ainda inconclusa) e sabe que o objetivo do seu autor é o de edificar uma casa, dirá que a casa é imperfeita e, contrariamente, dirá que é perfeita se perceber que a obra atingiu o fim que seu autor havia decidido atribuir-lhe. Mas se alguém observa uma obra que não se parece com nada que tenha visto e, além disso, não está ciente da idéia do artífice, não saberá, certamente, se a obra é perfeita ou imperfeita. Este parece ter sido o significado original desses vocábulos. Mas, desde que os homens começaram a fonnar idéias universais e a inventar modelos de casas, edifícios, torres, etc., e a dar preferência a certos modelos em detrimento de outros, o que resultou foi que cada um chamou de perfeito aquilo que via estar de acordo com a ideia universal que tinha formado das coisas do mesmo gênero, e chamou de imperfeito aquilo que via estar menos de acordo com o modelo que tinha concebido, ainda que, na opinião do artífice, a obra estivesse plenamente concluída. E não parece haver outra razão para chamar, vulgarmente, de perfeitas ou imperfeitas também as coisas da natureza, isto é, as que não são feitas pela mão humana. Pois os homens têm o hábito de formar idéias universais tanto das coisas naturais quanto das artificiais, idéias que tomam como modelos das coisas, e acreditam que a natureza (que pensam nada fazer senão em função de algum fim) observa essas idéias e as estabelece para si própria como modelos. Quando, pois, vêem que na natureza ocorre algo que esteja menos de acordo com o que concebem como modelo das coisas desse gênero, acreditam que a própria natureza fracassou ou errou e que deixou essa coisa imperfeita. Vemos, assim, que, mais por preconceito do que por um verdadeiro conhecimento delas, os homens adquiriram o hábito de chamar de perfeitas ou de imperfeitas as coisas naturais.”
(...)

“ Portanto, a razão ou a causa pela qual Deus ou a Natureza age e aquela pela qual existe é uma só e a mesma. Logo, assim como não existe em função de qualquer fim, ele também não age dessa maneira. Em vez disso, assim como não tem qualquer fim em função do qual existir, tampouco tem qualquer princípio ou fim em função do qual agir. Quanto à causa que chamam final, não se trata senão do próprio apetite humano, enquanto considerado como princípio ou causa primeira de alguma coisa. Por exemplo, quando dizemos que a causa final desta ou daquela casa foi a habitação, certamente não devemos compreender, por isso, senão que um homem, por ter imaginado as vantagens da vida doméstica, teve o apetite de construir uma casa. É por isso que a habitação, enquanto considerada como uma causa final, nada mais é do que este apetite singular, que, na realidade, é uma causa eficiente, mas que é considerada como primeira, porque, em geral, os homens desconhecem as causas de seus apetites. Pois, como já disse muitas vezes, os homens estão, de fato, conscientes de suas ações e de seus apetites, mas desconhecem as causas pelas quais são determinados a apetecer algo. Além disso, quanto ao que vulgannente se diz, que a natureza, às vezes, fracassa ou erra, e que produz coisas imperfeitas, coloco na conta das ficções de que tratei no apêndice. Portanto, a perfeição e a imperfeição são, na realidade, apenas modos do pensar, isto é, noções que temos o hábito de inventar, por compararmos entre si indivíduos da mesma espécie ou do mesmo gênero. Foi por esta razão que disse, anteriormente, que por realidade e perfeição compreendia a mesma coisa. Pois temos o hábito de reduzir todos os indivíduos da natureza a um único gênero, que dizemos ser o gênero supremo, ou seja, à noção de ente, que pertence, sem exceção, a todos os indivíduos da natureza. Assim, à medida que reduzimos todos os indivíduos da natureza a esse gênero, comparandoos entre si, e verificamos que uns têm mais entidade ou realidade que outros, dizemos que, sob esse aspecto, uns são mais perfeitos que outros. E à medida que lhes atribuímos algo que envolve negação, tal como limite, fim, impotência, etc., dizemos que, sob esse aspecto, são imperfeitos, porque não afetam nossa mente da mesma maneira que aqueles que dizemos que são perfeitos, e não porque lhes falte algo que lhes seja próprio ou porque a natureza tenha errado. Com efeito, não pertence à natureza de alguma coisa senão aquilo que se segue da necessidade da natureza de sua causa eficiente. E tudo o que se segue da necessidade da causa eficiente acontece necessariamente.” (...)

“Quanto ao bem e ao mal, também não designam nada de positivo a respeito das coisas, consideradas em si mesmas, e nada mais são do que modos do pensar ou de noções, que formamos por compararmos as coisas entre si. Com efeito, uma única e mesma coisa pode ser boa e má ao mesmo tempo e ainda indiferente. Por exemplo, a música é boa para o melancólico; má para o aflito; nem boa, nem má, para o surdo. Entretanto, mesmo assim, devemos ainda conservar esses vocábulos. Pois como desejamos formar uma ideia de homem que seja visto como um modelo da natureza humana, nos será útil conservar esses vocábulos no sentido que mencionei. Assim, por bem compreenderei aquilo que sabemos, com certeza, ser um meio para nos aproximarmos, cada vez mais, do modelo de natureza humana que estabelecemos. Por mal, por sua vez, compreenderei aquilo que, com certeza, sabemos que nos impede de atingir esse modelo. Além disso, dizemos que os homens são mais perfeitos ou mais imperfeitos, à medida que se aproximem mais ou menos desse modelo. Com efeito, deve-se, sobretudo, observar que, quando digo que alguém passa de uma perfeição menor para uma maior, ou faz a passagem contrária, não quero dizer que de uma essência ou forma se transforme em outra (com efeito, um cavalo, por exemplo, aniquila-se, quer se transforme em homem, quer em inseto). Quero dizer, em vez disso, que é a sua potência de agir, enquanto compreendida como sua própria natureza, que nós concebemos como tendo aumentado ou diminuído. Finalmente, por perfeição em geral compreenderei, como disse, a realidade, isto é, a essência de uma coisa qualquer, enquanto existe e opera de uma maneira definida, sem qualquer relação com sua duração. Com efeito, de nenhuma coisa singular se pode dizer que é mais perfeita por perseverar mais tempo no existir. Pois, a duração das coisas não pode ser determinada por sua essência, porque a essência das coisas não envolve qualquer tempo definido e determinado de existência. Uma coisa qualquer, entretanto, seja ela mais perfeita ou menos perfeita, sempre poderá perseverar no existir, com a mesma força com que começa a existir, razão pela qual, sob esse aspecto, todas as coisas são iguais.” (...)

“Sendo todas as outras coisas iguais, o desejo que nasce da alegria é mais forte que o desejo que nasce da tristeza.” (...)

“O amor é a alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior.” (...)

“Tenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los.” (...)​

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Opa, beleza.

Estou terminando de ler o livro "A construção da Maldade: Como ocorreu a destruição da segurança pública brasileira" do Roberto Motta, achei bem interessante (pelo menos pra mim) o jeito que ele coloca a situação da segurança pública.


Outros livros que li e que são muitos bons e vale apena dar uma olhada são:

Alien: Surgido das sombras

Alien II - Mar de angústia

Alien III - Rio de sofrimento

Essa trilogia do Alien é muito melhor que muitos filmes e jogos do universo alien.

Pra quem joga ou jogou Guild Wars, vale apena ler esse livros, pois existe referência deles e aqueles livros que encontramos durante a história e em alguns eventos remete aos acontecimentos dos livros e vice versa, o único porém é que só tem versão em inglês.

Guild Wars: Edge of Destiny

Guild Wars: Ghosts of Ascalon

Guild Wars: Sea of Sorrows
 
Pessoal, vocês poderiam indicar algum livro sobre séries temporais múltiplas para quem está começando os estudos desse tema (Data Science)? Agradeço a ajuda.
 
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Publicado originalmente em 1982, “Misto-quente” é um romance com toques autobiográficos que cativa o leitor pela sinceridade e aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances da segunda metade do século XX. Apesar de ser o quarto romance dos seis que o autor escreveu e de ter sido lançado quando ele já contava mais de sessenta anos, “Misto-quente” ilumina toda a obra de Charles Bukowski: pode-se dizer que, quem não leu Misto-quente, não leu Bukowski.

Para Henry Chinaski (protagonista da obra), o que pode ser pior do que crescer nos Estados Unidos da recessão pós-1929 do que ser pobre, “feio” e ter muitas espinhas, de origem alemã e ter um pai autoritário beirando a psicopatia, uma mãe passiva e ignorante, nenhuma namorada e amizades, e restando apenas a perspectiva de servir de mão de obra barata no mercado. A linguagem é dura e exala, em cada linha, os efeitos dos abusos sofridos de Henry Chinasky (alterego de Bukowsky). Curto, grosso e direto: Bukowski escreveu como a vida é, sem rodeios, firulas e malabarismos retóricos. Um dos melhores livros que já li! :vinho:

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“A primeira coisa de que me lembro é de estar debaixo de alguma coisa. Era uma mesa, eu via uma das pernas de madeira, via as pernas das pessoas e um tanto da toalha que pendia no ar. Era escuro lá embaixo, eu gostava de ficar por ali. Isto deve ter sido na Alemanha. Eu devia ter um ou dois anos de idade. Era 1922. Eu me sentia bem debaixo da mesa. Ninguém parecia saber onde eu estava. A luz do sol escorria sobre o tapete, sobre as pernas das pessoas. A luz do sol me agradava. As pernas das pessoas eram desinteressantes, diferentemente da toalha que pendia da mesa, diferentemente da perna da mesa, da luz do sol.” (...)

“Tinha começado a antipatizar com meu pai. Ele sempre estava zangado com alguma coisa. Onde quer que fôssemos, ele dava um jeito de discutir com as pessoas. Mas a maioria parecia não se assustar com sua figura; as pessoas normalmente o encaravam, calmamente, o que o deixava ainda mais exaltado. Se fôssemos comer fora, o que raramente acontecia, ele sempre encontrava algo de errado na comida e algumas vezes se recusava a pagar.” (...) “Meus pais queriam ser ricos. Por isso, imaginavam-se ricos.” (...)

“Foi no jardim de infância que conheci as primeiras crianças da minha idade. Elas pareciam muito estranhas, sorriam e conversavam e pareciam felizes. Não gostei delas. Sempre me sentia enjoado e o ar tinha um aspecto estranhamente calmo e puro. Pintávamos com tinta guache. Plantávamos sementes de rabanete no jardim e algumas semanas mais tarde os comíamos com sal. Gostava da senhora que ensinava no jardim de infância, gostava mais dela que dos meus pais. Um problema que eu enfrentava era ir ao banheiro. Estava sempre apertado, mas tinha vergonha de deixar os outros saberem da minha necessidade. Assim, eu segurava. Era realmente terrível conter a vontade. E o ar estava puro, e eu sentia vontade de vomitar, vontade de cagar e de mijar, mas não dizia nada. E quando algumas das outras crianças voltavam do banheiro, eu pensava: vocês estão sujas, vocês fizeram algo lá dentro...

As garotinhas eram bacanas em seus vestidos curtos, com seus cabelos longos e seus belos olhos, mas eu pensava, elas também fazem as coisas lá dentro, mesmo que finjam que não. O jardim de infância era em grande parte constituído de ar puro...

O ensino fundamental foi diferente, da primeira à sexta série, algumas das crianças tinham doze anos de idade, e todos vínhamos de bairros pobres. Comecei a ir ao banheiro, mas só para mijar. Certa vez, quando eu estava saindo do banheiro, vi um garotinho bebendo água no bebedor. Por trás dele veio um outro, grandalhão, e enfiou a cabeça dele no dispositivo. Quando o garotinho ergueu a cabeça, alguns de seus dentes estavam quebrados, e da boca lhe escorria sangue, havia sangue por todo o bebedor.”
(...)

“Era difícil de entender. Éramos as crianças na escola mais pobre, com os pais mais pobres e menos educados da região, vivíamos na maioria dos casos com restrições alimentares e ainda assim, numa comparação garoto por garoto, éramos muito maiores que as crianças de outras escolas primárias da cidade. Nossa escola era famosa. Éramos temidos.” (...)

“Todas as tardes depois das aulas havia uma briga entre dois alunos mais velhos. Os combates sempre se davam atrás da cerca dos fundos, onde nunca havia um professor por perto. E as lutas nunca eram justas; sempre era um garoto maior contra outro menor. O maior sempre acertava o outro com os punhos, encurralando-o contra a cerca. O garoto menor tentava revidar, mas era inútil. Logo seu rosto estava coberto de sangue, com sangue escorrendo pela camisa. O menor apanhava calado, sem jamais implorar, sem nunca pedir piedade. Por fim, o garoto maior se afastava e tudo estava terminado e todos os outros garotos caminhavam para casa lado a lado como vencedor. Eu ia para casa sozinho e às pressas, após ter segurado a vontade de cagar durante as aulas e a luta.

Normalmente, quando eu chegava em casa, a urgência de aliviar minhas necessidades desaparecia. Isso me preocupava.”
(...)

“Eu não tinha nenhum amigo na escola, nem queria. Sentia-me melhor estando sozinho. Sentava-me num banco e assistia aos outros nas suas brincadeiras e todos me pareciam um bando de idiotas.” (...)​

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Estou terminando de ler o livro "A construção da Maldade: Como ocorreu a destruição da segurança pública brasileira" do Roberto Motta, achei bem interessante (pelo menos pra mim) o jeito que ele coloca a situação da segurança pública.
Por curiosidade, qual a explicação que o autor dá?

Pq quando a referência da pessoa é ter trabalhado na segurança pública do RJ, eu já fico com o pé atrás.
 
Por curiosidade, qual a explicação que o autor dá?

Pq quando a referência da pessoa é ter trabalhado na segurança pública do RJ, eu já fico com o pé atrás.
Não me leve a mal, mas é melhor você ler o livro, pois é um tema que depende muito do entendimento da pessoa, eu tive um entendimento e ao tentar explicar aqui, posso acabar não expressando direito o que o autor quis dizer no livro.
 
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Em “Facticidade e validade: contribuições para uma teoria discursiva do Direito e da Democracia” de 1992, Jürgen Habermas fornece contribuições à teoria discursiva do direito e do Estado democrático, um novo fundamento para os princípios do constitucionalismo sob a luz de seu pensamento sócio-teórico e ético (conforme a teoria da ação comunicativa e a ética do discurso). Esta obra é uma contribuição notável e perspectiva crítica para a Filosofia do Direito do nosso século. Os capítulos da obra são sucessivamente resumidos, interpretados e discutidos criticamente por outros renomados autores.

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“Ao redor o lago de Starnberg, a 50 quilômetros de Munique, se amontoam sucessivas fileiras de chalés de estilo alpino. A única exceção às esmagadoras doses de melancolia, madeira escura e flores nas sacadas surge na forma de um bloco branco e compacto de cantos suaves, com janelas grandes e quadradas como única concessão à sobriedade. É o racionalismo feito arquitetura no país da Heidi. A Bauhaus e sua modernidade raivosa no meio da Baviera eterna e conservadora. Uma minúscula placa branca sobre uma porta azul confirma que ali vive Jürgen Habermas (Düsseldorf, 1929), sem dúvida o filósofo vivo mais influente do mundo por sua trajetória, sua obra publicada e sua atividade frenética até hoje, quando falta um mês e meio para que complete 89 anos. Sua esposa há mais de 60 anos, a historiadora Ute Wesselhoeft, nos recebe no pequeno vestíbulo e demora apenas alguns segundos para girar a cabeça e exclamar: “Jürgen, os senhores da Espanha chegaram!”. Ambos habitam esta casa desde 1971, quando Habermas passou a dirigir o Instituto Max Planck de Ciências Sociais.

O discípulo e assistente de Theodor Adorno, além de membro insigne da segunda geração da Escola de Frankfurt e ex-catedrático de Filosofia na Universidade Goethe de Frankfurt, avança vindo do seu escritório, uma adorável bagunça de papéis e livros em estado de caos, cujos janelões dão para uma floresta. Aperta a mão com força. É muito alto, caminha muito ereto e tem uma espetacular mata de cabelos brancos como a neve. Cumprimenta afável e convida a sentar num dos grandes sofás. O cômodo está decorado em tons brancos e areia e acolhe uma pequena coleção de arte moderna que inclui pinturas de Hans Hartung, Eduardo Chillida, Sean Scully e Günter Fruhtrunk e esculturas de Oteiza e Miró (esta última simboliza o Prêmio Príncipe de Astúrias de Ciências Sociais recebido em 2003). Abre-se imponente ao visitante a biblioteca de Habermas, que aloja velhos volumes de Goethe e de Hölderlin, de Schiller e de Von Kleist, e fileiras inteiras de obras de Engels, Marx, Joyce, Broch, Walser, Hermann Hesse e Günter Grass, entre uma infinidade de escritores e pensadores.

O autor de obras imprescindíveis do pensamento, da sociologia e da ciência política do século XX, como Mudança Estrutural da Esfera Pública, Conhecimento e Interesse, O Discurso Filosófico da Modernidade e Teoria da Ação Comunicativa, troca impressões com o EL PAÍS a respeito de alguns dos temas que lhe preocuparam durante seis décadas e continuam a preocupá-lo. Com uma exceção: o entrevistado preferiu evitar qualquer questão relacionada ao passado nazista de seu país e à sua própria experiência a respeito (foi membro das Juventudes Hitlerianas — por obrigação, como tantos compatriotas seus). Habermas está furioso. “Sim..., continuo furioso com algumas das coisas que ocorrem no mundo. Isso não é ruim, não é?”, brinca.

Jürgen Habermas fala com muita dificuldade, pois nasceu com fissura labiopalatina. Uma pequena tragédia pessoal para alguém cuja missão filosófica primordial sempre foi valorizar a linguagem e a dimensão social e comunicativa do homem como remédio de tantos males (tudo isso compilado em sua célebre Teoria da ação comunicativa). O velho professor se mostra realista e resignado quando, olhando pela janela, sussurra: “Já não gosto dos grandes auditórios nem dos grandes salões. Não entendo bem as coisas. Há uma cacofonia que me desespera”.

Esta entrevista, que se pode realizar graças à colaboração do professor e escritor Daniel Innerarity, é um cruzamento de caminhos entre respostas oferecidas por escrito e trocas de impressões durante aquela manhã em Starnberg. Quando a conversa terminou, o único sobrevivente da segunda Escola de Frankfurt desapareceu de repente atrás da porta da cozinha de sua casa. Voltou com um sorriso cúmplice no rosto, trazendo uma garrafa de Rioja em uma mão e uma de Riesling na outra. Espanha e Alemanha, juntas na casa de Habermas.”


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El País: Professor Habermas, fala-se muito na decadência da figura do intelectual comprometido. Considera justo esse julgamento? Não é frequentemente um mero tema de conversa entre os próprios intelectuais?

Jürgen Habermas: Para a figura do intelectual, tal como a conhecemos no paradigma francês, de Zola até Sartre e Bourdieu, foi determinante uma esfera pública cujas frágeis estruturas estão experimentando agora um processo acelerado de deterioração. A pergunta nostálgica de por que já não há mais intelectuais está mal formulada. Eles não podem existir se já não há mais leitores aos quais continuar alcançando com seus argumentos.


El País: É possível pensar que a Internet acabou por diluir essa esfera pública que antes talvez fosse garantida pela grande mídia tradicional e que isso afetou a repercussão dos filósofos e dos pensadores?

Jürgen Habermas: Sim. Desde Heinrich Heine, a figura histórica do intelectual ganhou importância junto com a esfera pública liberal em sua configuração clássica. No entanto, esta vive de certos pressupostos culturais e sociais inverossímeis, principalmente da existência de um jornalismo desperto, com meios de referência e uma imprensa de massa capaz de despertar o interesse da grande maioria da população para temas relevantes na formação da opinião pública. E também da existência de uma população leitora que se interessa por política e tem um bom nível educacional, acostumada ao processo conflitivo de formação de opinião, que reserva um tempo para ler a imprensa independente de qualidade. Hoje em dia, essa infraestrutura não está mais intacta. Talvez, que eu saiba, se mantenha em países como Espanha, França e Alemanha. Mas também neles o efeito fragmentador da Internet deslocou o papel dos meios de comunicação tradicionais, pelo menos entre as novas gerações. Antes que entrassem em jogo essas tendências centrífugas e atomizadoras das novas mídias, a desintegração da esfera populacional já tinha começado com a mercantilização da atenção pública. Os Estados Unidos com o domínio exclusivo da televisão privada é um exemplo chocante disso. Hoje os novos meios de comunicação praticam uma modalidade muito mais insidiosa de mercantilização. Nela, o objetivo não é diretamente a atenção dos consumidores, mas a exploração econômica do perfil privado dos usuários. Roubam-se os dados dos clientes sem seu conhecimento para poder manipulá-los melhor, às vezes até com fins políticos perversos, como acabamos de saber pelo escândalo do Facebook.

El País: O senhor acredita que a Internet, para além de suas indiscutíveis vantagens, criou uma espécie de novo analfabetismo?

Jürgen Habermas: O senhor se refere às controvérsias agressivas, às bolhas e às histórias falsas de Donald Trump em seus tuites. Deste indivíduo não se pode dizer sequer que esteja abaixo do nível da cultura política de seu país. Trump baixa esse nível constantemente. Desde a invenção do livro impresso, que transformou todas as pessoas em leitores potenciais, foi preciso passar séculos até que toda a população aprendesse a ler. A Internet, que nos transforma todos em autores potenciais, não tem mais do que duas décadas. É possível que com o tempo aprendamos a lidar com as redes sociais de forma civilizada. A Internet abriu milhões de nichos sub-culturais úteis nos quais se troca informação confiável e opiniões fundamentadas. Pensemos não só nos blogs de cientistas que intensificam seu trabalho acadêmico por este meio, mas também, por exemplo, nos pacientes que sofrem de uma doença rara e entram em contato com outra pessoa na mesma condição em outro continente para se ajudar mutuamente com conselhos e experiências. Sem dúvida, são grandes benefícios da comunicação, que não servem só para aumentar a velocidade das transações na Bolsa e dos especuladores. Sou velho demais para julgar o impulso cultural que as novas mídias vão gerar. O que me irrita é o fato de que se trata da primeira revolução da mídia na história da humanidade que serve antes de tudo a fins econômicos, e não culturais.


El País: No cenário hiper-tecnologizado de hoje, onde triunfam os saberes úteis, por assim dizer, qual o papel e sobretudo qual o futuro da filosofia?

Jürgen Habermas: Veja, sou da antiquada opinião de que a filosofia deveria continuar tentando responder às perguntas de Kant: o que é possível saber?, o que devo fazer?, o que me cabe esperar? e o que é o ser humano? No entanto, não tenho certeza de que a filosofia, como a conhecemos, tenha futuro. Atualmente segue, como todas as disciplinas, a corrente no sentido de uma especialização cada vez maior. E isso é um beco sem saída, porque a filosofia deveria tentar explicar o todo, contribuir para a explicação racional de nossa forma de entender a nós mesmos e ao mundo.


El País: O que resta de sua orientação marxista? Jürgen Habermas continua sendo um homem de esquerda?

Jürgen Habermas: Estou há 65 anos trabalhando e lutando na universidade e na esfera pública em favor de postulados de esquerda. Se há 25 anos advogo pelo aprofundamento político da União Europeia, faço isso com a ideia de que apenas esse regime continental poderia domar um capitalismo que se tornou selvagem. Jamais deixei de criticar o capitalismo, nem tampouco de ter consciência de que não bastam diagnósticos vagos. Não sou desses intelectuais que atiram a esmo.


El País: Kant + Hegel + Iluminismo + marxismo desencantado = Habermas. Essa equação é suficiente para resolver o “x” de sua ideologia e pensamento?

Jürgen Habermas: Se é preciso expressá-los de forma telegráfica, estou de acordo, apesar de ainda faltar uma pitada da dialética negativa de Adorno...


El País: O senhor cunhou em 1986 o conceito político do patriotismo constitucional, que hoje soa quase medicinal diante de outros supostos patriotismos de hino e bandeira. É muito mais difícil exercer o primeiro do que o segundo, não?

Jürgen Habermas: Em 1984, pronunciei uma conferência no Congresso espanhol a convite de seu presidente, e no fim fomos comer em um restaurante histórico. Ficava, se não me engano, entre o Parlamento e a Porta do Sol, na calçada da esquerda. Seja como for, durante a conversa animada com nossos impressionantes anfitriões — muitos deles eram colegas socialdemocratas que tinham participado da redação da nova Constituição do país —, minha esposa e eu nos inteiramos de que nesse lugar tinha acontecido a conspiração para preparar a proclamação da Primeira República espanhola de 1873. Ao saber disso, experimentamos uma sensação totalmente diferente. O patriotismo constitucional exige um relato apropriado para que tenhamos sempre presente que a Constituição é a conquista de uma história nacional.


El País: E nesse sentido o senhor se considera um patriota?

Jürgen Habermas: Me sinto patriota de um país que, finalmente, depois da Segunda Guerra Mundial, deu à luz uma democracia estável, e ao longo das décadas subsequentes de polarização política, uma cultura política liberal. Hesito em declarar isso e, de fato, é a primeira vez que faço isso, mas nesse sentido sim, sou um patriota alemão, além de um produto da cultura alemã.


El País: De que cultura alemã? Só há uma ou há culturas alemãs?

Jürgen Habermas: Sinto-me orgulhoso dessa cultura também em relação à segunda ou terceira geração de imigrantes turcos, iranianos, gregos, ou de onde quer que tenham chegado, que aparecem de repente na esfera pública como cineastas, jornalistas e os apresentadores de televisão mais fabulosos; como executivos e os médicos mais competentes, ou como os melhores literatos, políticos, músicos e professores. Tudo isso constitui uma demonstração palpável da força e da capacidade de regeneração de nossa cultura. A rejeição agressiva dos populistas de direita contra as pessoas sem as quais essa demonstração teria sido impossível é uma bobagem.


El País: Acredito que o senhor prepara um novo livro sobre a religião e sua força simbólica e semântica como remédio para certas lacunas da modernidade. Pode nos contar um pouco desse projeto?

Jürgen Habermas: Bem, na verdade este livro não fala tanto de religião, mas de filosofia. Espero que a genealogia de um pensamento pós-metafísico desenvolvido a partir de um discurso milenar sobre a fé e o conhecimento possa contribuir para que uma filosofia progressivamente degradada como ciência não esqueça sua função esclarecedora.


El País: Falando de religiões e de guerra de religiões e culturas, levando-se em conta o atual nível de intransigência e os fundamentalismos de todo tipo, o senhor acredita que rumamos para um choque de civilizações? Será que já estejamos imersos nele?

Jürgen Habermas: Em minha opinião, essa tese é totalmente equivocada. As civilizações mais antigas e influentes se caracterizaram pelas metafísicas e as grandes religiões estudadas por Max Weber. Todas elas têm um potencial universalista, e por isso se construíram sobre a base da abertura e da inclusão. A verdade é que o fundamentalismo religioso é um fenômeno totalmente moderno. Remonta à alienação social que surgiu e continua surgindo em consequência do colonialismo, da descolonização e da globalização capitalista.


El País: O senhor escreveu certa ocasião que a Europa deveria fomentar um islã ilustrado e europeu. Acredita que isso esteja ocorrendo?

Jürgen Habermas:Na República Federal Alemã nos esforçamos por incluir em nossas universidades a teologia islâmica, de forma que possamos formar professores de religião em nosso próprio país e não tenhamos de continuar importando-os da Turquia ou de outros lugares. Mas, na essência, esse processo depende de conseguirmos integrar verdadeiramente as famílias imigrantes. No entanto, isso nem de longe é suficiente para conter as ondas mundiais de imigração. A única maneira de enfrentar isso seria combater as causas econômicas nos países de origem.


El País: E como se faz isso?

Jürgen Habermas: Não me pergunte como se faz isso sem mudanças no sistema econômico mundial do capitalismo. É um problema de séculos. Não sou especialista, mas leia o livro de Stephan Lessenich Die Externalisierungsgesellschaft [A sociedade da externalização] e verá que a origem das ondas que agora refluem para a Europa e o mundo ocidental está exatamente nisso.


El País: “A Europa é um gigante econômico e um anão político.” Assinado: Jürgen Habermas. Nada parece ter ficado melhor depois do Brexit, dos populismos e extremismos, dos movimentos nazistas, das tentativas nacionalistas de separação da Escócia e Catalunha...

Jürgen Habermas: A introdução do euro dividiu a comunidade monetária em norte e sul, em vencedores e perdedores. A causa é que as diferenças estruturais entre as regiões econômicas nacionais não podem ser compensadas se não se avança no sentido da união política. Faltam válvulas, como por exemplo a mobilidade em um mercado de trabalho único ou um sistema de segurança social comum, e faltam competências europeias para uma política fiscal comum. A isso se acrescenta o modelo político neoliberal incorporado aos tratados europeus, que reforça mais ainda a dependência dos Estados nacionais em relação aos mercados globalizados. O elevado desemprego juvenil nos países do sul é um escândalo absurdo. A desigualdade aumentou em todos os nossos países e erodiu a coesão populacional. Os que conseguem se adaptar aderem ao modelo econômico liberal que orienta a ação em benefício próprio; entre os que se encontram em situação precária, espalha-se os medos regressivos e as reações de ira irracionais e autodestrutivas.


El País: O senhor acompanha de perto o problema catalão? Qual a sua opinião e diagnóstico?

Jürgen Habermas: Realmente qual é o motivo de um povo culto e avançado como a Catalunha desejar estar sozinha na Europa? Não entendo. Me dá a sensação de que tudo se reduz a questões econômicas... Não sei o que vai acontecer. O que lhe parece?


El País: Acredito que pensar em isolar politicamente uma população de cerca de dois milhões de pessoas com aspirações independentistas não é realista. E sem dúvida não é simples...

Jürgen Habermas: Sem dúvida é um problema, sim. É muita gente.


El País: Professor, o senhor considera os Estados-nação mais necessários do que nunca ou, pelo contrário, acredita que de alguma forma estão superados?

Jürgen Habermas: Hum, talvez não devesse dizer isso, mas considero que os Estados-nação foram algo em que quase ninguém acreditava mas que precisaram ser inventados em seu tempo por razões eminentemente pragmáticas.


El País: Sempre culpamos os políticos pelo fracasso da construção europeia, mas nós, cidadãos comuns da UE, não temos nossa parcela da culpa? Nós, europeus, realmente acreditamos na europeidade?

Jürgen Habermas: Vejamos... Até agora as lideranças políticas e os governos levaram adiante o projeto de maneira elitista, sem incluir as populações dos países nessas questões complexas. Tenho a impressão de que sequer os partidos políticos e os deputados dos Parlamentos nacionais se familiarizaram com a complicada matéria da política europeia. Sob o lema “mamãe cuida do seu dinheiro”, Merkel e Schäuble protegeram durante a crise, de forma verdadeiramente exemplar, suas medidas contra a esfera pública.


El País: A Alemanha conserva uma vocação de liderança europeia? A Alemanha confundiu às vezes liderança com hegemonia? E a França? Que papel deve desempenhar o país liderado por seu querido presidente Macron?

Jürgen Habermas: Seguramente, o problema foi, na verdade, que o Governo federal alemão sequer teve o talento ou a experiência de uma potência hegemônica. Do contrário teria sabido que não é possível manter a Europa unida sem levar em conta os interesses dos demais Estados. Nas duas últimas décadas, a República Federal agiu cada vez mais como uma potência nacionalista no terreno econômico. No que se refere a Macron, continua tentando persuadir Merkel de que é preciso pensar em sua imagem com vistas aos livros de história.


El País: Que papel o senhor acredita que a Espanha pode desempenhar na melhoria da construção europeia?

Jürgen Habermas: A Espanha simplesmente tem de respaldar Macron.


El País: Em artigos recentes o senhor defendeu com paixão a figura do presidente Macron que, veja só, é filósofo como o senhor. O que mais o atrai nele? Acredita que é um bom político por ser filósofo?

Jürgen Habermas: Por Deus, nada de governantes filósofos! No entanto, Macron me inspira respeito porque, no cenário político atual, é o único que se atreve a ter uma perspectiva política; que, como pessoa intelectual e orador convincente, persegue as metas políticas acertadas para a Europa; que, nas circunstâncias quase desesperadas da contenda eleitoral, demonstrou valor pessoal e que, até agora, em seu cargo de presidente, faz o que disse que ia fazer. E em uma época de perda de identidade política paralisante, aprendi a apreciar essas qualidades pessoais contrárias às minhas convicções marxistas.


El País: No entanto, é impossível no momento saber qual é a ideologia dele... caso exista.

Jürgen Habermas: Sim, tem razão. Até o momento continuo sem ver claramente que convicções estão por trás da política europeia do presidente francês. Gostaria de saber se pelo menos é um liberal de esquerda convicto, e isso é o que espero.


Fonte: EP

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“Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me veem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.”
[“I - Eu nunca guardei rebanhos”, Fernando Pessoa.]

 
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“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.”
[“Poema de Sete Faces”, Carlos Drummond de Andrade.]


“Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.”
[“Mundo Grande”, Carlos Drummond de Andrade.]

 
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“Parerga e Paralipomena - escritos filosóficos menores” publicada no final de 1851, é um tratado sobre vários assuntos, dentre eles, “Aforismos para a sabedoria de vida”, que tirou Arthur Schopenhauer do anonimato (em que se encontrou por toda a vida) e deu-lhe o merecido reconhecimento internacional (em seus últimos anos de vida, e após a sua morte). Trata-se de "escritos secundários" e "coisas pendentes", ou como ele mesmo escreveu, "pensamentos dispersos, embora sistematicamente ordenados, sobre diversos temas" (Schopenhauer und die wilden Jahre der Philosophie. Eine Biographie). Enfim, trata-se duma "filosofia prática" que soube reunir a "metafísica acadêmica alemã" aos preceitos religiosos e filosóficos do oriente.

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“O mundo em que vivemos. Num mundo como este, onde nada é estável e nada perdura, mas é arremessado em um incansável turbilhão de mudanças, onde tudo se apressa, voa, e mantém-se em equilíbrio avançando e movendo-se continuamente, como um acrobata em uma corda – em tal mundo, a felicidade é inconcebível. Como poderia haver onde, como Platão diz, tornar-se continuamente e nunca ser é a única forma de existência? Primeiramente, nenhum homem é feliz; luta sua vida toda em busca de uma felicidade imaginária, a qual raramente alcança, e, quando alcança, é apenas para sua desilusão; e, via de regra, no fim, é um náufrago, chegando ao porto com mastros e velas faltando. Então dá no mesmo se foi feliz ou infeliz, pois sua vida nunca foi mais que um presente sempre passageiro, que agora já acabou.” (...)

“O Jogo da Morte. Cada vez que respiramos, afastamos a morte que nos ameaça.(…) No final, ela vence, pois desde o nascimento esse é o nosso destino e ela brinca um pouco com sua presa antes de comê-la. Mas continuamos vivendo com grande interesse e inquietação pelo maior tempo possível, da mesma forma que sopramos uma bolha de sabão até ficar bem grande, embora tenhamos absoluta certeza de que vai estourar.” (...)

“Amor próprio. Ter em si mesmo o bastante para não precisar da sociedade já é uma grande felicidade, porque quase todo o sofrimento provém justamente da sociedade, e a tranquilidade espiritual, que, depois da saúde, constitui o elemento mais essencial da nossa felicidade, é ameaçada por ela e, portanto, não pode subsistir sem uma dose significativa de solidão.” (...)

“Viver Apesar dos Pesares. As cenas de nossa vida são como imagens em um mosaico tosco; vistas de perto, não produzem efeitos – devem ser vistas à distância para ser possível discernir sua beleza. Assim, conquistar algo que desejamos significa descobrir quão vazio e inútil este algo é; estamos sempre vivendo na expectativa de coisas melhores, enquanto, ao mesmo tempo, comumente nos arrependemos e desejamos aquilo que pertence ao passado. Aceitamos o presente como algo que é apenas temporário e o consideramos como um meio para atingir nosso objetivo. […] ficarão surpresas ao descobrir que aquilo que deixaram passar despercebido e sem proveito era precisamente sua vida – isto é, a vida na expectativa da qual passaram todo o seu tempo. Então se pode dizer que o homem, via de regra, é enganado pela esperança até dançar nos braços da morte! Novamente, há a insaciabilidade de cada vontade individual; toda vez que é satisfeita um novo desejo é engendrado, e não há fim para seus desejos eternamente insaciáveis. Isso acontece porque a Vontade, tomada em si mesma, é a soberana de todos os mundos: como tudo lhe pertence, não se satisfaz com uma parcela de qualquer coisa, mas apenas como o todo, o qual, entretanto, é infinito. Devemos elevar nossa compaixão quando consideramos quão minúscula a Vontade – essa soberana do mundo – torna-se quando toma a forma de um indivíduo; normalmente apenas o que basta para manter o corpo. Por isso o homem é tão miserável.” (...)

“A procura pela felicidade. O homem nunca é feliz, passa a vida inteira lutando por algo que acha que vai fazê-lo feliz. Não consegue e, quando consegue, fica desapontado: ele é um náufrago e chega ao porto de destino sem mastros nem cordames. Não interessa mais se ele foi feliz ou infeliz, pois a vida foi sempre apenas o presente, que estava sempre sumindo e agora terminou.” (...)

“Amar a solidão. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre (…) Cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.” (...)​

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“Der Wille zur Macht”, publicado postumamente em 1901, é um livro de notas extraídas dos fragmentos literários contendo os conceitos centrais do pensamento de Friedrich Nietzsche (1844-1900), fundamentando sua crítica à filosofia ocidental e ao cristianismo. No entanto, para entender a “Vontade de Potência”, é necessário compreender seu conceito oposto: a "Vontade de Verdade". Significa, principalmente, se voltar para esta vida que cria identidade e nos direciona para o futuro — e não para a “vida eterna” ou “verdade universal”, que no fundo teriam sempre, nas palavras de Nietzsche, uma “moral de escravo”. É o impulso mais fundamental do ser, e não se trata apenas do desejo de viver, mas de viver plenamente. É uma vontade que se volta para este mundo, para o fluxo de imagens fortes que nos liga à vida; que nos dá força e objetivo. Nietzsche afirma que todo ser deseja aumentar seu poder de ação, e não “saber a verdade” — este último, um objetivo que afasta a autenticidade. São nossas experiências intensas e emocionantes, boas ou não, que direcionam nossas ações.

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“Vede que surge a contradição entre o mundo que veneramos e o mundo que vivemos, que somos. Resta-nos: ou suprimimos nossa veneração ou suprimirmo-nos. O segundo caso é o niilismo.

01. O niilismo que ascende em teoria e na prática. Derivação viciosa deste (pessimismo, suas espécies: prelúdio do niilismo, embora inútil.

02. O cristianismo que sucumbe ante sua moral. "Deus é a verdade"; "Deus é o amor"; "Deus justo". O maior acontecimento - "Deus morreu" - surdamente pressentido.

03. A moral, quando privada de sua sanção, não mais se sustém. Conclui-se por deixar cair a interpretação moral (mas o sentimento ainda está saturado dos resíduos da escala cristã de valores).

04. Foi sobre julgamentos morais que até o presente repousou o valor, antes de tudo o valor da Filosofia (da vontade do verdadeiro). (O ideal popular do sábio, do profeta, do santo, caiu em desuso.)

05. Tendências niilistas nas Ciências Naturais ("absurdos"); causalismo, mecanicismo. A submissão às leis é um intermédio, um resíduo.

06. Igual em política: falta a crença no justo direito, a inocência; reina a mentira, sujeição ao momento que passa.

07. Identicamente na Economia Política: supressão da escravatura, ausência de uma casta redentora, de um justificador - vinda do anarquista. "Educação"?

08. Análogo na História: o fatalismo, o darwinismo; a última tentativa de interpretá-la num sentido razoável e divino, malogrou-se. (Também aqui o fenomenalismo: o caráter como máscara - não há fatos.) A sentimentalidade diante do passado: não se suportaria a biografia.

09. O mesmo na Arte: o romantismo e seu contragolpe (a repugnância ao ideal romântico e sua mentira). Este é moral, tem o sentido de uma grande veracidade, mas é pessimista. Os "artistas" puros (indiferentes em face do assunto). (Psicologia de confessor e psicologia de puritano, duas formas do romantismo psicológico: mas também o seu oposto, a tentativa de observar "o homem" do ângulo puramente artístico, ainda não se ousa ali a apreciação contrária!)

10. Todo o sistema europeu das aspirações humanas tem consciência de seu absurdo, ou melhor, de sua "imoralidade". Probabilidade de um novo budismo. O maior perigo. "Quais as relações entre a veracidade, o amor, a justiça e o mundo verdadeiro?"

Não existe nenhuma!”
[“Livro Primeiro - Um Plano”, Friedrich Nietzsche.]​

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Bom dia pessoal! Tudo certo?

Quero pedir a ajuda de vocês para encontrar um livro da infância...
O título, se me lembro bem, era "Mutantes" e consistia de uma série de histórias de terror/suspense de ficção científica.

Me lembro vagamente de algumas histórias:

- Uma prisão futurista, que enviava os condenados ao passado, numa época completamente inabitada, onde não poderiam causar nenhuma dano à linha do tempo. (Me lembro que a "máquina do tempo" era constituída de duas partes, chamadas "martelo e bigorna", ou algo assim);

- Um homem misterioso que fazia esculturas de pessoas em areia, super realistas, pois usava pessoas de verdade (ao estilo "Casa de Cera").

Das outras histórias tenho apenas fragmentos. Não ajudariam.

Apensar de ter quase certeza do título, não o encontro em lugar algum.

Já viram algo parecido?
 
12 Regras para a Vida - Jordan B. Peterson

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Estou retomando minhas leituras diárias e este era um que estava pendente há um bom tempo. O livro é bem interessante, já que acho o Peterson um bom orador e isso se transmite no livro, que na verdade é basicamente uma auto biografia, o autor conta várias histórias da vida dele e fala sobre o que aprendeu de uma situação específico. É um livro bem intimista, que lhe aproxima do autor, o drama envolvendo a doença da filha dele foi de certa forma inspirador, já que a carga emocional exigida foi alta. Enfim, é um livro com boas ideias sobre a vida, gera boas reflexões, a leitura é calma, mesmo com os dramas, acredito que por isso levei um tempo maior para ler, porque havia passagens onde eu relia, visto que era preciso entender o contexto para entender determinadas situações.

Nota 9.
 
12 Regras para a Vida - Jordan B. Peterson

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Estou retomando minhas leituras diárias e este era um que estava pendente há um bom tempo. O livro é bem interessante, já que acho o Peterson um bom orador e isso se transmite no livro, que na verdade é basicamente uma auto biografia, o autor conta várias histórias da vida dele e fala sobre o que aprendeu de uma situação específico. É um livro bem intimista, que lhe aproxima do autor, o drama envolvendo a doença da filha dele foi de certa forma inspirador, já que a carga emocional exigida foi alta. Enfim, é um livro com boas ideias sobre a vida, gera boas reflexões, a leitura é calma, mesmo com os dramas, acredito que por isso levei um tempo maior para ler, porque havia passagens onde eu relia, visto que era preciso entender o contexto para entender determinadas situações.

Nota 9.

Engate o Além da Ordem.
 
Engate o Além da Ordem.

Interessante, não sabia da existência desse, vou colocar na lista.
--- Post duplo é unido automaticamente: ---

Freakonomics - o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta - Steven Levitt/Stephen Dubner (2005)

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É um livro que tenta abordar alguns aspectos econômicos do dia a dia de uma forma mais elaborada, uma forma de pensar mais a fundo do que o padrão como por exemplo, o nome de uma pessoa pode determinar o sucesso econômico dela ou professores trapaceando em testes estaduais de uma escola. É meio que um livro sobre mineração de dados antes disso se tornar mais popular.

Nota 7.1
 
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“Em 2011, a Boitempo deu início a uma de suas maiores empreitadas editoriais: a tradução completa de O capital, a principal obra de maturidade de Karl Marx. Em março de 2013, em meio ao projeto MARX: a criação destruidora, um conjunto de eventos que reuniu milhares de pessoas para debater a atualidade de seu pensamento, foi lançado o primeiro livro, O processo de produção do capital, traduzido pela primeira vez a partir da edição preparada no âmbito do projeto alemão MEGA-2 (Marx-Engels Gesamtausgabe), com tradução de Rubens Enderle. O clássico de Marx foi originalmente publicado na Alemanha em 1867 e é considerado a mais profunda investigação crítica do modo de produção capitalista. O capital, da Boitempo, é o décimo sexto volume da Coleção Marx e Engels e conta com introduções de Jacob Gorender, José Arthur Giannotti e Louis Althusser, além de texto de orelha de Francisco de Oliveira. O capital é uma contribuição basilar ao pensamento anticapitalista, em especial a tradição marxista, que de certo modo se consolida com este livro. O objetivo de Marx era, por meio de uma crítica da economia política, compreender como o capitalismo funciona. Diante desse desafio, ele desenvolveu um aparato conceitual e metodológico para entender toda a complexidade do capitalismo, as categorias que constituem a articulação interna da sociedade burguesa e a relação direta entre acumulação de capital e exploração da força de trabalho. O percurso a ser seguido para entender a lógica do capital é árduo, lembra Francisco de Oliveira, no texto de orelha. Segundo ele, a leitura de O capital tem de ser feita de maneira paciente e disciplinada, tendo em vista a complexidade do objeto de análise de Marx. “Ele examina antes de tudo a mercadoria e sua formação, pois o capitalismo continua a ser, mesmo em sua fase amplamente financeirizada, um modo de produção de mercadorias”, explica o sociólogo. José Arthur Giannotti realça em sua apresentação que a obra de Marx nunca perdeu seu interesse e sua relevância, a despeito das idas e vindas das modas atuais do pensar e dos novos paradigmas em que a ciência econômica se alicerça. Como explicar essa permanência? “Parece-me que isso ocorre porque ela é mais do que um texto científico. Ao salientar a especificidade das relações fetichizadas do capital, a análise retoma a antiga questão do ser social e de sua historicidade”, afirma o filósofo. E termina com um desafio: “A questão hoje em dia é mais do que teórica. A grande crise pela qual estamos passando coloca em pauta a alienação do capital, em particular do capital financeiro, e a necessidade de alguma regulamentação internacional dos mercados. No fim das contas, que futuro queremos ter? É possível pensar o futuro sem levar em conta as análises deste livro chamado O capital.” [Boitempo Editorial]

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“Clássico originalmente publicado em 1885 na Alemanha, o volume é peça imprescindível para a compreensão plena do Livro I, e trata de forma abrangente do processo de circulação do capital, desde o consumo até a distribuição. Um dos pontos importantes examinados por Marx é a relação entre o tempo de produção e o tempo de circulação para a realização plena do mais-valor já criado. A edição ganha no Brasil textos adicionais inéditos selecionados por Rubens Enderle, especialista na obra de Marx e também responsável pela tradução da obra diretamente do alemão. A edição da Boitempo é a primeira no mundo a basear-se no conjunto publicado recentemente pela MEGA-2 (Marx-Engels- Gesamtausgabe), instituição detentora e curadora dos manuscritos de Karl Marx e Friedrich Engels, considerada por estudiosos a edição definitiva do O capital de Marx. Esses documentos, que nunca haviam sido traduzidos para o português, permitiram a reconstrução dos manuscritos em sua totalidade. Além disso, o Livro II recebe o acréscimo de treze textos originais de Marx descartados por Engels em sua edição da obra. Os excertos compõem o apêndice da edição brasileira e dão um panorama único e nunca antes visto dos rascunhos iniciais de Marx, mostrando os seus primeiros passos para desenvolver conceitos-chave de sua teoria, como esquemas e processo de reprodução. Com a nova edição, o leitor tem a chance de debater a teoria marxiana a partir das impressões do próprio autor. A edição da Boitempo indica as intervenções feitas por Engels na estrutura da obra – ou seja, na organização dos temas, na divisão das seções, dos capítulos (e subcapítulos) e nos títulos a eles eventualmente conferidos. O volume traz ainda um prefácio à edição brasileira, assinado pelo cientista político alemão Michael Heinrich, professor de economia na Universidade de Ciências Aplicadas, em Berlim, e colaborador na MEGA-2. Em seu texto, Heinrich desmitifica a má fama do Livro II – a parte mais subestimada de O capital – considerado uma leitura bastante árida sobre as formas cíclicas e os movimentos de rotação do capital. O Livro I é considerado uma obra prima, do ponto de vista tanto do conteúdo como do estilo; o Livro III aborda as relações concretas – lucro e crise, crédito e capital acionário – que determinam o cotidiano capitalista. E o Livro II? “Na realidade, esse volume tem uma enorme importância para a compreensão da crítica econômica marxiana – e por duas razões totalmente distintas: a primeira diz respeito à matéria nele tratada; a segunda, à posição que os manuscritos desse volume ocupam no processo de formação da obra magna de Marx. Sua importância está sobretudo em apresentar o capital como unidade dos processos de circulação e de produção”, afirma ele. O professor de sociologia da Unicamp Ricardo Antunes defende que o Livro II de O capital oferece pistas para se compreender e atualizar a teoria do valor-trabalho, presente em fenômenos contemporâneos, como o papel predominante das tecnologias de informação, dos novos serviços e da produção imaterial. “Ao contrário do fim do valor, tão alardeado há décadas, o que o mundo produtivo vem presenciando é a expansão sem limites de novas formas geradoras do valor, ainda que sob a aparência do não-valor", enfatiza Antunes.” [Boitempo Editorial]

 
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“Bem-vindo ao deserto do real! é uma coletânea de cinco ensaios de Slavoj Žižek, onde o autor aborda os acontecimentos de 11 de Setembro e suas consequências. O filósofo esloveno firmou-se como um importante interlocutor nos debates sobre o destino do pensamento político de esquerda, ao mesmo tempo em que se transformou em figura de destaque dos cultural estudies norte-americanos, ao fornecer uma outra via de abordagem da cultura contemporânea. Em “Bem-vindo ao deserto do real!”, Slavoj Žižek usa a provocativa frase “Com essa esquerda, quem precisa de direita?” para comentar a atuação da esquerda no período posterior aos atentados de 2001. Atuação essa que permitiu que a ideologia hegemônica se apropriasse da tragédia e impusesse sua mensagem de que é preciso escolher um lado na “guerra contra o terrorismo”. Para o autor, a tentação de escolher um dos lados deve ser evitada. Segundo Žižek, quando as escolhas parecem muito claras, a ideologia se encontra em seu estado mais puro, obscurecendo as verdadeiras opções. A "democracia liberal" não é a alternativa ao "fundamentalismo" muçulmano, coloca. Publicado pela Boitempo dentro da coleção Estado de Sítio, Bem-vindo ao deserto do Real! não é apenas mais um livro sobre os desafios políticos impostos pelo 11 de Setembro. Movendo-se no interior de um terreno para onde convergem a crítica da cultura, a psicanálise, a teoria social, a análise cinematográfica e a política, Žižek sabe diagnosticar os sintomas da sociabilidade contemporânea e desvendar articulações onde menos se espera. Suas conclusões ultrapassam a análise circunstancial de um fato e levam o leitor ao cerne dos impasses do nosso tempo. Um tempo em que a busca pela realidade objetiva que há por trás das aparências é falsa, funcionando como 'o estratagema definitivo para evitar o confronto com o Real'.” [Boitempo Editorial]

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“Escrito para o público geral, o livro China: o socialismo do século XXI é um meticuloso trabalho teórico e estatístico de Elias Jabbour e Alberto Gabriele. A obra analisa a República Popular da China, gigante que se tornou, nas últimas duas décadas, a locomotiva do sistema econômico mundial. Afinal, o que é o socialismo chinês? É possível afirmar que difere do capitalismo tal qual o conhecemos até aqui, embora ainda seja prematuro defini-lo como alternativa consolidada.

Com uma postura crítica, os autores não desconsideram a complexidade da China e fogem de preconceitos ideológicos como enquadrar o país como mais um fracasso socialista ou, na via oposta, como um paraíso do comunismo realizado. Oferecem ao leitor uma abordagem materialista, que analisa a peculiaridade das relações de propriedade e das ferramentas de planejamento-projeto vigentes no país. Tudo isso para apontar seu papel crucial como alternativa realista à anarquia do capital.

A obra apresenta um país que conseguiu, durante décadas, alcançar uma das taxas de crescimentos mais estáveis da história, passando de um dos mais pobres do mundo a segunda economia do planeta e que possui vasta base industrial e científica, sem ignorar que o sistema socioeconômico chinês também carrega contradições sérias que precisam ser analisadas e criticadas.

Silvio Almeida, que assina a quarta capa, afirma que "o livro de Elias Jabbour e Alberto Gabriele é um trabalho corajoso. E aqui não se trata de exaltar um aspecto moral, externo à obra. A coragem a que me refiro é um atributo essencial às grandes empreitadas intelectuais que objetivam iniciar um debate público e orientado pela ciência em torno de temas fundamentais. É com esse propósito que os autores enfrentam o desafio de analisar a formação econômico-social da China e os sentidos do socialismo. É um livro que tende a tornar-se ponto incontornável nas discussões sobre as singularidades da economia chinesa e, por consequência, das possibilidades de ressignificação do socialismo”.

Já Luiz Gonzaga Belluzzo escreve “este livro, magnificamente organizado e escrito por Elias Jabbour e Alberto Gabriele, gratificará o leitor com os sabores incomparáveis da aventura intelectual. Na vida do conhecimento e da compreensão da sociedade e da economia devemos sempre almejar à desconstrução do estabelecido e buscar os desafios do novo que nasce do movimento dos homens e de suas relações. É isso o que nos oferecem Jabbour e Gabriele. A aventura dos autores empenha-se em descobrir no socialismo da China a construção de uma nova formação econômica e social que instiga a perplexidade dos conformistas que não se cansam de indagar: Capitalismo de Estado ou Socialismo de Mercado?”
[Boitempo Editorial]

“Elias Jabbour e Alberto Gabriele estão entre os mais destacados estudiosos da China contemporânea e dos processos de transformação em curso, que ultrapassam suas fronteiras e abrem as perspectivas de novas formas de existência. Os autores entregam neste livro um rico material analítico e empírico e propõem uma síntese original entre o marxismo, o estruturalismo e o keynesianismo que não pode ser ignorada pelos cientistas sociais.” [Carlos Eduardo Martins]





 
Superfreakonomics - Steven Levitt, Stephen J. Dubner (2009)

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O livro é uma continuação do Freakonomics que li anteriormente, segue o mesmo princípio de observar pequenas coisas do dia a dia e analisar mais friamente, apresentando uma visão diferenciada sobre elas. Achei a leitura melhor do que o primeiro, porque os autores deram uma abrangida maior nos casos e assim o texto ficou mais dinâmico. O melhor texto foi sobre o caso de Kitty Genovese, uma moça que foi morta a facadas e 38 pessoas que eram vizinhas no local, apenas viram o crime, não ligaram para a polícia. Essa história foi contada no livro do Malcom Gladwell, o ponto da virada, como um caso psicológico de "Efeito espectador", onde mesmo que haja várias pessoas observando uma injustiça acontecendo, a grande maioria das pessoas não se mobiliza para auxiliar a vítima.
A questão é que os autores viram algo a mais nessa história que muda um pouco o entendimento. Eu fiquei de queixo caído.

No geral, um livro melhor que o primeiro, achei interessante o conceito de MicroEconomia, sendo que normalmente estamos mais acostumados a ver sobre MacroEconomia no dia a dia. Vou dar uma olhada mais a fundo em outras obras.

Nota 7.9
 

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