Bem observado. Mesmo sem violência física ou brigas mais graves, só o fato de se ter discussões frequentes na casa já afeta a cabeça da criança.
Eu vivi isso, meu pai nunca bateu na minha mãe, mas eu cresci e entrei na adolescência assistindo a relação deles ir pro brejo e brigas pelos motivos mais toscos possíveis, bem como o colega
@PCPR descreveu. Por mais que eles não fossem ruins comigo, eu cresci muito sozinho, todos os problemas que eu eventualmente enfrentei, nunca compartilhei com eles, porque eu não queria me tornar mais um peso pra relação deles. E as vezes acontecia um stress ou outro que tinha a ver comigo e eu ficava pensando que eu tinha culpa naquilo tudo, e era horrível.
Enfim, só quero dizer que mesmo que ninguém chegue a descontar na criança, o peso do ambiente hostil pode ter impactos que não são facilmente perceptíveis. E é difícil contornar isso, separando ou não, a criança vai sentir.
O melhor caminho independente do destino, como já disseram, é tentar reduzir ao máximo os conflitos, seja com terapia de casal, seja se afastando da mulher sem se afastar da criança (o que pode ser difícil, não faltam casos de mulher que tentam pintar a caveira do marido pro filho).
Não é agradável dizer ou ouvir isso, mas infelizmente o casamento já acabou há tempos. Ela que pisou na bola antes e agora ela mesma tá querendo pular fora. Mas tenta se distrair, esfriar a cabeça e agir com calma pensando em como mediar tudo isso com o mínimo de impactos pro seu filho.
Vivi e ainda vivo uma situação muito parecida e me sentia exatamente como o
@Huondil descreveu. Meu pai chegou a bater na minha mãe, mas ele apenas
revidou a agressão,
ela bateu nele primeiro.
E não foi nada abusivo, tudo na mesma proporção. Na verdade ela cansou de bater nele inúmeras vezes, e essa foi a
única vez em que ele revidou. Eu
nunca aprovei a atitude dele, até porque eu sempre fui muito pacífica (eu prefiro virar as costas e ir embora mesmo estando com a razão, não sou de discutir). Mas o fato de eles brigarem todo o tempo me fez muito mal, muito mesmo. O casamento dos meus pais é ruim desde que eu me entendo por gente, poucas são as lembranças felizes que eu tenho deles juntos. Em meados de 2012 meu pai traiu a minha mãe com uma colega de trabalho dele, mas o casamento deles já não vinha bem muito antes disso. A amante dele também era casada com um cara que também trabalha no mesmo lugar que eles dois, os três eram colegas. O cara foi lá em casa contar pra minha mãe sobre tudo, ele queria matar o meu pai. Foi a maior cagada!
E aí a nossa vida virou um completo inferno, nessa época eu estava com meus 9 anos também, e meu irmão tinha 6. Minha mãe colocou meu pai pra fora de casa. Ele ficou um tempo fora e depois ela "aceitou" que ele voltasse, disse que daria uma nova chance e tal. Mas a real é ela que nunca deu chance nenhuma, na primeira briga já tratou de jogar a traição na cara dele, até que isso passou a ser uma constante. Eles chegaram em um ponto em que passaram a brigar por absolutamente TUDO, qualquer coisa era motivo de discussão e gritaria dentro de casa. Eles já não tinham respeito nenhum, chegando ao ponto de ofenderem um ao outro na nossa frente. Nós presenciamos TODAS as brigas deles. Cansei de acordar de madrugada com a gritaria, os dois se xingando e etc. E aí eu tinha que me levantar pra literalmente separar e acabar com o show. Cada um ia pra um lado e eu ficava esperando o dia seguinte pra ver se algo melhorava, mas na maior parte das vezes no outro dia acontecia a mesma coisa. De novo, de novo e de novo.
E essa foi a realidade dos meus 7 até os 14 anos, já não tinha mais prazer em estar em casa de tão sufocada que eu me sentia. Meu pai passou a beber muito, só chegava em casa embriagado e quando chegava os dois discutiam. Quando conversamos sobre isso ele me disse que ele já preferia ficar pela rua à chegar em casa e ter que discutir com a minha mãe, o que não adiantava muito por que eles acabavam brigando de qualquer forma. Toda essa situação deixou ele muito mal, sei que ele fez escolhas erradas, mas hoje ele se arrepende profundamente. Hoje meu pai tem depressão e é alcoólatra, está lutando muito pra largar o vício. Os dois se "separaram" em 2017, mas ainda não são divorciados porque a minha mãe não quer assinar os papéis (coisa que eu não entendo, se ela não quer mais viver com ele porque não separa logo?).
Na época eu decidi que queria ficar com meu pai, eu e ele sempre tivemos uma relação de cumplicidade coisa que eu já não tenho com a minha mãe. Só que ela não aceitou isso de jeito nenhum e acabamos discutindo. Ela queria de toda forma me forçar a morar com ela, inclusive solicitou a minha guarda mas acabou não conseguindo porque a juíza da ação preservou o meu direito de escolha. Na época ela também acusou meu pai de agredi-la e ele respondeu a 3 processos criminais que foram todos arquivados por falta de provas. Isso em parte contribuiu muito pra nós termos um relacionamento ruim hoje em dia, eu fiquei muito chateada por ela ter feito isso. Meu pai podia ter sido preso por algo que ele não fez! Além disso, ela passou a praticar alienação parental com meu irmão em relação a mim e ao papai. Ele ficou sem falar comigo por mais ou menos 1 ano e meio, nem me olhar ele olhava. Com o papai ele já demorou mais tempo, coisa de mais de 2 anos.
Hoje eu estou indo para os meus 18 anos e ainda tenho muitos traumas dessa época. Só de ver meus pais no mesmo ambiente eu já fico extremamente nervosa e inquieta. Eles tem até que uma boa relação comparado ao que era, conversam sobre o básico, mas também só isso. Não é aquela relação que se diz "olha que massa", mas estamos caminhando. A minha relação com a minha mãe não é das melhores também, mas nós nos damos bem. Confesso que no início eu não tinha o menor interesse em recobrar o contato com ela, nós nunca fomos muito próximas, mesmo quando ainda não tinha rolado tudo isso. Ela sempre foi muito "opressora", não me permitia ter amizades, sempre implicava com TODOS os meus amigos. Pra vocês terem uma ideia, todas as amizades que eu tenho foram feitas no ensino médio, quando eu já não morava mais com ela. Mas aí e eu percebi que a única forma de alcançar o meu irmão seria por meio dela. Ainda fico meio que "pisando em ovos" quando converso com ela sobre coisas do passado, principalmente quando ela fala mal do meu pai. Pra ela o papai é o causador de toda a desgraça, na visão dela ele abriu a caixa de pandora e soltou os demônios no mundo. E isso me incomoda demais, principalmente porque ela sempre volta na história da traição. Sei que é difícil ser traída, mas já se passaram 8 anos. Acho que ela já devia ter superado.
Enfim, a história é longa! Ainda existem desdobramentos dela, mas eu prefiro não abordar agora porque senão vou me estender mais ainda. O que eu quero dizer com tudo isso? Preservem seus filhos, não façam com que eles cresçam em um ambiente desses. Isso causa danos irreparáveis! Hoje eu sou extremamente fechada, tenho uma dificuldade enorme nos meus relacionamentos. Tenho ansiedade também, que adquiri por ter que lidar com toda essa situação e por ter que cuidar do meu pai na situação em que ele se encontra. Quem já conviveu com alguém alcoólatra sabe o perrengue que é, e quem já lidou com alguém com depressão também sabe o quão difícil é. Agora imagina lidar com as duas coisas... Eu tive que lidar com essa situação muito cedo, e acabei sendo sobrecarregada com responsabilidades que não deveriam ser minhas. Era eu quem fazia o meu irmão dormir, muitas vezes era eu que distraia ele quando nossos pais estavam brigando, ele ficava aterrorizado com tudo o que ele via. Tudo isso com 9-10 anos de idade!
@PCPR pensa muito bem no que vais fazer, não vale apena insistir em algo que talvez não tenha mais conserto. Pensa no seu filho em primeiro lugar, no que é melhor pra ele! Sentir ele vai, mas que isso não se prolongue, como no meu caso.
*meus edits são só coisas pontuais na ortografia.