JORNAL ELETRÔNICO DO CONFEA.
Energia nuclear: "devemos nos precaver de decisões precipitadas, tomadas pelo calor da emoção ou por oportunismo ideológico", afirma Leonam Guimarães
Brasília, 24 de março de 2011.
“Catástrofe natural no Japão, reflexões e ações no Brasil”. Esse foi o tema da palestra feita pelo assessor da presidência da Eletrobrás Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, no plenário do Confea. Para ele, ouvir a expressão “energia nuclear” já causa medo em muitas pessoas. Entretanto, segundo ele, essa é uma das formas mais seguras de provimento de energia.
A tragédia no Japão
“O acidente nuclear ocorrido no Japão não é, em absoluto, a causa da tragédia ocorrida no Japão, como parece ser ao lermos as informações divulgadas hoje na mídia”, diz Leonam. Segundo ele, o que motivou a situação foi o terremoto que atingiu 9 graus na escala Ritcher, o maior que se tem registro na história. “Mesmo para o Japão, para um país que se adaptou para tornar um risco sísmico aceitável, esse terremoto superou tudo do ponto de vista tecnológico”.
De acordo com Leonam, nenhuma obra de engenharia foi projetada para resistir a um evento desse porte. As estruturas colapsaram imediatamente. Depois de uma hora do terremoto, ocorreu o tsunami, que, numa região de topografia plana, varreu todos os destroços. “Nesse momento, oito usinas nucleares resistiram incrivelmente a mais esse evento e quatro não resistiram”. Houve, então, falta de energia elétrica e o resfriamento das usinas foi interrompido.
“Numa análise pessoal, acho que teve uma série de erros quanto à água disponível. Eles devem ter passado a usar água do mar para resfriamento e essa situação é de medida extrema”, comenta. Porém, destacou que outro aspecto importante é o recente restabelecimento da alimentação elétrica externa que está permitindo o controle da situação.
Na interpretação de Leonam, em Fukushima Dai-ichi, o pior cenário é semelhante ao ocorrido em Three Miles Island, em 1979, quando houve derretimento do núcleo nas usinas 1, 2 e 3. Mas, de acordo com ele, o governo japonês acionou o plano de emergência externo, que segue o mesmo plano da central brasileira e, numa medida preventiva, o local foi evacuado, retirando as pessoas que já estavam desabrigadas por conta do terremoto num raio de 20km. “O acidente foi classificado como de nível 5 e o plano acionado ultrapassou as normas internacionais de evacuação máxima de um raio de 5km”. Mas, de acordo com ele, foi uma conclusão lógica do governo japonês, já que as normas são para acidentes graves em apenas uma usina e não em várias.
“Os níveis, quero ressaltar, não são alarmantes e estão decrescendo, diferentemente do que a mídia fala”. Diante disso, Leonam conclui que as usinas nucleares são as construções mais bem adaptadas a resistir eventos naturais como esse, como mostraram as usinas de Onagawa, Fukushima Daini e Tokai, que em nada se abalaram.
E no Brasil?
De acordo com Leonam, a resistência das usinas nucleares localizadas em áreas de alto risco sísmico - especialmente Japão, Irã, Romênia, por exemplo - são muito poucas dentre as 440 em operação no mundo e, certamente, o projeto de construção delas deverão ser repensados e refeitos. “Mas esse evento não poderia ocorrer no Brasil por questões geológicas”, diz.
Segundo ele, o Brasil se situa distante das placas tectônicas. Além disso, as placas do Atlântico Sul se afastam enquanto as do Japão se chocam. “Quando as placas se afastam, não geram tsunami”. Além disso, compara: “se observamos, no Japão foi um sismo de 9,0 graus e um tsunami de 10m, quando o critério lá era de sismo de 8,2 com 0,3g e onda máxima de 5,7m. No Brasil, os critérios são de sismo de 6,5 com 0,1g de carregamento e onda máxima de 4m. O Brasil é um país de baixíssimo risco sísmico”. Leonam conta, ainda, que a Central de Angra tem um quebra-mar de 8m, sendo que Angra 1 e 2 estão a 5m da onda de referência e Angra 3 a 6m.
O assessor também diferencia os tipos de usinas existentes: BWR (reator à água fervente) e PWR (reator à água pressurizada). Uma das características do primeiro modelo, segundo ele, é que não permite circulação natural e, se faltar energia elétrica, o resfriamento é interrompido. Trata-se de um modelo mais antigo. No segundo, a circulação é natural, sem necessidade de bombas elétricas de resfriamento por poucas horas. “O cenário acidental no Japão seria menos severo no caso da utilização de usinas PWR. O alivio do PWR com o resfriamento sem necessidade de energia elétrica permite uma reação mais imediata”, afirma. Mas, de acordo com ele, isso não quer dizer que o PWR seja mais ou menos seguro que o BWR. “Só quer dizer que, naquela situação japonesa, o PWR iria se desempenhar melhor”.
Ele lembra que alguns críticos da energia nuclear também costumam fazer comparações com o acidente de Chernobyl (1986). “Não são iguais”, diz. “Lá, houve material radioativo disperso em grande quantidade e a grandes distancias devido ao incêndio de centenas de toneladas de grafite, levando cinzas radioativas às alturas”. Explica, então, que um reator a água, como é o caso do Brasil, não usa grafite.
Leonam conta, ainda, que a indústria nuclear já está tomando algumas ações em decorrência do acidente e que é importante destacar que o futuro da geração nuclear prevê a utilização dos
modelos de “PWR advanced” que prescindem de bombas elétricas. Além disso, como lições aprendidas após essa fase inicial do evento ocorrido no Japão, afirma que deverão ser feitas análises técnicas profundas, aperfeiçoando a segurança, num contínuo processo de melhoria.
Ele ressalta também que demandas no sentido de desligar usinas em operação ou interromper obras de usinas em construção são precipitadas, principalmente, tendo em vista dois motivos: a forma de veiculação das informações pela mídia gerando um clima de catástrofe e razões de natureza política e ideológica que não encontram fundamento técnico algum. “Devemos nos precaver de decisões precipitadas, tomadas pelo calor da emoção ou por oportunismo ideológico”, destaca.
Por último, Leonam afirma: “já me perguntaram se, caso acontecesse no Brasil um acidente como no Japão, como ia ser. Bom, ia ser o caos. Não existe nenhuma estrutura no Brasil para enfrentar ciclos como esse. Mas, num contexto desses, as usinas ainda seriam as que melhor iriam resistir ao fenômeno, porque elas são projetadas para isso”.
Veja aqui a apresentação de Leonam Guimarães (.pdf)
Tânia Carolina Machado
Assessoria de Comunicação do Confea
http://www.confea.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=11430&pai=8&sid=10&sub=nil