Geografias do esquecimento
Ontem a noite, pela centésima vez, dormi nesta ilha vazia... Dormi tarde e a música e os gritos me despertaram na madrugada... A vegetação da colina tem enchido de gente que dança, que passeia e se banha na piscina... (La invención de Morel, Adolfo Bioy Casases)
A paisagem das ruínas é a paisagem dos sonhos. Alí entrávamos quando crianças e alí sonhávamos com outras vidas, seres imaginários que sofriam e respiravam entre as velhas paredes. O que hoje vemos nos sonhos é o meso que então sabíamos ; que o mundo é um imenso e bagunçado cemitério, um casarão triste onde uma vez morou gente como nós. Este é um pequeno passeio por esta desolada geografia.
A ilha silenciosa
Houve um tempo em que a
ilha de Hashima, no Japão, foi o lugar mais densamente povoado do mundo. Mais de 5.000 pessoas trabalhavam e vivíam alí graças a mina de carvão. Em 1974 a empresa Mitshubishi decidiu fechar a mina e a ilha se converteu da noite para o dia em um lugar fantasma. Estremece a lembrança da
ilha ainda viva, e o aspécto em que se transformou
depois.
Um gigante adormecido
O
Hotel Ryugyong, na capital da Coréia do Norte, é o décimo edifício mais alto do mundo. 105 andares, 330 metros de altura, mais de 3.000 quadros e milhões de toneladas de concreto descansam no mais absoluto abandono. Sobre o horizonte de Pyongyang, o hotel vigia vazio e silencioso. Em 1992 os arquitetos descobriram que o concreto não atendia aos requisitos de segurança. Nunca será terminado.
Sob Madrid
Madrid tem sua própria
estação fantasma. Durante anos, grudamos a cara na janela entre as estações de Iglesia e Bilbao. As vezes parecia vermos uma sombra, uma luz estranha, um espectro que ainda esperava na plataforma. O subsolo de Madrid é rico em histórias; agora há quem fale do
estacionamento fantasma, enterrado e silenciado durante anos embaixo da Cidade Universitaria. Contam que em Callao há um cassino clandestino situado no último andar de um grande estacionamento privado. A vinte metros abaixo da superfície, em um andar vazio do estacionamento, há uma porta secreta por onde se entra no paraíso.
A estação de Canfranc
Localizada na metade dos Pirineos,
Canfranc (Huesca) é a maior estação de trem da Espanha. O impressionante edifício hospeda a estação, um hospital e um hotel. Em 1970, depois de um acidente, os franceses deixaram de enviar os trens. Hoje é uma
imensa massa de granito abandonada no meio do nada.
No meio das bombas
No verão de 1937, o povoado de
Belchite ficou totalmente arrasado durante uma dura ofensiva. Anos depois daquele horror, as ruinas do povoado continuam intáctas. Há quem diga que entre as casas bombardeadas ainda vagam as almas dos mortos. Ainda assim, no verão, alguns jóvens se aproximam para festejar.
O zoológico de Los Angeles
No Griffith Park de Los Angeles se esconde o
antigo zoológico da cidade. As autoridades decidiram mudar sua localização e abandoná-lo. Nas jaulas das feras agora perambulam yonkis e grafiteiros.
Parques fantasmas
Não faz muito tempo se difundiam por todo o mundo
estas impressionantes fotografias, de um parque de atrações abandonado no Japão. Dele só se sabe que está localizado em algum lugar da região de Touhoku. Faz alguns anos, uma espécie de febre levou a construção de centenas de parques de atrações no Japão. Passada a moda, muitos sumiram na bancarrota e alguns nem se deram ao trabalho de desmontá-los. Outros exemplos de parques abandonados são os de
Nova Jersey e
Berlin.
A central maldita
As fotos da roda gigante do Japão, nunca resultaram tão inquietantes como as de Prypiat,
a cidade fantasma de Chernobil. "As pessoas tiveram que deixa-lo; - uma testemunha disse - as fotos de seus avós, seus carros, sua roupa... em questão de umas poucas horas seu mundo se fez em pedaços".
Cemitérios marinhos
A
Costa dos Esqueletos, em Namibia, abriga um dos maiores cemitérios de embarcações do mundo. Ao longo de mais de mil quilômetros pode-se observar os restos de dezenas de barcos. A costa inacessível se limita com um imenso deserto, o que o converte em um dos lugares mais inexplorados do planeta. São muitas as histórias de marinheiros cujo barco encalhou nestas praias e que terminaram morrendo depois de caminhar durante dias entre as dunas.
Em Chittagong (Bangladesh) está situado o
maior cemitério de petroleiros do planeta. Nesta praia imensa vêm morrer petroleiros de todas as nacionalidades, que são desmanchados em condições sub-humanas pela gente do lugar.
O
cemitério de barcos de Staten Island (Nova Iorque) também merece uma visita. Alí vão morrer barcos de todos os tamanhos, idades e países. Um lugar com encanto.
As torres Maunsell
A poucos quilômetros da desembocadura do Támesis e construídas pelos ingleses durante a segunda guerra mundial, estas
http://www.undergroundkent.co.uk/maunsell_towers.htm]gigantescas torres de defesa foram construídas contra uma possível invasão nazista. Derrubaram aviões e barcos e inclusive "agarraram" um submarino que queria destruí-las. Cada torre tinha capacidade para 100 pessoas, alimentos e munição. Hoje estão abandonadas e alguns ingleses lutam para impedir sua demolição.
Outros Lugares
A internet está cheia de adeptos da arqueologia urbana. Um passeio pela rede pode nos levar por
bunkers,
piscinas fantasmas,
cemitérios de aviões,
de pneus,
postos de gasolina,
silos de mísseis, e até um
velho radar.
Espero que cada um encontre uma ruina com que sonhar.