Dois Minutos de Leitura

via http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/05/1451577-seis-e-mails-entre-dois-escritores.shtml



Seis emails entre dois escritores
Epístolas eletrônicas sobre o contemporâneo





As mensagens abaixo foram trocadas via e-mail entre os escritores Emilio Fraia e Antônio Xerxenesky durante o período em que o primeiro visitou o México, no começo deste ano. Entre relatos de viagem e comentários sobre arte, cinema, literatura e tradução, ressaltam aqui e ali indagações dos jovens autores sobre seu tempo.



Nesky,

Hoje cedo, abri o Facebook e vi uma foto sua dando uma cambalhota no ar, prestes a cair numa piscina. Primeiro, fiquei feliz em saber que você: 1) está bem; 2) de férias; 3) praticando saltos de caráter ornamental. Depois, pensei naquela sensação de quando algo está para acontecer -a superfície da água ali, paradinha, e, num segundo, tudo em movimento.

Faz 30 dias que cheguei ao México, e essa é a sensação. Toda hora parece que algo vai acontecer. Estou em Tulum, num lugar chamado Pico Beach. Meu vizinho de cabana é um argentino, Adán, que está atravessando o país de bicicleta, vendendo chocolates (orgânicos, que ele mesmo faz).

Ele me contou que, quando chegou à cidade, não tinha lugar para ficar. Então conheceu um casal de americanos que havia alugado a cabana por um mês. Por algum motivo, eles precisaram voltar para os Estados Unidos e, como já tinham pago e ninguém devolve dinheiro na temporada, ofereceram o lugar a ele. E o melhor: a cabana tem uma cozinha, onde Adán pode confeccionar de maneira hippie seu chocolate orgânico.

Esses viajantes, gente do Couchsurfing, gente que passa anos viajando, indo de um lugar a outro. É como se os exilados dos livros do [Roberto] Bolaño tivessem trocado de lugar com eles.

Tenho pensado nas motivações, que não são políticas (pelo menos não diretamente políticas), que levam alguém como o Adán a viajar dessa maneira. Há pouco li um ensaio, "Antifragile", de um líbano-americano, Nassim Nicholas Taleb. Ele tenta desenvolver um conceito que seria o contrário da fragilidade. Mas esse oposto não é a robustez nem a resistência.

A ideia é a seguinte: existem coisas que, mais do que resistir, se beneficiam do choque; que crescem ou se modificam quando expostas a situações de aleatoriedade e caos. Perguntei ao Adán a razão de ele ter decidido sair pelo mundo sozinho. Ele não tinha uma resposta pronta, mas deu para perceber aqui e ali que ele é meio que viciado em incerteza. Começou a viajar há 13 anos e nunca mais parou (nesse tempo, voltou para a Argentina duas únicas vezes). Gosta de chegar num lugar sem saber muito bem o que vai acontecer, e não se mover, e ir percebendo como as coisas se configuram.

Na terça-feira, quando estava vindo para cá, peguei o avião em San José del Cabo, na Baixa Califórnia do Sul, fiz escala na Cidade do México, onde tomei um café e realizei breve análise meteorológica da viagem: estou neste país há um mês e ainda não choveu. Na chegada, no aeroporto, me dirigi à esteira de bagagens. Fiquei de pé, cumprindo o procedimento padrão de esperar. As malas circulavam, e as pessoas iam pescando suas coisas. Até que o salão começou a esvaziar.

Rapaz, estava tudo indo bem. Mas, de repente, entendi que estava prestes a viver a experiência cabal de ter a bagagem extraviada. Na esteira, sobrou apenas uma mochila preta, desbotada e murcha, dando volta -até que um funcionário veio e a recolheu.

Fui até a portinhola de onde saem as bagagens. Enfiei a cabeça. Já era noite lá fora e não tinha nada, ninguém, só um carrinho enferrujado, provavelmente o que trouxe as bagagens (menos a minha). Já aconteceu com você? É desolador.

Fui e voltei umas cinco vezes, e eis que, na outra ponta do salão surgiu um guardinha obeso de bigode. Eu me aproximei. Os bocejos do guardinha desenvolviam velocidades negativas enquanto eu contava a situação. Pelo rádio, entrou em contato com o balcão da companhia aérea. Então disse que um funcionário chamado Oliver estava a caminho. Depois de longa espera, o funcionário Oliver surgiu. Preenchi um formulário.

Apontei num diagrama o desenho que mais se assemelhava à minha mochila (descobri que ela se enquadra na categoria "mochila esportiva"). Oliver fez uma série de telefonemas. Até que minha bagagem foi localizada. Estava num outro avião, que sairia naquele momento da capital federal.

Se eu quisesse, poderia ir ao hotel (no caso, minha cabana) e a companhia aérea se encarregaria de entregar a bagagem. Como a sorte já não estava muito do meu lado, achei melhor esperar no aeroporto. Comer um cachorro-quente e morrer. Seria um fim digno.

Em suma: eu poderia estar te contando coisas legais, mas é sempre mais divertido falar daquilo que saiu errado. Também deve ser por isso que o Adán viaja: para que as coisas possam dar errado em algum nível. E ninguém, afinal, quer saber de histórias que não envolvam: 1) ruína; 2) choro; 3) personagens que apanham do início ao fim. Acho que todo bom romance é assim. E tanto melhor se envolver incerteza. (Agora o vento mudou, parece que vai chover.)

Um abraço,

Emilio


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Dearest Emilio,

Em primeiro lugar, gostaria de romper sua ilusão: não pratico grandes saltos ornamentais na piscina. A foto ficou incrível, não dá para entender onde estão os meus braços, qual o movimento que está ocorrendo, se vou dar de cabeça na laje ou cair de costas na água.

Estávamos na casa do [Daniel] Galera –um dos primeiros lugares onde te encontrei ao vivo, onde começamos essa história de "ser amigos"– e o pessoal queria testar uma câmera que registra zilhões de frames por segundo. Então fui lá, dei um salto desajeitado, caí de costas na água, um tchuf doloroso, mas, isolando aquele frame, parece que realizei uma manobra mirabolante.

Costumam dizer que construímos uma narrativa idealizada de quem somos nas redes sociais. Pode-se dizer que fiz isso. Mas a verdade é que gosto de colocar coisas estapafúrdias no Facebook. Não entendo aquele monte de escritores que lotam minha "timeline" publicando apenas comentários críticos inteligentes sobre tudo que está aí. Parece que não dão cambalhotas na piscina.

Rapaz, quantas aventuras você deve estar vivendo. E você me fala de viagens solitárias e pessoas nômades. Esse mundo parece ficção. Viajar nunca foi tarefa fácil para mim. A primeira vez que saí da América Latina foi em 2013, numa ida à França em maio.

Nunca tive nenhum fetiche por Paris ou pela cultura francesa, nem consigo me lembrar por qual motivo eu e a Gabi escolhemos a França, entre tantos países.

Aliás, tenho um medo tremendo de perder a bagagem. Sou apavorado para certas coisas, e sinto que nem anos de terapia seriam capazes de curar isso. Eu tinha uma certeza inconsciente, por exemplo, de que seria barrado na imigração, mesmo estando com os documentos em ordem, mesmo sendo branco, de classe média, mesmo trajando um blazer.

É nessas barreiras de imigração, por sinal, que você enxerga toda a tensão racial que parece dominar a Europa: enquanto um branquelo como eu passa diretamente, sem grandes inspeções, qualquer mulher trajando uma burca é questionada por minutos e minutos. Em Paris, árabes e negros são vistos mais na periferia e parecem ser tratados com receio e desdém por alguns parisienses. Posso estar enganado, mas foi a sensação que tive.

Paris, aliás, foi uma decepção. É o legítimo caso de uma cidade arruinada pelo turismo predatório. Mesmo evitando lugares mais óbvios, parece que nenhum local está a salvo. E sinto que os moradores de lá desenvolveram certo nojo dos turistas. Com razão. Vi cada demonstração de grosseria que seria capaz de preencher cinco cartas com exemplos.

Impossível não lembrar o que David Foster Wallace diz: o lugar que visitamos seria muito melhor sem a nossa presença. O que não significa que vamos deixar de viajar. Claro, o ideal é evitar atitudes tipicamente turistoides. Mas todos nós acabamos sendo turistas bobões uma hora ou outra. Acho que a regra é a mesma que se aplica para o resto da vida: tentar não ser um idiota.

Não vivi nada maluco e fiquei no lado do conforto na França, mas é curioso pensar que a parte mais legal da viagem foi quando a Gabi e eu tomamos o caminho menos óbvio. Estávamos em Dijon e decidimos beber os tais vinhos da Borgonha. O hotel oferecia esses pacotes turísticos, um ônibus gostosinho com ar-condicionado que nos levaria até um "château".

Pensamos em comprar um pacote, mas estavam esgotados. O que fizemos? Descobrimos que havia um "château" que recebia gente de fora a algumas cidadezinhas de distância. Pegamos um trem até a periferia da cidade e, de lá, um ônibus que passava com frequência desanimadora. Quando entramos no ônibus, estava cheio. Quando descemos, éramos os únicos passageiros.

A cidadezinha ficava no fim da linha. Saímos do ônibus e não havia nada ao redor. Nada. Quer dizer, campos verdejantes. Uma casa à distância. Parreiras. Um cão estropiado. Caminhamos sem rumo. Encontramos uma vovozinha meio surda em uma cadeira de rodas. Ela nos orientou até o "château". Batemos na porta e bebemos os melhores vinhos de nossas vidas.

Uma aventura terrivelmente burguesa, sem dúvida. Mas, céus, estávamos na França e gostamos de vinho. Tudo que fizermos será terrivelmente burguês.

Conto a experiência porque, mesmo visitando o país mais turístico, por um momento nos encontramos perdidos, em terra estranha, e isso pareceu mais especial do que o maldito Arco do Triunfo, que é sem graça pra chuchu.

Saludos,

Nesky


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Nesky,

Pensei em finais alternativos: você e Gabi batem na porta do "château" e bebem os piores vinhos de suas vidas. Ou, depois de toda a epopeia ônibus/trem, descobrem que o lugar está perturbadoramente vazio, com cara de ter sido abandonado às pressas por algum motivo obscuro. Ou vocês se marcam no Foursquare e são perseguidos por um assassino de blazer branco à la Miami Vice.

Quanto ao argentino Adán, meu vizinho de cabana, bem, ele poderia seguir pelo mundo, transmutando manteiga de cacau em chocolate orgânico para, no fim, concluir que seu ideal de aventura na verdade não se cumpriu; que sua experiência ficou abaixo da ficção que formou dela mesma; que, de um jeito ou de outro, em algum nível, tudo é decepção. Mesmo assim, ele não deixaria de viajar. Vai consertar a bicicleta (está com um problema na correia) e continuar em frente, pedalando. Um tipo de "não posso continuar, tenho que continuar".

Ontem, fui visitar as ruínas de Palenque, em Chiapas. E, rapaz, que bonito esse tipo de paisagem, desolada, com a natureza avançando sobre os restos das construções. Dá uma espécie de consciência da transitoriedade das coisas. Principalmente do poder. Ver todos aqueles templos carcomidos, pensar que um dia foram edifícios majestosos, feitos por gente que escravizou e/ou devastou tribos vizinhas, que usurpou o lugar daqueles que, num momento específico, foram tomados como inimigos -uma coisa meio ambiente corporativo, só que com chefes maias de nome K'inich Janaab' Pakal.

Lá pelas tantas, sentei no degrauzinho de uma das pirâmides, fazia um calor desgraçado, e fiquei brincando de tirar fotos em que só aparecessem as ruínas, os templos no meio da selva, sem as pessoas. Esperar o momento, buscar o ângulo certo e, quando não sobrasse ninguém no quadro, clique, clique, fotografar. Coisas estúpidas que a gente faz quando está sozinho (a prática da vida secreta). Mas os ônibus não paravam de chegar. Era muita gente.

Então, analisando as fotos depois, pode-se dizer que minha tentativa de evocar o mundo anterior às procissões de turistas não foi exatamente um sucesso.

E, mesmo que tivesse sido, ainda restaria eu. Porque você tem razão, somos todos turistas bobões (e incômodos), compartilhando nas redes sociais nossas peripécias incômodas de turistas (bobões).

E nunca tinha pensado nisso: o Brasil é um país sem ruínas, né? Sem falar que tudo o que existe de mais ou menos antigo entre nós acaba sendo restaurado e, poxa, seria legal ter uns lugares assim, abandonados e caindo aos pedaços, diz aí.

Do que conheço, tem o castelo do Garcia D'Ávila, na Bahia, e dois presídios, o da ilha Anchieta, em Ubatuba (SP), e o da ilha Grande, no Rio. Não sei se você já esteve lá, mas essas ruínas dos presídios são espetaculares, bons espécimes de passado, ainda que um passado recente. Este último fica numa das praias mais bonitas que já vi, Dois Rios. Foi lá que o Graciliano Ramos ficou preso, nos anos 30. Madame Satã também. E eu peguei um carrapato na perna, tive febre e achei que fosse morrer (você é meu amigo, vou te poupar dos detalhes dessa história).

No sábado, recebi um e-mail da Flora, uma amiga que mora na Alemanha. Fazia um tempão que não falava com ela. Na mensagem, ela dizia que se mudou para uma reserva cercada de lagos, a uma hora de Berlim. Disse que em breve vai abrir vagas para artistas em crise, escritores com bloqueio etc. (a estadia incluirá alimentação orgânica, lareira e mímica).

Depois me contou que vai passar por uma cirurgia. Eu escrevi de volta, narrando episódios da minha vida recente e contando da vez que tive apendicite. Durante um tempo, nós fomos bastante próximos, a Flora namorava um amigão meu, o Arthur.

Então, enquanto escrevia, foi como retomar essa época, a gente num Réveillon na Cajaíba [em Paraty, no Rio de Janeiro], olhando os plânctons na praia à noite, algo análogo a estar diante das ruínas do templo ou do presídio da ilha Grande. Na hora foi meio nostálgico, mas não no sentido de que "antes era melhor", só uma consciência de que o tempo passa e as coisas vão ganhando níveis, complexidade, "layers".

Pensei numa história que li uma vez: em 1914, o Giacometti esculpiu seu primeiro busto de observação. Era o irmão dele que posava. Ele conta que, de início, teve a impressão de que a coisa viria facilmente, de que conseguiria fazer mais ou menos o que via. Cinquenta anos depois, ele está no ateliê, há uma semana, tentando fazer a cabeça daquela época, como em 1914, mais ou menos da mesma dimensão que a primeira. Enquanto em 1914 tinha a impressão de fazer o que queria, agora não consegue mais.

E conta que, pensando bem, nunca mais conseguiu fazer uma cabeça simplesmente como a vê, no sentido mais primário. Se vê uma cabeça de muito longe, tem a ideia de uma esfera. Se vê de perto, ela deixa de ser uma esfera para se tornar uma complicação extrema em profundidade. Se olha de frente, esquece o perfil. Se olha o perfil, esquece a face. Tudo se torna descontínuo, complexo, e ele não consegue mais apreender o conjunto. Estágios demais. Níveis demais. Acho que é isso.

Abraço e urge almoço da indolência,

Emilio


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Caro Emilio,

Nunca vi uma ruína. Quer dizer, estou aqui cavoucando as lembranças atrás de algo, algum passeio pelo interior do Rio Grande do Sul, sei lá. Não, acho que não. Mas o que você me falou me fez lembrar de "A Grande Beleza", filme do Paolo Sorrentino elogiadíssimo, a que assisti na semana passada.

Achei o filme lamentável, tive vontade de sair no meio de tão ruim que achei. Fazia tempo que não sentia isso quanto a um filme. É um sub-Fellini com estética de propaganda de perfume. Quer homenagear "A Doce Vida" e "Oito e Meio", mas não tem um quinto do apuro visual. E dá-lhe "travelling" no pôr do sol.

Mas o que mais me irritou no filme nem foi isso. Foi certa defesa da "antiga Roma", dos antigos valores. Das ruínas. O tempo todo o filme contrasta o novo decadente com o velho sagrado. De um lado, música pop de quinta categoria, padres aproveitadores e festas dignas de Berlusconi; de outro, a beleza do Coliseu, da Roma de arquitetura clássica, a presença fantasmagórica de Fanny Ardant.

Na sequência que considero a pior do filme, uma menina faz sua performance artística com um monte de balde de tintas e o protagonista faz um piadinha sobre como ela ganha milhões. Todo blasé, ele resolve então abandonar a performance e mostrar à sua companheira o que considera a parte mais bela de Roma, a parte "secreta", estátuas de séculos atrás, tudo embalado em música sacra.

Não me entenda mal, não estou criticando a tradição, muito menos a música -a trilha do filme é linda, tem até Arvo Pärt. Critico apenas a má vontade com o contemporâneo. A cada Bienal, a gente precisa aguentar aquela série de piadassobre alguém que confundiu um extintor de incêndio com uma obra, blá-blá-blá.

Considero muito mais digno o esforço de encontrar valor e produzir reflexão sobre o que está aí -porque tem muita coisa boa aí, seja na arte, seja na música pop. Dizer que vivemos numa grande decadência cultural e moral (que parece ser a mensagem do filme) é uma saída tão banal e preguiçosa...

Estou muito longe de ser um conhecedor da arte contemporânea, e admito com constrangimento que, de vez em quando, confundo Waltercio Caldas com Cildo Meireles, e que muitas vezes passo por uma exposição pensando que nada fez o menor sentido para mim. Mas vejo um valor inestimável em um projeto como o de Inhotim. Você já foi lá?

Rapaz, creio que Inhotim é o segredo mais bem guardado do Brasil. Quer dizer, o pessoal do nosso meio de trabalho vai dizer "dã, claro, Inhotim, isso não é segredo, todo mundo conhece", mas pergunte aos seus pais, primos, amigos de fora do meio literário/jornalístico/editorial. Eles não sabem o que é Inhotim. E é incrível que exista esse lugar ali em Minas Gerais.

Talvez a obra que eu mais lembre de Inhotim seja o Sonic Pavilion, do californiano Doug Aitken. É um pavilhão envidraçado com um buraco no meio. O buraco tem 200 m de profundidade; no fundo, Aitken colocou microfones para gravar o ruído que vem do fundo da Terra e o barulho fica reverberando pelo pavilhão. E qual é o som do fundo da Terra? É terrivelmente grave e estranho. Só sentando no chão do Sonic Pavilion para entender. E isso fica no Brasil. A seis horas de carro de São Paulo. Perdoe o deslumbramento, mas é incrível. Pena que os detratores do contemporâneo nunca chegarão nem perto do local.

Vamos marcar aquele almoço, peloamordedeus.

Saudações,

Nesky


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Nesky,

Você conhece a Lei Kenneth Tynan sobre o Cinema Responsável? Ela diz que todos os filmes que tentem diagnosticar a sério os problemas humanos contemporâneos são ruins. Só os filmes históricos, as comédias, as sátiras e os filmes de suspense prestam. Nota: para Tynan, "Cidadão Kane" é, em parte, histórico e, em parte, uma sátira. Ou seja, estou 800% contigo.

E, pensando depois, a sinopse de "A Grande Beleza" podia ser: "'A Grande Beleza' (Itália-França/2013, 142 min.) Ao fazer 65 anos, escritor 'bon-vivant' questiona rumos de sua vida e encontra o antídoto para a arte vazia e frívola de seu tempo numa revoada de flamingos feita no Windows 95". Ainda não me recuperei dessa cena dos flamingos, que coisa hedionda.

Sim, fui a Inhotim no ano passado. Gostei de tudo o que você falou. E tem o pavilhão da Lygia Pape. Rapaz. Eu queria escrever daquele jeito, tudo muito simples, elegante e geométrico.

Outra obra que me impactou foi a de uma espanhola, Cristina Iglesias. Não sei se você se lembra, fica no meio de uma clareira, num lugar de mata fechada. É uma escultura de aço, espelhada, um labirinto: por fora, as paredes refletem a vegetação ao redor; por dentro, texturas imitam raízes, folhas, troncos. O tempo todo ouve-se um barulho de água. E, bem no centro da coisa, depois de percorrer corredores, alguns sem saída, voltar, entrar de novo, chega-se a uma bomba d'água.

Antes, é preciso andar uns dez minutos numa trilha até alcançar a obra. Essa parte é bem legal também. Tem algo de surpresa, e é como se uma narrativa (a da trilha, no meio do mato) fosse interrompida e invadida por outra (a de uma grande escultura, um objeto estranho, um labirinto espelhado).

Tenho pensado em histórias assim, que de repente se transformam em outras. Acontece muito nos contos do [Juan Carlos] Onetti. Em "Los Ingrávidos", da Valeria Luiselli, tem algo assim também. Você leu? Tive a impressão que esse livro passou meio batido. A narradora, que tenta escrever um romance, fica obcecada pelo poeta mexicano Gilberto Owen, e a voz dele começa a tomar conta da trama e se mistura às lembranças dela. A justaposição das duas narrativas cria um efeito que achei excelência pura.

E, cara, essa semana foi tensa, um milhão de coisas pra resolver. Voltei de viagem e devo ter ido ao cartório pelo menos umas cinco vezes. E tem toda a morte que é responder e-mails. Você responde 5, 10, e eles se multiplicam em 15, 20. Revisei também a tradução de um conto meu que vai sair numa coletânea de autores brasileiros na Argentina. E estou tentando terminar meu livro.

Aliás, fiquei feliz com a notícia de que você está traduzindo o "Kassel no Invita a la Lógica", novo livro do [Enrique] Vila-Matas. É uma obra que tem a ver com essas questões da arte contemporânea. Está achando bom? Gosto da maneira como o Vila-Matas se aproxima do tema. O "História Abreviada da Literatura Portátil" é um baita livro. Aprecio o lema dos portáteis: escrita por diversão e o gosto por obras que possam facilmente caber numa maleta (embora, claro, escrever não seja exatamente divertido e há romances ótimos que, nossa, como pesam).

Vi que, numa entrevista recente sobre o "Kassel", o Vila-Matas cita um trecho de uma entrevista do Foster Wallace. Então vou transcrever aqui a título de "até mais, Nesky". É assim: "A ficção pode oferecer uma visão de mundo tão sombria quanto desejar, mas, para ser realmente boa, ela precisa encontrar uma maneira de, ao mesmo tempo, retratar o mundo e iluminar as possibilidades de permanecer vivo e humano dentro dele". É meio "literário" e semicafona, né. Mas, sei lá.

Acho que cheguei aqui, no fim, e estou quase absolvendo os flamingos, as propagandas de perfume e o Windows 95.

Abração, capricha.

Fraia


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Dearest Emilio,

Fico feliz de ver que concordamos no quesito cinematográfico, embora eu estivesse torcendo por alguma discordância selvagem, algo que tornasse essa resposta um espaço de disputa e briga.

Quanto à instalação de Cristina Iglesias, não me lembrava dela: tive que colocar no Google para confirmar que visitei essa obra em Inhotim. A verdade é que caminhei por esse labirinto sem entender absolutamente nada. Quando isso acontece, também prefiro nem olhar o release explicativo. Esses textos informativos que se propõem a explicar uma obra de arte com um monte de jargões acadêmicos sobre "relação entre o homem e o espaço" tendem a ser nauseabundos.

Estou me programando para ler Luiselli há bastante tempo. Não acho que ela passou batido por aqui, vários amigos comentaram sobre o livro -a verdade é que quase todo autor latino cujo nome não é Roberto Bolaño acaba sendo menos lido do que deveria no Brasil.

Tenho a impressão de que somos muito mais influenciados pelas tendências de mercado norte-americanas; até mesmo os sucessos europeus que emplacam no Brasil tiveram um selo de aprovação dos norte-americanos: Thomas Bernhard, W.G. Sebald... Teria Bolaño feito tanto sucesso no Brasil se não fosse o êxito tremendo nos Estados Unidos? Claro, talvez eu esteja sendo paranoico.

Não li ainda a Luiselli porque estou me esquecendo o que é ler um livro por prazer, um romance que escolhi ler por puro capricho. Você sabe como funciona: trabalho oito horas por dia, depois do expediente vou para casa, onde trabalho mais, em outra coisa, neste caso na tradução do Vila-Matas, e às vezes ainda tenho alguma resenha ou artigo para escrever, ou tenho de ler um livro para redigir as famosas "orelhas não assinadas".

Céus, e preciso arranjar espaço para ler algo de pesquisa para o meu futuro romance. E tempo para assistir a um filme ou série boba, jogar video game, existir, comer um hambúrguer, escovar os dentes.

Voltando ao Vila-Matas: não está nada fácil traduzir "Kassel". Não por alguma dificuldade intrínseca do livro (embora tenha muitas expressões barcelonenses que eu nunca tinha ouvido), mas porque Vila-Matas é um autor tão presente em minha vida que traduzi-lo é intimidante.

Isso não quer dizer que tenho uma idolatria cega por Vila-Matas; como todo autor que realmente admiro, tenho minhas crises de fé. Às vezes acho que tanta metaliteratura e autoficção acaba tirando muito da humanidade que há em um "storytelling" mais convencional. E admito que achei "Dublinesca" e "Ar de Dylan" livros de pouca vitalidade. Este novo que estou traduzindo, no entanto, é incrível. E, se eu acreditasse em sincronicidade, diria que é um recado do destino ter caído nas minhas mãos esse livro.

Vila-Matas está tratando de vários temas que vêm me obcecando: desde a defesa do contemporâneo até as caminhadas de Walser e a reclusão de Wittgenstein (o último livro que li 100% por prazer foi a inacreditável biografia de Wittgenstein escrita por Ray Monk). A sua lembrança do "História Abreviada" é certeira -Vila-Matas é ótimo ao lidar com arte contemporânea, especialmente com discípulos de Duchamp.

Não sei como é para você, mas, para mim, traduzir é um tanto como escrever ficção: durante todo o processo, acho que está ficando horrível e que sou uma farsa. Só depois, revisando com calma, consigo avaliar de forma mais realista o resultado. Enfim.

Queria encontrar uma frase (uma citação também seria válida), um tema, um recado, algo para fechar de um jeito redondinho essa mensagem. Nada me ocorre. Tenho andado ansioso, não reconheço mais a diferença entre dia de semana e fim de semana, tenho trabalhado demais e lido por prazer de menos.

Por favor, vamos marcar aquele almoço, um almoço terrivelmente longo e inútil, um almoço de três horas, com direito a café em um segundo local e um sorvete de pistache em um terceiro. Acho que estou precisando.

Foi um prazer,

Nesky









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Só pra registrar que esse é um dos melhores tópicos dessa seção, amanhã mais tarde posto alguma contribuição.
Em tempo: Agradecido. :joia:

Continue com as excelentes contribuições.

:vinho:
 
O texto do post #2 me remete a um ótimo texto do Pedro Doria

Quem vê tanta imagem?

A oferta excessiva de fotografias, milhares de cliques por mês, pode ter levado a uma perda de valor.

Há uma cena memorável num dos últimos episódios da primeira temporada de "Mad Men" (seriado norte-americano).
Don Draper, o gênio da publicidade ainda em plenos anos 1950, explica para dois executivos da Kodak o valor do carrossel de slides.
"Nostalgia, em grego, quer dizer a dor de uma antiga ferida", ele diz, sua voz suave.

A sala, escura, é iluminada apenas pelo projetor.
Na parede, fotos de família giram. "É uma fisgada no coração, tem muito mais poder do que apenas memória."

A tecnologia digital vem mudando nosso cotidiano de tantas maneiras distintas, e vivendo um dia após o outro frequentemente não nos damos conta. Fotografias, por exemplo, mudaram de significado.

Por que fotografamos? Não a foto profissional, o registro jornalístico ou artístico. Fotos de família servem para quê? A resposta imediata que surge é: para lembrar. Abra um álbum de fotos com mais de vinte anos. Ninguém passa rápido pelas imagens. Cada uma desperta uma emoção.
Como sugere Don, é mais que memória. Por alguns segundos somos preenchidos pelas emoções daquele momento. Revivemos um pouco.

As fotos dos anos 60 são, quase sempre, em preto e branco. O corte quadrado não era raro. Nítidas. Na década seguinte, perdem essa nitidez mas ganham cor. É, graças à tecnologia de fixador do tempo, uma cor que amarelou, ressaltou o vermelho, perdeu o azul. Conforme avançam os 80 e os 90, as cores se estabilizam e a nitidez volta. O fluxo, aí, se interrompe. Tínhamos, talvez, umas cem fotos de toda a infância. Quem sabe, 300.
Como era caro fotografar. É o que tiramos por mês. Ou por semana. Fotografias significavam nostalgia.

Na semana passada, o site Buzzfeed pôs no ar um divertido filmete: explicando fotografia em filme para a garotada moderna. Precisávamos pensar: um filme de 24 poses obrigava cada pessoa com a câmera na mão a se concentrar. É preciso definir que imagem, afinal, merece ser registrada. Ir à loja buscar as fotos reveladas e ampliadas era sempre uma experiência carregada.

Fotografias digitais não entraram de repente em nossas vidas. Foi um processo lento. As primeiras câmeras já estavam à venda no mercado em finais do século. Eram, porém, máquinas caras, com um ou dois megapixels, lentes ruins, baixa qualidade.
Não temos registros amadores do Onze de Setembro. Nem em Nova York as câmeras digitais andavam por todos os bolsos.

A primeira década do século XXI foi dominada por câmeras fotográficas digitais que melhoraram incrivelmente de qualidade.
Os chips de captação aumentaram sua capacidade, fidelidade. Ao mesmo tempo, as lentes, que fazem a real diferença, sofisticaram-se.
Se passamos a tirar mais fotos com as digitais, ainda assim elas não eram onipresentes. Já há câmeras no celular faz vários anos.
Mas câmeras decentes não fazem muito tempo e elas vêm, mais ou menos, no mesmo passo que chegam os smartphones.

É uma tríade radical: Câmera no celular conectado à internet. Sempre no bolso. Não há registros amadores do Onze de Setembro, o enforcamento de Saddam Hussein foi filmado com qualidade precária e divulgado vários dias depois, a prisão de Muamar Kadafi é nítida e estava online numa questão de horas.

Tiramos muito mais fotografias. Não é mais registrar a viagem de férias ou o momento exato em que o filho sopra a velinha.
É o almoço. Uma careta. Bate outra para ver se fica melhor. E uma terceira. Jogamos no Facebook, no Instagram.
Alguns likes e comentários depois, perdeu-se no esquecimento. Talvez para sempre.

Se os princípios econômicos valem, no momento em que aumentou a oferta, a demanda arrefece.
Talvez o excesso de fotografias faça com que percam seu valor. Ou talvez não.

Na verdade, ainda é cedo para dizer. Talvez esta aqui, mesmo, seja uma coluna nostálgica. Com uma pitada de ludita.
E as dezenas milhares de fotografias que tiramos anualmente ainda terão seu valor emocional.

Talvez novas profissões surjam: o editor de imagens, por exemplo. Capaz de criar uma narrativa no caos.
Ora, pois. Quem sabe?


 
Última edição:
via http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=5996


O novo Capital, os prêmios Nobel e os lacerdinhas

Postado por Juremir em 30 de maio de 2014





O best-seller do momento não é "Adultério", de Paulo Coelho. Nem um vampiro qualquer. É o vampiro do capitalismo. Com 400 mil exemplares vendidos nos Estados Unidos e cem mil vendido na França, "O capital no século XXI", do economista francês Thomas Piketty, impressiona o mundo e provoca polêmica. A tese do autor é simples: as desigualdades sociais atingiram um patamar só existente antes da Primeira Guerra Mundial. O sucesso é tamanho que Piketty foi recebido na Casa Branca e atacado violentamente pelo jornal liberal "Financial Times", que o acusou de ter trabalhado com indicadores de patrimônio errados. Resposta dele: "As conclusões não se alteram".

Piketty mostra que as maiores fortunas cresceram, nos últimos 30 anos, três vezes mais rápido do que o patrimônio médio. Ele defende a adoção de um imposto mundial sobre o capital para diminuir a concentração da riqueza. O êxito do livro surpreende ainda mais na medida que o volume francês tem quase mil páginas. Os lacerdinhas brasileiros vibraram com os ataques do "Financial Times". Mas o destemido prêmio Nobel de economia Paul Krugman escreveu antes disso: "Outros livros sobre economia se tornaram best sellers, mas a contribuição de Piketty é um trabalho de séria erudição e capaz de mudar o discurso, algo que a maioria dos best sellers não é. E os conservadores estão aterrorizados".

Firme na sela, Piketty desafiou o "Financial Times" a mostrar seus próprios dados. Krugman havia provocado: "O que há mais notável no debate até agora é que a direita parece incapaz de montar qualquer contra-ataque substantivo à teoria de Piketty. Em lugar disso, a reação se limitou aos epítetos - especialmente a alegações de que Piketty é marxista, e que o mesmo pode ser dito sobre qualquer pessoa que considere a desigualdade de renda e riqueza como questão importante". O "FT" estaria salvando a lavoura com suas críticas. A guerra só está começando.

Enquanto isso, a ironia de Paul Krugman devasta o fígado da Direita Miami no Brasil: "O livro demole o mais acalentado dos mitos conservadores, a insistência em que vivemos em uma meritocracia na qual a grande riqueza é conquistada pelo esforço, e merecida". Os ricos não são os "criadores de empregos"? Krugman morde no calcanhar: "Como fazer essa defesa se os ricos derivam boa parte de sua renda não do trabalho que fazem mas dos ativos que controlam? E o que fazer se a grande riqueza cada vez mais estiver relacionada a heranças e não ao espírito empreendedor?" Debates econômicos são muito excitantes.

Os dados de Pikertty estão disponíveis na internet. Ele respondeu em mensagem ao "Financial Times": "Eu não tenho dúvida de que minha série histórica de dados pode ser melhorada e será melhorada no futuro... Mas eu ficaria muito surpreso se alguma das conclusões substanciais sobre a evolução de longo prazo da distribuição de riqueza fosse muito afetada por essas melhorias (...) Se o FT produz estatísticas e rankings que mostram o contrário, eu estaria muito interessado em vê-los e ficaria feliz em mudar a minha conclusão!"

Outro Nobel de economia, Joseph Stiglitz, também elogiou o trabalho de Piketty. É incrível como esses economistas ganhadores do Nobel tendem a pensar como eu.










via http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=5996
 
Última edição:
Texto um pouco antigo, já era pra compartilhar aqui mas acabei esquecendo (mais um do Pedro Doria).

Tempo de radicais
O diálogo político se tornou impossível. Ninguém mais busca o meio termo. E parte da culpa é da internet.


O incômodo é visível. Em sua coluna na Folha de S. Paulo, o veterano jornalista Luiz Caversan anunciou que pretendia tirar férias de Facebook.
O radicalismo das pessoas na rede está intolerável. Em um artigo recente, Frei Betto foi outro a se queixar dos radicais à esquerda e à direita.
Cá no GLOBO, ontem, Ricardo Noblat desdenhou do país onde, on-line, "se torce apenas pelo cordão vermelho ou pelo cordão azul".
Míriam Leitão foi uma das primeiras, uns domingos atrás. Os radicais, em sua opinião, pioram a qualidade do debate.
A polarização política é um fenômeno muito mais nocivo do que parece. Não é um fenômeno apenas brasileiro.
E, não à toa, coincide com a popularização da internet. A tendência, aliás, é de que piore.

Em Israel, a esquerda foi sufocada e o governo de direita se radicalizou como nunca na história do país. Na Espanha, da virada do século para cá, o espaço de diálogo entre eleitores do socialista PSOE e do PP praticamente se extinguiu. Idem nos EUA, onde republicanos e democratas não se entendem desde o dolorido embate eleitoral que culminou com a questionável eleição de George W. Bush, em 2000. Este período, entre finais dos anos 1990 e o início da década seguinte é marcado pelo surgimento dos blogs e, com eles, as caixas de comentários. A partir daí, o crescimento das redes sociais. Não há coincidência.

Polarização não ocorre apenas quando o centro desaparece. A coisa é mais complexa. É natural que todos tenhamos paixões por certos temas. Pode ser o casamento gay para um, educação para outro, política econômica na cabeça do terceiro. Duas ou três questões costumam nos ser caras. Para as outras, na maioria das vezes somos ambivalentes, no máximo simpáticos a uma opção.

Quando o ambiente se polariza, porém, as pessoas se alinham a um ou outro grupo ideológico. Sentem-se na obrigação de defender até aquilo que não lhes é caro.
O resultado é que as possibilidades de diálogo desaparecem. Afinal, quando tudo é muito importante, ninguém cede. Acordos tornam-se inviáveis.

Jogue "polarização política" no Google, porém, e poucos artigos científicos aparecerão. O tema mais definidor da política brasileira no momento é pouco estudado.
Talvez porque, polarizadas, as pessoas que se interessam por política andam mais preocupadas em derrotar o outro lado do que dar um passo atrás e perceber que há algo de errado.

Nos EUA, onde o número de cientistas é inacreditável e tudo se estuda, já há pistas fartas. A primeira é que, para a maioria das pessoas, nada mudou. A população continua onde sempre esteve, não se radicalizou. Quem se radicalizou foi o pequeno grupo de eleitores que mais acompanha política. Como é para este grupo que políticos costuram seus discursos, também eles tornam-se mais radicais. Um estudo do professor Markus Prior, da Universidade de Princeton, avaliou se houve mudança na imprensa nas últimas décadas. Não a descobriu na imprensa tradicional: a cobertura dos fatos, nos EUA, se dá por um ponto de vista de centro. Nas páginas editoriais há uma tendência ligeira à esquerda, mas pouca. Não é assim, lá, para a imprensa que surgiu mais recentemente: canais a cabo de notícias, por exemplo, além de sites e blogs. Aí é tudo extremo, à direita ou à esquerda.

A internet cria o que o ativista Eli Pariser, autor do livro The Filter Bubble, chama de bolha. Lá, as pessoas procuram apenas aqueles sites onde lerão o que reitera suas crenças. Quando comentam em comunidades nas quais todos concordam, só há uma maneira de se destacar. Ou seja, sendo mais puro ideologicamente.

Na opinião de Pariser, aquela que já é uma tendência humana é amplificada pela maneira como a internet contemporânea funciona. Facebook e Google aprendem com aquilo que curtimos, clicamos, lemos, comentamos. Como querem nos ajudar a encontrar o que nos interessa, mostram mais do mesmo. E mais do mesmo é a reiteração da bolha.

Lemos tanta gente com quem concordamos que o diálogo com os outros vai ficando mais difícil.
É uma febre. Depende de cada um escolher alimentá-la ou buscar o diálogo com quem discorda.


 
Texto um pouco antigo, já era pra compartilhar aqui mas acabei esquecendo (mais um do Pedro Doria).

Tempo de radicais
O diálogo político se tornou impossível. Ninguém mais busca o meio termo. E parte da culpa é da internet.


O incômodo é visível. Em sua coluna na Folha de S. Paulo, o veterano jornalista Luiz Caversan anunciou que pretendia tirar férias de Facebook.
O radicalismo das pessoas na rede está intolerável. Em um artigo recente, Frei Betto foi outro a se queixar dos radicais à esquerda e à direita.
Cá no GLOBO, ontem, Ricardo Noblat desdenhou do país onde, on-line, "se torce apenas pelo cordão vermelho ou pelo cordão azul".
Míriam Leitão foi uma das primeiras, uns domingos atrás. Os radicais, em sua opinião, pioram a qualidade do debate.
A polarização política é um fenômeno muito mais nocivo do que parece. Não é um fenômeno apenas brasileiro.
E, não à toa, coincide com a popularização da internet. A tendência, aliás, é de que piore.

Em Israel, a esquerda foi sufocada e o governo de direita se radicalizou como nunca na história do país. Na Espanha, da virada do século para cá, o espaço de diálogo entre eleitores do socialista PSOE e do PP praticamente se extinguiu. Idem nos EUA, onde republicanos e democratas não se entendem desde o dolorido embate eleitoral que culminou com a questionável eleição de George W. Bush, em 2000. Este período, entre finais dos anos 1990 e o início da década seguinte é marcado pelo surgimento dos blogs e, com eles, as caixas de comentários. A partir daí, o crescimento das redes sociais. Não há coincidência.

Polarização não ocorre apenas quando o centro desaparece. A coisa é mais complexa. É natural que todos tenhamos paixões por certos temas. Pode ser o casamento gay para um, educação para outro, política econômica na cabeça do terceiro. Duas ou três questões costumam nos ser caras. Para as outras, na maioria das vezes somos ambivalentes, no máximo simpáticos a uma opção.

Quando o ambiente se polariza, porém, as pessoas se alinham a um ou outro grupo ideológico. Sentem-se na obrigação de defender até aquilo que não lhes é caro.
O resultado é que as possibilidades de diálogo desaparecem. Afinal, quando tudo é muito importante, ninguém cede. Acordos tornam-se inviáveis.

Jogue "polarização política" no Google, porém, e poucos artigos científicos aparecerão. O tema mais definidor da política brasileira no momento é pouco estudado.
Talvez porque, polarizadas, as pessoas que se interessam por política andam mais preocupadas em derrotar o outro lado do que dar um passo atrás e perceber que há algo de errado.

Nos EUA, onde o número de cientistas é inacreditável e tudo se estuda, já há pistas fartas. A primeira é que, para a maioria das pessoas, nada mudou. A população continua onde sempre esteve, não se radicalizou. Quem se radicalizou foi o pequeno grupo de eleitores que mais acompanha política. Como é para este grupo que políticos costuram seus discursos, também eles tornam-se mais radicais. Um estudo do professor Markus Prior, da Universidade de Princeton, avaliou se houve mudança na imprensa nas últimas décadas. Não a descobriu na imprensa tradicional: a cobertura dos fatos, nos EUA, se dá por um ponto de vista de centro. Nas páginas editoriais há uma tendência ligeira à esquerda, mas pouca. Não é assim, lá, para a imprensa que surgiu mais recentemente: canais a cabo de notícias, por exemplo, além de sites e blogs. Aí é tudo extremo, à direita ou à esquerda.

A internet cria o que o ativista Eli Pariser, autor do livro The Filter Bubble, chama de bolha. Lá, as pessoas procuram apenas aqueles sites onde lerão o que reitera suas crenças. Quando comentam em comunidades nas quais todos concordam, só há uma maneira de se destacar. Ou seja, sendo mais puro ideologicamente.

Na opinião de Pariser, aquela que já é uma tendência humana é amplificada pela maneira como a internet contemporânea funciona. Facebook e Google aprendem com aquilo que curtimos, clicamos, lemos, comentamos. Como querem nos ajudar a encontrar o que nos interessa, mostram mais do mesmo. E mais do mesmo é a reiteração da bolha.

Lemos tanta gente com quem concordamos que o diálogo com os outros vai ficando mais difícil.
É uma febre. Depende de cada um escolher alimentá-la ou buscar o diálogo com quem discorda.


:vinho:

Texto importantíssimo.

nmho, em redes sociais,

QUALQUER COISA = política = FU. TE. BOL.

É torcida, pura e simplesmente.

(as excessões existem, todavia estão VOANDO ABAIXO DO RADAR. Há discussões inteligentes, mas 1) elas não geram BUZZ pro INTERNAUTA:haha: MÉDIO e 2) tem que se gastar um bom tempo procurando para encontrá-las)
 
Globo e FIFA dão rasteira em paraplégico

Essa imagem que você está vendo foi o ápice da Abertura da Copa. Mostrando que não só o Brasil é capaz de organizar eventos de nível mundial, mas também acreditamos e investimos em ciência e tecnologia. Nem de longe é uma solução, mas uma prova de conceito, uma demonstração da pesquisa feita pelo neurocientista Miguel Nicolelis e sua equipe da Duke University.


Eles conseguiram desenvolver sistemas de biofeedback que permitiam a macacos controlar com o cérebro membros robóticos, e recentemente chegaram a recuperar o sentido do tato. A pesquisa apresentada, fruto de uma promessa de quatro anos, foi cumprida: um paraplégico, vestindo um exoesqueleto deu o chute inicial da Copa do Mundo.


Isso, claro, se você acreditar nas palavras de Nicolelis, pois todo mundo que viu a abertura da Copa, cortesia da Tia Mariângeles e a turma de Arte & Artesanato da 5ª Série da Escola Municipal Tancredo Neves, achou que o trabalho de Nicolelis estava mais para Flash do que Homem de Ferro.


Vendido (e comprado) como ponto-alto da abertura da Copa, o Exoesqueleto se resumiu a isto:


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Isso mesmo. Tela dividida. Galvão Bueno narrava a IMPORTANTÍSSIMA chegada do ônibus com a Seleção Brasileira enquanto ignorava a demonstração tecnológica de um dos raros brasileiros que não se destaca com os pés ou com a bunda. Não é exagero. Em tela dividida foram TRÊS SEGUNDOS, sem nenhuma menção, para em seguida cortar para o ônibus.


A Ciência foi colocada literalmente para escanteio. A apresentação ficou restrita ao canto do gramado. A justificativa da FIFA? O Exoesqueleto era muito pesado e iria danificar o gramado delicado criado pela vó. Claro, com certeza um exoesqueleto pesa muito mais do que um palco-bola com motores. Pombas, a bunda da Jennifer Lopez pesa mais que o exoesqueleto e não foi proibida de acompanhar a dona pelo gramado.


No Twitter comentaram que a apresentação fez sentido, mostrou a exata atenção que o Brasil dá a Ciência e Tecnologia.


Por isso, meninos e meninas, nosso programa espacial tem datilógrafos. Quase nada fazemos e quando fazemos, não valorizamos. O piloto de provas do exoesqueleto estava usando um lenço cedido pela família de Santos Dumont, um gesto simbólico unindo invenções e inventores separados por mais de 100 anos. Mas isso não interessa, melhor ver uma bosta de um ônibus.


Isso me faz ver o quanto estamos atrasados. Nas Olimpíadas nos EUA, em 1984, o mundo se deslumbrou ao ver um homem voar.

http://meiobit.com/289783/globo-e-fifa-dao-rasteira-em-paraplegico/
 
Bolsista no exterior põe estudo em 2º plano e adere ao´Turismo sem Fronteiras´

Um número cada vez maior de universitários aproveita o valor da verba bancada pelo Governo Federal, que chega a R$ 60 mil, cursa apenas duas disciplinas no semestre e usa boa parte do intercâmbio acadêmico para viajar pela Europa



"É muito engraçada a fama que o estudante brasileiro tem aqui nos Estados Unidos. Todo mundo pensa que somos ricos: porque todos os bolsistas do Ciência sem Fronteiras [CsF] têm um Apple [notebook que pode custar até R$ 4,2 mil], um iPhone 5 [celular que vale R$ 3 mil], roupa de marca que compramos aqui e porque viajamos quase toda a semana para uma cidade diferente", diz um universitário que estuda nos EUA pelo programa do Governo Federal.

O jovem, que preferiu não se identificar, cita os benefícios gerados pela verba que o programa oferece ao candidato selecionado para estudar por até um ano e meio lá fora. O programa, que tem uma meta ousada de enviar 101 mil estudantes ao exterior até 2015 - em sua maioria alunos de graduação -, já mandou mais de 50 mil desde 2011. Cerca de 80% deles são universitários que ainda não finalizaram o curso superior. O custo total do programa é de mais de R$ 3 bilhões.

Somando todos os auxílios, cada bolsista do programa custa, aproximadamente, R$ 60 mil por ano, Isso sem considerar o valor repassado diretamente à instituição de ensino pelo governo, o que isenta o estudante de qualquer despesa acadêmica. Pelo CsF, o aluno recebe verbas específicas para a viagem, acomodação, alimentação, compra de material didático e também recursos para aquisição de equipamentos eletrônicos, como computadores portáteis.

"Retirando essas despesas de manutenção, ainda temos uma espécie de ´salário´ no valor de mais de R$ 20 mil. Essa é a quantia que utilizamos para o dia dia e para manter a vida social", enumera Breno Barcellos, 21 anos, estudante da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), que voltou do intercâmbio no Reino Unido em janeiro deste ano.

"Os bolsistas dos primeiros editais tinham um perfil mais responsável; agora, tem muita gente querendo fazer só farra. É vergonhoso. É o ´Turismo sem Fronteiras´ junto com o ´Cerveja sem Fronteiras´", conta Barcellos. Durante sua estadia no Reino Unido, o jovem trabalhou em um seção que auxiliava estudantes brasileiros enviados pelo programa e teve contato com vários bolsistas do País.

"A única coisa que todos sabiam era a proibição de viajar para o Brasil durante a vigência da bolsa. De resto, as pessoas viajavam pelo país onde estavam e pela Europa. Não se avisava a ninguém. O CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; uma das agências federais responsáveis pela coordenação do programa] não fazia nenhuma fiscalização", diz Barcellos.

Foi esse panorama que estimulou as aventuras de um jovem estudante bolsista do programa na Europa, que prefere não dar detalhes de identificação. Se as experiências na faculdade foram limitadas, o que viveu fora dela foi bem diferente. Administrando as duas disciplinas que cursava, o estudante conseguiu a cada semana viajar para várias cidades e países diferentes.

Na França, foram mais de 16 cidades visitadas, do extremo norte ao extremo sul. Ele ainda visitou três cidades britânicas, a Holanda, três cidades espanholas, quatro italianas, além de outras localidades no norte do continente africano. As viagens eram tantas que não faltavam comentários bem humorados nas redes sociais de familiares e amigos no Brasil: "Aproveita bastante as viagens, mas também vai estudar rapaz".

Como há casos em que professores das universidades do exterior que recebem os brasileiros não fazem controle de presença, os alunos ficam atentos apenas à entrega de trabalhos e às avaliações no meio e no final do semestre.





Texto completo: http://ultimosegundo.ig.com.br/educ...2-plano-e-adere-aoturismo-sem-fronteiras.html
 
Esse vai durar bem mais que apenas dois minutos de leitura, mas acredito que vale a pena, vou colocar só um pedaço aqui:

Sobre trabalhar no que se ama
É hipócrita e elitista defender que “temos que trabalhar no que amamos“.


Essa possibilidade está aberta para pouquíssimas pessoas. A enorme maioria da população humana, todas pessoas tão incríveis e complexas como eu e você, com um cérebro poderoso e subjetividade profunda, estão fadadas a trabalhar em empregos chatos e repetitivos, entregando cartas, dobrando roupas, atendendo telefones.


A questão não é se amamos ou não essas atividades remuneradas que executamos, mas se o salário que nos pagam em troca das horas de trabalho é maior ou menor do que tudo que esse emprego nos suga em termos de tempo e energia vital.


A questão é se nos resta tempo (realmente) livre e energia vital produtiva para viver nossas vidas plenas de pessoas humanas quando não estamos entregando cartas, dobrando roupas, atendendo telefones.


http://papodehomem.com.br/prisao-trabalho/
 
Apesar da simplicidade do texto, não deixa de ser uma reflexão interessante:

Comunismo + Socialismo nunca derrotaram(ão) o Capitalismo

Neste dia 12 de junho de 2014, dia dos namorados inicia-se a copa do mundo de futebol no Brasil. Motéis estarão lotados e seus quartos terão as TVs ligadas.

Que maravilha poder usufruir de muitos prazeres ao mesmo tempo. Alguns que o dinheiro compra e outros não. Isso é uma mostra do que o capitalismo produziu à sociedade. Liberdade de escolha em troca de seu esforço pessoal.

Após a copa do mundo, começarão os debates eleitorais. Maiores chances de vitória aos governistas, se o Brasil também ganhar em campo, ainda que isso não seja uma garantia de reeleição.

No debate muitos, muitos políticos irão falar da maravilha do mundo comunista, socialista, sociocomunista ou qualquer variação destas. Por favor defensores do Comunismo e do Socialismo me respondam somente um único questionamento que tenho:

Se Comunismo e/ou Socialismo são tão melhores para os indivíduos que vivem sob, friso o SOB o regime, e não no controle deste, por qual motivo vemos somente cubanos se atirando ao mar em busca do território americano e não o contrário? Por quê, antes do muro de Berlim cair, somente o povo do lado comunista arriscava sua vida fugindo para o lado capitalista da Alemanha, e não o contrário? Por quê são sempre os cidadãos que vivem SOB regimes comunistas querendo sair dele e nunca vemos capitalistas se atirando ao mar para viverem sob o comunismo?

Como é possível explicar esta vontade unilateral? Será que é porque nestes lugares não há motéis, TV a cabo ou transmissão de jogos da copa? Realmente não sei.

 
Um pouco mais que 2 minutos de leitura, mas vale a pena.

Recomendo que seja lido no site, para maior conforto.

Chocar é a palavra de ordem no feminismo contemporâneo

Cada vez mais as feministas defendem suas causas com estratégias de confronto, usando corpo e performances

Deitada de pernas abertas sobre uma mesa, uma artista teve a vagina costurada por duas colegas. A performance foi apresentada na festa Xereca Satânik, realizada em maio na Universidade Federal Fluminense, no que seria um protesto contra estupros na região.

Na Marcha das Vadias no Rio de Janeiro, enquanto mulheres saíam desnudas para defender causas como o direito à liberdade de seus corpos, um grupo quebrou imagens sacras e chegou a esfregá-las nas partes íntimas, durante a visita do papa Francisco ao Brasil, no ano passado.

No Rio Grande do Sul, em maio deste ano, a banda Putinhas Aborteiras causou controvérsia ao provocar a Igreja e o machismo, em uma apresentação na TVE, com versos como: "Se o papa fosse mulher o aborto seria legal", "Ei, Papa, levanta o teu vestido, quem sabe aí embaixo não está o Amarildo".

Embora diferentes, a festa Xereca Satânik, a Marcha das Vadias e o grupo Putinhas Aborteiras têm mais em comum do que as polêmicas que suscitam. Cada uma a seu modo, expressam a nova cara no feminismo. É uma face provocadora. Em vez de se apegar ao politicamente correto, as ativistas passaram a fazer o contrário: se apropriam dos ataques que recebem, apostando na subversão como estratégia de combate. Chocar é palavra de ordem. E essa é uma tendência global, na qual se inserem as manifestações com topless lideradas pela organização internacional Femen e a prisão de integrantes da banda Pussy Riot, na Rússia, por protesto político em uma igreja ortodoxa.

— Primeiro vem o choque. Mas depois isso faz com que as pessoas reflitam, obriga a parar para pensar. Eu particularmente sou contra esse tipo de ato mais violento, como pessoa. Mas nunca algo chamou tanto a atenção dos brasileiros sobre o clitóris como a festa Xereca Satânica. Vários movimentos já fizeram isso de se apropriar de coisas que são utilizadas para oprimir. Se a Marcha das Vadias, por exemplo, se chamasse "Marcha das Mulheres", talvez ninguém fosse prestar atenção — compara uma das organizadoras da Marcha das Vadias em Porto Alegre, a publicitária Maria Fernanda Geruntho Salaverry, 28 anos.

O crescimento da Marcha das Vadias é um dos indícios de que a estratégia atrai simpatizantes. Realizada em 2011, a primeira edição em Porto Alegre reuniu 400 pessoas. Na quarta edição, em abril deste ano, foram quase 4 mil, na contagem dos organizadores. O movimento surgiu no Canadá, em resposta a um policial que afirmou que as mulheres deveriam evitar vestir-se como "vadias" para não serem estupradas, após uma série de estupros. Indignadas, as mulheres reagiram, criando a marcha que se espalhou pelo mundo.

— O movimento feminista estava meio debilitado nas últimas duas décadas, agora as pessoas que não são o público tradicional voltaram ao debate. Minha vó, por exemplo, era contra a marcha com peitos de fora no início. Depois entendeu e começou a dizer: "isso aí, meninas, vocês têm o direito de usarem o que quiserem e não serem atacadas" — conta Maria Fernanda.

Para a cientista política Céli Pinto, professora da UFRGS e autora do livro Uma História do Feminismo no Brasil, as manifestações recentes são uma demonstração de que o feminismo está rejuvenescendo, com holofotes amplificados pela internet. Ela descreve três ondas do movimento: a primeira seria aquela em que as mulheres lutavam por direitos políticos, como o voto, conquistado no Brasil na década de 1930. A segunda seria a luta por direitos iguais, como no trabalho e na sexualidade, que ganhou força a partir da década de 1970. A terceira seria a atual, por uma militância mais atuante na internet e pelo protagonismo jovem.

Na avaliação da pesquisadora, as reações às manifestações recentes, como a demissão de funcionários da TVE após o vazamento do vídeo com a apresentação das Putinhas Aborteiras, indicam falta de abertura para discutir o tema.

— Não há nenhuma violência no que elas estão fazendo. Há uma falsa moralidade na sexualidade, as mulheres ainda são vistas como putas ou santas. O Brasil é infantilizado em relação ao aborto, com a ideia de que não se pode discutir. E isso é um problema seríssimo. A mulher que morre é a pobre, vira questão de classe — critica Céli.

Ao seguir a lógica das redes, o movimento feminista mimetiza suas características: ao mesmo tempo em que está mais disperso, também é capaz de provocar muito barulho. Um exemplo foi o protesto online #EuNãoMereçoSerEstuprada, criado pela ativista e escritora Nana Queiroz, 28 anos. Quando decidiu tirar uma foto de topless diante do Congresso com a frase escrita nos braços, em resposta à pesquisa do Ipea que apontava que 65% dos entrevistados consideravam que mulheres de roupa curta mereciam ser estupradas (índice depois corrigido para 26%), Nana lançou a ideia para 10 amigas, sugerindo que avisassem outras. No dia seguinte, ao acordar, descobriu que já havia 45 mil pessoas engajadas na campanha. Na sua avaliação, todas as manifestações feministas que ecoaram recentemente têm em comum um desafio aos conceitos morais em relação ao corpo das mulheres.

— As mulheres mais revolucionárias concluíram que não dá para dialogar com as forças conservadoras, têm que enfrentar. Ah, acham que eu sou vadia? Então eu sou vadia. Diante do resultado da pesquisa do Ipea, aquilo não merecia diálogo. Você não dialoga com alguém que diz que estuprar é ok. Eu quebrei uma lei, fui para a frente do Congresso, estava morrendo de medo de ser presa. Mas o corpo é meu. É um objeto político, não sexual — analisa Nana, que conseguiu apoio até da presidente da República, Dilma Rousseff, mas também recebeu contra-ataques violentos, como ameaças de estupro pela rede.

Apesar de estarem todos ancorados na linha combativa, os movimentos feministas estão longe da unidade, como bem ilustra a trajetória da paulista Sara Winter, 21 anos, que se tornou um dos ícones feministas no país. Depois de fundar no Brasil uma célula do Femen, Sara teve um rompimento ruidoso com as ucranianas que lideram a organização e hoje acusa as antigas companheiras de racistas, homofóbicas e até "gordofóbicas".

— Só se veem meninas brancas e magras nos protestos, gordinhas não têm vez. Nos protestos que a gente fazia apareciam muitas gordas, e elas diziam que "não pegava bem". Quando disse que não queria mais fazer parte do Femen, ameaçaram destruir a minha vida, fizeram tudo para me desacreditar — diz Sara, que foi acusada de desvio de recursos e nega as acusações.

Os alvos de protesto também causam divergências. Entre os pedidos da Femen internacional estavam pichar o Cristo Redentor ou serrar com uma motosserra uma cruz no centro de São Paulo para chocar, algo que foi rechaçado pelo grupo brasileiro por ser considerado inapropriado. Ao romper com o Femen, Sara criou o Bastardxs. Apesar de ainda fazer manifestações com os seios à mostra e dizeres no corpo, Sara não concorda que tudo é válido. E critica a performance realizada na festa Xereca Satânik. Diz que chegou a chorar ao ver as imagens da costura da vagina, que lhe trouxeram recordações de um estupro que sofreu quando era garota de programa, por um cliente que não aceitava sua recusa ao sexo anal. Em resposta, cogita escrever uma carta aberta, assinada pelo Bastardxs e outros coletivos, manifestando essa posição.

— Não acho que isso seja positivo para o movimento feminista. O corpo é delas, têm direito de fazer o que quiserem, mas não podem ser tão egoístas. Não pensaram no que outras mulheres iriam pensar quando vissem a mutilação genital. É um tipo de feminismo egoísta — critica.

Já as Blogueiras Feministas, que reúnem em sua página textos de 70 mulheres, postaram em sua página um "Manifesto de Solidariedade às Xerecas Satânicas". A coordenadora do grupo, Bia Cardoso, lembra que as protagonistas da festa sequer disseram que são feministas, mas merecem apoio em nome da liberdade de expressão.

— Em todo movimento social há diferentes pensamentos. O Movimento Feminista não tem sindicato. Qualquer pessoa pode fazer o que quiser e dizer que é feminista. Se nem dentro de um partido político encontram coesão, imagina no feminismo — analisa.

Com o crescimento da bancada religiosa no Congresso, as feministas temem o aumento do conservadorismo, visto como um obstáculo para reivindicações como o direito ao aborto e o combate à violência contra a mulher.

— Temos 513 deputados, e o número de deputadas não chega a 10%. E dessas quantas são de uma linha progressista? Há muita gente querendo que a Bíblia substitua a Constituição. É paradoxal, porque temos cada vez mais mulheres no feminismo, mas temos uma barreira. Também há muitas brigas na internet de feminista contra feminista, muitas vezes não se vê avanço no debate — lamenta Lola Aranovich, professora da Universidade Federal do Ceará que é autora de um dos blogs feministas mais acessados do país, o Escreva Lola Escreva.

E até onde vai a estratégia do choque? Enquanto há teóricos que sustentam que estaríamos às portas do pós-feminismo, com a desconstrução do conceito de gênero, e outros vislumbram uma "quarta onda" feminista, Maria Fernanda Salaverry, da coordenação da Marcha das Vadias em Porto Alegre, acredita que o movimento caminha para um amadurecimento.

— O choque sistemático deixa de fazer efeito. A tendência é de que o objetivo deixe de ser chocar e passe a ser algo mais maduro, mais articulado e propositivo — prevê.

Saiba mais:

Queima de sutiãs, só que não

Uma das imagens clássicas do feminismo é a famosa queima de sutiãs, que na década de 1960 poderia chocar tanto ou mais do que a festa "Xereca Satânik" hoje. Mas a queima não chegou a acontecer no protesto que originou o termo. O ato reuniu 400 ativistas contra o concurso Miss América em 7 de setembro de 1968, nos Estados Unidos. Embora tenham colocado no chão sutiãs e outros acessórios do estereótipo feminino, as manifestantes não chegaram a queimá-los porque não tiveram permissão do Atlantic City Convention Hall, onde estavam. Manchetes que noticiaram o fato ajudaram a propagar a expressão "BraBurners" (queimadoras de sutiãs). E a atitude performática depois acabou inspirando outras mulheres a queimarem sutiãs pelo mundo.

Performances e provocações

Femen

Com sede na Ucrânia, o movimento feminista Femen foi fundado em 2008. A organização tornou-se notória por protestar em topless contra temas como o turismo sexual, racismo, homofobia e sexismo. Um documentário realizado em 2013 pela cineasta australiana Kitty Green aumentou a polêmica que ronda o grupo ao afirmar que um homem chamado Viktor Svyatsky, outrora tido como consultor do Femen, seria um dos reais criadores do movimento.

Marcha das Vadias

Surgiu em 2011 em Toronto, no Canadá. Foi uma resposta a uma fala do policial Michael Sanguinetti, que, depois de uma série de estupros no campus da universidade local, afirmou que as mulheres deveriam evitar vestir-se como "vadias" para não serem estupradas. Indignada, a comunidade universitária reagiu. Militantes de países como Estados Unidos, Argentina, Holanda e Brasil já reproduziram a marcha.

Pussy Riot

Em 2012, três integrantes da banda punk russa Pussy Riot foram presas e condenadas a dois anos de cadeia cada uma por "vandalismo, incitado por ódio religioso", depois de protesto contra o presidente Vladimir Putin na igreja ortodoxa mais importante da Rússia.

Eu Não Mereço Ser Estuprada

Depois de pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelar que 65,1% dos entrevistados concordavam que mulheres que mostram o corpo "merecem ser atacadas" (índice depois corrigido pelo instituto para 26%), em março deste ano, as mulheres começaram a protestar divulgando fotos sem camisa e com a inscrição "Eu não mereço ser estuprada". Mais de 100 mil pessoas se engajaram na campanha, que recebeu apoio da presidente Dilma Rousseff.

Putinhas Aborteiras

Definindo-se como "anarcafeminista", o grupo Putinhas Aborteiras provocou polêmica em maio deste ano, depois de apresentação na TVE. Na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, a bancada do PP protocolou requerimento de moção de repúdio à emissora, alegando que a apresentação feriria "a moral e os bons costumes". Dois funcionários da TVE foram demitidos por vazar o conteúdo, que foi exibido de madrugada, na internet.

Xereca Satânik

A festa Xereca Satânik foi realizada por alunos do curso de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense, em programação de uma disciplina sobre "Corpo e resistência", em 28 de maio. Apesar do apoio da coordenação do curso, que afirmou que a performance (que incluiu a costura de uma vagina) pretendia protestar contra estupros, a universidade abriu sindicância e até a Polícia Federal foi acionada.

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/proa/noticia/2014/06/chocar-e-a-palavra-de-ordem-no-feminismo-contemporaneo-4531765.html
 
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Informação demais

E-mail. Twitter. Facebook. SnapChat. WhatsApp. SMS. Linkedin. FourSquare. SlideShare. Instagram. Blogs. Infográficos. Notícias. YouTube. Nunca se consumiu tanta informação. Qualquer relatório de tendências mostra que o volume de dados a circular pela rede cresce a uma taxa exponencial. E ninguém duvida que aumentará até que todas as possibilidades de canalizar e manipular dados, através de todos os recursos tecnológicos, estejam esgotadas.

Informação, que um dia já foi sinônimo de poder, hoje mais parece um problema. Fala-se em Tsunamis de conteúdos, em ansiedade de informação, em paradoxos de escolha, em fadiga de contexto, em paralisia de análise.

Dizem os mais exagerados que "O Google emburrece e degrada memórias. Que o Facebook aliena. Que a Internet é reduto de pornografia, com fascistas e maníacos em cultos bizarros. Que o Leviatã digital consolida novas fortunas enquanto destrói economias locais. Que o mundo cibernético representa a vitória dos eremitas, dos plagiadores e dos ladrões de informação. Que é o ápice das Invasões Bárbaras, destruindo as relações entre as pessoas e demolindo a Cultura enquanto anuncia uma nova Idade das Trevas em que a verdade, como no Coliseu romano, será decidida pelos polegares em sinal de positivo."

Exageros à parte, é inegável que boa parte da crise institucional provocada pela Internet se deu nas indústrias de gestão do conhecimento, como gravadoras, editoras, imprensa, escola e, de certa forma, na maneira como hoje se dá o atendimento médico e jurídico. O custo de publicação neste novo espaço público é tão baixo, a distribuição é tão imediata e o espaço é tão grande que poucos se dão ao trabalho de finalizar suas obras, publicando rascunhos incompletos e até as discussões que lhes deram forma.

A internet já mostrou que não veio para demolir instituições culturais, mas para se misturar a elas, transformando sua natureza. A confusão que se vê é típica de uma época de abundância, que hoje em dia se manifesta no direito à expressão.

Qualquer período de transformação, seja uma reforma de banheiro ou uma adolescência, é incômodo. Não é de hoje que o ruído cotidiano distrai e irrita. Descartes precisou se isolar em um quarto para concluir que existe porque pensa. Sêneca, há quase 25 séculos, não entendia o motivo para tantos livros, em tantas bibliotecas, mais do que qualquer um seria capaz de ler. Platão, radical, acreditava que os livros afastariam as pessoas, que graças a eles deixariam de conversar. Até mesmo o inventor da enciclopédia, Denis Diderot, acreditava que o volume de publicações criaria tantas opiniões que dificultaria a compreensão do mundo.

É natural. O cérebro que já foi símio continua arisco, ligado para prestar atenção nas ameaças da savana, resistente a qualquer novidade.

O futurista Alvin Toffler ajudou a definir essa angústia ao popularizar o termo "sobrecarga de informação", ou a dificuldade que se tem em compreender um problema e tomar decisões quando há informação demais.

O termo pode ser confortável, mas não faz muito sentido. Por mais que estejamos envolvidos por um gigantesco volume de dados, eles não são autônomos, não podem forçar ninguém a consumi-los. O problema não está na informação disponibilizada, mas em seu consumo e utilização.

No mundo de abundância em rede o conhecimento não é mais representado por uma biblioteca, mas por uma playlist disposta a satisfazer os interesses de seus usuários. Não representa a verdade absoluta, nem tem pretensões de encontrá-la. Pelo contrário, mostra caminhos para a imensidão do mundo, que devem ser percorridos até que a curiosidade seja saciada.

A rede não está se tornando um supercérebro onipotente e onisciente, distante dos operários que a construíram. Pelo contrário, ela está se misturando com a própria natureza do conhecimento. É impensável imaginar um sem o outro. Livre de seu suporte, a informação mudou, transformando o meio pelo qual se desenvolvem, preservam, comunicam e transformam ideias.

O conhecimento é hoje uma propriedade da rede. Isso é muito maior do que qualquer sabedoria popular, folclore ou voz das massas. Pelo contrário, o velho mito dos Oráculos, Astros, Gurus, Doutores e Deuses a representar o cânone do conhecimento está finalmente questionado, levando embora com ele a ideia nociva e artificial das certezas absolutas, das verdades definitivas e do fim das discordâncias.

E isso é só o começo. À medida que a Internet das coisas fará com que a pessoa mais inteligente da sala seja a própria sala não faz muito sentido resistir e se opor. A melhor maneira de avançar é abraçar as peculiaridades desta nova cultura que apesar de ser cada vez menos tangível, nunca foi tão humana.

 
By: http://www.ambientelegal.com.br/patriotismo-um-sentimento-em-extincao/

O que é um patriota?


O patriota é aquele que ama seu país e procura servi-lo da melhor forma possível.


Mas cuidado com idéias ultrapassadas, que podem invadir sua mente neste exato momento. Na acepção contemporânea, esse cidadão é um ser pensante, não se submete a toscos fanatismos e está disposto a participar de mudanças que conduzam, de fato, a comunidade onde vive para um patamar de vida melhor.

Nesse contexto, os símbolos nacionais de um país e seu significado histórico, especialmente a bandeira nacional e o hino que lhe corresponde, não são coisa do passado. Ao contrário, revelam muito da educação e do que vai na mente e coração de um povo e de sua capacidade, como nação, de trilhar um destino comum. O lema “ordem e progresso”, estampado em nossa bandeira, considerada uma das mais belas do mundo, evidencia o valor e o objetivo que os brasileiros abraçam com prioridade. Mas uma coisa é a teoria, outra, a prática. Basicamente, só em temporada de Copa do Mundo o orgulho de exibir o verde-azul-amarelo vivos de nossa flâmula ganha os corpos, as mentes e os corações da brava gente brasileira.

Há, ainda, outras pedras nesse caminho: a letra do hino nacional é conhecida e cantada corretamente por pequena parcela da população. O governo também aboliu do calendário nacional a data comemorativa do Dia da Bandeira (leia quadro nesta matéria) e nas escolas, do ensino fundamental ao superior, ninguém mais fala do significado e importância dos símbolos nacionais. Há repartições públicas que nem mesmo hasteiam a bandeira nacional e outras instituições privadas que o fazem, mas às vezes exibem, de forma inconsciente, mas desrespeitosa, bandeiras desbotadas pela ação do tempo.

“O orgulho nacional é para os países o que a auto-estima é para os indivíduos: uma condição necessária para o aperfeiçoamento. O patriotismo é uma forma de orientação política”, afirma o filósofo norte-americano Richard Rorty, professor de literatura comparada e filosofia da Universidade de Stanford e autor de vários livros – o mais recente deles, lançado no Brasil, é Ensaios Pragmatistas, publicado pela DP&A Editora.

Por aqui, os estudiosos do fenômeno são unânimes: o sentimento patriótico está em extinção no Brasil. E isso não é bom, pois sinaliza uma série de problemas.

Confusão com a ditadura


Para o jornalista e historiador Heródoto Barbeiro, da Rádio CBN e TV Cultura de São Paulo, circunstâncias históricas fragilizaram o sentimento patriótico em nosso país.“A ditadura militar se apropriou dos símbolos nacionais. Então, a oposição e quem era contra a ditadura rechaçaram completamente essas demonstrações cívicas”, explica Barbeiro.
Perspectiva semelhante é da psicóloga social Nanci Gomes, da Universidade Metodista de São Paulo.

“Após a ditadura militar, ocorreu em nossa sociedade um movimento para abolir a expressão do nacionalismo e desvincular os símbolos nacionais do exercício da cidadania”, afirma Nanci.

O procurador de Justiça, Roberto Liviano, membro do Movimento do Ministério Público Democrático e secretário geral da Federação de Associações e Juízes para a Democracia da América Latina e Caribe, diz que a ausência de patriotismo é um fenômeno que vai além de nossas fronteiras e tem a ver com a febre do individualismo. “As pessoas deixaram de colocar o interesse coletivo como prioridade, fazendo prevalecer os interesses individuais”, aponta o procurador.

Educação


Um dos aspectos mais destacados pelos entrevistados foi a importância da educação no desenvolvimento de um genuíno comportamento cívico. Vale lembrar que, até meados da década dos 80, os então chamados cursos primário e secundário (atuais fundamental e médio) e até superior, de instituições de ensino público ou privado, tinham na grade curricular disciplinas como Educação Moral e Cívica ou Organização Social e Política Brasileira, cujo objetivo era promover o conhecimento e sentimento de patriotismo nos alunos desde tenra idade. Taxativo, o jornalista Heródoto Barbeiro diz que ressuscitar essas matérias não surtiria o efeito desejado.

“É hora de entendermos a expressão patriotismo sob o olhar da cidadania, e não de uma classe social, que se apropria disso e aqueles que forem contrários à sua perspectiva são tidos como anti-nacionalistas, anti-brasileiros e por aí afora”, comenta Heródoto.

“Se hoje estamos falando sobre a falta de patriotismo do povo brasileiro é porque essas aulas não deram certo. Esse não é o caminho. O patriotismo não é para ser imposto, mas sim conquistado pelas pessoas por meio de acesso a educação de boa qualidade, emprego, vida digna”, aponta o jornalista, enfatizando que é preciso manter essa questão longe do uso político.
Outra opinião tem o governador do Distrito LC2 do Lions Clube de São Paulo, Frederico Dimov Júnior, para quem não se pode dissociar o processo educacional do sentimento de patriotismo.

“A forma como é tratada a educação no país ainda é muito ruim. O ensino fundamental deveria trabalhar nas crianças os valores de cidadania, que são cruciais para uma boa atuação em sociedade e para criar laços de amor pela nossa pátria”, argumenta Dimov.

Quem também defende a importância da educação no desenvolvimento do patriotismo é o tenente-coronel Ildefonso Bezerra Falcão Junior, comandante do 2º Batalhão de Polícia do Exército de São Paulo. O militar cita o exemplo das Forças Armadas no desenvolvimento do sentimento de patriotismo em seus soldados.

“O Exército é uma grande escola de cidadania. Aqui os jovens aprendem valores cívicos e morais, que fazem toda diferença para um bom convívio em sociedade. E levam isso para o resto de suas vidas”, afirma o coronel, que entende o civismo como um sentimento de amor à pátria e de respeito uns pelos outros que deve ser semeado desde a mais tenra idade.

Civismo saudável


Nos dias de hoje, o que seria então um bom, equilibrado e saudável patriotismo? Para a psicóloga social Nanci, necessariamente algo capaz de motivar sentimentos e atitudes de todo povo em decorrência não apenas de sua identificação com os tradicionais símbolos nacionais, mas de sua percepção, enquanto coletividade, que o país e seus governantes valorizam as pessoas, combatem a corrupção, promovem participação e inclusão de todos os nacionais no acesso às riquezas, no respeito à natureza e desenvolvimento econômico que resulta em ordem e progresso.

“É preciso promover um amplo projeto de desenvolvimento nacional. O verdadeiro patriotismo acontece quando não houver, por exemplo, crianças pedindo esmolas nas ruas”, resume a docente.

Patriotismo planetário


Não se pode perder de vista que as mudanças trazidas pela globalização também contribuem para a forma como hoje se pensa e pratica o patriotismo. “Em um mundo cada vez mais interligado econômica e culturalmente, a conscientização e os cuidados em relação à preservação dos recursos naturais têm força para despertar, em todo um povo, o sentimento de amor e responsabilidade por sua pátria”, afirma o ambientalista Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica. E conclui:

“Os governos e seus interesses menos nobres, os nacionalismos xenófobos, isso tudo cai por terra. O patriotismo ambiental é, sem dúvida, o caminho para superarmos todas as atuais barreiras e lacunas”.

Desconhecimento gera flagrante desrespeito


A bandeira brasileira foi instituída pelo Decreto n. 4, do governo provisório chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, em 1889. Sua criação é do professor Raimundo Teixeira Mendes.
Os 26 estados e o Distrito Federal estão representados nas estrelas, distribuídas em sua exata localização na esfera celeste, daí o circulo em azul. As cores verde e amarela, ao contrário do que o leigo pode imaginar, não representam nossa fartura de ouro, sol e florestas. São as cores dos brasões das casas reais de Bragança, da qual fazia parte o imperador Dom Pedro I, e dos Habsburg, à qual pertencia sua consorte, a imperatriz Dona Leopoldina.

Entre nós, 19 de novembro é o Dia da Bandeira, mas a data não é um feriado nacional festivo, como é o 7 de setembro. Só as Forças Armadas ainda seguem à risca o que determina a lei: no dia 19/11, a bandeira é hasteada ao meio dia, em solenidade especial. Nessa ocasião são incineradas as flâmulas consideradas inservíveis devido ao desgaste natural ou defeitos de fabricação, entregues por qualquer interessado na corporação (descartá-las no lixo é crime contra a pátria).

O que também pouca gente sabe: em dias normais, onde estiver exposta, a bandeira brasileira deve ser hasteada diariamente. Entre 8h e 18h é permitida sua exibição e, após esse período, deve ser recolhida. Em hipótese alguma a bandeira pode pegar chuva ou ficar em local desprotegido.

Coração e mente de um patriota


O senhor Gino Sttrufaldi, de 92 anos, lutou na Revolução Constitucionalista de 1932, movimento que se transformou em uma batalha sangrenta do povo paulista contra os desmandos de Getúlio Vargas (saiba mais na seção Um Ambiente Legal).

“Naquela época, as pessoas tinham orgulho do Brasil e davam a própria vida para proteger os interesses da sociedade. Nos dias atuais, esse patriotismo parece ter desaparecido”, lamenta o ex-combatente.

Ele recorda o hábito, especialmente entre crianças, que cantavam diariamente o hino nacional nas escolas onde estudavam. “Existia instrução de moral e cívica nos estabelecimentos de ensino. Era um aprendizado agradável e dava para cada um de nós a medida e importância do interesse comum. Durante a Revolução de 32, o povo paulista colaborou muito porque tinha a noção do que estava em jogo. Quem não se alistou, pedia para prestar serviços para o movimento. Eram barbeiros, enfermeiras e costureiras querendo nos ajudar de alguma forma”, lembra o veterano de invejável memória e lucidez.
Ainda segundo o Sr. Gino, os combatentes de 32 eram vistos com grande simpatia pela população, pois todos estavam ligados por um forte sentimento de amor à pátria. “É por isso que, ainda hoje, nossa associação empenha-se em levar para as escolas e outras entidades essa conscientização cívica. Temos o compromisso de não deixar o sentimento de patriotismo morrer”, conclui. Patriotismo: Identificação com a Pátria

“A identificação com os valores da pátria faz toda a diferença na formação do cidadão. Sem essa identificação o indivíduo não exerce a cidadania sequer no seu lar, na sua rua, no seu bairro, na sua cidade e no seu estado, quanto mais na defesa do País.” Assim relaciona Antonio Fernando Pinheiro Pedro cidadania com sentimento de identificação, do indivíduo com o meio em que vive.

Para o advogado e consultor ambiental, sem esse “sentimento de pertencimento, não há como exercer o indivíduo a sua cidadania”.

” Grande parte dos problemas relacionados à educação e ao civismo, está justamente na falta de ambientação dos jovens no bairro onde moram. O avanço da conurbação urbana, desacompanhada da presença efetiva do governo na melhoria das condições de vida da população, sem infraestrutura, educação, e sem criação de espaços de lazer, arborização e segurança, faz com que imensos espaços sejam destinados à marginalidade, relegados a bairros-dormitórios, destinados ao desprezo dos próprios ocupantes”.

“Pergunto, que sentimento podem os jovens nutrir pelo pedaço de chão onde vivem, se não se sentem queridos ali, pelo Estado que os gerencia?”

“De toda forma”, alerta o advogado, “devemos resgatar o patriotismo a partir da educação básica, pois, se o governo, hoje, nada entende desse assunto, a geração educada com esses valores poderá mudar a situação e reivindicar, com amor à pátria, as mudanças necessárias para dignificar a Nação.”
 
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World Cup: Brazil Is Going to Be Just Fine
Don't Buy the Idea That Rout to Germany Will Leave a National Scar

Guess what happened in Brazil on Wednesday?


The sun came up. People went to work. They drove taxis, opened grocery stores, clicked on their computers to handle legal and financial matters. Doctors healed the sick. Social workers tackled the problems of the vast poverty in this country of some 200 million. Life went on.

Guess what didn't happen? Cities didn't burn. Mass riots didn't erupt. As far as we can tell, no soccer fans threw themselves off buildings because their beloved Seleção was embarrassed by Germany, 7-1, in Tuesday's World Cup semifinal.

In the cruel light of day, it still feels strange to write "Germany 7, Brazil 1." That kind of result doesn't happen at this level of soccer. Brazil last lost a competitive game on home soil in 1975. If I were a native, I'd be shaken, at a loss to describe the debacle that went down in the mining city of Belo Horizonte.

Make no mistake: The defeat to Germany, to borrow U.S. coach Jurgen Klinsmann's favorite phrase, was "a real bummer." The people here love their footy as much as any country loves any sport. The government declares holidays when the national team plays. Streets empty, and I mean empty—like you can pitch a tent in the middle of a main thoroughfare and not get hit.

Still, don't buy the narrative that this loss is going to leave some indelible national scar on a country so desperately trying to thrive in a lot of areas that have nothing to do with soccer. That idea is rather demeaning to the Brazilians I've met, who just might be the warmest collection of souls I've come across.

There was the woman at the eyeglass store here in São Paulo who refused to accept money for the eyeglass case she gave me after I had lost mine. There were the college students in Natal who offered me a tour of the city and a ride back to my hotel in the middle of the night when there was no media shuttle in sight following the U.S. win over Ghana. There was the rabbi who, 30 seconds after meeting me, insisted I go to a Sabbath dinner at one of his congregants' homes. (I did, and the matzo ball soup was awesome). There are countless souls who have stood patiently with me on the street, waiting as I fumbled through my pocket Portuguese dictionary, searching for the right word to complete a dumb question, when surely they had something better to do.

I've been here a month. That hardly qualifies me as an expert in Brazilian culture. My sample size is small and somewhat limited to hotels, restaurants, soccer stadiums and running paths next to beaches in Rio, Natal, Recife and a few other host cities. I know about the crime and the intense poverty.

But I also know this is an amazing, diverse country. Fly four hours into the Amazon from São Paulo, and the people look completely different from those in the country's commercial center. In Salvador on the northeast coast you might as well be in West Africa. In every city, people of every shade of black, brown and white skin populate areas that are rich and poor. It's a country of stunning physical beauty and vast natural resources. Rush-hour traffic makes Los Angeles arteries look like country drives, a sure sign that the place needs some infrastructure upgrades but also that there are a lot hardworking folks who want to make tomorrow better than today.

In other words, Brazil is a lot more than a canary jersey and an obsession with soccer.

The collapse against Germany will surely spark some national soul-searching about how Brazil cultivates and develops its next generation of soccer stars. The country has a huge talent pool to draw from, but accidents don't happen in sports anymore. Winning at the highest level today takes not just talent but money, training and a cohesive strategy.

"When you think about it," a 20-something Brazilian in one of those ubiquitous yellow jerseys said to me in a bar last night, "it's kind of funny. I mean, seven goals. It's funny, right?"

I'm going to bet that Brazil as a whole is going to be just fine after this. Bummed out for a bit, sure, but ultimately fine. In a lot of ways, it already is.

http://online.wsj.com/articles/world-cup-brazil-is-going-to-be-just-fine-1404917404

tradução: http://www.diariodocentrodomundo.co...elevel-um-jornalista-americano-fala-do-7-a-1/
 
Texto de 5 meses atrás, mas que continua atual. Grifos são meus.

Onde começa a truculência

Quando muitos radicalizam o discurso político nas redes sociais, alimentam a violência que toma as ruas do país.

As redes sociais não são um espelho da sociedade. Elas são a sociedade. Nas últimas semanas ocorreram dois crimes bárbaros no Rio de Janeiro que tiveram ampla repercussão nestas redes. No primeiro, um menino de 14 anos, negro, foi preso a um poste pelo pescoço com uma trava de bicicleta. Nu. Antes, apanhou. Um Debret soturno, em pleno século XXI, nas ruas do Flamengo. No segundo, o repórter cinematográfico Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, foi assassinado na Avenida Presidente Vargas, a metros da Central, por um manifestante mascarado. Era dia. A arma do crime: um rojão, fogo de artifício. Nas redes, não faltou gente que manifestasse compreensão por um crime ou por outro. O irônico, de forma alguma engraçado, mas certamente irônico, é que quem compreende um crime sempre condena o outro.

Em tempos de polarização política acirrada, os extremos ganham força. À esquerda, os Black Blocs. À direita, os fascistas justiceiros. Noutros cantos não é diferente. Occupiers em Wall Street e Tea Partiers nos EUA são um o espelho do outro. Assim como os justiceiros e os mascarados cariocas são um o espelho do outro. Os que defendem os crimes de um lado, mas não os do outro, também se espelham. Um a imagem invertida do outro. É o tipo de gente para quem crime tem ideologia. Uns, graves. Outros compreensíveis.

Tem sido muito duro navegar pelas redes. É como se a sanidade de parte de nossos amigos, ou dos amigos deles, tivesse sido suspensa. É como se a legitimidade de atos bárbaros pudesse ser posta em discussão. Como se ideologia fosse atenuante.

O ponto: a opinião de cada indivíduo tem consequência. Opinião não é algo que a gente deva tirar da cabeça e sair espalhando por aí. Opinião, num regime democrático, é uma responsabilidade. De cada um de nós.

A internet é um pequeno milagre tecnológico. É um jorro de informação como nunca houve em nossos cento e tantos mil anos por aqui na Terra. Nos aproxima a todos, permite ao fazendeiro no interior da África com um celular nas mãos acesso a informação que faz de sua pequena colheita de subsistência mais rentável. Mas a internet, este jorro de informação, este acesso que nos aproxima, ainda é jovem. A tecnologia pode caminhar rápido, nossos hábitos demoram a se formar.

Tradicionalmente, nas democracias, a opinião que tem consequência se dá na forma de voto. Mas a internet amplia isso em muito. Porque nossos diálogos não são mais privados. Eles ocorrem em público. Reagimos todos às notícias que lemos, vemos, ouvimos, e de presto processamos. Transformamos toda a informação em ponto de vista. Pronto, lá está no Face. No blog. No Twitter.

Opinião alimenta. Temos alimentado este monstro de ódio a cada dia faz alguns anos. De 2013 para cá, se exacerbou. Ganhou as ruas. Porque é isto que são os Black Blocs e os justiceiros do Flamengo: a versão na vida real dos diálogos que tantos vêm tendo online. Quando, na cabeça de muita gente, pensar diferente se torna mostra de mau caráter, o resultado disso na rua são murros, coquetéis molotov, morteiros. Trancas de bicicleta que reencenam as algemas dos senhores de Engenho. Aqueles que só discutem se no calor, impermeáveis sempre a contra-argumentos, alimentam o clima nas ruas.

Não quer dizer que não possa haver calor em discussões. Ou que, às vezes, estejamos convictos de nossas crenças. Quer dizer que se é sempre quente e a convicção é de um permanente inquebrável, foi-se a tolerância. Foi-se a autocrítica. Quer dizer que se a força que não vem do Estado é legitimada, o que quebra é o Estado democrático. A polícia é mal preparada, truculenta às vezes. Até crimes comete. Mas só a força dela é legítima.

Ambos os crimes têm culpados específicos. Mas eles nascem de um contexto e, neste contexto, estamos nós e as conversas que temos tido. Somos responsáveis pelas opiniões que temos. Opiniões podem ser incendiárias. Opiniões incendiárias têm consequências. E, nas ruas, elas já começam a deixar marcas de sangue.


Pedro Doria
http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/onde-comeca-truculencia-11566632?
 
Ideia ótima Camilo!!! Muito bom mesmo


Poderia fazer também um tópico com vídeos interessantes (como entrevistas importantes, documentários etc) :hmm:
 
via http://www.blogdacompanhia.com.br/2014/09/a-geracao-perdida/




A geração perdida?

Por Luiz Schwarcz - 4 setembro 2014, 10:50 am





Há muitas bienais não sentia emoção semelhante a essa que senti ao visitar a feira que se encerrou no domingo passado. A culpa era toda minha, ou nossa. A Companhia das Letras tardou demais para reconhecer como seu um público emergente no mundo dos livros. Durante certo tempo quase viramos as costas para este novo Brasil. Sabíamos que o país mudava, mas demoramos para dar passos concretos no sentido de conversar com outras classes, publicar para outros gostos que não os nossos. Foi quando a Penguin entrou como sócia da Companhia que tivemos a coragem de encarar de uma vez por todas esse novo público. Junto com o grupo inglês sentimos que poderíamos aprender a editar livros mais acessíveis, populares e comerciais. Sem preconceito. Precisamos dos estrangeiros para virarmos mais brasileiros.

O mercado de livros hoje é povoado principalmente pelas várias classes que ascenderam nos últimos anos, fruto da distribuição de renda que começou no governo Fernando Henrique e se aprofundou nos mandatos de Lula. Além disso, o mercado reflete o investimento em educação que os últimos governos fizeram, municiando bibliotecas escolares e distribuindo livros para as classes mais pobres. Assim, o público que se vê nos corredores da Bienal é diferente daquele que conheci há trinta e sete anos, quando comecei a trabalhar na Brasiliense e me emocionei na minha primeira Bienal, ainda no parque do Ibirapuera. É diferente, também, do público que fez da Companhia das Letras um sucesso de vendas muito maior do que o esperado no início da editora, quase vinte e oito anos atrás.

Hoje, com os novos selos - Paralela e, principalmente, Seguinte -, a Companhia fala com o novo Brasil, e o mal-estar de ver a Bienal crescer nos outros estandes, e não no nosso, passou. O curioso é que esse passo, o de criar selos populares, foi duramente criticado por certos intelectuais e autores da editora - alguns paradoxalmente mantêm fortes vínculos com o PT - e mesmo questionado internamente, por parte dos funcionários, eleitores dos partidos mais à esquerda. Cheguei a convidar um desses autores - ao saber que dizia que a "Companhia das Letras não é mais a mesma" - a visitar a editora e conhecer nossos novos selos e o trabalho social que fazemos voluntariamente, patrocinando grupos de leitura nos presídios femininos e em orfanatos. A visita ainda não aconteceu, mas quem sabe, assim como a ficha demorou para cair para mim, a Bienal de São Paulo sirva de gatilho para que os críticos mais elitistas se rendam à nova realidade do país, pela qual tanto lutamos, juntos e por tanto tempo. A Companhia das Letras, mantendo a qualidade do seu selo original intacta, hoje é mais brasileira não só pela publicação de maior número de autores nacionais, cuja maioria é de jovens talentosos, mas também por falar com mais gente, com um novo país de leitores, que certamente irá longe.

Junto da emoção de ver grupos de jovens gritando por seus autores - como nos tempos da Beatlemania -, lutando por senhas, revelando serem os livros objetos de sonho, surgem também algumas indagações. A principal delas é entender que outros fatores, além dos econômicos e do resultado do progresso social, nos fizeram chegar à atual realidade do mercado editorial brasileiro. Um fator extra-econômico e exclusivamente literário se chama Harry Potter. Grande parte do público que lota as bienais é filho de J. K. Rowling. Ou seja, adquiriu o prazer da leitura com o herói de óculos redondo, assim como a minha geração o adquiriu com Lobato ou com o Tesouro da Juventude. Escritores que sabem seduzir os jovens são desbravadores. Eles são os bons fantasmas que estão escondidos nos corredores da Bienal, e explicam muita coisa.

O outro fator, já mencionado anteriormente, é o investimento governamental em educação e em políticas que tornaram o livro mais popular. A sala de aula, os bons professores, os educadores e as bibliotecas são grandes motivadores de leitura, responsáveis por um enriquecimento intelectual inestimável. E sobre este ponto, hoje, infelizmente, pairam dúvidas tão inesperadas como preocupantes.

Vamos lá: os editores esperavam que a Copa trouxesse grandes dificuldades para o mercado editorial no ano de 2014. Isso não aconteceu, ou aconteceu em escala bem menor do que o aguardado. O público jovem foi o grande motor de superação da possível dormência de um país iludido pela Copa do Mundo. Os jovens não pararam de ler John Green, Kiera Cass, Veronica Roth, George R. R. Martin, Cassandra Clare etc. A crise está mais embaixo, justamente onde a bonança começou. As dificuldades políticas e o baixo crescimento do país afetaram justamente o investimento governamental em livros.

Grandes compradores, como as prefeituras de São Paulo e Rio, pararam quase totalmente de adquirir livros. O atual prefeito de São Paulo foi dos melhores Ministros da Educação do país. Seu secretário de educação e a equipe da secretaria são das mais qualificadas que já tivemos. Mas a consequência da não aprovação de um IPTU mais alto para os ricos recaiu sobre os alunos de menor renda. As bibliotecas pagaram parte da conta e seus acervos não foram renovados nos últimos dois anos. É injusto, incorreto e, no mínimo, surpreendente.

A secretaria de educação do Estado de São Paulo e a FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) foram os responsáveis por programas extensíssimos de compras de clássicos brasileiros, distribuídos a alunos e professores em larga escala. Os atrasos na operação de distribuição dos livros comprados e dúvidas sobre um programa tão bem-sucedido paralisaram as atividades governamentais no último ano da gestão de Geraldo Alckmin. Há rumores de que parte do secretariado prefere redestinar as verbas para programas voltados para crianças mais novas, considerando a geração dos jovens de hoje como perdida. Investir desde a idade mais baixa é correto, mas imaginem o efeito de bons livros clássicos da literatura brasileira nas mãos de leitores já fisgados pela boa literatura de entretenimento. Teria o efeito de uma bomba propagadora de bons livros, um salto de qualidade absolutamente fundamental. Me pergunto se os responsáveis do governo foram aos corredores da Bienal e viram que a geração não está perdida de forma alguma, que foi ganha por méritos dos bons programas desenvolvidos por eles próprios, pela FDE, cujos profissionais se mostram ávidos para dar continuidade às políticas desenvolvidas no passado recente. Não há nenhum sinal de avanço na escolha de novos livros para 2015, tendo este ano passado em branco, nas principais áreas de investimento da secretaria. A prefeitura do Rio de Janeiro, também tradicional investidora em bibliotecas escolares, claramente não segue mais a mesma linha.

No âmbito federal as coisas andam, mas com uma maior morosidade. Um programa inovador como o que prevê a compra de livros que tematizam questões sociais, raciais e de gênero teve seus livros selecionados, mas o processo de aquisição encontra-se parado. As negociações são mais morosas e o ministro José Henrique Paim, também um homem com vocação para a educação através dos livros, talvez não tenha tido força suficiente para vencer a crise geral do Estado brasileiro. Parece que é preciso vontade política dobrada para que o Brasil continue a crescer na literatura, agora com os maus ventos econômicos que têm soprado de uma maneira geral sobre o país.

O importante é olhar para os corredores da Bienal, para a Flip e para os festivais literários espalhados pelo Brasil e sentir orgulho. Saber que estes corredores devem tanto a grandes autores que souberam incluir os jovens no mundo das letras, como a grandes chefes de governo e a ótimos ministros e secretários de educação. É preciso cobrar continuidade aos governantes que, na área da educação, justamente deram um passo tão importante para mudar o país. Os leitores estão aí. Geração perdida? Uma ova!










via http://www.blogdacompanhia.com.br/2014/09/a-geracao-perdida/








Ideia ótima Camilo!!! Muito bom mesmo


Poderia fazer também um tópico com vídeos interessantes (como entrevistas importantes, documentários etc) :hmm:
Valeu! :yes:

Já há dois:

http://adrenaline.uol.com.br/forum/geral/415449-acervo-de-imagens-videos-interessantes.html

http://adrenaline.uol.com.br/forum/...e-series/380843-documentarios-bbc-outros.html
 
Bom texto, é sempre bom ler/ouvir uma análise de quem está dentro do ramo, principalmente quando este tem bagagem.
 
via https://medium.com/@ferferes/how-to-be-polite-cc768f076cd2




Como ser Educado

Por Paul Ford





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O Bom Menino, 1837



A maioria das pessoas não percebe que eu sou educado e esta é justamente a questão. Eu não pareço educado. Eu sou grande e abatido e preciso de um corte de cabelo. Nenhuma alma me associaria a sanduíches de agrião. Ainda assim, todo ano alguém me puxa de lado e diz você realmente é estranhamente educado, não é? E isso sempre me emociona. Eles notaram.

Os elogiadores nem sempre formulam o elogio com tanta delicadeza. Por exemplo; há dois anos, no final de um projeto difícil da empresa, alterando lentamente mil quadrados vermelhos para amarelo em uma planilha, depois o verde, meu colega virou para mim e disse: "eu pensei que você fosse o maior puxa-saco quando começamos a trabalhar juntos".

Ela fez uma pausa e franziu a testa. "Mas, na verdade, me ajudou a fazer as coisas. Foi uma estratégia". (É assim que uma pessoa rude faz um elogio. O que aceitei de bom grado).

Ela ficou surpresa ao ver o teimoso poder da cortesia ao longo do tempo. Ao longo do tempo. Essa é a questão. Na maioria das vezes falamos muito sobre educação do momento. Por favor, obrigado, pode passar, eu gosto do seu chapéu, sapato legal, você está bonita hoje, por favor, tome o meu lugar, senhor, senhora etc. Tudo legal, mas fugaz.


Manuais de Etiqueta

Quando eu estava no colégio eu costumava ler manuais de etiqueta. Coisas como Emily Post etc. Eu achei os manuais interessantes e muito engraçados. Tinha coisas boas sobre como escrever uma mensagem de condolências e coisas ridículas sobre como se comportar em barcos ou na Casa Branca.

Eu não esperava aplicar minhas descobertas na minha vida adolescente diária. Eu era periférico na escola - não era popular mas também não era zoado, fui eleito o "mais acadêmico" da minha classe, mais ou menos equivalente a "o menos propenso a fazer sexo". No colegial ninguém notou minha educação, exceto por um garoto. Ele falou comigo sobre isso. "Por que você é sempre tão educado, cara?", perguntou. "É estranho." Encarei isso como um elogio e fiz um lembrete para disfarçar ainda mais, para ser mais leviano. Educação verdadeira, pensei, era invisível. Ela se adaptou à situação. Mais tarde, esse mesmo garoto roubou a minha cópia cassete do Aqualung.

Mas não importa. O que eu achei mais interessante foi a forma com que praticar a etiqueta te permite desenhar um círculo de proteção em torno de si mesmo e de suas emoções. Ao seguir as restrições do livro, você pode se arrastar por uma situação terrível e quando tudo acabar você pode jogar suas luvas brancas no cesto de roupa suja e seguir em frente com sua vida. Eu percebi que havia um grande mundo lá fora e que a etiqueta viria a calhar ao longo do caminho.

No começo isso não aconteceu. Ninguém precisa de cartões de visita na faculdade (embora eu esteja surpreso de que isto não tenha voltado à moda entre os estudantes de teatro). E aos vinte anos eu descobri que eu poderia marcar pontos com os mais velhos, me destacando e falando respeitosamente. Mas então, de repente - importava. Minha capacidade de ir a uma festa e falar com qualquer pessoa sobre qualquer coisa e fazer perguntas, para desviar a conversa incessantemente para quem estivesse falando, significava que eu estava coletando uma quantidade enorme de informações sobre outras pessoas.

Eis aqui o truque de uma pessoa educada, que nunca falhou comigo. Eu vou compartilhar com você porque eu gosto de você e te respeito e é óbvio que você vai saber como aplicá-lo com sabedoria: Quando você está em uma festa e é empurrado para conversar com alguém, veja quanto tempo você consegue esperar antes de falar sobre o trabalho dela. E quando essa calmaria dolorosa chegar, seja seu o mestre. Eu aprendi a aproveitar essa primeira pausa agonizante, porque eu sei que eu posso aguentar uma conversa completamente. Basta perguntar a outra pessoa qual a profissão dela e logo depois da resposta diga: "Uau. Isso parece difícil".

Porque quase todo mundo acredita que o seu trabalho seja difícil. Uma vez fui a uma festa e conheci uma mulher muito bonita, cujo trabalho era ajudar as celebridades a usarem joias da marca Harry Winston. Eu podia jurar que ela estava desapontada ao ser apresentada a este gigante amarrotado com uma camiseta sem marca, mas quando eu disse a ela que seu trabalho parecia difícil ela se iluminou e falou por 30 minutos direto sobre safiras e Jessica Simpson. Ela esbarrava em mim enquanto falava. Eu a perdoei por isso. Eu não revelei nenhum detalhe sobre mim, incluindo o meu nome. Eventualmente, alguém me puxou de volta para a festa. A coordenadora de joia de celebridades sorriu, pegou a minha mão e disse: "eu gosto de você!" Ela parecia tão aliviada por ter desabafado. Encarei isso como um grande sucesso. Talvez uma centena de vezes já que eu disse: "uau, isso parece difícil" para estranhos antes e isso sempre traz grandes efeitos. Eu fico em casa com meus filhos e não tenho mais vida, então aceite este truque para qualquer festa como meu presente pra você.

Um amigo e eu bolamos um jogo chamado Anedotistas. Você se junta a outro Anedotista em uma festa e conversa com todo mundo que puder. Você ganha pontos por levar as pessoas a revelar algo sobre as suas vidas. Se você dominar a conversa, você perde um ponto. Os dois anedotistas se comunicam por meio de sinais com as mãos e mantém um registro em uma folha de papel ou em suas mentes. Você acha que as pessoas notariam, mas elas estão se divertindo tanto com a atenção que nem percebem que você está jogando Anedotistas.


Mexer no Cabelo

Uma maneira de ser educado é não tocar nas pessoas, a menos que te convidem especificamente. Você ficaria surpreso com quantas vezes as pessoas estragam isso; basta pesquisar na internet por "mexer no cabelo de uma mulher negra" e maravilhe-se com o número de artigos, publicações e guias. Abaixo está uma entrevista do The Awl da jornalista Jenna Wortham, do New York Times sobre mexer no cabelo:


Eu sei que isso pode soar como um exagero para algumas pessoas, mas ter alguém encostando em mim sem a minha permissão ferra com o meu dia e com a minha sensação de privacidade e espaço pessoal e me envia a uma sensação k-hole de querer saber que sinal inconsciente eu possa ter dado para indicar que seria OK, embora eu saiba que tal sinal não existe.​


Eu li muitas histórias sobre pessoas brancas apenas encostando no cabelo de uma pessoa negra e isso me deixa pasma. Não por causa do racismo, mesmo. Simplesmente porque como uma pessoa educada, a ideia de apenas estender a mão e tocar no cabelo de alguém me dá nos nervos. Quando seria apropriado? Se tiver uma grande aranha venenosa em seu cabelo. Se eu estivesse fazendo um truque de mágica. Ou, depois de seis ou mais anos de casamento.

Há exceções. Eu dou leves tapinhas na cabeça de crianças que conheço há mais de seis meses. Se crianças pequenas querem sentar no meu colo ou pedem para subir nas minhas costas enquanto eu faço barulhos de cavalo, eu faço contato visual com seus pais primeiro para depois brincar com elas. Depois disso eu poderia fazer carinho na cabecinha delas. Não me oponho a ficar despenteado em certas circunstâncias bem definidas e adequadas.

Mas toda uma série de problemas vai embora da minha vida, porque eu vejo as pessoas como tendo ao seu redor uma barreira invisível de mais ou menos um metro. Se eu vejo um fio de cabelo na blusa de alguém, eu pergunto se eu posso tirá-lo. Se eles não quiserem, eles mesmos tiram. Se seu nome agora é Susan, é Susan. E seja lá o que acontecer dentro desta barreira isto tem a ver com eles. Não tem nada a ver comigo.

Agora, mesmo que eu seja entendido do assunto e estudado livros de etiqueta, eu aprendi tudo isso da maneira tradicional, estragando tudo terrivelmente e tendo que enviar e-mails com pedidos de desculpas no dia seguinte. Os e-mails de desculpas são muito embaraçosos para mencionar. Eles são desastrosos para enviar. Eu fico muito bêbado e discorro rios de vulgaridade. Ou digo algo estúpido. E então eu acordo e suspiro. "Eu percebi", escrevo, "que eu posso ter sido uma pessoa verdadeiramente insuportável na noite passada". Eu nunca toquei o cabelo de ninguém, não que eu saiba. Mas é claro que eu poderia. Uma coisa sobre ser educado é que você sabe que dentro de você se esconde uma pessoa incrivelmente indelicada.

Talvez 20 anos atrás eu tenha lido numa fanzine uma entrevista com uma prostituta em que ela colocou suas regras para seus clientes. A maioria das regras são de senso comum sobre preservativos, não se atrasar e assim por diante, mas a regra que nunca me esqueci: "não cagar no meu banheiro!". Foi em negrito e sublinhado com pontos de exclamação (era uma fanzine, lembre-se).

Sempre que eu leio sobre os trabalhadores do sexo  -  o que é sempre, porque a nossa cultura é obcecada  -  esta regra surge a minha mente. Eu nunca tive motivos para testá-la. Mas eu gosto de pensar que se alguma vez contratar uma profissional do sexo, eu saberia como lidar com isso em relação a essa regra. Por exemplo, se fosse necessário eu faria uma parada rápida no Starbucks antes de ir até o apartamento dela. E já que eu estaria no Starbucks eu poderia oferecer de trazer café. Mandaria um SMS "No Starbucks". "Quer alguma coisa?". E a pedidos eu compraria um Frapuccino de Caramelo® Levemente Misturado e, talvez, um bagel com queijo cheddar. E sim, eu sei que é imoral para uma mulher em Nova York querer um bagel do Starbucks. Mas quem sou eu para julgar?

E é aí que a fantasia acaba. É apenas uma pequena regra guardada no meu cérebro, sob a categoria Prostitutas. Há milhares, talvez dezenas de milhares de regras parecidas. E se eu tivesse que conhecer o prefeito amanhã? E se eu tivesse que ir a um restaurante caro? E se eu precisasse entrevistar uma pessoa sem-teto para a história? Emily Post não poderia cobrir tudo, então eu tenho que fazer acontecer. Eu sou, na verdade, uma pessoa profundamente ansiosa. Mas também educada.


Conclusão

Educação te compra tempo. Ela te abre as portas. Eu conheci muitas pessoas que, se eu tivesse confiado nas minhas primeiras impressões eu nunca iria querer as encontrar novamente. No entanto  -  muitas delas agora são grandes amigos. E eu raramente toco em seus cabelos.

Uma dessas pessoas é a minha esposa. No nosso primeiro encontro, fomos a um bar agradável com mesas azuis e, no curso normal da conversa, ela me contou vagarosamente sobre a retirada de um teratoma dermoide de seus ovários. Este é um cisto com dentes (não é uma metáfora). Eu tinha saído com a esperança em flertar, mas ao invés disso eu aprendi sobre a remoção cirúrgica de uma massa mutante do tamanho de um punho de cabelo e dentes de seus órgãos sexuais. Isso matou a química. Eu a levei pra casa dela, falei que tinha me divertido e fui para casa pesquisar sobre cistos na internet; sempre um bom final para uma noite. Conversamos um pouco depois disso. Eu fui agradável e breve. Um ano depois, encontrei com ela no trem e saímos para beber algo. Muito mais tarde eu soube que ela estava tendo um dia muito ruim em um ano muito ruim.

Às vezes eu vou recebo um telefonema ou e-mail de alguém depois de cinco anos desde o último contato e eu penso, é mesmo, eu odiava essa pessoa. Mas eles nunca sabiam disso, claro. Vamos ver se eu ainda a odeio. Muitas vezes eu descubro que não. Ou que eu odiava por um motivo bobo. Ou que eles estavam tendo um dia ruim. Ou, muito mais provável, que eu estava tendo um dia ruim.

As pessoas lutam silenciosamente contra todos os tipos de coisas horríveis. Elas sofrem de depressão, ambição, abuso de drogas e arrogância. Elas sofrem de tragédia familiar e auto-depreciação. Elas sofrem de casamentos mal-sucedidos, de dor física e de publicação. O bom da educação é que você pode tratar essas pessoas exatamente do mesmo jeito. E depois esperar para ver o que acontece. Você não tem que ter uma opinião. Você não precisa fazer um julgamento. Eu sei que não soa como libertação, porque vivemos e trabalhamos em uma economia baseada na opinião. Mas é. Não ter uma opinião significa não ter uma obrigação. E não ter obrigação é uma das riquezas mais doces da vida.

Há um outro aspecto da minha educação que eu estou relutante em mencionar. Mas eu vou. Eu sou muitas vezes consumido com uma sensação de imenso amor e empatia. Eu olho para a outra pessoa e fico sobrecarregado de alegria. Pra toda a minha ironia eu realmente quero saber sobre o processo de pendurar joias de celebridades. Qual a sensação de ter uma joia em suas mãos? Qual a sensação de ter celebridades em suas mãos? Qual delas é mais suave?

Este não é um mundo onde você pode simplesmente expressar o seu amor por outras pessoas, onde você pode elogiá-las. Talvez ele devesse ser. Mas não é. Descobri que as pessoas temem o seu entusiasmo e calor e esperam para ouvir o preço. O que é justo. Todos nós já fomos atraídos para o amor de alguém apenas para descobrir que não podia pagar. Um pouco de distância compra tempo para todo mundo.

Na semana passada, minha esposa voltou do playground. Ela me disse que meu filho de dois anos de idade, de menos de 1 metro de altura, Abraão, caminhou até uma mulher em um hijab e perguntou: "Qual o seu nome?". A mulher lhe disse o seu nome. Então ele estendeu sua mãozinha e disse: "Prazer em conhecê-la!". Todo mundo riu e ele sorriu. Ele compartilhou com ela o seu aperto de mão firme, como eu o ensinei.










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Por que o clima beligerante parece impedir o diálogo no Brasil

Potencializada pelas redes sociais, animosidade reinante dificulta o diálogo entre pontos de vista divergentes é reflexo de um impulso mais íntimo na sociedade brasileira, disfarçado historicamente pelo mito do "povo cordial"





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Mostra "Intolerância" (2002), do artista plástico Siron Franco



Dos gritos racistas nos estádios de futebol às incitações homofóbicas nos debates presidenciais, passando pelos linchamentos morais disseminados pelas redes sociais, os brados da intolerância ganham cada vez mais decibéis. Na semana em que excretou sua homofobia na TV, o candidato Levy Fidelix viu o número de curtidas em sua página no Facebook crescer 140%. E até uma improvável página de "apoio" à torcedora gremista que chamou o goleiro do Santos de macaco se mantém ativa - contra a vontade da própria Patrícia Moreira -, reunindo mais de 6,5 mil curtidores de mensagens como "diga não à miscigenação racial. Se o povo de Israel não se mistura, a gente também tem o mesmo direito".

Ao mesmo tempo em que gera revolta - e novos xingamentos, numa espiral de desrespeitos - o clima beligerante que contamina discussões públicas como essas provoca reflexões sobre nossa capacidade de aceitar as diferenças. A intolerância está aumentando na sociedade contemporânea? Ou a profusão de casos de racismo, baixaria nas discussões políticas, violência no futebol e brigas no trânsito estariam apenas mais visível pela vitrine das redes sociais?






Para o psicanalista Oscar Cesarotto, coordenador do Centro de Estudos em Semiótica e Psicanálise da PUC-SP, o acirramento da intolerância seria um preço paradoxal que se paga pela globalização. Na mesma medida em que há um estreitamento de fronteiras pela tecnologia e a imposição de convívio com diferenças em todo o mundo, esse movimento induziria como resposta um reforço à cultura do gueto, pelo medo do diferente. E as redes reforçariam a segregação, ao juntar os "parecidos" e permitir a formação de clubes de amor ou ódio a determinada causa.

- Quanto mais se olha para dentro, mais se detesta o de fora. É uma espécie de curto-circuito da globalização - diz.

Na sua avaliação, essa agudização é especialmente marcante em anos de Copa e Eleição, em que todo mundo "quer ganhar" - o que implicaria necessariamente o desejo de que o outro perca. E aí a lógica das torcidas organizadas, do "nós" contra "eles" invade todos os campos de discussão. A historiadora Zilda Maria Grícoli Iokoi, coordenadora do Diversitas - Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da USP e do Programa de Pós-Graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da universidade, concorda que a analogia das torcidas ilustra bem o fenômeno. Sempre que vestimos uma camiseta de um "time", seja ele qual for, assumiríamos automaticamente uma postura de intolerância, ao encarnar a lógica do "meu" versus o "outro".

- Em todos os lugares sociais onde a homogeneidade do grupo é muito forte, a intolerância está presente - alerta.

Por outro lado, isso não é novo. Zilda diz que está em curso um "enorme fenômeno de intolerância contínuo", historicamente disfarçado no Brasil por um discurso de que somos um povo cordial, "boa gente" e tolerante.

- Essa intolerância está aumentando, mas é dirigida para grupos específicos como pobres, negros, índios, não se expande para todos. Jovens negros são assassinados toda semana sem grande alarme - observa.

Uma das causas seria o reforço à cultura do medo, acentuada pela segregação de classes, com a formação de bolhas sociais que confinaram a classe média na escola privada, nos shoppings centers e em redes sociais de iguais.

- Quando todo mundo ia para a escola pública, o filho do operário convivia com o filho do patrão. Hoje não conhecemos o outro, e se teme o desconhecido. Criamos formas de vida que usam a violência para tentar nos proteger e falta consciência da responsabilidade social. Se uma criança é chamada de macaco numa escola, por exemplo, não acontece nada - observa.

Entre as tentativas de corrigir essas diferenças sociais e históricas, está a criação de cotas para minorias como negros e indígenas. Só que, paradoxalmente, as ditas ações afirmativas também enfrentam seu revés. Incomodados por verem seu lugar ameaçado, os grupos hegemônicos reagem, aumentando a agressividade contra grupos que historicamente sempre estiveram à margem. Mais uma vez, a intolerância cresce. Para o psicanalista João Angelo Fantini, professor do curso de psicologia da Universidade Federal de São Carlos e autor do livro Raízes da Intolerância (Editora EdUfscar), a ascensão da dita nova classe média também contribui para agudizar os ânimos, mexendo em privilégios sociais arraigados. Um exemplo seria o preconceito dos tradicionais frequentadores de aeroportos com a chegada de pessoas que pela primeira vez na vida podem andar de avião.

- Estas questões agora não estão mais presas dentro do livros e das universidades: elas estão sendo discutidas - consciente e inconscientemente - em shoppings e aeroportos - pondera Fantini (leia entrevista nos links nesta página).

As redes sociais seriam o palco privilegiado para expor os conflitos latentes. Se antes a mesa de bar era o espaço para amigos contraporem teses particulares e desabafos, atualmente as discussões migraram para a internet - com a diferença de que tudo fica registrado, que os participantes podem se proteger pelo anonimato - e que não têm hora para acabar. Essa ilusão da privacidade permite dar vazão a pontos de vista que antes poderiam ficar represados.

- Não acho que está crescendo a intolerância, mas com a rede isso ganha novas fermentações, com o jogo da exposição pública. O racismo no Brasil existe desde muito antes das redes sociais, mas no Brasil essa temática nunca saiu do subsolo, mascarando as situações concretas do dia a dia. Não foi a internet que aumentou a intolerância, ela agora permite uma resposta - analisa o professor Henrique Antoun, coordenador do grupo Cibercult - Laboratório de Comunicação Distribuída e Transformação Política da UFRJ.

Ao possibilitar novas formas de diálogo, a internet colocou a intolerância em discussão, tirando-a de debaixo do tapete. E nem dá mais para colocar a culpa no álcool e dizer que não lembra do que falou na noite passada. Há sempre uma timeline para refrescar a memória.










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:yes:
 
O psiquiatra Lyle Rossiter nos comprova que o esquerdismo é uma doença mental
POR LUCIANOHENRIQUE on 26 DE FEVEREIRO DE 2013 • ( 55 )

Geralmente vemos esquerdistas se referirem a quem é da direita como um “louco da direita”, e daí por diante. O problema é que a crença da direita é coerente até com o que a teoria da evolução tem a nos dizer. Enquanto isso, a crença esquerdista é baseada em quê? É isso que começamos a investigar de uma forma mais clínica a partir do livro The Liberal Mind: The Psychological Causes of Political Madness, de Lyle Rossiter, lançado em 2011.

Conforme a review da Amazon, já notamos a paulada que será dada nos esquerdistas:

Liberal Mind traz o primeiro exame profundo da loucura política mais relevante em nosso tempo: os esforços da esquerda radical para regular as pessoas desde o berço até o túmulo. Para salvar-nos de nossas vidas turbulentas, a agenda esquerdista recomenda a negação da responsabilidade pessoal, incentiva a auto-piedade e outro-comiseração, promove a dependência do governo, assim como a indulgência sexual, racionaliza a violência, pede desculpas pela obrigação financeira, justifica o roubo, ignora a grosseria, prescreve reclamação e imputação de culpa, denigre o matrimônio e a família, legaliza todos os abortos, desafia a tradição social e religiosa, declara a injustiça da desigualdade, e se rebela contra os deveres da cidadania. Através de direitos múltiplos para bens, serviços e status social não adquiridos, o político de esquerda promete garantir o bem-estar material de todos, fornecendo saúde para todos, protegendo a auto-estima de todos, corrigindo todas as desvantagens sociais e políticas, educando cada cidadão, assim como eliminando todas as distinções de classe. O esquerdismo radical, assim, ataca os fundamentos da liberdade civilizada. Dadas as suas metas irracionais, métodos coercitivos e fracassos históricos, juntamente aos seus efeitos perversos sobre o desenvolvimento do caráter, não pode haver dúvida da loucura contida na agenda radical. Só uma agenda irracional defenderia uma destruição sistemática dos fundamentos que garantem a liberdade organizada. Apenas um homem irracional iria desejar o Estado decidindo sua vida por ele, ao invés e criar condições de segurança para ele poder executar sua própria vida. Só uma agenda irracional tentaria deliberadamente prejudicar o crescimento do cidadão em direção à competência, através da adoção dele pelo Estado. Apenas o pensamento irracional trocaria a liberdade individual pela coerção do governo, sacrificando o orgulho da auto-suficiência para a dependência do bem-estar. Só um louco iria visualizar uma comunidade de pessoas livres cooperando e ver nela uma sociedade de vítimas exploradas pelos vilões.

O que temos aqui, na obra de Rossiter, é o tratamento do esquerdismo de forma clínica, por um psiquiatra forense. (Um pouco mais no site do autor do livro, e um pouco mais sobre sua prática profissional)

O modelo de mente esquerdista

O livro é bastante analítico, e, por vezes, até chato de se ler. Quem está acostumado a livros de fácil leitura de autores conservadores de direita, como Glenn Beck e Ann Coulter, pode até se incomodar. Outro livro que fala do mesmo tema é Liberalism Is a Mental Disorder: Savage Solution, de Michael Savage. Mas o livro de Savage é também uma leitura informal, embora séria. O livro de Rossiter é acadêmico, de leitura até difícil, sem muitas concessões comerciais, e de um rigor analítico simplesmente impressionante. Se não é sua leitura típica para curar insônia, ao menos o conteúdo poderoso compensa o tratamento seco e acadêmico dado ao tema.

Segundo Rossiter, a mente esquerdista tem um padrão, que se reflete tanto em um padrão comportamental, quanto um padrão de crenças e alegações. Portanto, é possível “modelar” a mente do esquerdista a partir de uma série de padrões. A partir daí, Rossiter investiga uma larga base de conhecimento de desordens de personalidade, e usa-as para modelar os padrões de comportamento dos esquerdistas. Segundo Rossiter, basta observar o comportamento de um esquerdista, mapear suas crenças e ações, e compará-los com os dados científicos a respeito de algumas patologias da mente. A mente esquerdista pode ser classificada como um distúrbio de personalidade por que as crenças e ações resultantes deste tipo de mentalidade se encaixam com exatidão no modelo psiquiátrico do distúrbio de personalidade. As análises de Rossiter são feitas tanto nos contextos individuais (a crença do cidadão esquerdista em relação ao mundo), como nos contextos corporativos (ação de grupo, endosso a políticos profissionais, etc.).

Rossiter nos lembra que a personalidade é socializada pelos pais e pela família, como uma parte do desenvolvimento infantil. Mesmo com a influência do ambiente escolar, são os pais que preparam a criança para o futuro. A partir disso, ele avalia o que é um desenvolvimento sadio, para desenvolver uma personalidade apta a viver em um mundo orientado a valorização da competência, dentro do qual essa personalidade deverá reagir. Uma personalidade sadia reagiria bem a esse mundo já sem a presença dos pais, enquanto uma personalidade com distúrbio não conseguiria o mesmo sucesso. Em cima disso, Rossiter avalia a personalidade desenvolvida com os itens da agenda esquerdista, demonstrando que muitos itens dessa agenda estão em oposição ao desenvolvimento sadio da personalidade.

Para o seu trabalho, Rossiter classifica os esquerdistas em dois tipos: benignos e radicais. Os radicais são aqueles cujas ações (agenda) causam dano a outros indivíduos. De qualquer forma, os esquerdistas benignos (seriam os moderados) dão sustentação aos esquerdistas radicais.

Rossiter define o homem como uma fonte autônoma de ação, ao mesmo tempo em que está envolvido em relações, como as econômicas, sociais e políticas. Isto é definido por Rossiter como a Natureza Bipolar do Homem, pois mesmo que ele seja capaz de ação independente, também é restrito pelo contexto social, na cooperação com os outros. A partir dessa constatação, tudo o mais flui. Para permitir que o homem seja capaz de operar com sucesso em seu ambiente natural, deve existir um desenvolvimento adequado da personalidade. Este desenvolvimento da personalidade surge a partir dos outros, idealmente a mãe e a família.

Outro ponto central: toda a análise de Rossiter é feita no contexto de uma sociedade livre, não de uma sociedade totalitária. Portanto, ele avalia o quão alguém é sadio em termos de personalidade para viver em uma sociedade democrática, e não em uma sociedade formalmente totalitária, como Coréia do Norte, Cuba ou China, por exemplo.

Competência em uma sociedade livre

Fica claro que não devemos esperar de Rossiter avaliação sobre um modelo de personalidade para toda e qualquer sociedade, pois ele é bem claro em seu intuito: desenvolver e estudar personalidades competentes para a vida em uma sociedade livre. A manutenção de tal sociedade requer regras para existir, que devem ser codificadas em leis, hipóteses, assim como regras do senso comum.

Nesse contexto, as habilidades a seguir são aquelas de um adulto competente em uma sociedade com liberdade organizada:

Iniciativa – Fazer as coisas acontecerem.
Atuação – Agir com propósito.
Autonomia – Agir independentemente.
Soberania- Viver independentemente, através da tomada de decisão competente.
Rossiter define os direitos naturais do homem, para uma pessoa adulta vivendo em uma sociedade de liberdade organizada. Estes compreendem o exercício, conforme qualquer um escolher, das habilidades selecionadas acima, todas elas sujeitas às restrições necessárias para uma sociedade com paz e ordem. Assim, direitos naturais resultam da combinação de natureza humana e liberdade humana. Natureza humana significa viver como alguém quiser, sujeito as restrições necessárias para paz e ordem.

Considerando estes atributos humanos, Rossiter define como uma ordem social adequada, aquela que possui os seguintes aspectos:

Honra a soberania do indivíduo
Respeita a liberdade do indivíduo.
Respeita a posse de propriedade e integridade dos contratos.
Respeita o princípio da igualdade sob a lei.
Requer limites constitucionais, para evitar que o governo viole os direitos naturais.
Os aspectos acima são avaliados na perspectiva do indivíduo, não de grupos ou classes, em um processo relacionado à individuação, conceito originado em Jung. Neste processo, o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implicará necessariamente em uma ampliação da consciência. A partir daí, surge cada vez mais o conhecimento de si-mesmo, em detrimento das influências externas. Eventuais resistências à individuação são causas de sofrimento e distúrbios psiquícos.

Segundo Rossiter, o indivíduo adulto que passou adequadamente pelo processo de individuação assume de forma coerente seu direito a vida, liberdade e busca da felicidade. Mesmo assim, isso não significa que ele pode fazer o que quiser, pois deve respeitar o individualismo dos outros e interagir com eles através da cooperação voluntária. Assim, o individualismo deve ser associado com mutualidade, para o desenvolvimento de um adulto competente para viver em uma sociedade de liberdade organizada.

Rossiter estuda com afinco as características de desenvolvimento do invidíduo, de acordo com regras pelas quais ele pode viver em uma sociedade de liberdade organizada, e lista sete direitos individuais do cidadão comum, dentro dos quais ele pode exercitar sua autonomia, livre da interferência do governo:

Direito de auto-propriedade (autonomia)
Direito de primeira posse (para controlar propriedade que não tenha sido de posse de ninguém antes)
Direito de posse e troca (manter, trocar ou comercializar)
Direito de auto-defesa (proteção de si próprio e da proriedade)
Direito de compensação justa pela retirada (a partir do governo)
Direito a acesso limitado (a propriedade dos outros em emergências)
Direito a restituição (por danos a si próprio ou propriedade)
Estes são normalmente chamados de direitos naturais, direitos de liberdade ou direitos negativos. O governo deve ser estruturado para proteger estes direitos, e precisa ser estruturado de forma que não infrinja-os. A obrigação do governo em uma sociedade de liberdade organizada envolve implementar e sustentar estas regras para proteger o cidadão de infrações cometidas tanto por outros como pelo próprio governo.

Eis que surge o problema da mente esquerdista, que quer atacar basicamente todos os pilares acima. Em cima disso, Rossiter levanta as crenças da mente esquerdista, que, juntas, dão um fundamento do modelo da mente deles:

Modelos sociais ideais tradicionais estão ultrapassados e não se aplicam mais.
A direção do governo é melhor do que ter os cidadãos tomando conta de si próprios.
A melhor fundação política de uma sociedade organizada ocorre através de um governo centralizado.
O objetivo principal da política é alcançar uma sociedade ideal na visão coletiva.
A significância política do invidíduo é medida a partir de sua adequação à coletividade.
Altruísmo é uma virtude do estado, embutida nos programas do estado.
A soberania dos indivíduos é diminuída em favor do estado.
Direitos a vida, liberdade e propriedade são submetidos aos direitos coletivos determinados pelo estado.
Cidadãos são como crianças de um governo parental.
A relação do indivíduo em relação ao governo deve lembrar aquela que a criança possui com os pais.
As instituições sociais tradicionais de matrimônio e família não são muito importantes.
O governo inchado é necessário para garantir justiça social.
Conceitos tradicionais de justiça são inválidos.
O conceito coletivista de justiça social requer distribuição de riqueza.
Frutos de trabalho individual pertencem à população como um todo.
O indivíduo deve ter direito a apenas uma parte do resultado de seu trabalho, e esta porção deve ser especificada pelo governo.
O estado deve julgar quais grupos merecem benefícios a partir do governo.
A atividade econômica deve ser cuidadosamente controlada pelo governo.
As prescrições do governo surgem a partir de intelectuais da esquerda, não da história.
Os elaboradores de políticas da esquerda são intelectualmente superiores aos conservadores.
A boa vida é um direito dado pelo estado, independentemente do esforço do cidadão.
Tradições estabelecidas de decência e cortesia são indevidamente restritivas.
Códigos morais, éticos e legais tradicionais são construções políticas.
Ações destrutivas do indivíduo são causadas por influências culturais negativas.
O julgamento das ações não deve ser baseado em padrões éticos ou morais.
O mesmo vale para julgar o que ocorre entre nações, grupos éticos e grupos religiosos.
Como tudo na vida, o aceite de crenças tem consequências. No caso do aceite das crenças esquerdistas, consequências incluem:

Dependência do governo, ao invés de auto-confiança.
Direção a partir do governo, ao invés da auto-determinação.
Indulgência e relativismo moral, ao invés de retidão moral.
Coletivismo contra o individualismo cooperativo.
Trabalho escravo contra o altruísmo genuíno.
Deslocamento do indivíduo como a principal unidade social econômica, social e política.
A santidade do casamento e coesão da família prejudicada.
A harmonia entre a família e a comunidade prejudicada.
Obrigações de promessas, contratos e direitos de propriedade enfraquecidos.
Falta de conexão entre premiações por mérito e justificativa para estas premiações.
Corrupção da base moral e ética para a vida civilizada.
População polarizada em guerras de classes através de falsas alegações de vitimização e demandas artificiais de resgate político.
A criação de um estado parental e administrativo idealizado, dotado de vastos poderes regulatórios.
Liberdade invididual e coordenação pacífica da ação humana severamente comprometida.
Aliás, eu acho que Rossiter esqueceu de consequências adicionais como: (15) Aumento do crime, devido a tolerância ao crime, e (16) Incapacidade de uma base lógica para que a sociedade sequer tenha condição de julgar o status em que se encontra.

Por que a mente esquerdista é uma patologia?

Para Rossiter, a melhor forma de avaliar a mente do esquerdista é a através dos valores que ele tem, e os que ele rejeita. Mais:

Como todos os outros seres humanos, o esquerdista moderno revela seu verdadeiro caráter, incluindo sua loucura, nos valores que possui e que descarta. De especial interesse, no entanto, são os muitos valores sobre os quais a mente esquerdista não é apaixonada: sua agenda não insiste em que o invidívuo é a principal unidade econômica, social e política, ele não idealiza a liberdade individual em uma estrutura de lei e ordem, não defende os direitos básicos de propriedade e contrato, não aspira a ideais de autonomia e reciprocidade autênticas. Ele não defende a retidão moral ou sequer compreende o papel crítico da moralidade no relacionamento humano. A agenda esquerdista não compreende uma identidade de competência, nem aprecia sua importância, e muito menos avalia as condições e instituições sociais que permitam seu desenvolvimento ou que promovam sua realização. A agenda esquerdista não compreende nem reconhece a soberania, portanto não se importa em impor limites estritos de coerção pelo estado. Ele não celebra o altruísmo genuíno da caridade privada. Ele não aprende as lições da história sobre os males do coletivismo.

Rossiter diz que as crianças não nascem com este “programa”, que é adquirido especialmente durante o aprendizado escolar. Em resumo: um adulto, competente para operar em uma sociedade de liberdade organizada, na maior parte das vezes adquire estes valores dos pais e da família, mas um esquerdista radical não.

Basicamente, o esquerdismo pode ser caracterizado como uma neurose, baseada nos traumas do relacionamento com a família durante o desenvolvimento da personalidade. Sendo uma neurose de transferência, ela compreende as projeções inconscientes das psicodinâmicas da infância nas arenas políticas da vida adulta. É o resultado de uma falha no treino da criança nos elementos psicodinâmicos básicos de um adulto, competente para viver em uma sociedade de liberdade organizada. (Obviamente, um esquerdista jamais irá reconhecer as “fendas” em seu desenvolvimento de criança até um adulto)

Rossiter nos diz mais:

Sua neurose é evidente em seus ideais e fantasias, em sua auto-justiça, arrogância e grandiosidade, na sua auto-piedade, em suas exigências de indulgência e isenção de prestação de contas, em suas reivindicações de direitos, em que ele dá e retém, e em seus protestos de que nada feito voluntariamente é suficiente para satisfazê-lo. Mais notadamente, nas demandas do esquerdista radical, em seus protestos furiosos contra a liberdade econômica, em seu arrogante desprezo pela moralidade, em seu desafio repleto de ódio contra a civilidade, em seus ataques amargos à liberdade de associação, em seu ataque agressivo à liberdade individual. E, em última análise, a irracionalidade do esquerdista radical é mais aparente na defesa do uso cruel da força para controlar a vida dos outros.

Agora fica mais fácil entender por que os esquerdistas são tão frustrados e raivosinhos em suas interações, não?

Os cinco déficits principais do esquerdista

Um esquerdista apresenta, segundo Rossiter, cinco principais déficits, cada um mais evidente nas diversas fases do desenvolvimento, desde os primeiros meses após o nascimento, até a entrada da fase adulta.

Confiança básica: O primeiro déficit relaciona-se a confiança básica. Isto é, a falta de confiança nos relacionamentos entre pessoas por consentimento mútuo. Por isso, o esquerdista age como se as pessoas não conseguissem criar boas vidas por si próprios através da cooperação voluntária e iniciativa individual. Por isso, colocam toda essa coordenação nas mãos do estado, que funciona como um substituto para os pais. Se a criança não consegue conviver com os irmãos, precisa de pais como árbitros. Este déficit inicia-se no primeiro ano de vida. As interações positivas de uma criança com a mãe o introduzem a um mundo de relacionamento seguro, agradável, mutuamente satisfatório e a partir do “consentimento” entre ambas as partes. Mas caso exista um relacionamento anormal e abusivo na infância, algo de errado ocorre, e essa aquisição de confiança básica é profundamente comprometida. Lembremos que a ingenuidade é problemática, mas o esquerdista é ingênuo perante o governo, que tem mais poder de coerção, enquanto suspeita dos relacionamentos humanos não abitrados pelo governo.

Autonomia: Após os primeiros 15 meses, uma criança começa a incorporar os fundamentos de autonomia, auto-realização, assim como fundamentos de mutualidade, ou auto-realização (assim como realização dos outros). A partir dessa fase, a criança começa a agir por si própria para ter suas necessidades satisfeitas, de acordo com aqueles que cuidam dela. Junto com a ideia de autonomia, surgem ideias como auto-confiança, auto-direção e auto-regulação. A criança “mimada”, que cresce dependente do excesso de indulgência dos pais é privada das virtudes de auto-confiança e auto-controle e de atitudes necessárias para cooperação com os outros.

Iniciativa: No desenvolvimento normal, esta é a capacidade de se iniciar bons trabalhos para bons propósitos, sendo desenvolvida nos primeiros quatro ou cinco anos da vida de uma criança. No caso da falta de iniciativa, há falta de auto-direção, vontade e propósito, geralmente buscando relacionamentos com os outros de forma infantil, sempre pedindo por condescendência, ao invés de lutar para ser respeitado. Pessoas como esta personalidade normalmente assumem um papel infantil em relação ao governo, votando para aqueles que prometem segurança material através da obrigação coletiva, ao invés de votar naqueles comprometidos com a proteção da liberdade individual. A inibição da iniciativa pode ocorrer por culpa excessiva adquirida na infância, surgindo, por instância, do completo de Édipo.

Diligência: Assim como a iniciativa é a habilidade de iniciar atos com boas metas, diligência é a habilidade para completá-los. A criança, no seu desenvolvimento escolar, se torna apta a completar suas ações de forma cada vez mais competente. Na fase da diligência, a criança aprende a fazer e realizar coisas e se relacionar de formas mais complexas com pessoas fora de seu núcleo familiar. A meta desta fase é o desenvolvimento da competência adulta. É a era da aquisição da competência econômica e da socialização. Nessa fase, se aprende a convivência de acordo com códigos aceitos de conduta, de acordo com as possibilidades culturais de seu tempo, de forma a canalizar seus interesses na direção da cooperação mútua. Quando as coisas não vão muito bem, surgem desordens comportamentais, uso de drogas, ou delinquência, assim como o surgimento de ações que sabotam a cooperação. A tendência é a geração de um senso de inferioridade, assim como déficits nas habilidades sociais, de aprendizado e identificações construtivas, que deveriam ser a porta de entrada para a aquisição da competência adulta. Atitudes que surgem destas emoções patológicas podem promover uma dependência passiva comportamental como uma defesa contra o medo diante das relações humanas, vergonha, ou ódio.

Identidade: O senso de identidade do adolescente é alterado assim que ele explora várias personas, múltiplas e as vezes contraditórias, na construção de seu self. Ele deve se confrontar com novos desafios em relação ao balanço já estabelecido entre confiança e desconfiança, autonomia e vergonha, iniciativa e culpa, diligência e inferioridade. Esta fase testa a estabilidade emocional que foi desenvolvida pela criança, assim como sua racionalidade, sendo de adequação e aceitabilidade, superação de obstáculos, e o aprofundamento das habilidades relacionais. O desenvolvimento desta identidade adulta envolve o risco percebido de acreditar nas instituições sociais. O adulto quer uma visão do mundo na qual possa acreditar. Isto é especialmente importante se ele sofreu formas de abuso anteriormente. Sua consciência ampliada de quem ele é facilita uma integração entre suas identidades do passado e do presente com sua identidade do futuro. Nesta fase do desenvolvimento o jovem pode ser vítima das ofertas ilusórias do esquerdismo. É a fase “final” da escolha.

Uma cura para o esquerdismo?

Com uma identidade mantida por uma série de neuroses, o esquerdista não consegue mais assumir responsabilidades pelos seus atos, e muito menos pelas consequências de suas ações. Tende a se fazer de vítima para conseguir o que quer, e não se furta em mentir para conseguir seus objetivos. É quando podemos questionar: há uma cura para isso tudo? Possivelmente, mas a questão é que o esquerdista deve buscar ajuda por si próprio, mas quanto mais ele estiver recebendo reforço de seus grupos, menos vontade ele terá para fazê-lo. Ao contrário, mesmo com tantos déficits e tamanhos delírios, ele sempre julgará estar com a razão.

Diante disso, quem pode fazer algo pelos esquerdistas são os direitistas, mas isso só pode acontecer pela via da refutação e do desmascaramento de suas ações. Incapazes de julgarem seus próprios atos, jamais se deve confiar no auto-julgamento de um esquerdista. Todas as auto-rotulagens e outro-rotulagens tendem a ser mentirosas, assim como seus argumentos. A refutação de uma parte externa, não contaminada pela ideologia esquerdista, é a única alternativa que pode dar um fio de esperança ao esquerdista.

Entretanto, mesmo que ainda exista esperança para o esquerdista, os maiores afetados são os não-esquerdistas, que possuem suas vidas impactadas por suas crenças. Por isso, as nossas ações não devem ser realizadas primeiramente em prol de salvar os esquerdistas de suas patologias (envergonhando-o, por suas mentiras, assim como denunciando suas chantagens emocionais) , mas sim por salvar-nos das consequências de suas neuroses e psicoses.

Nesse intento, entender por que eles achem assim, como eles se sentem, e o que os tornou assim, passa a ser essencial. Neste ponto, a obra de Lyle Rossiter é simplesmente um achado.

http://lucianoayan.com/2013/02/26/o...mprova-que-o-esquerdismo-e-uma-doenca-mental/
 
Vi quem era e JÁ ME LIGUEI que iria vir algo desse naipe.

:sono:

3 minutos foram suficientes para ler? Levando-se em consideração o tempo para o edit/cut/paste da imagem.

Está cometendo um dos piores delitos da esquerda: Argumentum ad hominem

Passar bem.
 

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