"Tão excitantes quanto ameaçadores. Foi desta forma que a revista americana Time classificou, na edição desta semana, os jovens nascidos entre 1980 e 2000. Eles fazem parte da geração Millennials – chamada de Eu Eu Eu (em inglês, Me Me Me): muito conectados, preguiçosos e extremamente narcisistas. Mas que também são gente boa, acreditam em Deus, sem se apegar a religiões, e otimistas.
Todos estes adjetivos movimentaram as redes sociais, dividindo opiniões. E os primeiros a comentá-los foram, claro, esta geração. O próprio repórter da Time, Joel Stein, ironiza ao iniciar a matéria dizendo que irá fazer aquilo que todas as pessoas mais velhas fizeram ao longo da história: chamar os mais novos de preguiçosos, egoístas e superficiais.
A diferença, segundo ele, era que havia estatísticas que comprovassem as adjetivações — pelo menos a relacionada ao narcisimo. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da agência nacional de saúde apontou que a incidência desse distúrbio é quase três vezes maior em pessoas na casa dos 20 anos do que naquelas com 65 ou mais.
Para o professor de Psicologia da Univali Jair Ferracioli, o comportamento é influenciado pelo contexto social e o narcisimo nada mais é do que a valorização da imagem nos dias atuais.
— A sociedade moderna está morando uma em cima da outra, em prédios, mas não há intimidade entre as pessoas. Se for pensar nesse contexto, elas estão sem contato físico e a imagem pesa muito, porque é uma forma de sentir o outro.
Paulo Berél Sukiennik, médico psiquiatra e psicanalista, lembra que Freud cunhou o termo narcisismo para designar algo necessário, em certa dose, para o desenvolvimento do ser humano. É preocupante, entretanto, quando se torna patológico – ligado ao egocentrismo. O médico reforça que, neste sentido, são os adultos o foco de preocupação.
– A sociedade adulta está vivendo momentos infantis. Você vê isto no trânsito, nas relações de trabalho, onde há importância para o seu próprio umbigo em detrimento de respeitar o outro. O adolescente está copiando este modelo – diz o psiquiatra.
E é na arrogância que Sukiennik busca explicações:
– O adolescente que se acha, pensa que não precisa aprender com os mais velhos ou ler porque ele sabe tudo.
Ferracioli concorda com Sukiennik. Para o professor e psicanalista, a geração que nasceu depois de 1980 é descompromissada com o outro e com os debates ao seu redor. Assim como a matéria da Time aborda, ele acredita que falta interesse político e afetivo às pessoas dessa geração — o que explicaria adultos com mais de 30 anos morando na casa dos pais.
Mas nem tudo é negativo para Ferracioli. Ele considera que os nascidos depois de 1980 são imediatistas e, apesar de não saberem lidar com o desconforto quando não conseguem algo no momento desejado, sabem desfrutar com intensidade todos os momentos da vida.
— Esta é uma geração que está ensinando a anterior a viver com menos culpa e a saber aproveitar o agora.
Lucas Liedke, diretor de tendências da Box1824, empresa de pesquisa, também enxerga estes assuntos por outro prisma. Para ele, o poder da “registrabilidade” dá a estes jovens novas dimensões, como maior consciência do que colocam para o mundo.
COMO A NOVA GERAÇÃO MUDA O MUNDO
— O estudo o sonho Brasileiro, da Box1824, empresa de pesquisa especializada no mapeamento de tendências de comportamento, em parceria com o Instituto Datafolha, investigou jovens entre 18 e 24 anos e mostrou que 8% deles são caracterizados como jovens-ponte. Seriam estes os que vão canalizar todas as características para fazer algo que sempre foi dito como tarefa da juventude: mudar o mundo.
— A média das pessoas se relaciona de forma mais intensa com três ou quatro grupos: família, trabalho, estudo e mais algum. O jovem que está age pelo coletivo transita por muito mais grupos. Mais do que isto: recolhe ideias e pensamentos destes grupos, para evoluir seu próprio pensamento e suas ações.
— Seu papel mais importante é o de redistribuir estes pensamentos e ideias, conectando redes e pessoas que nunca se falariam.
— Não aceitam os discursos que velam o preconceito.
— Dá nova dimensão ao trabalho. Além da felicidade e realização pessoal, quer fazer diferença na sociedade por meio da sua profissão.
— A política partidária e institucionalizada não o representa. Vê muito mais sentido em agir politicamente no seu dia a dia, seja no consumo ou em atitudes mais proativas.
Fonte: http://diariocatarinense.clicrbs.co...omo-preguicosos-e-exibicionistas-4135097.html
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Não é de estranhar muito a reportagem. A gente que nasceu na década de 80 pegou muitas mudanças nessa vida. Para falar a verdade, talvez nós fomos os que mais presenciamos mudanças no mundo de uma forma mais abrangente de que qualquer outra geração, com relaçao a tecnologias e mudanças sociais. É um abismo gigante entre a década de 80 até hoje, gigante mesmo. Ok, não falo da época da 2º guerra mundial ou coisas assim, creio que são aspectos diferentes do que a matéria prega.
Mas mesmo assim, quem nasceu na década de 80, até hoje, não teve nenhuma relação com revoluções armadas, protestos, embargos políticos, ter que decidir em que lado esta para não morrer... (digo isso falando de um lado em que nasceu no Brasil, pós ditadura, classe média - a maioria, que é o que a matéria provavelmente se baseia.)
Pegamos uma geração mais descompromissada com isso, como dito na matéria, e consequentemente o fato do "eu eu eu eu" ser mais frizado é justamente por essa falta da necessidade de viver em grupo, pois a internet e tantos outros meios fazem as pessoas se "socializarem" de uma forma mais distante.