Tem eu e mais umas 2 pessoas da minha lista de amigos jogando DS. Eu tô dando outra chance.
Meus modestos centavinhos sobre essa história, pois ela está rolando há alguns dias e eu gostaria de fazer uma consideração específica:
Para além de toda essa discussão boba, os colegas estão se esquecendo de uma coisa muito mais importante do que o debate envolvendo a suposta genialidade ou pretensiosidade do Kojima ou se ele revolucionou ou não a indústria com Death Stranding. O Kojima é brilhante, mas é evidente que ele não revolucionou a indústria com seu último jogo (e duvido muito que essa tenha sido sua vontade). O que é mais importante aqui é uma coisa bastante simples: numa era onde a maior parte das empresas está lançando o mesmo jogo over and over again, mudando apenas skin dos personagens e a história, Kojima trouxe uma experiência única e original com Death Stranding. Talvez o título mais original da geração passada, se querem saber a minha opinião. Esse é o verdadeiro lance nesse imbróglio. É exatamente a coisas como essa que me refiro quando faço questão de tratar das coisas da KJP por aqui. Vou desenvolver melhor a seguir.
"E por acaso ser único e diferente significa ser bom?", ao que perguntam. Óbvio que não. Muitos não vão se adaptar ao estilo, à quantidade de cinemáticas, ao ritmo de jogo e/ou à gameplay, mas algo precisa ser admitido: num momento onde os estúdios não param de lançar a mesma coisa reiteradamente (*parênteses imensos a seguir*: como o Miyazaki, um cara genial, que, infelizmente, tem lançado seus Demon's Souls desde 2009 -- e que foi imediatamente "advertido" quando ousou pisar fora da linha com Sekiro; como a Bethesda que lançou recentemente aquele que parece, de fato, o primeiro remaster já feito na indústria dos jogos, já que Starfield pode muito bem causar a sensação de que é um título de 2007 devidamente portado para a atual geração -- que é como me sinto assistindo às gameplays, diálogos etc.; como as toneladas de jogos como serviço que brotaram como erva daninha na última década; ou, por exemplo, a Ubisoft e a Sony que, vendo o sucesso de TW3, não se aguentam e seguem lançando seus """RPGs""", como os AC mais recentes ou GoT e Horizon), Death Stranding veio como um refrigério para alma. É para isso que, não apenas nós, mas toda indústria, deveriam voltar seus olhos.
Esse refrigério se transforma, também, em admiração, pois pouquíssimos criadores hoje têm a verve necessária para seguir fazendo aquilo que realmente querem fazer. E aqui eu deixo uma menção mais do que merecida para Josef Fares e Swen Vincke, que criaram, respectivamente, obras como A Way Out e It Takes Two, e a série Divinity e o mais recente Baldur's Gate. Estes caras contarão sempre com meu respeito, admiração e, é claro, meu dinheiro. Sam Lake eu também sei que entra nesse bolo e pretendo jogar todos os seus jogos ainda esse ano. A real diferença entre esses caras, além do próprio estilo no momento de construírem suas obras, é como escolhem lidar com o fato de serem figuras públicas. Kojima é de longe o mais espalhafatoso dos quatro (embora Swen tenha aparecido de armadura na TGA), e talvez por isso gere repulsa em algumas pessoas. Dito isso, no fim do dia apenas uma coisa importa aqui: eles são pessoas apaixonadas pelo que fazem e, felizmente, são todos brilhantes e criativos no que se refere à concepção de seus projetos.
É isso o que importa, nada mais. No meu entendimento, se nós, deliberadamente, optamos por combater figuras como essas, assumimos imediatamente o risco de incentivar os pastiches, que são cada vez mais frequentes. E me refiro especificamente às figuras (ou pessoas) pois muitas vezes os traços delas são externalidades inerentes à própria arte -- assim como muitos artistas são um tanto apartados da realidade, o que é natural de muitos deles. Faça uma extrapolação disso para fora do mundo dos jogos e, em pouco tempo, estaremos todos assistindo às novelas da Globo em todos os formatos de entretenimento.
A todos, cuidado.
P.S.: E não há problema nenhum, por exemplo, jogar Death Stranding e achar ruim, um lixo ou superestimado. Essas impressões todas são muito individuais e não cabe juízo de valor sobre elas. O que acontece, entretanto, é que muitas pessoas não tiveram contato com o título e falam como se soubessem do que estão tratando -- e não sabem. Isso deixa bastante claro que o tipo de incômodo que o Kojima pode causar não tem necessariamente a ver com suas obras, mas com sua própria persona.