Acho interessante o uso desse termo, "visceral".
Uma olhada rápida no dicionário me indica que visceral é um adjetivo e "algo que tem a ver com mais com a resposta do corpo, do que do intelecto; uma distinção entre emoção e pensar".
Porque se tem algo que Mad Max: Fury Road
não tem é intelecto.
Ao contrário da definição comumente empregada por alguns, de que visceral "é algo profundo, que indica profundidade".
Sim, são cenas de ação bem executadas... e só. Não existe uma única justificativa plausível
ou mesmo inverossímel para elas acontecerem, elas estão lá SOMENTE por causa do uó.
Porque são "legais" e "cool".
E tome imbecilidades como um guitarrista tocando heavy metal em cima de uma caminhão em uma perseguição; a história me dizendo que água e petróleo são como ouro ou um diamante de 24 quilates, mas ninguém se preocupa em economizá-los, muito pelo contrário; guardas armados com bombas e armas, mas que não atiram nos pneus do carro para pará-lo; e outras cositas mas.
Não é a toa que o fime ficou com uma aura feminista por causa da história de Furiosa, é a única coisa que faz mais ou menos algum sentido.
Além disso um dos grandes problemas são justamente as cenas PG-13, que de 17+ não tem nada.
Nem uma única gota de sangue, nudez ou mesmo sexo.
E tudo muito bem escondido para não causar nenhuma controvérsia com a censura ou os costumes.
Duvido que daquí a dez anos alguém se lembre desse fast-food, assim como fazem questão de esquecer Mad Max: Além da Cúpula do Trovão.
E já que a conversa tocou em filmes "crânio", um muito bom que passou faz pouco se chama "Ex Machina".
Recomendadíssimo se o pessoal gosta de discução científica, filosofia, ética, mercado, costumes e moral.
Visceral continua a descrever muito bem o filme. Antes de tudo, acho Ex Machina o melhor do ano, ficarei chocado se Alicia Vikander não for no mínimo considerada pro Oscar de melhor atriz coadjuvante.
"bem executadas... e só". Ação boa é raro hoje em dia. Mad Max Fury Road é um filme de ação, sem remorso, e essa é a proposta, e não tem nada de errado com isso ora bolas, não diferente de Terminator 2, The Raid, Die Hard...
A cinematografia clara, cheia de tomadas amplas que mostram a ação com clareza, numa era onde Hollywood quer fazer close-ups, câmera tremida e cena escuras, ou quando temos a tomada ampla, fazem cortes para 30 ângulos diferentes fazendo uma confusão. Compare com trilogia Bourne, Taken, Terminator Genesys, Batman Begins...
A edição é precisa. Os cortes mostram ação e reação como um filme de ação deve fazer, numa era onde filmes de ação são "super-editados" com cenas de 10 frames que agente nem entende o que acontece. Compare com Guardians of the Galaxy ou Expendables 3, as porradas são escondidas com a edição, as vezes por causa da classificação indicativa, as vezes por que o trabalho dos stunts é ruim.
A narrativa é simples e eficaz, numa era que narrativas são super-complicadas (vide Jupiter Ascending, Terminator Genesys, Transformers, Amazing Spider Man 2)... Brevidade é a alma da sagacidade.
O mundo de Mad Max é vivo e um enorme paralelo com nossa realidade. Água e petróleo desperdiçados quando são extremamente valiosos? Vejo isso todo dia(
1). E será atoa que Imortan Joe é uma figura religiosa? (
2) E totalitarista(
3)?
A história é absorvida e contada de forma visual, numa era que diálogos de exposição são forçadas dentro no filme por que estúdio acha que audiências são estúpidas demais. A tema e arco de Max e Furiosa é o mesmo, a redenção. Ao final do filme Furiosa ergue-se na plataforma, a sua forma metafórica de perdão, enquanto Max continua com seus demônios e suas culpas.
Feminista? De acordo. E isso é feito de forma muito positiva, inclusive colocando Max na mesma situação de objeto das parideiras, na forma de bolsa de sangue. O tema é o ser humano, homem, mulher, garoto de guerra ou parideira, como objeto de uma figura religiosa totalitarista.
Arco da Furiosa é maior que de Max? Okay. Ponto negativo. Mas ver isso como "feminazi" me parece um lapso, dado que ela tem as mesmas falhas e é tão louca quanto Max, ou quanto seria caso fosse um homem.
É feito com uso esperto e efeitos práticos, numa era que blockbusters parecem video-games. Vide os Hobbits, Avengers 2, Jurassic World, Teenage Mutants Ninja Turtle... E por aí vai.
Tem bons atores de verdade, numa era onde cada vez mais atores ruins passam batido em filmes de ação por serem famosos ou engraçados.
Tem um herói falível e mortal, numa era de Super-heróis e protagonistas imbatíveis. Vide Lucy, Avengers 2, Furious 7...
Sobre classificação, olhe as franquais como Die Hard, Terminator, Expendables, Indiana Jones, Total Recall, Predator, RoboCop e filmes de super-herói, todos anestesiados pelas limitações arcaicas da MPAA por causa da classificação PG-13. Isso tem mais a ver com a idiotice da MPAA do que qualquer outra coisa. Pessoalmente também acho que esse filme poderia ser, sem enormes problemas, PG-13, mas a questão é blockbuster classificação R estão extintos... E Fury Road é um fóssil que escapou.
E como bónus, o 3D é muito bom, numa era onde conversões baratas invadem os cinemas.
Fosse este o nosso ocasional junk-food Hollywoodiano, teria sido filmado num estúdio com ar condicionado, com fundo de tela azul, The Rock e Gina Carano como as estrelas, a cinematografia seria famigerada shaky-cam, com uso abusivo e tedioso de CGI e o roteiro ia ter três ou quatro "reviravoltas" idiotas, 1 ou 2 deus ex machina... E no final o filme seria somente um "continua no próximo episódio" a lá Hobbit 1-2 e Avengers 2...
Sempre bom ver um colega disposto a argumentar sobre filmes como adulto. Prazer em conhecê-lo.