Você acredita em DEUS? -=Topico Infinito=- [2]

Agora, como preposições que admitimos, independente de serem verdadeiras ou falsas:

1 - Deus existe.
2 - Ele nos dá o livre-arbítrio.


Você é capaz de abstrair todo seu conhecimento e partir dessas duas preposições? INDEPENDENTE DE SEREM VERDADEIRAS OU FALSAS?
Sim.

Então repito a pergunta, quando supostamente ele teria concedido tal coisa?
 
"Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito!" [Einstein]

"Na verdade, o único cristão morreu na cruz." [Nietzsche]

(...) "Se cada pessoa tivesse honestidade suficiente para admitir a insignificância e o ridículo que representa, não acreditaria que sequer merece uma vida eterna. Mas contra esta lucidez ante a insignificância que causa tanto mal-estar à maioria das pessoas é possível forjar uma pequena fórmula bastante prática:

1) – Acreditar, sem ter motivos, em tudo que conforta;
2) – Ser totalmente parcial e só ver aquilo que convém;
3) – Imaginar que aquilo que está faltando para ser feliz chegará em boa hora;
4) – Acima de tudo, fechar os olhos para todo o resto.

Mas, para a satisfação dos descrentes, também há uma fórmula ateísta para evitar discussões inúteis com quem decidiu utilizar a fórmula apresentada acima:

1) – Nunca discuta com pessoas que creem firmemente em algo sem precisar de motivos ou provas;
2) – Se acontecer uma inevitável discussão, não se preocupe, apenas ria bastante das explicações espúrias que darão para justificar suas crenças."

(...) "Todas as ocupações às quais nos dedicamos são apenas um passatempo para suportarmos a vida. Sempre precisamos cultivar um entusiasmo cavalar e ilusões de todos os tipos para conseguirmos a motivação necessária para manter nossa vida em seu rumo – em outras palavras, para mantermo-nos alheios ao angustiante vazio da realidade. No fim, é certo que as expectativas lançadas sempre estão muito acima do resultado real. O fato é que precisamos ultravalorizar a nós mesmos e todos os nossos objetivos por uma simples questão de autopreservação. A motivação humana sustenta-se neste tipo de autoengano. Talvez isso não seja tão ruim, só é estranho." [André Cancian]



Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

[Marta Medeiros]

"Aqueles que são capazes de se fazer acreditar, a seu bel prazer, naquilo que desejarem, são muito mais livres que aqueles cuja integridade intelectual limita a crença àquilo que sua honestidade permite." [André Cancian]
 
Última edição:
Não existe tempo nas minhas preposições, assumiremos que sempre existiram, ok?
Partiremos da premissa que todas as suas premissas são verdadeiras ignorando qualquer questionamento que alguém faça colocando a "resposta" a ele como inerente a premissa e continuaremos assim até chegar na conclusão que você quer...:coolface:

Acho que vou parar por aqui... :haha:
 
Última edição:
Partiremos da premissa que todas as suas premissas são verdadeiras ignorando qualquer questionamento que alguém faça colocando a "resposta" a ele como inerente a premissa e continuaremos assim até chegar na conclusão que você quer...:coolface:

Acho que vou parar por aqui... :haha:
Temos apenas duas premissas, é tão difícil assim partir delas?
Estou tentando simplificar ao máximo a discussão, que já está bem difícil de acontecer, sugiro novamente que analise sua própria postura nessa discussão, veja quão imatura essa postura está sendo, e você pode mudá-la automaticamente.

Você está frustrado porquê não consegue refutar minhas afirmações, primeiro que esse desejo de estar certo e de provar que eu estou errado já travou bastante a discussão, veja que precisei de N posts só pra tu aceitar dois pressupostos, chegou ao absurdo de dizer que suposição não é hipótese.

E assim que aceitou as suposições você já quis colocar algo em cima, o tempo, que não faz nenhum sentido (pra que colocar tempo na jogada? qual o objetivo?)

Se você não é capaz de seguir por um momento o meu raciocínio, não temos como discutir.

Tudo bem, entendo que estou guiando todo o raciocínio, mas você não consegue, por favor, tentar seguir isso por UM MOMENTO, pra que a discussão se desenvolva e você consiga expor seu raciocínio também?

Duas preposições, só isso que consegui, mais nada. Aí você já entrou, não posso tentar terminar o raciocínio?
 
Temos apenas duas premissas, é tão difícil assim partir delas?
Partir delas é muito fácil, difícil é ter paciência para discutir com alguma racionalidade se logo no mais elementar questionamento (onde, quando, como e por que), se esquiva incluindo mais um item na premissa, é o mesmo que a discussão sobre o dragão invisível na garagem do Carl Sagan, para qualquer questionamento racional se acrescenta uma premissa irracional:

"Por que não sentimos o calor do fogo de seu dragão invisível?
É porque o fogo do dragão invisível é atérmico."

e assim por diante.

Se você não é capaz de seguir por um momento o meu raciocínio, não temos como discutir.
Eu posso seguir suas premissas e suposições, mas não há o que raciocinar se esquivar de perguntas objetivas, até mesmo as mais elementares incluindo os itens na premissa conforme forem necessários.
 
Última edição:
Partir delas é muito fácil, difícil é ter paciência para discutir com alguma racionalidade se logo no mais elementar questionamento (onde, quando, como e por que), se esquiva incluindo mais um item na premissa, é o mesmo que a discussão sobre o dragão invisível na garagem do Carl Sagan, para qualquer questionamento racional se acrescenta uma premissa irracional: "Por que não sentimos o calor do fogo de seu dragão invisível? O fogo do dragão invisível é atérmico." e assim por diante.

Estou tentando simplificar ao máximo a discussão, que já está bem difícil de acontecer, sugiro novamente que analise sua própria postura nessa discussão, veja quão imatura essa postura está sendo, e você pode mudá-la automaticamente.

Eu posso seguir suas premissas e suposições, mas não há o que raciocinar se esquivar de perguntas objetivas, até mesmo as mais elementares incluindo os itens na premissa conforme forem necessárias.

Calma, temos apenas duas preposições, realmente você está certo, não há o que raciocinar, você está preso ao meu raciocínio primitivo, e é isso que precisamos pra COMEÇAR a discussão.
Precisamos partir do mesmo ponto...

Quando você coloca tempo na jogada, tempo não interessa no meu raciocínio, pressuponho que sempre foi assim... Não consigo imaginar dado momento onde não existia livre arbítrio e do nada ele surgiu. Ou mesmo Deus... Há realmente essa necessidade de colocar o tempo no raciocínio? Porquê?

Mais uma vez vou apelar ao seu bom-senso, você não parece ser burro, mas está travando a discussão, perceba isso por favor.

Pra ajudar a ver como a discussão está andando, um resumo:
Temos dois pressupostos, Deus e o livre-arbítrio. Devemos colocar tempo?

(Veja que o resultado na nossa discussão é: NADA, estamos nos batendo pra tentar nos colocarmos na linha de partida, e no que chegamos na linha de partida estamos nos batendo e não conseguimos andar.)
Vamos andar juntos?
 
Última edição:
Que tal partirmos dessas preposições:

1 - Existe esse planeta e a vida nele;
2 - Existe seu corpo, sua consciência e sua vontade.

Você é capaz de compreender essas duas preposições? :hmm:
 
Quando você coloca tempo na jogada, tempo não interessa no meu raciocínio, pressuponho que sempre foi assim...
Para ter sido sempre assim, sem um ponto de início, seria necessário que deus, o livre-arbítrio e os seres humanos fossem eternos, isso faz parte de suas premissas também? É por isso que questionamentos elementares não podem ser simplesmente ignorados, eles são fundamentais.

Não consigo imaginar dado momento onde não existia livre arbítrio e do nada ele surgiu.
Empatamos, eu também acho difícil imaginar um deus que ficou uma eternidade (ou seriam duas?) sem fazer nada até que em um dado momento ele pensa "Puxa vida, está um tédio aqui, vou criar um universo e dar livre-arbítrio para seres humanos.".

Ou mesmo Deus... Há realmente essa necessidade de colocar o tempo no raciocínio? Porquê?
Se você quer discutir algo e não acha relevante perguntas elementares como "Quando? Onde? Como? E Por Que?" fica mesmo difícil qualquer discussão, sejam as premissas razoáveis ou absurdas.

Mais uma vez vou apelar ao seu bom-senso, você não parece ser burro, mas está travando a discussão, perceba isso por favor.
Estou mostrando as falhas da sua forma de argumentar, isso se chama pedido de princípio, e parece que você adora abusar dele.
 
Última edição:
Para ter sido sempre assim, sem um ponto de início, seria necessário que deus, o livre-arbítrio e os seres humanos fossem eternos, isso faz parte de suas premissas também? É por isso que questionamentos elementares não podem ser simplesmente ignorados, eles são fundamentais.

Empatamos, eu também acho difícil imaginar um deus que ficou uma eternidade (ou seriam duas?) sem fazer nada até que em um dado momento ele pensa "Puxa vida, está um tédio aqui, vou criar um universo e dar livre-arbítrio para seres humanos.".

Se você quer discutir algo e não acha relevante perguntas elementares como "Quando? Onde? Como? E Por Que?" fica mesmo difícil qualquer discussão, sejam as premissas razoáveis ou absurdas.

Estou mostrando as falhas da sua forma de argumentar, isso se chama pedido de princípio, e parece que você adora abusar dele.

Não poderia concordar mais. Parabéns :joia:
 
As mentiras inventadas no passado ainda dão "status" e dinheiro para quem as propagam

Gotoa disse:


frase-os-homens-fazem-a-sua-propria-historia-mas-nao-o-fazem-como-querem-a-tradicao-de-todas-as-karl-marx-105375.jpg

"Karl Marx descobriu que temos a ilusão de estarmos pensando e agindo com nossa própria cabeça e por nossa própria vontade, racional e livremente, de acordo com nosso entendimento e nossa liberdade, porque desconhecemos um poder invisível que nos força a pensar como pensamos e agir como agimos. A esse poder - que é social - ele deu o nome de ideologia.

Muitas vezes, lendo um romance ou vendo um filme, compreendemos e conhecemos muito melhor uma realidade do que se lêssemos livros científicos ou jornais. Por quê? Porque o artista, através da imaginação, capta o essencial e reúne o que estava disperso na realidade, fazendo-nos compreender o sentido profundo e invisível de alguma coisa ou de alguma situação. O artista nos mostra o inusitado, o excepcional, o exemplar ou o impossível por meio dos quais nossa realidade ganha sentido e pode ser mais bem conhecida.

Surge um tecido de imagens ou um imaginário que desvia nossa atenção da realidade ou que serve para nos dar compensações ilusórias para as desgraças de nossas vidas ou de nossa sociedade, ou que é usado como máscara para ocultar a verdade. O imaginário reprodutor (nas ciências, no cinema, na televisão, na literatura, etc.) bloqueia nosso conhecimento porque apenas reproduz nossa realidade, mas dando a ela aspectos sedutores, mágicos, embelezados, cheios de sonhos que já parecem realizados e que reforçam nosso presente como algo inquestionável e inelutável. É um imaginário de explicações feitas e acabadas, justificador do mundo tal como ele parece ser. Quando esse imaginário é social, chama-se ideologia.

Marx era filósofo, advogado e historiador, e interessou-se por um estudo feito por um outro filósofo, Feuerbach. Este investigara o modo como se formam as religiões, isto é, o modo como os seres humanos sentem necessidade de oferecer uma explicação para a origem e a finalidade do mundo. Ao buscar essa explicação, os humanos projetam fora de si um ser superior dotado das qualidades que julgam as melhores: inteligência, vontade livre, bondade, justiça, beleza, mas as fazem existir nesse ser superior como superlativas, isto é, ele é onisciente e onipotente, sabe tudo, faz tudo, pode tudo.

Pouco a pouco, os humanos se esquecem de que foram os criadores desse ser e passam a acreditar no inverso, ou seja, que esse ser foi quem os criou e os governa. Passam a adorá-lo, prestar-lhe culto, temê-lo. Não se reconhecem nesse Outro que criaram. Em latim, “outro” se diz: alienus. Os homens se alienam e Feuerbach designou esse fato com o nome de alienação.

A alienação é o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam-se governar por ela como se ela tivesse poder em si e por si mesma, não se reconhecem na obra que criaram, fazendo-a um ser-outro, separado dos homens, superior a eles e com poder sobre eles.

Marx não se interessou apenas pela alienação religiosa, mas investigou sobretudo a alienação social. Interessou-se em compreender as causas pelas quais os homens ignoram que são os criadores da sociedade, da política, da cultura e agentes da História. Interessou-se em compreender por que os humanos acreditam que a sociedade não foi instituída por eles, mas por vontade e obra dos deuses, da Natureza, da Razão, em vez de perceberem que são eles próprios que, em condições históricas determinadas, criam as instituições sociais – família, relações de produção e de trabalho, relações de troca, linguagem oral, linguagem escrita, escola, religião, artes, ciências, filosofia – e as instituições políticas – leis, direitos, deveres, tribunais, Estado, exército, impostos, prisões. A ação sociopolítica e histórica chama-se práxis e o desconhecimento de suas origens e de suas causas, alienação.

Por que os seres humanos não se reconhecem como sujeitos sociais, políticos, históricos, como agentes e criadores da realidade na qual vivem? Por que, além de não se perceberem como sujeitos e agentes, os humanos se submetem às condições sociais, políticas, culturais, como se elas tivessem vida própria, poder próprio, vontade própria e os governassem, em lugar de serem controladas e governadas por eles? Por que existe a alienação social? Por que os homens se deixam dominar pela sua própria obra ou criação histórica? Por que filósofos, teólogos, cientistas (portanto, o sujeito do conhecimento) elaboram teorias que reforçam a alienação? Por que filósofos dizem que a sociedade é produzida pela Natureza? Por que teólogos dizem que a família e o Estado existem por vontade de Deus? Por que os cientistas afirmam que a sociedade é racional e criada pela Razão Universal?

Para compreender o fenômeno da alienação, Marx estudou o modo como as sociedades são produzidas historicamente pela práxis dos seres humanos.

Verificou que, historicamente, uma sociedade (pequena, grande, tribal, imperial, não importa) sempre começa por uma divisão e que essa divisão organiza todas as relações sociais que serão instituídas a seguir. Trata-se da divisão social do trabalho. Na luta pela sobrevivência, os seres humanos se agrupam para explorar os recursos da Natureza e dividem as tarefas: tarefas dos homens adultos, tarefas das mulheres adultas, tarefas dos homens jovens, tarefas das mulheres jovens, tarefas das crianças e dos idosos. A partir dessa divisão, organizam a primeira instituição social: a família, na qual o homem adulto, na qualidade de pai, torna-se chefe e domina a mulher adulta, sua esposa e mãe de seus filhos, os quais também são dominados pelo pai.

As famílias trabalham e trocam entre si os produtos do trabalho. Surge uma segunda instituição social: a troca, isto é, o comércio. Algumas famílias conquistam terras melhores do que outras e conseguem colheitas ou gado em maior quantidade que outras, trocando seus produtos por uma quantidade maior que a de outras. Ficam mais ricas. As muito pobres, não tendo conseguido produzir nada ou muito pouco, vêem-se obrigadas a trabalhar para as mais ricas em troca de produtos para a sobrevivência. Começa a surgir uma terceira instituição social: o trabalho servil, que desembocará na escravidão.

Os mais ricos e poderosos reúnem-se e decidem controlar o conjunto de famílias, distribuindo entre si os poderes e excluindo algumas famílias de todo poder.

Começa a surgir uma quarta instituição social: o poder político, de onde virá o Estado. Nessa altura, os seres humanos já começaram a explicar a origem e a finalidade do mundo, já elaboraram mitos e ritos. As famílias ricas e poderosas dão a alguns de seus membros autoridade exclusiva para narrar mitos e celebrar ritos. Criam uma outra instituição social: a religião, dominada por sacerdotes saídos das famílias poderosas e que, por terem a autoridade para se relacionar com o sagrado, tornam-se temidos e venerados pelo restante da sociedade. São um novo poder social.

Os vários grupos de famílias dirigentes disputam entre si terras, animais e servos e dão início a uma nova instituição social: a guerra, com a qual os vencidos se tornam escravos dos vencedores, e o poder econômico, social, militar, religioso e político se concentra ainda mais em poucas mãos. Como escreveu Maquiavel, toda sociedade é constituída pela divisão entre o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado.

Com essa descrição, Marx observou que a sociedade nasce pela estruturação de um conjunto de divisões: divisão sexual do trabalho, divisão social do trabalho, divisão social das trocas, divisão social das riquezas, divisão social do poder econômico, divisão social do poder militar, divisão social do poder religioso e divisão social do poder político. Por que divisão? Porque em todas as instituições sociais (família, trabalho, comércio, guerra, religião, política) uma parte detém poder, riqueza, bens, armas, ideias e saberes, terras, trabalhadores, poder político, enquanto outra parte não possui nada disso, estando subjugada à outra, rica, poderosa e instruída.

Esse conjunto estruturado de divisões torna-se cada vez mais complexo, intrincado, numeroso, multiplicando-se em muitas outras divisões, sob a forma de numerosas instituições sociais e acabam por revelar a estrutura fundamental das sociedades como divisão social das classes sociais. A esse conjunto (tanto simples quanto complexo) de instituições nascidas da divisão social Marx deu o nome de condições materiais da vida social e política. Por que materiais?

Porque se referem ao conjunto de práticas sociais pelas quais os homens garantem sua sobrevivência por meio do trabalho e da troca dos produtos do trabalho, e que constituem a economia.

A variação das condições materiais de uma sociedade constitui a História dessa sociedade e Marx as designou como modos de produção. A História é a mudança, passagem ou transformação de um modo de produção para outro. Tal mudança não se realiza por acaso nem por vontade livre dos seres humanos, mas acontece de acordo com condições econômicas, sociais e culturais já estabelecidas, que podem ser alteradas de uma maneira também determinada, graças à práxis humana diante de tais condições dadas.

O fato de que a mudança de uma sociedade ou a mudança histórica se faça em condições determinadas, levou Marx a afirmar que: “Os homens fazem a História, mas o fazem em condições determinadas ”, isto é, que não foram escolhidas por eles. Por isso também, ele disse: “Os homens fazem a História, mas não sabem que a fazem”.

Estamos, aqui, diante de uma situação coletiva muito parecida com a que encontramos no caso de nossa vida psíquica individual. Assim como julgamos que nossa consciência sabe tudo, pode tudo, faz o que pensa e quer, mas, na realidade, está determinada pelo inconsciente e ignora tal determinação, assim também, na existência social, os seres humanos julgam que sabem o que é a sociedade, dizendo que Deus ou a Natureza ou a Razão a criaram, instituíram a política e a História, e que os homens são seus instrumentos; ou, então, acreditam que fazem o que fazem e pensam o que pensam porque são indivíduos livres, autônomos e com poder para mudar o curso das coisas como e quando quiserem.

Por exemplo, quando alguém diz que uma pessoa é pobre porque quer, porque é preguiçosa, ou perdulária, ou ignorante, está imaginando que somos o que somos somente por nossa vontade, como se a organização e a estrutura da sociedade, da economia, da política não tivesse qualquer peso sobre nossas vidas. A mesma coisa acontece quando alguém diz ser pobre “pela vontade de Deus” e não por causa das condições concretas em que vive. Ou quando faz uma afirmação racista, segundo a qual “a Natureza fez alguns superiores e outros inferiores”.

A alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade; no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações.

Podemos falar em três grandes formas de alienação existentes nas sociedades modernas ou capitalistas:

1. A alienação social, na qual os humanos não se reconhecem como produtores das instituições sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, divino ou racional, ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria vontade e inteligência, podem mais do que a realidade que os condiciona. Nos dois casos, a sociedade é o outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós.

2. A alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem como produtores, nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas sociedades modernas, a alienação econômica é dupla:

Em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos proprietários do capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos bancos, das escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc.). Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário. Entretanto, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que produzem coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados.

Em segundo lugar, os trabalhos produzem alimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos de consumo (pela indústria), instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização de outros trabalhos (transporte de matérias-primas, de produtos e de trabalhadores). A mercadoria-trabalhador produz mercadorias. Estas, ao deixarem as fazendas, as usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá foram colocadas (não pensamos no trabalho humano que nelas está cristalizado e não pensamos no trabalho humano realizado para que chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem um preço.

O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada do que está exposto no comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquanto indivíduo e sim como classe social, quem produziu tudo aquilo com seu trabalho e que não pode ter os produtos porque o preço deles é muito mais alto do que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário.

Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos outros as coisas que ele fabrica, ou, se comerciário, que ele vende, aceitando não possuí-las, como se isso fosse muito justo e natural. As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas (como a propaganda as mostra e oferece).

Na primeira forma de alienação econômica, o trabalhador está separado de seu trabalho – este é alguma coisa que tem um preço; é um outro (alienus), que não o trabalhador. Na segunda forma da alienação econômica, as mercadorias não permitem que o trabalhador se reconheça nelas. Estão separadas dele, são exteriores a ele e podem mais do que ele. As mercadorias são igualmente um outro, que não o trabalhador.

3. A alienação intelectual, resultante da separação social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz ideias). A divisão social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos.

Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:

Primeiro, esquecem ou ignoram que suas ideias estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a que pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao contrário, que são ideias universais, válidas para todos, em todos os tempos e lugares.

Segundo, esquecem ou ignoram que as ideias são produzidas por eles para explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais.

Terceiro, esquecem ou ignoram a origem social das ideias e seu próprio trabalho para criá-las; acreditam que as ideias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem ou dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas às outras, são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas. As ideias se tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro.

As três grandes formas da alienação (social, econômica e intelectual) são a causa do surgimento, da implantação e do fortalecimento da ideologia.

A alienação se exprime numa “teoria” do conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida.

Um exemplo desse senso comum aparece no caso da “explicação ” da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade – sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas -, que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a que pertencem e que é a classe dominante de uma sociedade. Essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as ideias de uma das classes sociais – a dominante e dirigente – tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda a sociedade.

A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da ideia de “humanidade”, ou da ideia de “nação” e “pátria”, ou da ideia de “raça”, etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.

A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias.

Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas são inferiores aos das crianças que estão em escolas particulares, pois o ensino não é de mesma qualidade em ambas; os negros e índios são discriminados como inferiores; os homossexuais são perseguidos como pervertidos, etc.

A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, pagar as dívidas e contribuir com os impostos já nos faz cidadãos, sem considerar as condições concretas que fazem alguns serem mais cidadãos do que outros. A função da ideologia é impedir-nos de pensar nessas coisas.

Como procede a ideologia para obter esse fantástico resultado? Em primeiro lugar, opera por inversão, isto é, coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas últimas em efeitos. Ela opera como o inconsciente: este fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica ideias e falsas causalidades.

Por exemplo, o senso comum social afirma que a mulher é um ser frágil, sensitivo, intuitivo, feito para as doçuras do lar e da maternidade e que, por isso, foi destinada, por natureza, para a vida doméstica, o cuidado do marido e da família. Assim o “ser feminino” é colocado como causa da “função social feminina”.

Ora, historicamente, o que ocorreu foi exatamente o contrário: na divisão sexual e social do trabalho e na divisão dos poderes no interior da família, atribuiu-se à mulher um lugar levando-se em conta o lugar masculino; como este era o lugar do domínio, da autoridade e do poder, deu-se à mulher o lugar subordinado e auxiliar, a função complementar e, visto que o número de braços para o trabalho e para a guerra aumentava o poderio do chefe da família e chefe militar, a função reprodutora da mulher tornou-se imprescindível, trazendo como conseqüência sua designação prioritária para a maternidade.

Estabelecidas essas condições sociais, era preciso persuadir as mulheres de que seu lugar e sua função não provinham do modo de organização social, mas da Natureza, e eram excelentes e desejáveis. Para isso, montou-se a ideologia do “ser feminino” e da “função feminina” como naturais e não como históricos e sociais. Como se observa, uma vez implantada uma ideologia, passamos a tomar os efeitos pelas causas.

A segunda maneira de operar da ideologia é a produção do imaginário social, através da imaginação reprodutora. Recolhendo as imagens diretas e imediatas da experiência social (isto é, do modo como vivemos as relações sociais), a ideologia as reproduz, mas transformando-as num conjunto coerente, lógico e sistemático de ideias que funcionam em dois registros: como representações da realidade (sistema explicativo ou teórico) e como normas e regras de conduta e comportamento (sistema prescritivo de normas e valores). Representações, normas e valores formam um tecido de imagens que explicam toda a realidade e prescrevem para toda a sociedade o que ela deve e como deve pensar, falar, sentir e agir. A ideologia assegura, a todos, modos de entender a realidade e de se comportar nela ou diante dela, eliminando dúvidas, ansiedades, angústias, admirações, ocultando as contradições da vida social, bem como as contradições entre esta e as ideias que supostamente a explicam e controlam.

Enfim, uma terceira maneira de operação da ideologia é o silêncio. Um imaginário social se parece com uma frase onde nem tudo é dito, nem pode ser dito, porque, se tudo fosse dito, a frase perderia a coerência, tornar-se-ia incoerente e contraditória e ninguém acreditaria nela. A coerência e a unidade do imaginário social ou ideologia vêm, portanto, do que é silenciado (e, sob esse aspecto, a ideologia opera exatamente como o inconsciente descrito pela psicanálise).

Por exemplo, a ideologia afirma que o adultério é crime (tanto assim que homens que matam suas esposas e os amantes delas são considerados inocentes porque praticaram um ato em nome da honra), que a virgindade feminina é preciosa e que o homossexualismo é uma perversão e uma doença grave (tão grave que, para alguns, Deus resolveu punir os homossexuais enviando a peste, isto é, a AIDS).

O que está sendo silenciado pela ideologia? Por que, em nossa sociedade, o vínculo entre sexo e procriação é tão importante (coisa que não acontece em todas as sociedades, mas apenas em algumas, como a nossa)? Nossa sociedade exige a procriação legítima e legal – a que se realiza pelos laços do casamento - porque ela garante, para a classe dominante, a transmissão do capital aos herdeiros. Assim sendo, o adultério e a perda da virgindade são perigosos para o capital e para a transmissão legal da riqueza; por isso, o adultério se torna crime e a virgindade é valorizada como virtude suprema das mulheres jovens.

Em nossa sociedade, a reprodução da força de trabalho se faz pelo aumento do número de trabalhadores e, portanto, a procriação é considerada fundamental para o aumento do capital que precisa da mão-de-obra. Por esse motivo, toda sexualidade que não se realizar com finalidade reprodutiva será considerada anormal, perversa e doentia, donde a condenação do homossexualismo. A ideologia, porém, perderia sua força e coerência se dissesse essas coisas e por isso as silencia.

A ideologia se assemelha ao inconsciente freudiano. Há, pelo menos, três semelhanças principais entre eles:

1. o fato de que adotamos crenças, opiniões, ideias sem saber de onde vieram, sem pensar em suas causas e motivos, sem avaliar se são ou não coerentes e verdadeiras;

2. ideologia e inconsciente operam através do imaginário (as representações e regras saídas da experiência imediata) e do silêncio, realizando-se indiretamente perante a consciência. Falamos, agimos, pensamos, temos comportamentos e práticas que nos parecem perfeitamente naturais e racionais porque a sociedade os repete, os aceita, os incute em nós pela família, pela escola, pelos livros, pelos meios de comunicação, pelas relações de trabalho, pelas práticas políticas. Um véu de imagens estabelecidas interpõe-se entre nossa consciência e a realidade;

3. inconsciente e ideologia não são deliberações voluntárias. O inconsciente precisa de imagens, substitutos, sonhos, lapsos, atos falhos, sintomas, sublimação para manifestar-se e, ao mesmo tempo, esconder-se da consciência.

A ideologia precisa das ideias-imagens, da inversão de causas e efeitos, do silêncio para manifestar os interesses da classe dominante e escondê-los como interesse de uma única classe social. A ideologia não é o resultado de uma vontade deliberada de uma classe social para enganar a sociedade, mas é o efeito necessário da existência social da exploração e dominação, é a interpretação imaginária da sociedade do ponto de vista de uma única classe social.

Diante do poder do inconsciente e da ideologia poderíamos ser levados a “entregar os pontos”, dizendo: Para que tanto esforço na teoria do conhecimento, se, afinal, tudo é ilusão, véu e máscara? Para que compreender a atividade da consciência, se ela é a “pobre coitada”, espremida entre o id e o superego, esmagada entre a classe dominante e os ideólogos?

Todavia, uma pergunta também é possível: Como, sendo a consciência tão frágil, o inconsciente e a ideologia tão poderosos, Freud e Marx chegaram a conhecê-los, explicar seus modos de funcionamento e suas finalidades?

No caso de Freud, foram a prática médica e a busca de uma técnica terapêutica para indivíduos que permitiram a descoberta do inconsciente e o trabalho teórico de onde nasceu a psicanálise. No caso de Marx, foi a decisão de compreender a realidade a partir da prática política de uma classe social (os trabalhadores) que permitiu a percepção dos mecanismos de dominação e exploração sociais, de onde surgiu a formulação teórica da ideologia.

A busca da cura dos sofrimentos psíquicos, em Freud, e a luta pela emancipação dos explorados, em Marx, criaram condições para uma tomada de consciência pela qual o sujeito do conhecimento pôde recomeçar a crítica das ilusões e dos preconceitos que iniciara desde a Grécia, mas, agora, como crítica de suas próprias ilusões e preconceitos.

Em lugar de invalidar a razão, a reflexão, o pensamento e a busca da verdade, as descobertas do inconsciente e da ideologia fizeram o sujeito do conhecimento conhecer as condições – psíquicas, sociais, históricas – nas quais o conhecimento e o pensamento se realizam.

Como disseram os filósofos existencialistas acerca dessas descobertas:

Encarnaram o sujeito num corpo vivido real e numa história coletiva real, situaram o sujeito. Desvendando os obstáculos psíquicos e histórico-sociais para o conhecimento, puseram em primeiro plano as relações entre pensar e agir, ou, como se costuma dizer, entre a teoria e a prática.

Vimos que, para Marx, nossa consciência é determinada pelas condições históricas em que vivemos.

Vimos também que, para ele, os seres humanos fazem a sua própria História – são os sujeitos práticos dela -, mas não a fazem em condições escolhidas voluntariamente por eles. Isso significa que a praxis se realiza em condições históricas dadas e, como sabemos, as condições são postas pela divisão social do trabalho, pelas relações de produção (relação entre meios de produção e forças produtivas), portanto, pela forma da propriedade e pela divisão social das classes.

Vimos, enfim, que embora a consciência seja determinada pelas condições materiais em que vive, as ideias não representam a realidade tal como é e sim tal como aparece, dando ensejo ao surgimento do imaginário social e, com a divisão entre trabalho material e intelectual, ao surgimento da ideologia.

No caso do modo de produção capitalista, a ideologia utiliza a ideia do trabalho de duas maneiras. A primeira, como vimos, é o emprego dessa ideia para legitimar a propriedade privada capitalista. A segunda, é seu uso para legitimar a ideia de contrato social e de contrato de trabalho.

Com efeito, a idéia de contrato vem do Direito Romano, que exige, para validar uma relação contratual, que as partes contratantes sejam livres e iguais. Para afirmar que a sociedade e o Estado nascem de um contrato social, a ideologia burguesa precisa afirmar que todos os homens nascem livres e iguais, embora a Natureza os faça desiguais em talentos e a sociedade os faça desiguais economicamente. A ideologia burguesa precisa, portanto, da ideia de trabalhador livre. Por sua vez, o salário só aparecerá como legítimo se resultar de um contrato de trabalho entre os iguais e livres.

Segundo Marx, o capitalismo efetivamente produziu o trabalhador “livre”: está despojado de todos os meios e instrumentos de produção, de todas as posses e propriedades, restando-lhe apenas a “liberdade ” de vender sua força de trabalho.

O trabalhador que a ideologia designa como trabalhador livre é o trabalhador realmente expropriado, o assalariado submetido às regras do modo de produção capitalista, convencido de que o contrato de trabalho torna seu salário legal, legítimo e justo. Assim, num primeiro momento, o quadro oferecido por Marx é pessimista. Embora o ser humano seja praxis e esta seja o trabalho, o processo histórico desfigura o trabalho e o trabalhador, aliena os trabalhadores, que não se reconhecem nos produtos de seus trabalhos. A ideologia burguesa, por sua vez, cria a idéia de Homem Universal, livre e igual, dá-lhe o rosto dos proprietários privados dos meios de produção e persuade os trabalhadores de que também são esse Homem Universal, embora vivam miseravelmente.

No entanto, se a praxis é socialmente determinada, se a consciência é determinada pelas condições sociais do trabalho, nem tudo está perdido. Pelo contrário.

Diferentemente de outros modos de produção, nos quais os trabalhadores (escravos, servos e homens livres) trabalhavam isoladamente e não podiam perceber-se formando uma classe social, no capitalismo industrial as condições de trabalho (as fábricas, as grandes empresas comerciais, os grandes bancos, etc.) forçam os trabalhadores a trabalhar juntos e a conviver em seu local de trabalho.

Podem, por isso, perceber que há classes sociais, cujos interesses não são os mesmos e sim contrários, e podem ver, diariamente, que o que a ideologia lhes ensina como verdade é falso. Por exemplo, a ideologia lhes diz que são livres, mas não têm liberdade para escolher o ofício, para definir o salário, para fixar a jornada de trabalho. A ideologia lhes diz que todos os homens são iguais, mas percebem que não podem ter moradia, vestuário, transporte, educação, saúde, como os seus patrões. Assim, pelas próprias condições de sua praxis cotidiana, têm condições para duvidar do que lhes é dito e ensinado.

São, porém, capazes de algo mais. O capital é uma propriedade privada diferente de todas as outras que existiram na História. De fato, as outras formas de propriedade davam riquezas aos seus proprietários, mas não davam lucro. Com o lucro obtido na venda dos produtos do trabalho, o capital se acumula, cresce, se desenvolve e se amplia.

Pela primeira vez na História, surge uma forma da propriedade privada capaz de aumentar e desenvolver-se. Os trabalhadores podem, afinal, perguntar de onde vem a capacidade espantosa de crescimento do capital. Dizem os ideólogos que esse aumento vem do comércio, cujos lucros são investidos na produção. Nesse caso, por que os capitalistas não investem tudo no comércio, em vez de investir prioritariamente na indústria e na agroindústria?

É que o lucro não vem da comercialização dos produtos para o consumo, mas nasce na própria esfera da produção, isto é, resulta da divisão social do trabalho e do tempo socialmente necessário para produzir alguma coisa.

O que é o modo de produção capitalista? A produção de mercadorias, isto é, de produtos cujo valor não é determinado por seu uso, mas pelo seu valor de troca.

Este é determinado pelo custo total para produzir uma mercadoria (custo da matéria-prima, dos instrumentos de trabalho, dos conhecimentos técnicos e dos salários), custo calculado a partir do tempo socialmente necessário para produzi-la (horas de trabalho, horas de transporte, horas de descanso para reposição das forças, horas necessárias para a extração da matéria-prima e seu transporte, horas necessárias para a fabricação das máquinas e outros instrumentos de trabalho, etc.).

Quem produz as mercadorias? Os trabalhadores assalariados, que vendem sua força de trabalho aos proprietários privados dos meios de produção. Como as vendem? Como uma mercadoria entre outras. Qual o procedimento que regula a compra e venda da tal força de trabalho? O contrato de trabalho, que, sendo um contrato, pressupõe que as partes contratantes são livres e iguais, e, portanto, que é por livre e espontânea vontade que o trabalhador vende sua força de trabalho pelo salário. O que é o salário? O que é pago ao trabalhador para garantir sua subsistência e a reprodução de sua força de trabalho (alimentação, moradia, vestuário e condições para procriar). Quanto vale a mercadoria-trabalhador, isto é, quanto vale o salário?

A economia política afirma que o salário corresponde aos custos e ao preço da produção de uma mercadoria. Calcula-se, assim, o que o trabalhador precisa para manter-se e reproduzir-se, deduzindo-se esse montante do custo total da produção e determinando o salário. Na realidade, porém, não é o que ocorre. Para produzir uma determinada mercadoria, um trabalhador precisa de um certo número de horas (suponhamos, por exemplo, quatro horas) e seu salário será calculado a partir desse tempo; entretanto, o trabalhador trabalha durante muito mais tempo (suponhamos, por exemplo, oito horas) e, conseqüentemente, produz muito mais mercadorias; estas, porém, não são computadas para o cálculo do salário, de modo que há um trabalho excedente não pago, isto é, não coberto pelo salário. Esse procedimento ocorre em toda a indústria, na agricultura e no comércio, de maneira que a massa social dos salários de todos os assalariados corresponde apenas a uma parte do tempo socialmente necessário para a produção das mercadorias. A outra parte permanece não paga, formando uma gigantesca massa social de mais-valia (o valor do trabalho excedente não pago).

É a mais-valia que forma o lucro que será investido para aumentar o capital. Assim, essa propriedade privada espantosa, o capital, que parece magia porque parece crescer sozinho, aumentando como se possuísse um fermento interno, na realidade se acumula e se reproduz, se amplia e se estende mundo afora porque se funda na exploração social da massa dos assalariados.

Se os trabalhadores puderem descobrir, pela compreensão do processo de trabalho, que formam uma classe social oposta aos senhores do capital, que estes retiram o lucro da exploração do trabalho, que sem o trabalho não pago não haveria capital e que a ideologia e o Estado capitalistas existem para impedi-los de tal percepção, se puderem compreender isso, sua consciência será conhecimento verdadeiro da praxis social. Terão a ciência de sua praxis.

Se tiverem essa ciência, se conseguirem unir-se e organizar-se para transformar a sociedade e criar outra sem a divisão e a luta de classes, passarão à praxis política.

Visto que a burguesia dispõe de todos os recursos materiais, intelectuais, jurídicos, políticos e militares para conservar o poderio econômico e estatal, buscará impedir a praxis política dos trabalhadores e estes não terão outra saída senão aquela que sempre foi usada pelas classes populares insubmissas e radicais: a revolução!

A teoria marxista da revolução não se confunde, portanto, com as teorias utópicas e libertárias, porque não se baseia na miséria, na infelicidade e na injustiça a que estão submetidos os trabalhadores, mas se fundamenta na análise científica da sociedade capitalista (nas “leis” do capital, ou da economia política) e nela encontra os modos pelos quais os trabalhadores realizam sua própria emancipação. Por isso, Marx e Engels disseram que a emancipação dos trabalhadores terá que ser obra histórica dos próprios trabalhadores. A sociedade comunista, sem propriedade privada dos meios de produção, sem classes sociais, sem exploração do trabalho, sem poder estatal, livre e igualitária, resulta, portanto, da praxis revolucionária da classe trabalhadora.

Num célebre panfleto político, o Manifesto comunista, que conclamava os proletários do mundo todo a se unir e a se organizar para a longa luta contra o capital, Marx e Engels consideravam que a fase final do combate proletário seria a revolução e que esta, antes de chegar à sociedade comunista, teria que demolir o aparato estatal (jurídico, burocrático, policial e militar) burguês.

Essa demolição foi designada por eles com a expressão “ditadura do proletariado”, tomando a palavra ditadura do vocabulário político dos romanos.

Estes, toda vez que Roma atravessava uma crise que poderia destruí-la, convocavam um homem ilustre e lhe davam, por um período determinado, o poder para refazer as leis e punir os inimigos de Roma, retirando-lhe o poder assim que a crise estivesse superada. A ditadura do proletariado seria um breve período de tempo em que, não existindo ainda a sociedade sem Estado e já não existindo o Estado burguês, os proletários – portanto, uma classe social – governariam no sentido de desfazer todos os mecanismos econômicos e políticos responsáveis pela existência de classes sociais e, portanto, causadores da exploração social.

Julgava Marx que essa seria a última revolução popular. Por que a última? Porque aboliria a causa de todas as revoluções que as anteriores não haviam conseguido abolir: a propriedade privada dos meios de produção. Só assim o trabalho poderia ser verdadeiramente praxis humana criadora."


[Marilena Chauí, "Convite à Filosofia"]

"Para milhões e milhões de seres humanos, o verdadeiro inferno é a terra." "Erra muito menos quem, com olhar sombrio, considera esse mundo uma espécie de inferno e, portanto, só se preocupa em conseguir um recanto à prova de fogo." [Arthur Schopenhauer]


Pastor+ladr%C3%A3o.gif

"Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!" [Maquiavel]

"Sempre que a moralidade baseia-se na teologia, sempre que o correto torna-se dependente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser justificadas e estabelecidas." [Feuerbach]
 
Última edição:
Para ter sido sempre assim sem um ponto de início seria necessário que deus, o livre-arbítrio e os seres humanos fossem eternos, isso faz parte de suas premissas também? É por isso que questionamentos elementares não podem ser simplesmente ignorados, eles são fundamentais.

Empatamos, eu também acho difícil imaginar um deus que ficou uma eternidade (ou seriam duas?) sem fazer nada até que em dado momento ele pensa "Puxa vida, está um tédio aqui, vou criar um universo e dar livre-arbítrio para seres humanos.".

Se você quer discutir algo e não acha relevante perguntas elementares como "Quando? Onde? Como? E Por Que?" fica mesmo difícil qualquer discussão, sejam as premissas razoáveis ou absurdas.

Estou mostrando as falhas da sua forma de argumentar, isso se chama pedido de princípio, e parece que você adora abusar dele.

Ok, vou tentar descrever um pouco melhor meu raciocínio, acho que agora ficou mais claro pra mim qual é seu ponto.

Sou evolucionista, pra mim é inconcebível a ideia de adão e eva, então colocar tempo nisso vai fazer meu raciocínio todo ir por água abaixo...

Mas vamos lá:

Se Deus existe e ele nos deu o livre-arbítrio, ele deu para todas as formas de vida. Consideremos formas de vida primitivas, onde seu objetivo seria apenas a sobrevivência do gene (o que acontece até hoje, vide gene egoísta, do richard dawkins)...

Veja que ainda não podemos colocar o julgamento divino, já vai por água abaixo toda idéia de que Deus é nossa imagem e semelhança... Enfim, vai ficar bem complicado, e meu objetivo é apenas verificar:
Se Deus existe, é possível provar sua existência?

Temos a premissa de Deus, agora eu adicionei o livre-arbítrio, porquê eu sou assim e eu quis. :haha:

Se Deus deu o livre arbítrio, ele não pode mover um grão de areia do chão, uma molécula de uma galáxia distante. Pois aqui levamos em conta o efeito borboleta. Qualquer alteração no nosso universo vai afetar todo o universo. Portanto qualquer ação que Deus tenha em nosso universo, irá impactar no livre arbítrio. Se ele realmente deseja que sejamos livres, ele não pode alterar nada...

Estamos juntos aqui?

Aí colocamos a questão de provar que ele existe ou não. Levando em conta o livre arbítrio, a não ser alguma ação inicial, não haverá qualquer evidência da existência de Deus, ou mesmo qualquer efeito.
Podemos então considerar que Deus não existe. Porquê ele existir ou não, não fará diferença alguma em nossas vidas.

Aí depois da morte é outra história, mas aí entraríamos em hipóteses que realmente não temos como trabalhar. Consigo trabalhar com a existência da divindade e do livre-arbítrio. Porém levando em conta essas duas coisas, posso considerar que Deus é insignificante para nossas vidas e também concluo que é impossível provar sua existência, o que o torna virtualmente inexistente.

Enfim chegamos no ponto em que precisamos retirar o livre-arbítrio, aí o Deus católico se torna cada vez mais controverso e impossível de se existir (Onipotente, Onisciente e Onipresente)... Levando em conta que ele é bom... Enfim aquela história de sempre que você já deve estar cansado de escutar. E se não existe livre-arbítrio, eu posso responsabilizar a Deus... Não é?

Vou parando o raciocínio por aqui, não me interesso no meu monólogo. Acho que você vai encontrar várias linhas para refutar...
 
Última edição:
Ok, vou tentar descrever um pouco melhor meu raciocínio, acho que agora ficou mais claro pra mim qual é seu ponto.
Ok.

Sou evolucionista, pra mim é inconcebível a ideia de adão e eva, então colocar tempo nisso vai fazer meu raciocínio todo ir por água abaixo...
O raciocínio ir por água abaixo é sinal que as premissas não se sustentam como válidas, é para isso que raciocínio serve, separar ideias boas de ruins, prováveis de improváveis.

Se Deus existe e ele nos deu o livre-arbítrio, ele deu para todas as formas de vida.
Ok, já está um pouco melhor que a premissa de exclusividade humana do suposto livre arbítrio, uma vez que seres humanos fazem parte do processo evolutivo desses outros seres.

Consideremos formas de vida primitivas, onde seu objetivo seria apenas a sobrevivência do gene (o que acontece até hoje, vide gene egoísta, do richard dawkins)...
Se esses seres vivos surgiram a partir de um processo criado por deus, e dentro desse processo existe apenas uma diretriz pela qual eles não optaram como esses seres teriam algum livre-arbítrio?

Veja que ainda não podemos colocar o julgamento divino, já vai por água abaixo toda idéia de que Deus é nossa imagem e semelhança...
Podemos colocar que a ideia de livre-arbítrio não se sustenta, já que nesses seres não há opção alguma.

Enfim, vai ficar bem complicado, e meu objetivo é apenas verificar:
Na verdade não é complicado, a premissa não se sustenta diante dos fatos, suas especulações só continuam porque insiste em procurar chifres em cabeça de cavalo.

Se Deus existe, é possível provar sua existência?
Se ele fosse totalmente transcendente não, se ele interferisse e se comunicasse com seres humanos sim.

Temos a premissa de Deus, agora eu adicionei o livre-arbítrio, porquê eu sou assim e eu quis. :haha:
É preciso mais do que isso para sustentar logicamente uma suposição.

Se Deus deu o livre arbítrio, ele não pode mover um grão de areia do chão, uma molécula de uma galáxia distante. Pois aqui levamos em conta o efeito borboleta. Qualquer alteração no nosso universo vai afetar todo o universo. Portanto qualquer ação que Deus tenha em nosso universo, irá impactar no livre arbítrio. Se ele realmente deseja que sejamos livres, ele não pode alterar nada...
Partindo do pressuposto que esse deus fosse tão poderoso a ponto de criar todo um universo é razoável imaginar que ele seria capaz de antecipar os eventos decorrentes de sua criação, ao criar o universo ele já teria criado, antecipado e por ação ou omissão mantido uma determinada cadeia de eventos ao longo de toda a história desse universo, o que elimina qualquer possibilidade de livre-arbítrio em qualquer ser que fosse resultado dessa cadeia de eventos.
 
Ok, vou tentar descrever um pouco melhor meu raciocínio, acho que agora ficou mais claro pra mim qual é seu ponto.

Sou evolucionista, pra mim é inconcebível a ideia de adão e eva, então colocar tempo nisso vai fazer meu raciocínio todo ir por água abaixo...

Mas vamos lá:

Se Deus existe e ele nos deu o livre-arbítrio, ele deu para todas as formas de vida. Consideremos formas de vida primitivas, onde seu objetivo seria apenas a sobrevivência do gene (o que acontece até hoje, vide gene egoísta, do richard dawkins)...

Veja que ainda não podemos colocar o julgamento divino, já vai por água abaixo toda idéia de que Deus é nossa imagem e semelhança... Enfim, vai ficar bem complicado, e meu objetivo é apenas verificar:
Se Deus existe, é possível provar sua existência?

Temos a premissa de Deus, agora eu adicionei o livre-arbítrio, porquê eu sou assim e eu quis. :haha:

Se Deus deu o livre arbítrio, ele não pode mover um grão de areia do chão, uma molécula de uma galáxia distante. Pois aqui levamos em conta o efeito borboleta. Qualquer alteração no nosso universo vai afetar todo o universo. Portanto qualquer ação que Deus tenha em nosso universo, irá impactar no livre arbítrio. Se ele realmente deseja que sejamos livres, ele não pode alterar nada...

Estamos juntos aqui?

Aí colocamos a questão de provar que ele existe ou não. Levando em conta o livre arbítrio, a não ser alguma ação inicial, não haverá qualquer evidência da existência de Deus, ou mesmo qualquer efeito.
Podemos então considerar que Deus não existe. Porquê ele existir ou não, não fará diferença alguma em nossas vidas.

Aí depois da morte é outra história, mas aí entraríamos em hipóteses que realmente não temos como trabalhar. Consigo trabalhar com a existência da divindade e do livre-arbítrio. Porém levando em conta essas duas coisas, posso considerar que Deus é insignificante para nossas vidas e também concluo que é impossível provar sua existência, o que o torna virtualmente inexistente.

Enfim chegamos no ponto em que precisamos retirar o livre-arbítrio, aí o Deus católico se torna cada vez mais controverso e impossível de se existir (Onipotente, Onisciente e Onipresente)... Levando em conta que ele é bom... Enfim aquela história de sempre que você já deve estar cansado de escutar. E se não existe livre-arbítrio, eu posso responsabilizar a Deus... Não é?

Vou parando o raciocínio por aqui, não me interesso no meu monólogo. Acho que você vai encontrar várias linhas para refutar...

Como crer em algo, que como vc mesmo disse acima, como ele não poderia interferir nem somente em 1 molécula do outro lado do universo, pois causaria um efeito borboleta, mesmo que a longo prazo!!! (isso interferiria no livre arbítrio).
Sendo assim, ele seria algo indetectável, e incontestavelmente (impossível de provar sua existência/inexistência).
Sendo assim, só me resta afirmar, que vc acredita em um deus, simplesmente e puramente porque você quer!!! Pois não pode haver nenhuma evidencia dele para vc acreditar, pois do contrario isso interferiria em seu livre arbítrio!

Claramente vc não é um crente/cristão, pois logicamente a bíblia sendo 'inspirada' no deus cristão, ela interfere em nossa vida sim, sendo assim, o livre arbítrio cai por terra!

=]
 
Como crer em algo, que como vc mesmo disse acima, como ele não poderia interferir nem somente em 1 molécula do outro lado do universo, pois causaria um efeito borboleta, mesmo que a longo prazo!!! (isso interferiria no livre arbítrio).
Sendo assim, ele seria algo indetectável, e incontestavelmente (impossível de provar sua existência/inexistência).
Sendo assim, só me resta afirmar, que vc acredita em um deus, simplesmente e puramente porque você quer!!! Pois não pode haver nenhuma evidencia dele para vc acreditar, pois do contrario isso interferiria em seu livre arbítrio!

Claramente vc não é um crente/cristão, pois logicamente a bíblia sendo 'inspirada' no deus cristão, ela interfere em nossa vida sim, sendo assim, o livre arbítrio cai por terra!

=]

Ninguém falou que eu sou crente, apenas não digo que a existência de um Deus é impossível, o raciocínio é sim complexo e dei apenas um ínfimo passo em direção a uma verdade.

(Não vou responder o outro usuário, porquê pelo amor de Deus, não ser capaz de redigir um raciocínio linear simples, só refutar frases escolhidas a dedo, poxa já cansei de apelar pelo bom senso e pela discussão séria...Vai me desculpar... Mas desisti.)

Mas no fim vivo a minha vida como um ateu.

Abraço pessoal do tópico que vou saindo!
 
"É estupidez pedir aos deuses aquilo que se pode conseguir sozinho." [Epicuro]

Escolástica ou escolasticismo (do latim scholasticus - "pertence à escola, instruído") foi o método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500. Não tanto uma filosofia ou uma teologia, como um método de aprendizagem, a escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs, de modo a conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega. Colocava uma forte ênfase na dialética para ampliar o conhecimento por inferência e resolver contradições. (...)

Basicamente, a questão-chave que vai atravessar todo o pensamento escolástico é a harmonização de duas esferas: a fé e a razão. O pensamento de Agostinho, mais conservador, defende uma subordinação maior da razão em relação à fé, por crer que esta venha restaurar a condição decaída da razão humana. Enquanto que a linha de Tomás de Aquino defende uma certa autonomia da razão na obtenção de respostas, por força da inovação do aristotelismo, apesar de em nenhum momento negar tal subordinação da razão à fé.

Para a escolástica, algumas fontes eram fundamentais no aprofundamento de sua reflexão, por exemplo os filósofos antigos, a Bíblia e os Padres da Igreja, autores dos primeiros séculos cristãos que tinham sobre si a autoridade de fé e de santidade. (...)

Os maiores representantes do pensamento escolástico são os dois pensadores citados acima, que estão separados pelo tempo e pelo espaço: Agostinho de Hipona, nascido no norte da África no fim do século IV, e Tomás de Aquino, nascido na Itália do século XIII. Embora seja arriscado dizer que sejam as únicas referências relevantes do período medieval, ambos conseguiram sintetizar questões discutidas através de todo o período: Agostinho enquanto mestre de opinião relevante e autoridade moral, defendia a busca de explicações racionais que justificassem a fé, e Tomás de Aquino pelo uso de caminhos mais eficazes na obtenção de respostas até então em aberto. (...)

Fonte: Wikipedia

bertrand_russell02.jpg

"Qualquer noção de realidade não seria, inescapavelmente, relativa, até mesmo arbitrária? De fato. Mas não pressuponhamos consensos inexistentes; não tentemos fazer vista grossa às batalhas filosóficas que cruzaram os séculos a respeito de tal assunto. Todavia, havemos de partir de algo. Esta insegurança diante da dispersão é inerente a toda investida ao desconhecido; a incerteza de cada passo no escuro deve revestir-se de cautela e circunspecção. Pois é certo que se buscamos esclarecimento, isso exige de nós alguma audácia – não na posição de quem compreende, mas na de quem quer compreender e, para isso, se lança, sóbrio, ao âmago do absurdo de nossa existência. O que provier desta jornada indicará o valor desse nossos pressupostos, sobre os quais caminhamos, titubeantes." [André Cancian]

"Os limites da minha linguagem significam os limites de meu mundo." [Ludwig Wittgenstein]
 
[video=youtube;qZX8ZCi0EaE]https://www.youtube.com/watch?v=qZX8ZCi0EaE[/video]

Pronto, assim param de usar esse tipo de premissa como prova de que Deus não existe
 
Segundo o vídeo o sofrimento das pessoas se deveriam a uma omissão da parte delas em procurar deus como um cabeludo que não procura o barbeiro?

Quantas pessoas no mundo procuram as mais diversas divindades e isso não impede que elas sofram? Quantas pessoas fizeram isso ao longo de toda a história humana e isso não aliviou seu sofrimento? Pelo contrário, foi quando começamos a procurar soluções para os nossos problemas ao invés de ficarmos clamando para que caíssem dos céus é que a qualidade de vida humana melhorou exponencialmente.
 
Última edição:
Ah, agora tudo ficou claro. Basta o mendigo ir até Deus e sua vida mudará. Basta as crianças morrendo de fome na África encontrarem Deus e a situação melhora. Basta a criança de 4 anos encontrar Deus pra não ser estuprada. Basta o espermatozóide encontrar Deus pra não nascer uma criança com problemas físicos ou psicológicos. Ninguém mandou uma criança que morreu de câncer não ter procurado Deus né?

Crentes. Desde milênios promovendo exemplos de coerência e bom senso.
 
Última edição:
E tipo desses pastor ricão que qualquer coisinha tão indo na velocidade da luz pro Sírio-Libanês ou Albert Einstein, ao invés de procurar deus.
 
"A religião é o ópio do povo (...) aquilo que impede os pobres de matarem os ricos."

"Religião é só um pretexto para jovens se radicalizarem"
0,,17924077_303,00.jpg

Estudioso do islã na Europa vê crescente número de adolescentes que aderem ao "Estado Islâmico" como uma busca por aceitação e identidade, algo que nem sempre possuem no país onde vivem.

Estima-se que 12 mil estrangeiros estejam entre os combatentes do "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque, muitos deles europeus descendentes de estrangeiros. O recrutamento de adolescentes é motivo de crescente preocupação na União Europeia.

O alemão Jochen Müller, estudioso do islã especializado em jovens imigrantes, diz que a razão para a radicalização de adolescentes vai além da religião. Segundo ele, ao deixarem a Europa rumo ao Oriente Médio, esses jovens buscam sobretudo aceitação na sociedade, o que não possuem no país onde vivem.

"Eles apresentam problemas sociais ou escolares, estão desempregados ou não são aceitos. Eles estão atrás de uma comunidade, de uma orientação, de respostas claras", afirma. "A religião é apenas um pretexto – a possibilidade de, em nome de algo, atacar de forma gratuita.

Deutsche Welle: Acredita-se que, entre os alemães recrutados pelo "Estado Islâmico", 24 sejam menores de idade. Qual é o perigo potencial que eles representam?

Jochen Müller: Isso é difícil de avaliar. Claro que existe um perigo potencial que não deve ser subestimado. É de se supor que alguns recebam treinamento de combate na Síria e no Iraque e que possivelmente também viajem a Alemanha em missões terroristas. Os órgãos de segurança precisam ficar em alerta.

Apesar dos riscos à segurança, não vejo esses adolescentes e esses jovens adultos apenas como uma ameaça em potencial ou como possíveis transportadores de armas, mas também como uma juventude carente. Minha preocupação é negligenciarmos o fato de que são pessoas em busca de respostas e orientação. Muitos vão voltar frustrados e desiludidos. Seus problemas continuarão a existir depois de seu retorno. É preciso considerar o que os levou à Síria ou ao Iraque e só então pensar em como eles poderão ser reintegrados na sociedade alemã.

Os vídeos da propaganda do EI na internet são assustadores. Por que os adolescentes são receptivos a essas imagens?

As motivações dos jovens são variadas. Aqueles mais radicais e violentos, que também se dispõem a participar da guerra, geralmente vêm de uma situação familiar difícil, onde frequentemente a figura do pai é ausente. Além disso, eles apresentam problemas sociais ou escolares, estão desempregados ou não são aceitos. Eles estão atrás de uma comunidade, de uma orientação, de respostas claras.

Também me refiro à geração 11 de Setembro. São jovens que cresceram na Alemanha em um tempo em que o islã é cada vez mais questionado. Eles precisam lidar com isso – e mais ainda depois do 11/9, em relação à violência e ao terrorismo. Trata-se de jovens com histórico de imigração buscando uma identidade. Mas entre os combatentes, também há uma grande parcela de convertidos.

Onde eles encontram tais respostas?

Faltam oportunidades para as famílias, associações e mesquitas – e também para mim – de se aproximarem dos jovens. Com frequência, eles vão parar na internet, seguem procurando, e acabam caindo nas respostas dos salafistas, que inundam a rede com suas ofertas. Os salafistas dão respostas simples e claras. A sociedade precisa criar espaços onde os jovens consigam lidar naturalmente com sua religião – na escola, por exemplo. O islã é parte da Alemanha e obviamente que os jovens, sejam eles religiosos ou não, também pertencem a ela.

Há alguns anos as autoridades monitoram a cena salafista na Alemanha, seja ela pacífica ou voltada ao terrorismo. Existe uma ligação entre os jihadistas do Iraque e da Síria e os salafistas?

Quando falamos em radicalização, pensamos imediatamente nesses 6 mil salafistas radicais [na Alemanha]. Eu diria que uma grande parte dos salafistas segue uma ideologia e apresenta uma ameaça à democracia, à concepção democrática. Apenas algumas centenas são tão radicais a ponto de se prontificarem à violência. Nesse caso, a sociedade precisa intervir: na escola, em centros para jovens, na formação política, alertando para esses perigos e sensibilizando os mais novos.

Fala-se que o jihadista alemão mais jovem teria apenas 13 anos de idade.

Isso é assustador. Eu faço uma comparação com atiradores solitários que querem se livrar de frustrações e de uma agressividade acumuladas. O desejo de aventura também desempenha um papel, mas isso são casos isolados. Nas escolas, também lido com jovens de 13 anos prestes a se radicalizarem que afirmam querer economizar suas mesadas e aderir à Jihad islâmica.

Essa radicalização se dá de formas bem diferentes. Às vezes, leva muito tempo. Eles são abordados em algum lugar e se juntam a uma comunidade, onde se radicalizam. A partir de então, eles confirmam cada vez mais suas convicções e sempre chegam a posições extremas. Em algum momento, surge o desejo de fazer algo, e não apenas de falar. Nessas radicalizações muito rápidas de alguns poucos jovens também é possível observar que a crença religiosa não desempenha um papel importante. Antes de tudo, são histórias familiares, sociais e individuais que desequilibram a balança. A religião é apenas um pretexto – a possibilidade de, em nome de algo, atacar de forma gratuita.

O monitoramento de mídias como Twitter e Facebook por parte do governo provocou grande revolta alguns meses atrás. A radicalização se dá sobretudo através das redes sociais. A vigilância pode ajudar esses jovens em situação vulnerável?

Só é possível chegar aos jovens quando as pessoas ao redor se sensibilizam com as mudanças e as entenderem. Nesse caso, precisamos ser sensíveis a tais desenvolvimentos e interagir com os jovens de forma individual e presencial e ver quem pode fazer algo. Essa pessoa pode ser a irmã, o técnico de futebol ou até o próprio pregador religioso, como o imã.

Fonte: Uol

"A religião é o suspiro da criança acabrunhada, o coração de um mundo sem coração, assim como também o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo." [Karl Marx]

"Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas." (...) "A religião é aquilo que impede os pobres de matarem os ricos." [Napoleão Bonaparte]
 
"(...) olhar o mundo honestamente (...) ver o mundo como ele é, e não temê-lo." [B.R]

Por que não sou Cristão: um exame da ideia divina e do cristianismo, por Bertrand Russell.
frase-tres-paixoes-simples-mas-irresistivelmente-fortes-governam-minha-vida-o-desejo-imenso-de-amar-bertrand-russel-94290.jpg

Como vosso presidente vos disse, o assunto que vou falar-vos esta noite se intitula: “Porque não sou cristão”. Talvez fosse bom, antes de mais nada, que procurássemos formular o que se entende pela palavra “cristão”. É ela usada, hoje em dia, por um grande número de pessoas, num sentido muito impreciso. Para alguns, não significa senão uma pessoa que procura viver uma vida virtuosa. Neste sentido, creio que haveria cristãos em todas as seitas e em todos os credos; mas não me parece que esse seja o sentido próprio da palavra, pois isso implicaria que todas as pessoas que não são cristãs — todos os budistas, confucianos, maometanos e assim por diante — não estão procurando viver uma vida virtuosa. Não considero cristã qualquer pessoa que tente viver decentemente de acordo com sua razão. Penso que se deve ter uma certa dose de crença definida antes que a gente tenha o direito de se considerar cristão. Essa palavra não tem hoje o mesmo sentido que tinha ao tempo de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino. Naqueles dias, quando um homem se dizia cristão, sabia-se o que ele queria significar. As pessoas aceitavam toda uma série de crenças estabelecidas com grande precisão, e acreditavam, com toda a força de suas convicções, em cada sílaba de tais crenças. (...)

A existência de Deus. Esta questão da existência de Deus é um assunto longo e sério, e, se eu tentasse tratar do tema de maneira adequada, teria de reter-vos aqui até o advento do Reino dos Céus, de modo que me perdoareis se o abordar de maneira um tanto sumária. Sabeis, certamente, que a Igreja Católica estabeleceu como dogma que a existência de Deus pode ser provada sem ajuda da razão. Trata-se de um dogma um tanto curioso, mas é um de seus dogmas. Tiveram de introduzi-lo porque, em certa ocasião, os livres-pensadores adotaram o hábito de dizer que havia tais e tais argumentos que a simples razão poderia levantar contra a existência de Deus, mas eles certamente sabiam, como uma questão de fé, que Deus existia. Tais argumentos e razões foram minuciosamente expostos, e a Igreja Católica achou que devia acabar com aquilo. Estabeleceu, por conseguinte, que a existência de Deus pode ser provada sem ajuda da razão, e seus dirigentes tiveram de estabelecer o que consideravam argumentos capazes de prová-lo. Há, por certo, muitos deles, mas tomarei apenas alguns.

O argumento da causa primeira. Talvez o mais simples e fácil de se compreender seja o argumento da Causa Primeira. Afirma-se que tudo o que vemos neste mundo tem uma causa e que, se retrocedermos cada vez mais na cadeia de tais causas, acabaremos por chegar a uma Causa Primeira, e que a essa Causa Primeira se dá o nome de Deus. Esse argumento, creio eu, não tem muito peso hoje em dia, em primeiro lugar porque causa já não é bem o que costumava ser. Os filósofos e os homens de ciência têm martelado muito a questão de causa, e ela não possui nada que se assemelhe à vitalidade que tinha antes; mas, à parte tal fato, pode-se ver que o argumento de que deve haver uma Causa Primeira é um argumento que não pode ter qualquer validade. Posso dizer que quando era jovem e debatia muito seriamente em meu espírito tais questões, eu, durante muito tempo, aceitei o argumento da Causa Primeira, até que, certo dia, aos dezoito anos de idade, li a Autobiografia de John Stuart Mill, lá encontrando a seguinte sentença: “Meu pai ensinou-me que a pergunta ‘Quem me fez?’ não pode ser respondida, já que sugere imediatamente a pergunta subsequente: ‘Quem fez Deus?’”. Essa simples sentença me mostrou, como ainda hoje penso, a falácia do argumento da Causa Primeira. Se tudo tem de ter uma causa, então Deus deve ter uma causa. Se pode haver alguma coisa sem causa, pode ser muito bem ser tanto o mundo como Deus, de modo que não pode haver validade alguma em tal argumento. Este é exatamente da mesma natureza que o ponto de vista hindu, de que o mundo se apoiava sobre um elefante e o elefante sobre uma tartaruga, e quando alguém perguntava: “E a tartaruga?”, o indiano respondia: “Que tal se mudássemos de assunto?” O argumento, na verdade, não é melhor do que este. Não há razão pela qual o mundo não pudesse vir a ser sem uma causa; por outro lado, tampouco há qualquer razão pela qual o mesmo não devesse ter sempre existido. Não há razão, de modo algum, para se supor que o mundo teve um começo. A ideia de que as coisas devem ter um começo é devida, realmente, à pobreza de nossa imaginação. Por conseguinte, eu talvez não precise desperdiçar mais tempo com o argumento acerca da Causa Primeira.

O argumento da lei natural. Há, a seguir, um argumento muito comum relativo à lei natural. Foi esse argumento predileto durante todo o século XVIII, principalmente devido à influência de Sir Isaac Newton e de sua cosmogonia. As pessoas observavam os planetas girar em torno do Sol segundo a lei da gravitação e pensavam que Deus dera uma ordem a tais planetas para que se movessem de modo particular — e que era por isso que eles assim o faziam. Essa era, certamente, uma explicação simples e conveniente, que lhes poupava o trabalho de procurar quaisquer novas explicações para a lei da gravitação. Hoje em dia, explicamos a lei da gravitação de um modo um tanto complicado, apresentado por Einstein. Não me proponho fazer aqui uma palestra sobre a lei da gravitação tal como foi interpretada por Einstein, pois que também isso exigiria algum tempo; seja como for, já não temos a mesma espécie de lei natural que tínhamos no sistema newtoniano, onde, por alguma razão que ninguém podia compreender, a natureza agia de maneira uniforme. Vemos, agora, que muitas coisas que considerávamos como leis naturais não passam, na verdade, de convenções humanas. Sabeis que mesmo nas mais remotas profundezas do sistema estelar uma jarda tem ainda três pés de comprimento. Isso constitui, sem dúvida, fato notabilíssimo, mas dificilmente poderíamos chamá-lo de lei da natureza. E, assim, muitíssimas outras coisas antes encaradas como leis da natureza são dessa espécie. Por outro lado, qualquer que seja o conhecimento a que possamos chegar sobre a maneira de agir dos átomos, veremos que eles estão muito menos sujeitos a leis do que as pessoas julgam, e que as leis a que a gente chega são médias estatísticas exatamente da mesma classe das que ocorreriam por acaso. Há, como todos nós sabemos, uma lei segundo a qual, no jogo de dados, só obteremos dois seis apenas uma vez em cerca de trinta e seis lances, e não encaramos tal fato como uma prova de que a queda dos dados é regulada por um desígnio; se, pelo contrário, os dois seis saíssem todas as vezes, deveríamos pensar que havia um desígnio. As leis da natureza são dessa espécie, quanto ao que se refere a muitíssimas delas. São médias estatísticas como as que surgiriam das leis do acaso — e isso torna todo este assunto das leis naturais muito menos impressionante do que em outros tempos. Inteiramente à parte disso, que representa um estado momentâneo da ciência que poderá mudar amanhã, toda a ideia de que as leis naturais subentendem um legislador é devida à confusão entre as leis naturais e as humanas. As leis humanas são ordens para que procedamos de certa maneira, permitindo-nos escolher se procedemos ou não da maneira indicada; mas as leis naturais são uma descrição de como as coisas de fato procedem e, não sendo senão uma mera descrição do que elas de fato fazem, não se pode arguir que deve haver alguém que lhes disse para que assim agissem, porque, mesmo supondo-se que houvesse, estaríamos diante da pergunta: “Por que Deus lançou justamente essas leis naturais e não outras?” Se dissermos que Ele o fez a Seu próprio bel-prazer, e sem qualquer razão para tal, verificaremos, então, que há algo que não está sujeito à lei e, desse modo, se interrompe a nossa cadeia de leis naturais. Se dissermos, como o fazem os teólogos mais ortodoxos, que em todas as leis feitas por Deus Ele tinha uma razão para dar tais leis em lugar de outras — sendo que a razão, naturalmente, seria a de criar o melhor universo, embora a gente jamais pensasse nisso ao olhar o mundo —, se havia uma razão para as leis ministradas por Deus, então o próprio Deus estava sujeito à lei, por conseguinte, não há nenhuma vantagem em se apresentar Deus como intermediário. Temos aí realmente uma lei exterior e anterior aos editos divinos, e Deus não serve então ao nosso propósito, pois que Ele não é o legislador supremo. Em suma, todo esse argumento da lei natural já não possui nada que se pareça com seu vigor de antigamente. Estou viajando no tempo em meu exame dos argumentos. Os argumentos quanto à existência de Deus mudam de caráter à medida que o tempo passa. Eram, a princípio, argumentos intelectuais, rígidos, encerrando certas ideias errôneas bastante definidas. Ao chegarmos aos tempos modernos, essas ideias se tornam intelectualmente menos respeitáveis e cada vez mais afetadas por uma espécie de moralizadora imprecisão.

O argumento teleológico (argumento do design). O passo seguinte nos conduz ao argumento da prova teleológica da existência de Deus. Vós todos conheceis tal argumento: tudo no mundo é feito justamente de modo a que possamos nele viver, e se ele fosse, algum dia, um pouco diferente, não conseguiríamos viver nele. Eis aí o argumento da prova teleológica de Deus. Toma ele, às vezes, uma forma um tanto curiosa; afirma-se, por exemplo, que as lebres têm rabos brancos a fim de que possam ser facilmente atingidas por um tiro. Não sei o que as lebres pensariam deste destino. É um argumento fácil de se parodiar. Todos vós conheceis a observação de Voltaire, de que o nariz foi, evidentemente, destinado ao uso dos óculos. Essa espécie de gracejo acabou por não estar tão fora do alvo como poderia ter parecido no século XVIII, pois que, desde o tempo de Darwin, compreendemos muito melhor por que os seres vivos são adaptados ao meio em que vivem. Não é o seu meio que se foi ajustando aos mesmos, mas eles é que foram se ajustando ao meio, e isso é que constitui a base da adaptação. Não há nisso prova alguma de desígnio divino.

Quando se chega a analisar o argumento teleológico da prova da existência de Deus, é sumamente surpreendente que as pessoas possam acreditar que este mundo, com todas as coisas que nele existem, como todos os seus defeitos, deva ser o melhor mundo que a onipotência e a onisciência tenham podido produzir em milhões de anos. Realmente não posso acreditar nisso. Achais, acaso, que, se vos fossem concedidas onipotência e onisciência, além de milhões de anos para que pudésseis aperfeiçoar o vosso mundo, não teríeis podido produzir nada melhor do que a Ku-Klux-Klan ou os fascistas? Realmente, não me impressiono muito com as pessoas que dizem: “Olhem para mim: sou um produto tão esplêndido que deve haver um desígnio no universo”. Não estou muito impressionado pelo esplendor dessas pessoas. Ademais, se aceitais as leis ordinárias da ciência, tereis de supor que não só a vida humana como a vida em geral neste planeta se extinguirão em seu devido curso: isso constitui uma fase da decadência do sistema solar. Em certa fase de decadência, teremos a espécie de condições de temperatura, etc., adequadas ao protoplasma, e haverá vida, durante breve tempo, na vida do sistema solar. Podeis ver na Lua a espécie de coisa a que a Terra tende: algo morto, frio e inanimado.

Dizem-me que tal opinião é depressiva e, às vezes, há pessoas que nos confessam que, se acreditassem nisso, não poderiam continuar vivendo. Não acrediteis nisso, pois que não passa de tolice. Na verdade, ninguém se preocupa muito com o que irá acontecer daqui a milhões de anos. Mesmo que pensem que estão se preocupando muito com isso, não estão, na realidade, fazendo outra coisa senão enganar a si próprias. Estão preocupadas com algo muito mais mundano — talvez mesmo com a sua má digestão. Na verdade, ninguém se torna realmente infeliz ante a ideia de algo que irá acontecer a este mundo daqui a milhões e milhões de anos. Por conseguinte, embora seja melancólico supor-se que a vida irá se extinguir (suponho, ao menos, que se possa dizer tal coisa, embora, às vezes, quando observo o que as pessoas fazem de suas vidas, isso me pareça quase um consolo) isso não é coisa que torne a vida miserável. Faz apenas com que a gente volte a atenção para outras coisas.

Os argumentos morais em favor da deidade. Chegamos, agora, no estágio subsequente do que eu denomino a descendência intelectual que os teístas tem feito em suas argumentações, e deparamo-nos com o que se chama de argumentos morais para a existência de Deus. Vós todos sabeis, por certo, que costumava haver, antigamente, três argumentos intelectuais a favor da existência de Deus, os quais foram todos utilizados por Immanuel Kant em sua Crítica da Razão Pura; mas, logo depois de haver utilizado tais argumentos, inventou ele um novo, um argumento moral, e isso o convenceu inteiramente. Kant era como muita gente: em questões intelectuais, mostrava-se cético, mas, em questões morais, acreditava implicitamente nas máximas hauridas no colo de sua mãe. Eis aí um exemplo daquilo que os psicanalistas tanto ressaltam: a influência imensamente mais forte de nossas primeiras associações do que das que se verificam mais tarde.

Kant, como digo, inventou um novo argumento moral quanto à existência de Deus, e o mesmo, em formas várias, se tornou grandemente popular durante o século XIX. Tem hoje toda a espécie de formas. Uma delas é a que afirma que não haveria o bem ou o mal a menos que Deus existisse. Não estou, no momento, interessado em saber se há ou não uma diferença entre o bem e o mal. Isso é outra questão. O ponto em que estou interessado é que, se estamos tão certos de que existe uma diferença entre o bem e o mal, nos achamos, então, na seguinte situação: é essa diferença devida à determinação de Deus ou não? Se é devida à vontade de Deus, então não existe, para o próprio Deus, diferença entre o bem e o mal, e não constitui mais uma afirmação significativa o dizer-se que Deus é bom. Se dissermos, como o fazem os teólogos, que Deus é bom, teremos então de dizer que o bem e o mal possuem algum sentido independente da vontade de Deus, porque os desejos de Deus são bons e não-maus independentemente do fato dele os haver feito. Se dissermos tal coisa, teremos então de dizer que não foi apenas através de Deus que o bem e o mal passaram a existir, mas que são, em sua essência, logicamente anteriores a Deus.

Poderíamos, por certo, se assim desejássemos, dizer que havia uma deidade superior que dava ordens ao Deus que fez este mundo, ou, então, poderíamos adotar o curso seguido por alguns agnósticos — curso que me pareceu, com frequência, bastante plausível —, segundo o qual, na verdade, o mundo que conhecemos foi feito pelo Diabo num momento em que Deus não estava olhando. Há muito que se dizer em favor disso, e não estou interessado em refutá-lo.

O argumento quanto à reparação da injustiça. Há uma outra forma muito curiosa de argumento moral, que é a seguinte: dizem que a existência de Deus é necessária a fim de que haja justiça no mundo. Na parte do universo que conhecemos há grande injustiça e, não raro, os bons sofrem e os maus prosperam, e a gente mal sabe qual dessas coisas é mais molesta; mas, para que haja justiça no universo como um todo, temos de supor a existência de uma vida futura para reparar a vida aqui na Terra. Assim, dizem que deve haver um Deus, e que deve haver céu e inferno, a fim de que, no fim, possa haver justiça. É esse um argumento muito curioso. Se encarássemos o assunto de um ponto de vista científico, diríamos: “Afinal de contas, conheço apenas este mundo. Nada sei do resto do universo, mas, tanto quanto se pode raciocinar acerca das probabilidades, dir-se-ia que este mundo constitui uma bela amostra e, se há aqui injustiça, é bastante provável que também haja injustiça em outras partes”. Suponhamos que recebeis um engradado de laranjas e que, ao abri-lo, verificais que todas as laranjas de cima estão estragadas. Não diríeis, em tal caso: “As de baixo devem estar boas, para compensar as de cima”. Diríeis: “É provável que todas estejam estragadas”. E é precisamente isso que uma pessoa de espírito científico diria a respeito do universo. Diria: “Encontramos neste mundo muita injustiça e, quanto ao que isso se refere, há razão para se supor que o mundo não é governado pela justiça. Por conseguinte, tanto quanto posso perceber, isso fornece um argumento moral contra a deidade e não a seu favor”. Sei, certamente, que os argumentos intelectuais sobre os quais vos estou falando não são, na verdade, de molde a estimular as pessoas. O que realmente leva os indivíduos a acreditar em Deus não é nenhum argumento intelectual. A maioria das pessoas acredita em Deus porque lhes ensinaram, desde tenra infância, a fazê-lo, e essa é a principal razão.

Penso, ainda, que a seguinte e mais poderosa razão disso é o desejo de segurança, uma espécie de impressão de que há um irmão mais velho a olhar pela gente. Isso desempenha um papel muito profundo, influenciando o desejo das pessoas quanto a uma crença em Deus.

O caráter de Cristo. Desejo agora dizer algumas palavras sobre um tema que, penso com frequência, não foi tratado suficientemente pelos racionalistas, e que é a questão de saber-se se Cristo foi o melhor e o mais sábio dos homens. É geralmente aceito como coisa assente que deveríamos todos concordar em que assim é. Não penso desse modo. Acho que há muitíssimos pontos em que concordo com Cristo muito mais do que o fazem os cristãos professos. Não sei se poderia concordar com Ele em tudo, mas posso concordar muito mais do que a maioria dos cristãos professos o faz. Lembrar-vos-ei que Ele disse: “Não resistais ao mau, mas, se alguém te ferir em tua face direita, apresenta-lhe também a outra”. Isto não era um preceito novo, nem um princípio novo. Foi usado por Lao-Tse e por Buda cerca de quinhentos ou seiscentos anos antes de Cristo, mas não é um princípio que, na verdade, os cristãos aceitem. Não tenho dúvida de que o Primeiro-Ministro (Stanley Baldwin), por exemplo, é um cristão sumamente sincero, mas não aconselharia a nenhum de vós que o ferisse na face. Penso que, então, poderíeis descobrir que ele considerava esse texto como algo que devesse ser empregado em sentido figurado.

Há um outro ponto que julgo excelente. Lembrar-vos-eis, por certo, de que Cristo disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados”. Não creio que vós considerásseis tal princípio como sendo popular nos tribunais dos países cristãos. Conheci, em outros tempos, muitos juízes que eram cristãos sumamente convictos, e nenhum deles achava que estava agindo, no que fazia, de maneira contrária aos princípios cristãos. Cristo também disse: “Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”. É este um princípio muito bom. Vosso Presidente vos lembrou que não estamos aqui para falar de política, mas não posso deixar de observar que as últimas eleições gerais foram disputadas baseadas na questão de quão desejável seria voltar as costas ao que desejava lhe emprestássemos, de modo que devemos presumir que os liberais e os conservadores deste país são constituídos de pessoas que não concordam com os ensinamentos de Cristo, pois que, certamente, naquela ocasião, voltaram as costas de maneira bastante enfática.

Há ainda uma máxima de Cristo que, penso, contém nela muita coisa, mas não me parece muito popular entre os nossos amigos cristãos. Diz Ele: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-os aos pobres”. Eis aí uma máxima excelente, mas, como digo, não é muito praticada. Todas estas, penso, são boas máximas, embora seja um pouco difícil viver-se de acordo com elas. Quanto a mim, não afirmo que o faça — mas, afinal de contas, isso não é bem o mesmo que o seria tratando-se de um cristão.

Defeitos nos ensinamentos de Cristo. Tendo admitido a excelência de tais máximas, chego a certos pontos em que não acredito que se possa concordar nem com a sabedoria superlativa, nem com a bondade superlativa de Cristo, tal como são descritas nos Evangelhos — e posso dizer aqui que não estou interessado na questão histórica. Historicamente, é muito duvidoso que Cristo haja jamais existido e, se existiu, nada sabemos a respeito d’Ele, de modo que não estou interessado na questão histórica, que é uma questão muito difícil. Estou interessado em Cristo tal como Ele aparece nos Evangelhos, tomando a narrativa bíblica tal como ela se nos apresenta — e nela encontramos algumas coisas que não me parecem muito sábias. Por um lado, Ele certamente pensou que o Seu segundo advento ocorreria em nuvens de glória antes da morte de toda a gente que estava vivendo naquela época. Há muitos textos que o provam. Diz Ele, por exemplo: “Não acabareis de correr as cidades de Israel, sem que venha o Filho do Homem”. E adiante: “Entre aqueles que estão aqui presentes, há alguns que não morrerão, antes que vejam o Filho do Homem no seu reino” — e há uma porção de lugares em que é bastante claro que Ele acreditava que a Sua segunda vinda ocorreria durante a vida dos que então viviam. Essa era a crença de seus primeiros adeptos, constituindo a base de uma grande parte de Seus ensinamentos morais. Quando Ele disse: “Não andeis inquietos pelo dia de amanhã” e outras coisas semelhantes, foi, em grande parte, porque julgava que a sua segunda vinda seria muito em breve e que, por isso, não tinham importância os assuntos mundanos. Conheci, na verdade, cristãos que acreditavam que o segundo advento era iminente. Conheci um pároco que assustou terrivelmente a sua congregação, dizendo-lhe que o segundo advento estava, com efeito, sumamente próximo, mas os membros de seu rebanho se sentiram muito consolados quando viram que ele estava plantando árvores em seu jardim. Os primeiros cristãos acreditaram realmente nisso, e abstinham-se de coisas tais como plantar árvores em seus jardins, pois que aceitaram de Cristo a crença de que o segundo advento estava iminente. Neste sentido claramente ele não foi tão sábio como alguns outros o foram — e, certamente, não se mostrou superlativamente sábio.

O problema moral. Chega-se, a seguir, às questões morais. Há, a meu ver, um defeito muito sério no caráter moral de Cristo, e isso porque Ele acreditava no inferno. Quanto a mim, não acho que qualquer pessoa que seja, na realidade, profundamente humana, possa acreditar no castigo eterno. Cristo, certamente, tal como é descrito nos Evangelhos, acreditava no castigo eterno, e a gente encontra, repetidamente, uma fúria vinditiva contra os que não davam ouvidos aos seus ensinamentos — atitude essa nada incomum entre pregadores, mas que, de certo modo, se afasta da excelência superlativa. Não encontrareis, por exemplo, tal atitude em Sócrates. Encontramo-lo bastante suave e cortês para com aqueles que não queriam ouvi-lo — e, na minha opinião, é muito mais digno de um sábio adotar tal atitude do que mostrar-se indignado. Provavelmente vos lembrareis das coisas que Sócrates disse quando estava agonizando, bem como das coisas que em geral dizia às pessoas que não concordavam com ele.

Vereis que, nos Evangelhos, Cristo disse: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação ao inferno?” Isso foi dito a gente que não gostava de seus ensinamentos. Esse não é, realmente, na minha opinião, o melhor tom, e há muitas dessas coisas acerca do inferno. Há, por certo, o texto familiar acerca do pecado contra o Espírito Santo: “Quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem neste século nem no futuro”. Este texto causou indizível infelicidade no mundo, pois que toda a espécie de criatura imaginava haver pecado contra o Espírito Santo e achava que não seria perdoada nem neste mundo, nem no outro. Não me parece, realmente, que uma pessoa dotada de um grau adequado de bondade em sua natureza teria posto no mundo receios e terrores dessa espécie.

Diz Cristo, ainda: “O Filho do homem enviará os seus anjos, e tirarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes”. E continua a referir-se aos lamentos e ao ranger de dentes. Isso aparece versículo após versículo, e fica bastante evidente ao leitor que há um certo prazer na contemplação dos lamentos e do ranger de dentes, pois que, do contrário, isso não ocorreria com tanta frequência. Vós todos vos lembrais, certamente, da passagem acerca das ovelhas e das cabras; de como, na segunda vinda, a fim de separar as ovelhas das cabras, irá Ele dizer às cabras: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”. Ele continua: “E irão eles para o castigo eterno”. Depois, torna a dizer: “E se a tua mão te escandaliza, corta-a; melhor é entrares na vida aleijado, do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga”. Repete também isso muitas e muitas vezes. Devo dizer que considero toda esta doutrina — a de que o fogo eterno é um castigo para o pecado — como uma doutrina de crueldade. É uma doutrina que pôs crueldade no mundo e submeteu gerações a uma tortura cruel — e o Cristo dos Evangelhos, se pudermos aceitá-l’O como os seus cronistas O representam, teria, certamente, de ser considerado, em parte, responsável por isso.

Há outras coisas de menor importância. Há, por exemplo, a expulsão dos demônios de Gerasa, onde, certamente, não foi muito bondoso para com os porcos, fazendo com que os demônios neles entrassem e se precipitassem ao mar pelo despenhadeiro. Deveis lembrar-vos de que Ele era onipotente e teria podido simplesmente fazer com que os demônios fossem embora. Mas Ele prefere fazer com que entrem nos porcos. Há, ainda, a curiosa história da figueira, que sempre me deixa um tanto intrigado. Vós vos lembrais do que aconteceu com a figueira. “Pela manhã, quando voltava para a cidade, teve fome. E, vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-se dela; e não encontrou nela senão folhas, e disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti”. E Pedro disse-Lhe: “Vê, Mestre: a figueira que amaldiçoaste secou”. Essa é uma história muito curiosa, pois que aquela não era a estação dos figos e, realmente, não se podia censurar a árvore. Quanto a mim, não me é possível achar que, em questão de sabedoria ou em questão de virtude, Cristo permaneça tão alto como certas outras figuras históricas que conheço. Nesses sentidos, eu colocaria Buda e Sócrates acima d’Ele.

O fator emocional. Como já disse, não creio que a verdadeira razão pela qual as pessoas aceitam a religião tenha algo que ver com argumentação. Aceitam a religião por motivos emocionais. Dizem-nos com frequência que é muito errado atacar-se a religião, pois que a religião torna os homens virtuosos. Isso é o que me dizem; eu jamais o percebi. Conheceis, por certo, a paródia desse argumento, tal como é apresentado no livro Erewhom Revisited, de Samuel Butler. Vós vos lembrais de que, em Erewhom, há um certo Higgs que chega a um país remoto e que, após passar lá algum tempo, foge do país num balão. Vinte anos depois, volta ao mesmo país e encontra uma nova religião, na qual é ele adorado sob o nome de “Filho do Sol”, e na qual se afirma que ele subiu ao céu. Verifica que a Festa da Ascensão está prestes a ser celebrada, e ouve os Professores Hanky e Panky dizerem entre si que jamais puseram os olhos no tal Higgs e que esperam não o fazer jamais — mas eles são altos sacerdotes da religião do Filho do Sol. Higgs sente-se muito indignado e, aproximando-se deles, diz-lhes: “Vou desmascarar todo este embuste e dizer ao povo de Erewhom que se tratava apenas de mim, Higgs, e que subi num balão”. Responderam-lhe: “Não deve fazer isso, pois toda a moral deste país gira em torno desse mito e, se souberem que você não subiu aos céus, todos os seus habitantes se tornarão maus”. Persuadido disso, Higgs afasta-se do país silenciosamente.

Eis aí a ideia - a de que todos nós seríamos maus se não nos apegássemos à religião cristã. Parece-me que as pessoas que se apegaram a ela foram, em sua maioria, extremamente más. Tendes este fato curioso: quanto mais intensa a religião em qualquer época, e quanto mais profunda a crença dogmática, tanto maior a crueldade e tanto pior o estado das coisas. Nas chamadas Idades da Fé, quando os homens realmente acreditavam na religião cristã em toda a sua inteireza, houve a Inquisição, com as suas torturas; houve milhares de infelizes queimadas como feiticeiras - e houve toda a espécie de crueldade praticada sobre toda a espécie de gente em nome da religião.

Constatareis, se lançardes um olhar pelo mundo, que cada pequenino progresso verificado nos sentimentos humanos, cada melhoria no direito penal, cada passo no sentido da diminuição da guerra, cada passo no sentido de um melhor tratamento das raças de cor, e que toda diminuição da escravidão, todo o progresso moral havido no mundo, foram coisas combatidas sistematicamente pelas Igrejas estabelecidas do mundo. Digo, com toda convicção, que a religião cristã, tal como se acha organizada em suas Igrejas, foi e ainda é a principal inimiga do progresso no mundo.

De que forma as igrejas retardaram o progresso. Talvez julgueis que estou indo demasiado longe, quando digo que ainda assim é. Não julgo que esteja. Tomemos apenas um fato. Concordareis comigo, se eu o citar. Não é um fato agradável, mas as Igrejas nos obrigam a referir-nos a fatos que não são agradáveis. Suponhamos que, neste mundo em que hoje vivemos, uma jovem inexperiente case com um homem sifilítico. Neste caso, a Igreja Católica diz: “Esse é um sacramento indissolúvel. Devem permanecer juntos por toda a vida”. E nenhum passo deve ser dado por essa mulher no sentido de evitar que dê à luz filhos sifilíticos. Isso é o que diz a Igreja Católica. Quanto a mim, digo que isso constitui uma crueldade diabólica, e ninguém cujas simpatias naturais não tenham sido embotadas pelo dogma, ou cuja natureza moral não esteja inteiramente morta a todo sentido de sofrimento, poderia afirmar que é justo e certo que tal estado de coisas deva continuar.

Este é apenas um dos exemplos. Há muitas outras maneiras pela qual a Igreja, no momento, com sua insistência sobre o que prefere chamar moralidade, inflige a toda a espécie de pessoas sofrimentos imerecidos e desnecessários. E, naturalmente, como todos nós sabemos, é ainda, em grande parte, contrária ao progresso e ao aperfeiçoamento de todos os meios tendentes a diminuir o sofrimento no mundo, pois que costuma rotular de moralidade certas regras de conduta estreitas que nada têm a ver com a felicidade humana — e quando se diz que isto ou aquilo deve ser feito, pois que contribuiria para a felicidade humana, eles acham que nada tem a ver, absolutamente, com tal assunto. “Que tem a felicidade a ver com a moral? O objetivo da moral não é tornar as pessoas felizes”.

O medo — a base da religião. A religião baseia-se, penso eu, principalmente e antes de tudo, no medo. É, em parte, o terror do desconhecido e, em parte, como já o disse, o desejo de sentir que se tem uma espécie de irmão mais velho que se porá de nosso lado em todas as nossas dificuldades e disputas. O medo é a base de toda essa questão: o medo do mistério, o medo da derrota, o medo da morte. O medo é a fonte da crueldade e, por conseguinte, não é de estranhar que a crueldade e a religião tenham andado de mãos dadas. Isso porque o medo é a base dessas duas coisas. Neste mundo, podemos agora começar a compreender um pouco as coisas e a dominá-las com a ajuda da ciência, que abriu caminho, passo a passo, contra a religião cristã, contra as Igrejas e contra a oposição de todos os antigos preceitos. A ciência pode ajudar-nos a superar este medo covarde com o qual a humanidade tem vivido por tantas gerações.

A ciência pode ensinar-nos, e penso que também os nossos corações podem fazê-lo, a não mais procurar apoios imaginários, a não mais inventar aliados no céu, mas a contar antes com os nossos próprios esforços aqui embaixo para tornar este mundo um lugar adequado para viver, em vez da espécie de lugar a que as igrejas, durante todos estes séculos, o converteram.

O que devemos fazer. Devemos apoiar-nos em nossos próprios pés e olhar o mundo honestamente — as coisas boas, as coisas más, suas belezas e suas fealdades; ver o mundo como ele é, e não temê-lo. Conquistar o mundo por meio da inteligência, e não apenas abjetamente, subjugados pelo terror que ele nos desperta. Toda a concepção de Deus é uma concepção derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres. Quando vemos na igreja pessoas a depreciar a si próprias e a dizer que são miseráveis pecadores e tudo o mais, tal coisa nos parece desprezível e indigna de criaturas humanas que se respeitem. Devemos levantar-nos e encarar o mundo de frente, honestamente. Devemos fazer do mundo o melhor que nos seja possível, e se o mesmo não é tão bom quanto desejamos, será, afinal de contas, ainda melhor do que esses outros fizeram dele durante todos estes séculos. Um mundo bom necessita de conhecimento, bondade e coragem; não precisa de nenhum anseio saudoso pelo passado, nem do encarceramento das inteligências livres por meio de palavras proferidas há muito tempo por homens ignorantes. Necessita de uma perspectiva intemente e de uma inteligência livre. Necessita de esperança para o futuro, e não passar o tempo todo voltado para trás, para um passado morto, que, assim o confiamos, será ultrapassado de muito pelo futuro que a nossa inteligência pode criar.

Fonte: Ateus
 
Segundo o vídeo o sofrimento das pessoas se deveriam a uma omissão da parte delas em procurar deus como um cabeludo que não procurar o barbeiro?

Ta ai um que não entendeu NADA do video, Deus como um cabeludo?????????????????

Escreve ai a parte do vídeo que procuram Deus como um cabeludo, por favor, porque você só pode ter tirado isso da sua cabeça.

Esse manja, salvou minha noite. não entendeu absolutamente NADA da mensagem que o vídeo quis passar

Boa noite
 
Ta ai um que não entendeu NADA do video, Deus como um cabeludo?????????????????

Escreve ai a parte do vídeo que procuram Deus como um cabeludo, por favor, porque você só pode ter tirado isso da sua cabeça.

Esse manja, salvou minha noite. não entendeu absolutamente NADA da mensagem que o vídeo quis passar

Boa noite
Hã?

Eu não disse isso, eu disse que segundo o vídeo a causa do sofrimento das pessoas seriam a omissão delas em procurar deus da mesma maneira que o cabeludo não vai ao barbeiro. :haha:

E repliquei mostrando a razão pela qual esse argumento falha, o que nunca faltou na história humana foi sofrimento e busca por divindades.
 

Users who are viewing this thread

Voltar
Topo