Meu pai tem 61 anos e ano passado teve um episódio de saúde curioso: acordou num sábado de madrugada vomitando sangue, dormiu, e no outro dia tinha perdido a memória. Desde então (já fazem uns 10 meses), nunca mais foi o mesmo. Teve perda de memória recente, só lembra de poucas coisas dos últimos anos, e relembra coisas de 10, 15 anos atrás.
Adquiriu uns hábitos estranhos, tipo ficar na sala de manhã com a luz acesa, lavar louça sem detergente, diminuiu a frequência dos banhos...
Passamos em alguns médicos, mas depender do SUS é fod%. Alguns diagnósticos superficiais falam em demência alcoólica (ele é dependente há uns 30 anos). Até suspeitamos de Alzheimer, mas eu acho que essa doença não acontece tão do nada assim, é algo mais gradual e deve dar uns efeitos diferentes.
De qualquer modo, essa mudança de personalidade afetou todo mundo, e tá ficando cada vez mais complicado a convivência.
Alzheimer é uma forma de demência, então, sim, pode ser Alzheimer.
Isso esta soando vagamente como um episódio de Acidente Vascular Cerebral. Um sintoma de AVC é vomitar. AVC tem o potencial de prejudicar memória, linguagem, coordenação, etc. AVC depende muito do caso, mas tb tem esse poder de mudar comportamentos do nada.
Então, complementando o que falei pro colega de cima:
Minha sogra tem demência por conta de AVCs (sim, no plural) que ela teve durante a vida. Só que segundo a família ela nunca teve AVC.
Ocorreram episódios estranhos, um eu presenciei ao vivo e outro acompanhei a distância. Em um deles, ela estava em casa com a minha sobrinha e começou a falar coisas sem nexo e esquecer o nome de objetos simples. Quando a levamos ao hospital ela sequer lembrava de quem éramos - nessa época ela morava aqui no Brasil, eram 3 filhas, 2 genros e 3 netos no local, ela não se lembrava de nenhum. E achava que ainda tinha 30 anos. Isso foi durante o dia, de noite a memória já estava voltando ao normal. No dia seguinte parecia que nada tinha acontecido tirando a fraqueza.
Como ela se recuperou bem ninguém deu tanta atenção.
Depois, quando já morava nos EUA, um dia ela acordou praticamente catatônica, respiração fraca e suando muito. No hospital alucinava, foi a primeira vez que ela de fato manifestou os sintomas de demência. Falava que a filha queria matar ela, queria fugir do hospital a qualquer custo achando que ali era algum tipo de quartel de traficantes (sério!), lembrava de coisas ruis do passado e achava que estavam acontecendo naquele momento. Nesse dia minha cunhada fez uma ligação em vídeo pra gente pra podermos tentar acalmar e acho que foi a cena mais feia que já vi na vida - e olha que já vi gente sendo baleada na cara. Ali ela teve outro AVC, sem parecer que era isso.
Já aqui no Brasil a médica disse que foram "mini AVCs", não sei se tem um nome correto pra isso mas essa foi a definição dela, talvez pra ficar mais fácil da gente entender.
Isso causou duas coisas na minha sogra: encolhimento do cérebro e um meningioma.
Meningioma é como se fosse um tumor no cérebro, que segundo a médica que está tratando minha sogra isso se resume a uma 'massa de sangue'. É benigno mas se estourar ela morre e isso pode acontecer de uma hora pra outra, sem aviso nem nada. Ainda não sabemos se isso afetou o cérebro pra causar a demência.
Já o encolhimento do cérebro foi o principal causador, ou único, vai saber. E faz todo o sentido pq falando de forma simples o AVC faz o cérebro "esquecer" certas coisas, como falar, andar, comer, etc.
Desculpem o textão mas as vezes isso pode ajudar outras pessoas a identificar o problema em parentes.
Ontem ocorreu um fato no mínimo curioso: tem uma pessoa nova na "escola" que minha sogra frequenta (não falamos que é casa de repouso) e essa pessoa tem problemas auditivos. Minha sogra estava tentando puxar assunto e o cidadão não respondia pq não ouvia.
Veio o caminho de volta todinho reclamando do cara, falando mal e até sendo meio racista com ele.
Hoje de manhã falou pra minha esposa que está com medo dele ser um monstro. Disse que ficou pensando chegou a conclusão de que ele é um monstro, pediu pra minha esposa orar por ela.
Não era drama, a gente já sabe identificar quando ela faz ceninha pra não ira pra "escola". A dúvida era real.
Pra vcs verem como essa maldição de doença afeta a cabeça da pessoa.