Um pouco de Teoria de Futebol –
(o texto é meu, as imagens eu tirei da internet)
Comparação entre a movimentação dos centroavantes das quatro seleções semifinalistas da Copa:
Van Persie-HOL
Higuaín-ARG
Klose-ALE
Fred-BRA
As áreas manchadas indicam onde o jogador esteve posicionado no campo durante o jogo (com ou sem bola). A foto mostra SEMPRE a direita como campo de ataque dos jogadores, independente de ser no primeiro ou no segundo tempo.
A análise se refere apenas às semifinais, Brasil 1x7 Alemanha, Argentina 0x0 Holanda.
1. Robin Van Persie-HOL
Como se vê, Van Persie se movimenta muito. Joga muito pouco como um 9 fixo, e muito mais como o que chamamos o “falso 9”, o centroavante que sai da área para buscar jogo. As manchas dentro da própria área indicam os momentos em que, por ser alto, ele volta para ajudar a defesa na bola parada defensiva (escanteios, faltas laterais, etc., para o adversário). As manchas mais fortes no meio de campo indicam o retorno do falso-9 para ajudar na recuperação da bola, fechando as linhas de passe da saída de bola da Argentina, quando a Holanda não tinha a posse da bola. Como atacante versátil, vemos presença de Van Persie ao redor da área, inclusive nas duas linhas-de-fundo, tentando jogadas de penetração na área.
Aprofundando um pouco a análise, vemos ainda o resultado de um time que não tem um criador, um pensador, um camisa 10 clássico. A Holanda tem jogadores que agridem o adversário (como Robben, Sneijder e o próprio Van Persie), mas ninguém que ponha a bola no chão e pense o jogo. Sabedor disso, o técnico Van Gaal apostou num futebol de muita velocidade, transições rápidas e trocas de posições – não há, neste modelo, espaço para um jogador fixo que espere a bola chegar, pois nesse caso ela não chega. Acertou Van Gaal, e trouxe um time bom, mas com limitações, às semifinais da Copa, e perdeu a chance de ir à decisão pelo azar dos penaltis.
2. Gonzalo Higuaín – ARG
Aqui vemos a movimentação de um camisa 9 mais típico, um centroavante mais de área, que todavia também sai para buscar jogo com os companheiros. Importante notar que Higuaín deixa a área muito mais pela direita do que pela esquerda – pois por aquele lado atua Lionel Messi. Apesar de ter praticamente o mesmo tamanho de Van Persie (1m84 x 1m85), Higuaín tem menos impulsão e é mais fraco no cabeceio; logo, não retorna à sua área na bola aérea defensiva. Dá um ligeiro combate na saída de bola adversária, e retorna apenas até a intermediária para participar da construção da jogada de ataque da equipe Argentina (o gol que marcou contra a Bélgica foi de fora da Área, de primeira). Ou seja, participa menos ativamente da partida do que Van Persie, mas marca presença mais fortemente dentro da área, busca mais a finalização da jogada..
Qual dos dois está correto? Ambos. A Argentina pode se dar ao luxo de jogar com um 9 fixo, pois tem jogadores capazes de organizar o time e as jogadas, e de fazerem essa bola chegar lá: Lionel Messi e Ángel Di María. Com a lesão deste último com a Bélgica, entrou em seu lugar Enzo Pérez, e manteve a criatividade no meio-de-campo – criatividade que não pode ser confundida com agressividade. Já a Holanda não tem esse cara que pensa o jogo com a bola no chão, que dá um passe e se aproxima para recebê-la de volta e lançar outro jogador, embora tenha jogadores capazes de driblar diagonal ou verticalmente buscando o chute.
3. Miroslav Klose – ALE
O futebol coletivo alemão cobra sacrifícios até do centroavante. A mancha no círculo central indica o segundo tempo, quando o Brasil tentou esboçar uma reação e mostrou um pouco mais de posse de bola, e o centroavante alemão ficava aguardando o desarme para contraatacar. A mancha forte na esquerda mostra Klose participando da movimentação defensiva alemã, reforçando a marcação da saída de bola brasileira pela direita (direita brasileira, Maicon e Bernard, esquerda alemã). As duas manchas fortes na intermediária ofensiva mostram a participação ofensiva de Klose na construção das jogadas (tabelas, domínios de bola, passes), com uma leve chegada à frente nos momentos das conclusões.
Apesar de ser um 9 de ofício, clássico, Klose tem que mudar seu estilo para jogar nessa Seleção Alemã. Isso porque, a exemplo da Holanda, a Alemanha não tem um pensador-organizador no meio-campo (Messi, Di María, James Rodíguez, Pirlo, ou, para os torcedores da dupla Gre-Nal, Zé Roberto e D’Alessandro). Então, se Klose (ou Müller) ficar parado lá na frente esperando a bola, ela não chega. Ciente disso, Joachim Löw conseguiu integrar Klose à equipe, fazendo-o jogar fora da área, participando efetivamente da partida, ofensiva e defensivamente, entrando na área somente no momento correto, na hora da conclusão.
4. Fred – BRA
Agora que você já conseguiu parar de rir, vamos ao que interessa. O círculo central é o Fred assistindo de camarote aos gols da Alemanha, esperando uma roubada de bola e um contra-ataque que nunca aconteceram. A leve manchinha à esquerda são as vezes que o Fred voltou para ajudar na bola aérea defensiva. A mancha à esquerda mostra uma discreta tentativa de combate à saída de bola alemã pela esquerda, e na intermediária uma modesta tentativa de participar na construção de jogadas – todavia, sem sucesso, como indica a ausência dentro da área.
De todos os centroavantes analisados, somente Van Persie não é um 9 fixo, típico. No entanto, só Fred não deu certo. Por quê? Como veremos, a culpa não é só do Fred.
A Argentina pôde usar um 9 fixo, ainda que ele tenha saído um pouco da área. Saiu da área, não da função de 9. A Argentina tem jogadas pelas pontas, com Lavezzi por um lado e Di María (depois Enzo Pérez) pelo outro, e pelo meio com Messi. Messi se aproxima do ataque, e os meias abertos fazem o afunilamento. Messi conduz a bola com competência ao mesmo tempo em que visualiza a movimentação dos companheiros à frente, tocando a bola e recebendo de volta, pensando a jogada. Por vezes, Messi vê um companheiro em movimentação e faz um passe longo, rasteiro ou alto, com a mesma competência – é um passe para o momento-futuro do companheiro, não um ato de jogar a bola pra frente pra ver quem pega. Como tem outros jogadores de alta movimentação na frente, mais a chegada dos laterais, a bola chega com freqüência e com qualidade ao 9, que pode concluir a jogada com qualidade ao gol adversário.
A Alemanha não tem Messi. O Centroavante (no caso Klose, mas também Müller ou Shürlle) então sai da Área e participa das ações ofensivas e defensivas, da recuperação de bola e da construção das jogadas coletivas. Entra na área para concluir e só.
A Holanda não tem Messi, mas tem um time rápido, veloz e agressivo. Individualmente, tem um futebol com mais qualidade que o alemão, mas perde na coletividade. Seu 9 (ou falso-9), Van Persie, atua por todo o campo, inclusive na área. Constrói, dribla, contra-ataca, cruza.
Ambas, Alemanha e Holanda, souberam suprir com coletividade, inteligência e futebol moderno a carência de um jogador que não possuem. A Argentina, por possuí-lo(s), não teve tal necessidade. E o Brasil?
Bem, o Brasil apostou em Oscar para esse papel. Sim, Oscar, porque Neymar tampouco é esse cara. Neymar é um Robben melhorado: um atacante de drible curto, com ginga brasileira, com bons passes e ótimo chute, mas antes de tudo um atacante, um jogador para dois dribles e chute ou assistência, jogador que deve jogar próximo à área para criar lances de gol. Jogador para agredir e não para envolver. Nosso meia-de-ligação era o Oscar, mas este se limitou a tentar lançamentos longos que não deram resultados. Oscar não conseguia o drible, não conseguia o passe e não conseguia a aproximação. Resultado: a bola só chegava à área adversária (em toda a Copa) quando conduzida pelo Neymar ou pelo Marcelo (eventualmente o Hulk), ou nos lances de bola parada.
Ora, neste caso, torna-se um erro manter um 9 fixo na área, quem quer que seja ele – mesmo um bom 9, em boa fase, o que ainda por cima não era o caso, pois a bola não vai chegar. Esse erro tornou-se ainda maior quando o Brasil ficou sem o Neymar. A bola que já não chegava no Fred, agora é que iria fugir dele como o diabo da cruz.
O Brasil precisaria ter jogado (a Copa inteira, mas principalmente quando perdeu o Neymar) com atacantes de movimentação. Ou, caso mudasse totalmente o jeito de jogar, com outro esquema capaz de levar essa bola até o 9, pelas laterais por exemplo, com 3 zagueiros, mas aí é outro papo.
(o texto é meu, as imagens eu tirei da internet)
Comparação entre a movimentação dos centroavantes das quatro seleções semifinalistas da Copa:
Van Persie-HOL
Higuaín-ARG
Klose-ALE
Fred-BRA
As áreas manchadas indicam onde o jogador esteve posicionado no campo durante o jogo (com ou sem bola). A foto mostra SEMPRE a direita como campo de ataque dos jogadores, independente de ser no primeiro ou no segundo tempo.
A análise se refere apenas às semifinais, Brasil 1x7 Alemanha, Argentina 0x0 Holanda.
1. Robin Van Persie-HOL
Como se vê, Van Persie se movimenta muito. Joga muito pouco como um 9 fixo, e muito mais como o que chamamos o “falso 9”, o centroavante que sai da área para buscar jogo. As manchas dentro da própria área indicam os momentos em que, por ser alto, ele volta para ajudar a defesa na bola parada defensiva (escanteios, faltas laterais, etc., para o adversário). As manchas mais fortes no meio de campo indicam o retorno do falso-9 para ajudar na recuperação da bola, fechando as linhas de passe da saída de bola da Argentina, quando a Holanda não tinha a posse da bola. Como atacante versátil, vemos presença de Van Persie ao redor da área, inclusive nas duas linhas-de-fundo, tentando jogadas de penetração na área.
Aprofundando um pouco a análise, vemos ainda o resultado de um time que não tem um criador, um pensador, um camisa 10 clássico. A Holanda tem jogadores que agridem o adversário (como Robben, Sneijder e o próprio Van Persie), mas ninguém que ponha a bola no chão e pense o jogo. Sabedor disso, o técnico Van Gaal apostou num futebol de muita velocidade, transições rápidas e trocas de posições – não há, neste modelo, espaço para um jogador fixo que espere a bola chegar, pois nesse caso ela não chega. Acertou Van Gaal, e trouxe um time bom, mas com limitações, às semifinais da Copa, e perdeu a chance de ir à decisão pelo azar dos penaltis.
2. Gonzalo Higuaín – ARG
Aqui vemos a movimentação de um camisa 9 mais típico, um centroavante mais de área, que todavia também sai para buscar jogo com os companheiros. Importante notar que Higuaín deixa a área muito mais pela direita do que pela esquerda – pois por aquele lado atua Lionel Messi. Apesar de ter praticamente o mesmo tamanho de Van Persie (1m84 x 1m85), Higuaín tem menos impulsão e é mais fraco no cabeceio; logo, não retorna à sua área na bola aérea defensiva. Dá um ligeiro combate na saída de bola adversária, e retorna apenas até a intermediária para participar da construção da jogada de ataque da equipe Argentina (o gol que marcou contra a Bélgica foi de fora da Área, de primeira). Ou seja, participa menos ativamente da partida do que Van Persie, mas marca presença mais fortemente dentro da área, busca mais a finalização da jogada..
Qual dos dois está correto? Ambos. A Argentina pode se dar ao luxo de jogar com um 9 fixo, pois tem jogadores capazes de organizar o time e as jogadas, e de fazerem essa bola chegar lá: Lionel Messi e Ángel Di María. Com a lesão deste último com a Bélgica, entrou em seu lugar Enzo Pérez, e manteve a criatividade no meio-de-campo – criatividade que não pode ser confundida com agressividade. Já a Holanda não tem esse cara que pensa o jogo com a bola no chão, que dá um passe e se aproxima para recebê-la de volta e lançar outro jogador, embora tenha jogadores capazes de driblar diagonal ou verticalmente buscando o chute.
3. Miroslav Klose – ALE
O futebol coletivo alemão cobra sacrifícios até do centroavante. A mancha no círculo central indica o segundo tempo, quando o Brasil tentou esboçar uma reação e mostrou um pouco mais de posse de bola, e o centroavante alemão ficava aguardando o desarme para contraatacar. A mancha forte na esquerda mostra Klose participando da movimentação defensiva alemã, reforçando a marcação da saída de bola brasileira pela direita (direita brasileira, Maicon e Bernard, esquerda alemã). As duas manchas fortes na intermediária ofensiva mostram a participação ofensiva de Klose na construção das jogadas (tabelas, domínios de bola, passes), com uma leve chegada à frente nos momentos das conclusões.
Apesar de ser um 9 de ofício, clássico, Klose tem que mudar seu estilo para jogar nessa Seleção Alemã. Isso porque, a exemplo da Holanda, a Alemanha não tem um pensador-organizador no meio-campo (Messi, Di María, James Rodíguez, Pirlo, ou, para os torcedores da dupla Gre-Nal, Zé Roberto e D’Alessandro). Então, se Klose (ou Müller) ficar parado lá na frente esperando a bola, ela não chega. Ciente disso, Joachim Löw conseguiu integrar Klose à equipe, fazendo-o jogar fora da área, participando efetivamente da partida, ofensiva e defensivamente, entrando na área somente no momento correto, na hora da conclusão.
4. Fred – BRA
Agora que você já conseguiu parar de rir, vamos ao que interessa. O círculo central é o Fred assistindo de camarote aos gols da Alemanha, esperando uma roubada de bola e um contra-ataque que nunca aconteceram. A leve manchinha à esquerda são as vezes que o Fred voltou para ajudar na bola aérea defensiva. A mancha à esquerda mostra uma discreta tentativa de combate à saída de bola alemã pela esquerda, e na intermediária uma modesta tentativa de participar na construção de jogadas – todavia, sem sucesso, como indica a ausência dentro da área.
De todos os centroavantes analisados, somente Van Persie não é um 9 fixo, típico. No entanto, só Fred não deu certo. Por quê? Como veremos, a culpa não é só do Fred.
A Argentina pôde usar um 9 fixo, ainda que ele tenha saído um pouco da área. Saiu da área, não da função de 9. A Argentina tem jogadas pelas pontas, com Lavezzi por um lado e Di María (depois Enzo Pérez) pelo outro, e pelo meio com Messi. Messi se aproxima do ataque, e os meias abertos fazem o afunilamento. Messi conduz a bola com competência ao mesmo tempo em que visualiza a movimentação dos companheiros à frente, tocando a bola e recebendo de volta, pensando a jogada. Por vezes, Messi vê um companheiro em movimentação e faz um passe longo, rasteiro ou alto, com a mesma competência – é um passe para o momento-futuro do companheiro, não um ato de jogar a bola pra frente pra ver quem pega. Como tem outros jogadores de alta movimentação na frente, mais a chegada dos laterais, a bola chega com freqüência e com qualidade ao 9, que pode concluir a jogada com qualidade ao gol adversário.
A Alemanha não tem Messi. O Centroavante (no caso Klose, mas também Müller ou Shürlle) então sai da Área e participa das ações ofensivas e defensivas, da recuperação de bola e da construção das jogadas coletivas. Entra na área para concluir e só.
A Holanda não tem Messi, mas tem um time rápido, veloz e agressivo. Individualmente, tem um futebol com mais qualidade que o alemão, mas perde na coletividade. Seu 9 (ou falso-9), Van Persie, atua por todo o campo, inclusive na área. Constrói, dribla, contra-ataca, cruza.
Ambas, Alemanha e Holanda, souberam suprir com coletividade, inteligência e futebol moderno a carência de um jogador que não possuem. A Argentina, por possuí-lo(s), não teve tal necessidade. E o Brasil?
Bem, o Brasil apostou em Oscar para esse papel. Sim, Oscar, porque Neymar tampouco é esse cara. Neymar é um Robben melhorado: um atacante de drible curto, com ginga brasileira, com bons passes e ótimo chute, mas antes de tudo um atacante, um jogador para dois dribles e chute ou assistência, jogador que deve jogar próximo à área para criar lances de gol. Jogador para agredir e não para envolver. Nosso meia-de-ligação era o Oscar, mas este se limitou a tentar lançamentos longos que não deram resultados. Oscar não conseguia o drible, não conseguia o passe e não conseguia a aproximação. Resultado: a bola só chegava à área adversária (em toda a Copa) quando conduzida pelo Neymar ou pelo Marcelo (eventualmente o Hulk), ou nos lances de bola parada.
Ora, neste caso, torna-se um erro manter um 9 fixo na área, quem quer que seja ele – mesmo um bom 9, em boa fase, o que ainda por cima não era o caso, pois a bola não vai chegar. Esse erro tornou-se ainda maior quando o Brasil ficou sem o Neymar. A bola que já não chegava no Fred, agora é que iria fugir dele como o diabo da cruz.
O Brasil precisaria ter jogado (a Copa inteira, mas principalmente quando perdeu o Neymar) com atacantes de movimentação. Ou, caso mudasse totalmente o jeito de jogar, com outro esquema capaz de levar essa bola até o 9, pelas laterais por exemplo, com 3 zagueiros, mas aí é outro papo.