O Ebola é uma doença viral que parece ser feita do mesmo material que os pesadelos. Descoberta em 1976, durante um surto que ocorreu no Sudão em uma região próxima ao rio Ebola, no antigo Zaire, a doença afeta diversos sistemas do corpo humano e tem sintomas que variam do soluço à dor de cabeça – que acaba evoluindo para sangramentos gastrintestinais, de mucosas e das eventuais punções venosas para progressivas insuficiências renal e hepática. A mortalidade pode chegar a 90% e o óbito ocorre entre uma e duas semanas do início dos sintomas, por falência múltipla de órgãos. Não há tratamento conhecido além de medidas suportivas para que o próprio sistema imunológico do paciente combata o vírus.
Se as vítimas se levantassem após a morte e começassem a perseguir os vivos, seria possível cogitar se essa doença horrível não seria uma invenção de George A. Romero.Desde a sua descoberta nos anos 70, a febre hemorrágica do vírus ebola (que é o nome oficial da doença) sempre foi motivo de preocupação por autoridades sanitárias e hipocondríacos mundo afora. A apreensão é justificada, se uma pessoa infectada tivesse acesso a uma área de grande densidade populacional, como Nova York, por exemplo, o desastre humanitário seria incomensurável.
Para comparação, a gripe espanhola, a pandemia de proporções apocalíptica que afligiu o mundo no começo do século XX e matou entre 50 e 100 milhões de pessoas, teve uma mortalidade estimada entre 10 e 20%. No entanto, desde que foi descoberto, o Ebola foi responsável por apenas pequenos surtos rapidamente resolvidos na África e casos isolados importados na Europa e EUA. Tudo isso mudou em março deste ano quando foi anunciado que um grande surto estava em andamento na Guiné, Libéria e Serra Leoa.
Com uma suspeita até agora de 7.492 casos e 3.439 mortes, os governos africanos e as agências internacionais têm tido dificuldades para conter a disseminação da doença. Evidentemente, as condições precárias de saúde e infraestrutura no continente não são exatamente as ideais para a resolução dessa crise, descrita pela Organização Mundial da Saúde como “a mais severa emergência aguda (sic) de saúde pública dos tempos modernos”.
Ed Garcia, diretor administrativo da Firestone na Libéria
Em meio a esse cenário desolador, na Libéria, está a cidade de 80 mil habitantes de Harbel, próxima à capital do país, Monrovia. O vilarejo é inteiramente habitado por empregados da Firestone, empresa famosa por fabricar pneus, e seus familiares. Lá a companhia americana possui extensas plantações de seringueiras, de onde é extraído o látex para a fabricação de seus produtos. O primeiro caso de Ebola em Harbel ocorreu no dia 30 de março. A ação imediata da empresa foi tentar transferir a vítima, esposa de uma empregado, para um hospital da capital. A resposta das autoridades sanitárias do país, no entanto, foi de que não havia leitos disponíveis para receber mais nenhum paciente. Foi aí que Ed Garcia, diretor administrativo da Firestone na Libéria, decidiu tomar o assunto nas suas próprias mãos.
Segundo o executivo, a notícia de que havia uma pessoa infectada na cidade foi dada em um domingo e a transferência da mulher para Monrovia foi negada na segunda-feira. Na terça, os administradores da Firestone haviam montado um plano de contingência. Usando conhecimentos sobre a patologia adquiridos na internet, eles improvisaram no hospital da comunidade uma ala de isolamento onde começaram a tratar a mulher. Os médicos e enfermeiros que atenderam a paciente, na falta da paramentação adequada, usaram com sucesso os trajes e outros equipamentos de proteção individual (EPIs) que os trabalhadores das fábricas usam para se proteger dos produtos químicos que fazem parte do processo de fabricação dos pneus, o que incrivelmente deu certo.
A empresa, então, imediatamente pôs a família da paciente em quarentena. A tática funcionou surpreendentemente bem e mais ninguém nas terras da Firestone foi contaminado, nem mesmo o pessoal responsável por tratar da doente, que são, geralmente, os mais afetados por infecções posteriores.
Enquanto o resto da região pegava fogo, as terras de Harbel permaneceram intocadas pelo Ebola até agosto, quando pacientes da capital próxima começaram a se deslocar para a cidade buscando atendimento médico nas clínicas e no Hospital mantidos pela empresa. Nesse ponto, conter a pandemia se tornou o principal objetivo da Firestone na Libéria, que expandiu em 23 leitos a ala de isolamento original e um anexo pré-fabricado ao prédio. As escolas da localidade, que haviam sido fechadas por decreto presidencial, tornaram-se centros de quarentena para aquelas pessoas que tiveram contato desprotegido com pacientes e os professores foram enviados em missões porta a porta de educação sobre a doença.
Das 48 pessoas que eventualmente receberam tratamento no hospital da companhia, 18 sobreviveram. 72 casos foram notificados e centenas de pessoas foram postas em quarentena voluntária. Atualmente no vilarejo estão sendo tratados apenas três pacientes, meninos com 4, 9 e 17 anos. A estrutura para o atendimento continua sendo simples, mantendo o uso das roupas para proteção individual industriais. Todavia, até agora, a Firestone obteve um sucesso que não foi igualado por governos ou agências internacionais. Um detalhe importante é que uma boa parte dos pacientes tratados no hospital não faz parte da população local, e sim cidadãos de outras partes da Libéria que foram buscar ajuda e não tiveram seu pedido negado.
O epidemiologista Brendam Flannery do Center for Diseaes Control (CDC), dos EUA, declarou que o ponto chave para o sucesso do controle do ebola pela Firestone é o monitoramento cuidadoso das pessoas que tiveram contato com os doentes e a colocação dessas pessoas em uma quarentena voluntária.
Enquanto o resto do continente luta uma batalha desesperada para conter o monstro do ebola, os recursos, dinheiro, organização e determinação de uma fábrica de pneus parece ter sido o que conteve a epidemia em uma região. De fato, quando perguntado sobre o que seria necessário para vencer o Ebola, o Dr. Flannery respondeu, “mais Firestones”.
Capitalismo malvadão esse né?
Fonte: http://spotniks.com/como-uma-fabricante-de-pneus-esta-acabando-com-o-ebola/
Se as vítimas se levantassem após a morte e começassem a perseguir os vivos, seria possível cogitar se essa doença horrível não seria uma invenção de George A. Romero.Desde a sua descoberta nos anos 70, a febre hemorrágica do vírus ebola (que é o nome oficial da doença) sempre foi motivo de preocupação por autoridades sanitárias e hipocondríacos mundo afora. A apreensão é justificada, se uma pessoa infectada tivesse acesso a uma área de grande densidade populacional, como Nova York, por exemplo, o desastre humanitário seria incomensurável.
Para comparação, a gripe espanhola, a pandemia de proporções apocalíptica que afligiu o mundo no começo do século XX e matou entre 50 e 100 milhões de pessoas, teve uma mortalidade estimada entre 10 e 20%. No entanto, desde que foi descoberto, o Ebola foi responsável por apenas pequenos surtos rapidamente resolvidos na África e casos isolados importados na Europa e EUA. Tudo isso mudou em março deste ano quando foi anunciado que um grande surto estava em andamento na Guiné, Libéria e Serra Leoa.
Com uma suspeita até agora de 7.492 casos e 3.439 mortes, os governos africanos e as agências internacionais têm tido dificuldades para conter a disseminação da doença. Evidentemente, as condições precárias de saúde e infraestrutura no continente não são exatamente as ideais para a resolução dessa crise, descrita pela Organização Mundial da Saúde como “a mais severa emergência aguda (sic) de saúde pública dos tempos modernos”.
Ed Garcia, diretor administrativo da Firestone na Libéria
Em meio a esse cenário desolador, na Libéria, está a cidade de 80 mil habitantes de Harbel, próxima à capital do país, Monrovia. O vilarejo é inteiramente habitado por empregados da Firestone, empresa famosa por fabricar pneus, e seus familiares. Lá a companhia americana possui extensas plantações de seringueiras, de onde é extraído o látex para a fabricação de seus produtos. O primeiro caso de Ebola em Harbel ocorreu no dia 30 de março. A ação imediata da empresa foi tentar transferir a vítima, esposa de uma empregado, para um hospital da capital. A resposta das autoridades sanitárias do país, no entanto, foi de que não havia leitos disponíveis para receber mais nenhum paciente. Foi aí que Ed Garcia, diretor administrativo da Firestone na Libéria, decidiu tomar o assunto nas suas próprias mãos.
Segundo o executivo, a notícia de que havia uma pessoa infectada na cidade foi dada em um domingo e a transferência da mulher para Monrovia foi negada na segunda-feira. Na terça, os administradores da Firestone haviam montado um plano de contingência. Usando conhecimentos sobre a patologia adquiridos na internet, eles improvisaram no hospital da comunidade uma ala de isolamento onde começaram a tratar a mulher. Os médicos e enfermeiros que atenderam a paciente, na falta da paramentação adequada, usaram com sucesso os trajes e outros equipamentos de proteção individual (EPIs) que os trabalhadores das fábricas usam para se proteger dos produtos químicos que fazem parte do processo de fabricação dos pneus, o que incrivelmente deu certo.
A empresa, então, imediatamente pôs a família da paciente em quarentena. A tática funcionou surpreendentemente bem e mais ninguém nas terras da Firestone foi contaminado, nem mesmo o pessoal responsável por tratar da doente, que são, geralmente, os mais afetados por infecções posteriores.
Enquanto o resto da região pegava fogo, as terras de Harbel permaneceram intocadas pelo Ebola até agosto, quando pacientes da capital próxima começaram a se deslocar para a cidade buscando atendimento médico nas clínicas e no Hospital mantidos pela empresa. Nesse ponto, conter a pandemia se tornou o principal objetivo da Firestone na Libéria, que expandiu em 23 leitos a ala de isolamento original e um anexo pré-fabricado ao prédio. As escolas da localidade, que haviam sido fechadas por decreto presidencial, tornaram-se centros de quarentena para aquelas pessoas que tiveram contato desprotegido com pacientes e os professores foram enviados em missões porta a porta de educação sobre a doença.
Das 48 pessoas que eventualmente receberam tratamento no hospital da companhia, 18 sobreviveram. 72 casos foram notificados e centenas de pessoas foram postas em quarentena voluntária. Atualmente no vilarejo estão sendo tratados apenas três pacientes, meninos com 4, 9 e 17 anos. A estrutura para o atendimento continua sendo simples, mantendo o uso das roupas para proteção individual industriais. Todavia, até agora, a Firestone obteve um sucesso que não foi igualado por governos ou agências internacionais. Um detalhe importante é que uma boa parte dos pacientes tratados no hospital não faz parte da população local, e sim cidadãos de outras partes da Libéria que foram buscar ajuda e não tiveram seu pedido negado.
O epidemiologista Brendam Flannery do Center for Diseaes Control (CDC), dos EUA, declarou que o ponto chave para o sucesso do controle do ebola pela Firestone é o monitoramento cuidadoso das pessoas que tiveram contato com os doentes e a colocação dessas pessoas em uma quarentena voluntária.
Enquanto o resto do continente luta uma batalha desesperada para conter o monstro do ebola, os recursos, dinheiro, organização e determinação de uma fábrica de pneus parece ter sido o que conteve a epidemia em uma região. De fato, quando perguntado sobre o que seria necessário para vencer o Ebola, o Dr. Flannery respondeu, “mais Firestones”.
Capitalismo malvadão esse né?
Fonte: http://spotniks.com/como-uma-fabricante-de-pneus-esta-acabando-com-o-ebola/
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