Opa, perguntas interessantes.
Quanto ao primeiro ponto, bom, ninguém está advogando que um médico deva ganhar a mesma coisa que um auxiliar administrativo. Mas tu está partindo de um ponto que é impregnado da lógica meritocrática típica do capitalismo, como se um monte de gente não se esforçasse muito sem ganhar porra nenhuma. A questão é que, atendidas as nossas necessidades básicas (saúde, educação, lazer, moradia, trabalho), emprestando a estas questões contornos mais racionais, tirando a lógica de exploração do mercado, resta pouco espaço para pensar em trabalhar com A ou B simplesmente por causa da renda.
O Estado não é inerentemente corrupto, mas concordo que é opressor. E não tem nada mais capitalista que o Estado. Toda a forma estatal (o Estado como terceiro alheio aos processos de dominação e luta de classes) e jurídica que conhecemos surgiu com as revoluções burguesas. Mas aqui o buraco é mais embaixo, o raciocínio é mais profundo e posso procurar alguma leitura neste sentido pra indicar.
E liberdade, bom, liberdade pra que(m)? A tua liberdade vai até onde a tua renda alcança, é um conceito formal e não fático. Que liberdade tem quem nasce sem condição nenhuma, sem saúde, sem educação, morando em barraco e passando fome? Eu tenho uma liberdade relativa. Nasci em família de classe média-baixa, consegui passar em concurso, fazer faculdade, hoje trabalho com compliance bancário/auditoria. Sempre quis estudar história ou filosofia e ser professor (aliás, inveja branca do amigo, me sentiria mais útil e realizado) mas acabei parando no direito e hoje eu ganho fácil 3 ou 4x mais que um professor, poderia até ganhar mais mas estagnei na carreira por opção (estou perto de casa e da família).
Não posso parar de trabalhar um dia sequer, e nem é por questão de padrão de vida (o meu não é alto não, só gasto com livros e um joguinho aqui ou ali), mas por que não sei se amanhã não ficarei doente, não sei vou ter uma aposentadoria digna, tem prestação da casa, se não vou precisar ajudar algum familiar que passe por algum desses problemas, etc... Qual a minha liberdade real? Quase nenhuma. Como falei antes, é um conceito formal que existe na medida em que eu preciso ser um sujeito livre para estar inserido no sem-fim de trocas "voluntárias" de trabalho abstrato que é o sistema capitalista.
São só meus dois centavos, não vou me estender mais pra não correr o risco de me perder em explicações simples e erradas para problemas complexos.