Você acredita em DEUS? -=Topico Infinito=- [2]

nossa, pra que tanto texto, podiam dar uma resumida, todo meu animo para ler isso saiu no primeiro texto... na minha humilde opinião profecias nada mais é do que um truque para enganar bobos e acharem que realmente era uma profecia, e concordo com oque o cara lá disse " Nenhuma dessas profecias diz o dia e a hora de seu suposto cumprimento, apenas que "irá acontecer", para piorar essas profecias falam sobre conflitos políticos e étnicos e queda de impérios, é equivalente a dizer que irá chover no Rio De Janeiro em algum dia nesse semestre ou que uma pessoa famosa irá morrer esse ano. "

eu agora posso fazer uma profecia equivalente e depois vocês veem se vai realmente acotecer...


eis a profecia:

No dia que a terceira guerra mundial acontecer muitos irão morrer. Pronto ta ai, e o ciêntista Einstein já havia feito uma profecia

Albert Einstein: Não sei como será a terceira guerra mundial, mas sei como será a quarta: com pedras e paus.

não ha como dizer que ele esta certo até ele estar, o mesmo vale para todas as profecias feitas, é como um sexto cheio de papeis com profecias, muitas pessoas fazem profecias e já fizeram ao longo dos anos e é óbvio que alguma vai se realizar, é um jogo de sorte quase.

uma coisa é certa, ninguém morre até estar morto. ^^
 
Eu tento explicar onde está o erro da lógica ou, no caso de dados e fatos, apontar qual é a versão que eu encontrei... isso acaba gerando muito texto mesmo, mas não acho que seja proveitoso simplesmente falar "você não entende a Teoria da Evolução, o que você fala não faz sentido"; acho que é importante - especialmente para os outros leitores que estavam concordando com o outro até então - perceber onde está o erro, ou, pelo menos, entender qual é o fundamento da refutação.

Na verdade, eu não falo nada demais e não coloco nenhum ponto que qualquer cientista ou historiador já não tenha bem definido... se você começar a ler o texto e ficar com a sensação que já concorda com o que está ali, pode pular porque a ideia é apresentar para quem não conhece mesmo. :)
 
sim, já estava ciente disso, e concordo com algumas coisas, eu posso ver onde quer chegar com os primeiros parágrafos

acho que não ha como dizer se Deus existe ou não por enquanto, precisamos de um amplo conhecimento muito além do que estamos agora para poder debater deste assunto, caso contrario só estaremos perdendo tempo aqui tentando convencer uns aos outros de algo incerto.


uma dica: aproveite a vida pois depois não tem volta ^^
 
“A beleza das flamas jaz em sua estranha magia, além de toda proporção e harmonia. Sua diáfana chama simboliza tanto graça quanto tragédia, inocência e desespero, tristeza e volúpia. A ardente transcendência tem algo da leveza de grandes purificações. Quisera que sua ígnea transcendência me enlevasse para o alto e me lançasse em um mar de flamas, onde, consumido por sua delicadeza e suas insidiosas línguas, eu morreria uma morte estática. A beleza das flamas cria a ilusão de uma morte pura, sublime, similar à luz da aurora. Imaterial, a morte em flamas é como uma ardência de leves, graciosas asas. Apenas mariposas morrem em flamas? E quanto àqueles que são devorados pelas flamas em seu interior?” [Emil Cioran]

(...) Eu não me convenço com esse papo arcadista de "a natureza é bela, o ser humano é lindo". Na verdade, essa é uma visão muito seletiva da realidade; a imensa maioria das coisas que existem no universo são letais para a maioria dos seres (em particular, ao ser humano), e, enquanto a autotrofia é um recurso bastante eficaz e que não traz prejuízos a outros seres, a maioria dos seres vivos são escravos de uma necessidade de alimentação baseada em outros seres - basicamente, o ser supremo que criou tudo fez a maior rinha que o universo já viu. Até mesmo sensos nobres e que eu valorizo demais, como moral, ética e bondade são, em essência, subterfúgios para evitar o perigo constante da predação. Além disso, tudo o que existe, seja "bom" ou "mau", é derivado das mesmas leis fundamentais da Física, de tal modo que, por mais incrível que a configuração atual da realidade parece ser, é impossível que ela fosse de outro jeito. (...) Eu acho que jogar o mérito das conquistas humanas para um ser superior - ao mesmo tempo que se ignora todos os problemas e imperfeições absurdamente imorais e cruéis que existem - é ignorar a verdadeira capacidade humana: nós somos fodas, APESAR do universo todo estar contra nós (ou, na melhor das hipóteses, não estar nem um pouco afim de colaborar).
(...) Repare, na ciência, se algo é verdadeiro, vira senso comum, é amplamente aceito e adotado como parte do conhecimento nosso sobre a realidade. (...) Eu reconheço, humildemente, que não sei a resposta para muitas coisas. Mas eu tenho uma postura cética, uma afirmação extraordinária precisa de evidencias extraordinárias. (...) Eu gostaria muito que a vida fosse além desse corpo (embora alguns deuses inventados pela humanidade são verdadeiros monstros que se fossem verdadeiros longe de algo desejável seria um pesadelo, felizmente para esses a probabilidade é infimamente baixa), mas eu não deixo meus desejos, meus sonhos, substituírem o que as evidencias da realidade me indicam é mais provável.
Eu tento explicar onde está o erro da lógica ou, no caso de dados e fatos, apontar qual é a versão que eu encontrei (...) Na verdade, eu não falo nada demais e não coloco nenhum ponto que qualquer cientista ou historiador já não tenha bem definido... se você começar a ler o texto e ficar com a sensação que já concorda com o que está ali, pode pular porque a ideia é apresentar para quem não conhece mesmo. :)

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“Eu, Akhenaton, jamais respondo quando me chamam, a não ser que isso me convenha. Não sou daqueles que atendem à convocação por uma sineta. E não transfiro a ninguém o cuidado de planificar minha felicidade.” (...) “A dificuldade de ser - sem dúvida - obriga o humano a dopar-se perpetuamente: ele fuma, toma café, bebe aguardente ou água de Vittel. Insatisfeito com seu corpo, o humano o veste de modo a mascarar-lhe as imperfeições.” (...) “E os homens não ficam mais felizes; e contudo morrem.” (...) “Mamífero ao mesmo tempo herbívoro e carnívoro, o homem não conseguiu construir sua indentidade.” (...)

“Akhenaton, o gato narrador deste livro, percorre os séculos que compõem a História comentando através de sua sábia perspectiva felina os acontecimentos e as tragédias causados pela espécie humana.

A vasta cultura adquirida pelo siamês Akhenaton ao longo de muitos anos dormindo sobre livros está presente aqui não para exibir, gratuitamente, erudição, mas para mostrar seu profundo ceticismo quanto à melhora desta insensata raça de bípedes, “mamífero dotado de alguma inteligência mas bastante medíocre no plano sensorial”, que os gatos, desde o tempo do antigo Egito, o vem salvando dos ratos - “o que talvez tenha sido um erro”.

Imbuído de um senso crítico mordaz, Akhenaton observa a inútil batalha travada pelos homens contra o tempo e conclui que a insatisfação inerente à espécie humana a leva a contestar e alterar a própria natureza através de métodos paliativos que modificam a aparência. Em decorrência dessa dificuldade de ser, o homem acaba se dopando com aguardente, fumo e café.

Akhenaton, em sua elevada e lúcida posição de gato, analisa o comportamento humano ressaltando a irracionalidade intrínseca à espécie e afirma, ainda, que não sente rancor por aquele que tantos males causou a todos os outros seres vivos. Como, afinal, nutrir ressentimento por alguém que se frustrou na busca da própria felicidade?

Cronista do nosso tempo, será nosso gato pessimista? Cáustico e realista, responderá ele. Niilista por natureza, Akhenaton não crê em nada, não tem esperança em nada, não aguarda nada. É nisso que consiste a sabedoria felina? Para o saber, demos nossa língua ao gato.”
[Gérard Vincent]

Fonte: Akhenaton: a história do homem contada por um gato

“Respiro por preconceito. E contemplo o espasmo das ideias, enquanto que o Vazio sorri a si mesmo... Não há mais suor no espaço, não há mais vida; a menor vulgaridade a fará reaparecer: basta um segundo de espera. Quando se percebe existir, experimenta-se a sensação de um demente maravilhado que surpreende sua própria loucura e busca inutilmente dar-lhe um nome. O hábito embota nosso assombro de existir: somos, e vamos além, ocupamos nosso lugar no asilo dos existentes. Conformista, vivo, tento viver, por imitação, por respeito às regras do jogo, por horror à originalidade. Resignação de autômato: simula fervor e ri disso secretamente; só submeter-se às convenções para repudiá-las às escondidas; figurar em todos os registros, mas sem residência no tempo; salvar a cara, quando seria imperioso perdê-la... Aquele que despreza tudo deve assumir um ar de dignidade perfeita, induzir ao erro os outros e até ele mesmo: cumprirá assim mais facilmente sua tarefa de falso vivente. Para que mostrar nossa ruína se podemos fingir a prosperidade? O inferno não tem boas maneiras: é a imagem exasperada de um homem franco e grosseiro, é a terra concebida sem nenhuma superstição de elegância e de civilidade. Aceito a vida por cortesia: a revolta perpétua é de tão mau gosto como o sublime do suicídio. Aos vinte anos se rompe em impropérios contra os céus e a imundície que cobrem; depois se cansa. A pose trágica só corresponde à puberdade prolongada e ridícula; mas são necessárias mil provas para alcançar o histrionismo do desapego. Quem, emancipado de todos os princípios de costume, não dispusesse de nenhum dom de comediante, seria o arquétipo do infortúnio, o ser idealmente desgraçado. É inútil construir tal modelo de franqueza: a vida só é tolerável pelo grau de mistificação que se põe nela. Tal modelo seria a ruína da sociedade, pois a “doçura” de viver em comum reside na impossibilidade de dar livre curso ao infinito de nossos pensamentos ocultos. É porque somos todos impostores que nos suportamos uns aos outros. Quem não aceitasse mentir veria a terra fugir sob seus pés: estamos biologicamente obrigados ao falso. Não há herói moral que não seja ou pueril, ou ineficaz, ou inautêntico; pois a verdadeira autenticidade é o aviltamento na fraude, no decoro da adulação pública e da difamação secreta. Se nossos semelhantes pudessem constatar nossas opiniões sobre eles, o amor, a amizade, o devotamento seriam riscados para sempre dos dicionários; e se tivéssemos a coragem de olhar cara a cara as dúvidas que concebemos timidamente sobre nós mesmos, nenhum de nós proferiria um “eu” sem envergonhar-se. A dissimulação arrasta tudo o que vive, desde o troglodita até o cético. Como só o respeito das aparências nos separa dos cadáveres, precisar o fundo das coisas e dos seres é perecer; conformemo-nos a um nada mais agradável: nossa constituição só tolera uma certa dose de verdade... Guardemos no fundo mais profundo de nós mesmos uma certeza superior a todas as outras: a vida não tem sentido, não pode tê-lo. Deveríamos nos matar imediatamente se uma revelação imprevista nos persuadisse do contrário. Se o ar desaparecesse, respiraríamos ainda; mas sufocaríamos no mesmo instante se nos fosse roubada a alegria da inanidade...” [Emil Cioran]
 
Recentemente eu me vejo com uma duvida sobre humanos que tem a ver com Deus etc...

a duvida é: da onde foi que surgiu os asiáticos e os negros se adão e eva eram brancos? wtf, dizem que torre de babel e bla bla bla mas acho que é de uma biblia diferente, a que falo é das mais populares ( modinha dos últimos séculos )


ha explicações históricas etc...isso eu entendo mas o assunto aqui é concentrado na biblia
 
(...)
a duvida é: da onde foi que surgiu os asiáticos e os negros se adão e eva eram brancos? wtf, dizem que torre de babel e bla bla bla mas acho que é de uma biblia diferente, a que falo é das mais populares ( modinha dos últimos séculos )(...)

Sobre asiáticos e outros "grupos menores", eu não sei.

Os mormóns dizem (diziam?) que os ameríndios eram descendentes direto de Israel e, portanto, um dos povos protegidos de Deus - como eles obtiveram um fenótipo tão distinto, por outro lado, eu acho que nunca é explicado.

Negros, historicamente, foram sempre associados à "Marca de Caim". (Resumo relâmpago: Caim matou seu irmão, Abel, e por isso foi castigado por Deus. A Bíblia fala em uma "marcação ou sinal" e descreve a pele de Caim escurecendo devido ao castigo físico que Deus lhe impôs.) Porém, tudo é bem vago e é difícil chegar a qualquer conclusão sem preencher uns buracos com sua própria narrativa; eu, particularmente, sempre gostei de como eles relacionaram essa história com a origem dos Vampiros no RPG Vampiro: A Máscara. Algumas vertentes mais antigas do cristianismo adotaram essa definição, usando-a inclusive para justificar a escravidão durante o Imperialismo.

Eu acho que cheguei até a citar recentemente aqui, que Alan Kardec descrevia (ou melhor, "os espíritos evoluídos lhe haviam contado") os negros como uma espécie inferior, uma sub-evolução da espécie humana, tanto física quanto espirtualmente. Neste sentido, tendo em mente que o Espiritismo se proclama como uma visão mais racional do cristianismo, os negros sequer seriam descendentes de Adão e Eva...
 
Sobre asiáticos e outros "grupos menores", eu não sei.

Os mormóns dizem (diziam?) que os ameríndios eram descendentes direto de Israel e, portanto, um dos povos protegidos de Deus - como eles obtiveram um fenótipo tão distinto, por outro lado, eu acho que nunca é explicado.

Negros, historicamente, foram sempre associados à "Marca de Caim". (Resumo relâmpago: Caim matou seu irmão, Abel, e por isso foi castigado por Deus. A Bíblia fala em uma "marcação ou sinal" e descreve a pele de Caim escurecendo devido ao castigo físico que Deus lhe impôs.) Porém, tudo é bem vago e é difícil chegar a qualquer conclusão sem preencher uns buracos com sua própria narrativa; eu, particularmente, sempre gostei de como eles relacionaram essa história com a origem dos Vampiros no RPG Vampiro: A Máscara. Algumas vertentes mais antigas do cristianismo adotaram essa definição, usando-a inclusive para justificar a escravidão durante o Imperialismo.

Eu acho que cheguei até a citar recentemente aqui, que Alan Kardec descrevia (ou melhor, "os espíritos evoluídos lhe haviam contado") os negros como uma espécie inferior, uma sub-evolução da espécie humana, tanto física quanto espirtualmente. Neste sentido, tendo em mente que o Espiritismo se proclama como uma visão mais racional do cristianismo, os negros sequer seriam descendentes de Adão e Eva...


nossa, e os asiáticos? ta ai uma coisa para o cara que escreveu a biblia inventar uma nova história e criar outra biblia, chama-la de o futuro testamento hehehe e já colocar uma explicação melhor sobre o negros ( sem preconceitos )
 
“E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.” [Miguel Sousa Tavares]
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“O Teatro e os Artistas. O mundo é um vasto campo de batalha onde os seres somente devorando-se uns aos outros conseguem conservar e defender a vida; onde todo animal carnívoro é o túmulo vivo de tantos outros; onde o viver significa sofrer longos tormentos; onde a capacidade para a dor aumenta na proporção da inteligência, e atinge, portanto, no homem o mais elevado grau. Os otimistas quiseram adaptar o mundo ao seu sistema, e apresentá-lo a prior como o melhor dos mundos possíveis. O absurdo é evidente. Dizem-me para abrir os olhos e contemplar a beleza do céu iluminado pelo sol, as montanhas, os vales, as torrentes, as plantas, os animais, que sei eu! Acaso será o mundo uma lanterna mágica? A contemplação é bela, confesso, mas aí representar, é coisa completamente diferente. Após o otimista surge o homem que nos fala das causas finais, e elogia as sábias leis que preservam os astros de se chocarem no seu percurso; que evitam o mar e a terra de se confundirem, e os mantém separados; que faz com que nem o frio nem o calor sejam eternos, e que, pela inclinação da eclítica, não permite a primavera, ser eterna podendo assim amadurecer os frutos, etc. Mas tudo isso não são mais que simples “conditiones sine quibus non”. Porque se os planetas devem ter uma existência mais longa, embora seja o período que demora em chegar a eles a luz de uma estrela longínqua, e se não desaparecem após o nascimento, era preciso que as coisas estivessem mal arquitetadas, para que a base fundamental ameaçasse ruína. Chegamos aos resultados desta obra tão elogiada, e observamos os atores que se movimentam nesta, tão sábia e solidamente construída. Vemos que a dor aparece juntamente com a sensibilidade, e à medida que esta se torna inteligente, a dor e o desejo caminham par a par, e o primeiro chega a tal desenvolvimento que finalmente, a vida do homem nada mais é que um assunto trágico ou cômico. A sinceridade de certos homens não lhes permite a união ao coro dos otimistas, e com eles entonar a aleluia.” (...)

“A Vida é um Pesado Gracejo. Se considerarmos a vida objetivamente, é duvidoso que ela seja preferível ao nada. Atrever-me-ia até a dizer que se a reflexão e a experiência pudessem fazer um acordo, elevariam a voz em favor do nada. Se batêssemos nas pedras dos sepulcros e perguntássemos aos mortos se querem ressuscitar, moveriam negativamente a cabeça. É esta a opinião de Sócrates na Apologia de Platão. O alegre e feliz Voltaire dizia: “Amamos a vida, porém o nada não deixa de ter o seu lado bom”. Em outra parte dizia: “Ignoro o que seja a vida eterna, mas esta é um pesado gracejo”.”
[“A vontade de Amar”, Arthur Schopenhauer]​

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5 reflexões de cientistas sobre ateísmo e agnosticismo - Saiba a posição de Sagan, Einstein, Hawking, Tyson e Dawkins sobre o tema, por Isabela Moreira.
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A discussão entre ciência e religião é umas das mais antigas da humanidade. A verdade é que cada cientista tem uma visão diferente sobre as religiões e a possibilidade da existência de um deus.

Pensando nisso, separamos reflexões de alguns de cientistas queridos e renomados sobre ateísmo e agnosticismo.

Albert Einstein

O pai da Teoria da Relatividade afirmou em múltiplas ocasiões acreditar na visão de Deus de acordo do o panteísmo. Trata-se de uma vertente definida pelo filósofo holandês Baruch Spinoza, na qual tudo e todos fazem parte da composição de Deus, refutando a possibilidade de um Deus individual ou antropomórfico.

Albert Einstein também se definiu como agnóstico, ou seja, ele reconhecia a possibilidade da existência de um deus – por mais difícil que fosse descobrir se isso é verdade ou não. O cientista escolheu esse caminho em vez do ateísmo porque acreditava ser um ato de humildade.

“Você pode me chamar de agnóstico, mas eu não concordo com o espírito do ateu profissional cujo fervor é um ato de dolorosa restrição da doutrinação religiosa da juventude. Eu prefiro ter uma atitude de humildade em relação ao quão pouco entendemos sobre a natureza e nossos próprios seres”, escreveu à Guy H. Raner Jr. em setembro de 1949.

Carl Sagan

Assim como Einstein, Sagan negou ser ateu. O fato ficou publicamente conhecido e passou a ser discutido a partir de uma entrevista com o cosmólogo publicada no Washington Post em 1996. “Um ateu tem que saber muito mais do que eu sei. Um ateu é alguém que sabe que não existe um Deus”, disse Sagan.

Em 2014, Joel Achenbach escreveu uma matéria também para o WP sobre o assunto. Como a cada duas semanas ele recebia pelo menos um e-mail questionando a religiosidade de Sagan, o jornalista decidiu ir além, tentando interpretar melhor o posicionamento do cientista por meio de cartas dele e entrevistas com pessoas próximas a ele.

Em uma carta à Robert Pope, Sagan escreveu: “Eu não sou um ateu. Um ateu é alguém que tem evidências persuasivas de que não existe um Deus Judaico-Católico-Islâmico. Eu não sou tão sábio, mas ao mesmo tempo não considero que exista algo próximo à uma evidência adequada para a existência de um deus.”

David Morrison, aluno de Sagan na época, afirmou que o professor “agia como um ateu, mas rejeitava o rótulo.” “Acho que parecia absoluto demais para ele. Ele sempre tentava estar aberto a novas evidências em qualquer assunto”, disse, em entrevista ao Washington Post. Já a viúva de Sagan, Ann Druyan, acredita que a frase não está aberta à interpretações: “Carl quis dizer exatamente o que ele disse. Ele não sabia se existia um deus. Ao meu ver, um ateu sabe que não existe um deus ou algo equivalente. Carl estava confortável com o rótulo de “agnóstico”, mas não de ateu.”

Stephen Hawking

Hawking se define como ateu. “Eu não sou religioso no senso comum. Eu acredito que o Universo é governado pelas leis da Ciência. As leis podem ter sido decretadas por deus, mas ele não intervém para quebrar as leis”, disse o cientista em 2007 para a BBC.

Ah, e claro, acredita na supremacia da Ciência. “Existe uma diferença fundamental entre a religião, que é baseada na autoridade, e a Ciência, que é baseada na observação e na experimentação. A Ciência supera porque ela funciona”, explicou em outra ocasião, três anos depois, à jornalista Diane Sawyer, no ABC World News.

Neil Degrasse Tyson

O cientista americano se considera um agnóstico. Em ocasiões passadas, o apresentador de Cosmos ressaltou que, se acreditasse em um deus, não seria na forma descrita pelas três maiores religiões monoteístas do mundo.

“Todo relato de um poder maior sobre os quais já ouvi, todas as religiões que vi, incluem declarações relacionadas à benevolência desse poder. Quando eu olho para o universo e todas as formas em que o universo quer acabar conosco, acho difícil considerar tal discurso altruísta”, disse o cientista.

Um dos motivos pelos quais Tyson se declara agnóstico e não ateu é a falta de energia para lidar com o segundo grupo. Em uma entrevista, ele explicou que, ao usar “Deus” em um post no Facebook em 2012, o cientista foi duramente criticado por seus seguidores. “Como alguém como você poderia falar em Deus?”, disseram, entre outras coisas. “Estou perfeitamente bem com todas as pessoas religiosas que vivem ao meu redor. Não estou tentando converter as pessoas, não me importo. Somos uma sociedade que permite a pluralidade de religiões e eu estou bem com isso”, explicou em uma entrevista. “Só mantenha isso fora da sala de aula de ciência.”

Richard Dawkins

Sem dúvidas o cientista é conhecido por ser um dos principais advogados públicos do ateísmo.

Em entrevista concedida à GALILEU em 2015, ele explicou o motivo: “Como cientista, eu me sinto apaixonado pela verdade. Eu amo a verdade, ela é tão empolgante. O criacionismo é um insulto ao intelecto, então qualquer cientista vai querer lutar contra isso. Eu nunca quis nada além de lutar contra o criacionismo. Nunca decidi me tornar uma figura pública, mas sempre senti a necessidade de advogar por esta causa e se, por consequência, me tornei uma pequena figura pública, foi incidentalmente.”

Fonte: Revista Galileu



“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(e se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
de dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
e à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
(...)”
[“Poesias”, Álvaro de Campos / Fernando Pessoa]


“Como pensar a morte? Este pensamento, incluso a sua formulação interrogativa, é possível? Pensar a morte não é, no próprio ato de a pensar, a morte do pensamento? Eis algumas das perguntas que a morte suscita.” (...) “Não é a morte que nos surpreende; é a fulgurante e brusca intuição de que a morte é o nosso futuro. Com efeito a morte nunca está presente - não há presença da morte; ela é inapropriável. A certeza incontornável de que o futuro é mortal não elide a imprevisibilidade. O choque que advém da irremediável constatação gera a perplexidade e o esquizo-recolhimento que só um trauma profundo pode provocar. O desespero esvazia o presente perante a inelutabilidade que o futuro tráz no seu regaço - a morte é também e sempre súbita e inédita; angustiante... À incontornabilidade meta-empírica da morte investimos salvaguardas circunstanciais; protegemo-nos contra aquilo que sabemos certo advogando prevenções perante os modos de morrer - morte certa, hora incerta. Acreditamos adiar a morte quando apenas prolongamos a vida; não é a mesma coisa, bem o sabemos, mas vivemos como se assim o fosse. A consciência do limite turva-se perante a esperança, não do amanhã, mas do depois de amanhã que queremos depois de amanhã - o destino cumpre-se nos outros, o meu é-me opaco. Luto: da morte do outro me asseguro, mas não ainda da minha morte.” (...) “Na morte não há chão onde o pensamento possa fundar a sua casa. Mesmo que a existência seja, como queria Martin Heidegger, a possibilidade da impossibilidade, trata-se ainda de um pensamento adverso, uma arqui-fundamentação às avessas.” (...) “A melancolia surge sempre que o pensamento se aventura no insondável da morte. Mas não é a morte que está na origem da melancolia; é o desfalecimento perante a vida, a suspeição face a um real exterior, uma relação quebrada com o mundo que o faz aparecer como uma mentira, como um lugar ameaçador ou como um desfile de máscaras.” [Fernando Martinho Guimarães]
 
“Não concebo a linguagem como algo transparente, uma “janela” que deveria desaparecer para “comunicar”, mostrar “uma história”, ou “a realidade”, “o mundo”. Para mim é algo opaco, denso, cheio de camadas, onde gosto de cavar poços e túneis como um rato. Gosto das frases que duram até se converterem em lugares. Frases-habitat. Quando a frase se expande, se revela mais parecida com a memória. Vai e vem e se perde, voltando a se encontrar. Interessa-me a frase que obriga o leitor a passar por esse mesmo processo.” (...) “Simplesmente escrevo o desconhecido, aquilo que me é enigmático, me suscita problemas. Senão, não escrevo. Meus livros são como lascas de um grande planeta original que alguma vez estourou. Todos têm algo em comum, mas cada um flutua em uma órbita diferente.” [Alan Pauls]
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Obra de Raymond Douillet.

“O Que resulta do ócio da maioria dos humanos. Afinal, o que resulta do ócio da maioria dos homens? Tédio e imbecilidade; exceto quando estão ocupados com prazeres sensuais ou desvarios. O modo como tais pessoas desfrutam de seu ócio demonstra que esse não vale nada; é o "ozio lungo d’uomini ignoranti" [tédio dos homens ignorantes] de Ariosto. O homem vulgar só pensa em como passar o tempo; o homem de talento tenta aproveitá-lo. Indivíduos de inteligência limitada estão tão expostos ao tédio porque seu intelecto não passa de um intermediário dos motivos para sua vontade. Se em certo momento não houver quaisquer motivos particulares para pôr a vontade em ação, essa repousa e seu intelecto tira folga, pois, assim como a vontade, esse requer algo externo para entrar em atividade. O resultado é uma terrível estagnação de todos os poderes do homem por completo, isto é, tédio. Para combatê-lo, os homens se lançam em trivialidades que agradam provisoriamente a fim de estimular a vontade e, assim, por em atividade o intelecto, que terá de interpretá-las. Tais motivos são, pois, em relação aos motivos reais e naturais, aquilo que o papel-moeda é em relação ao dinheiro, visto que seu valor é determinado arbitrariamente. Tais motivos são jogos de cartas e outros, que foram inventados exatamente para esse propósito. Na falta desses, o homem de inteligência limitada por-se-á a batucar e brincar com tudo aquilo que cair em suas mãos. Até mesmo um cigarro é bem-vindo como substituto para o pensamento. Por isso, em todos os países, o principal entretenimento da sociedade é o jogo de cartas; é a medida do valor dessas reuniões e a manifesta bancarrota de todas as idéias e pensamentos. Não tendo nenhuma ideia para trocar, trocam cartas, e tentam ganhar o dinheiro uns dos outros. Que espécie deplorável!” [“Aforismos para a sabedoria de vida”, Arthur Schopenhauer]​
A Morte e o Sentido da Vida, por Keith Augustine.


“Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se espavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muito barulho, que nada significa.” [“Macbeth, Ato 5, Cena 5, linhas 22-31”, Willian Shakespeare]

Na escala do tempo da História da Terra a vida de um ser humano é um mero piscar de olhos. Nascemos, vivemos e morremos — e então não mais somos “lembrados”. A morte é como um sono sem sonhos do qual nunca acordamos, nossa consciência suprimida para sempre. Se esta vida é tudo o que se apresenta, qual é o seu sentido? Se estamos todos fadados a morrer de qualquer forma, que diferença faz o que fazemos nossas vidas? Podemos influenciar as vidas de outras pessoas, mas elas também estão condenadas à morte. Em algumas poucas gerações a maioria de nossas realizações será totalmente esquecida, a memória de nossas vidas reduzidas a um mero nome entalhado numa lápide ou escrito numa árvore genealógica. Em alguns séculos até nossas tumbas se tornarão ilegíveis pela ação do tempo, restos de ossos serão tudo o que restará de nós. Exceto pela fossilização, até estes ossos serão desintegrados e nada de nós restará. Tudo de que fomos feitos será absorvido por outros organismos — plantas, animais, e até outros seres humanos. Novas espécies aparecerão, florescerão e desaparecerão, rapidamente substituídas por outras que preencherão o nicho deixado pela sua extinção. A humanidade também sucumbirá à extinção. Toda a vida na terra será varrida quando nosso sol moribundo tornar-se uma gigante vermelha, engolindo então a Terra. Finalmente, o universo tornar-se-á incapaz de permitir a existência de qualquer tipo de vida devido à sua eterna expansão, deixando apenas calor residual e buracos negros, ou senão se contrairá novamente unindo toda a matéria e energia num único Grande Buraco Negro. De qualquer forma, toda a vida no universo desaparecerá para sempre.

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Essas considerações uma vez levaram Bertrand Russell a concluir que qualquer filosofia da qual valesse a pena falar seriamente teria de se fundamentar numa “fundação firme de incontrolável desespero”. A morte torna a vida sem sentido? Apesar de muitas pessoas acharem que sim, um momento de reflexão irá mostrar que a morte é irrelevante para a questão do sentido da vida: se os seres humanos fossem naturalmente imortais — isto é, se não houvesse nada parecido com a morte — ainda assim a questão sobre o sentido da vida persistiria. A afirmação de que a vida é sem sentido porque termina em morte relaciona-se com a afirmação de que tudo o que tem sentido precisa durar para sempre. O fato de muitas das coisas às quais damos valor (como o relacionamento com outras pessoas) e atividades que achamos valiosas (como trabalhar numa campanha política ou educar uma criança) não durarem para sempre mostra que a vida não precisa ser eterna para ter sentido. Podemos mostrar também que a vida não precisa durar para sempre para ter algum sentido através de exemplos de vidas que duram para sempre e são inúteis. Na mitologia grega Sísifo é punido pelos deuses por ter dado conhecimento divino aos humanos. Sua punição é ser forçado a rolar uma enorme pedra até o topo de uma montanha. Assim que a pedra chega ao topo, ela é rolada novamente até a base da montanha. Sísifo está condenado a repetir esta tarefa inútil por toda a eternidade. A duração de nossas vidas nada tem a ver com elas terem ou não sentido. É irônico que tantas pessoas não tenham atentado para este ponto já que a punição eterna contida em O Mito de Sísifo de Albert Camus é o arquétipo da existência inútil.

A morte aparenta significar a falta de sentido da vida para muitas pessoas porque elas sentem que não há motivo em desenvolver o caráter ou aumentar o próprio conhecimento se nossos progressos serão em última instância tomados pela morte. Entretanto, há um motivo para desenvolver o caráter e desenvolver o conhecimento antes da morte nos alcançar: dar paz e satisfação intelectual às nossas vidas e às vidas daqueles com quem nós nos importamos, porque perseguir estes objetivos enriquece nossas vidas. Partir do fato de que a morte é inevitável não implica dizermos que tudo o que fazemos não faz diferença. Pelo contrário, nossas vidas têm grande importância para nós. Se elas não tivessem, não acharíamos a ideia de nossa morte tão desesperadora — não faria diferença se nossas vidas iriam acabar ou não. O fato de irmos todos morrer algum dia não tem correlação com a questão de nossas atividades valerem ou não a pena aqui e agora: para um paciente doente num hospital os esforços de um médico em aliviar sua dor certamente importam, independentemente do fato de tanto o paciente quanto o médico (e em última análise todo o universo) acabarão morrendo algum dia.

Mas o que faz com que tantas pessoas sintam que suas vidas, em última análise, são inúteis? O fato de que todos nós um dia iremos morrer é uma razão para este sentimento, mas não é a única. A outra razão para que tantas pessoas sintam que a vida não tem sentido é que, até onde a ciência pode mostrar, não há nenhum propósito maior para nossas vidas. Uma visão científica do mundo retrata a origem dos seres humanos como “o resultado da colocação acidental de átomos”. Tanto individual quanto coletivamente, seres humanos vieram a existir devido a probabilidades. Como indivíduos, nossa existência foi possível devido ao sucesso reprodutivo de nossos ancestrais; como espécie, nossa existência foi determinada pelas mutações que acabaram por conferir uma vantagem adaptativa a nossos ancestrais evolutivos no ambiente em que se encontravam. Devido ao fato de não podermos discernir qualquer indicação de que fomos postos neste planeta para servir a um propósito dado a nós por um ser inteligente, nossa existência não parece fazer parte de nenhum plano maior. Se a ausência de um propósito maior é o que faz a vida ser em última instância sem sentido, nossas vidas seriam igualmente inúteis se fossem eternas. Da mesma forma, se fazer parte de um propósito maior desse às nossas vidas um sentido, então nossas vidas teriam sentido mesmo se a morte acabasse com elas para sempre.

Será realmente o caso, entretanto, que a ausência de um plano maior para nossas vidas tornaria a vida sem sentido? Aqui, também, um momento de reflexão mostrará que a falta de um propósito maior na vida é irrelevante para o seu sentido. Como um propósito maior para nossas vidas lhes daria um sentido? Suponha, por exemplo, que venhamos a descobrir que milhões de anos atrás extraterrestres manipularam geneticamente os hominídeos para produzir uma espécie mais inteligente, adequada para suas necessidades de trabalho escravo e estes extraterrestres ainda não voltaram à Terra para nos escravizar. Neste caso, nossa existência seria parte de um plano maior e daria um sentido às nossas vidas para os extraterrestres, mas isto não daria sentido a elas para nós. Sermos parte de um plano divino pode apenas dar sentido a nossas vidas se aceitarmos nosso papel no tal plano como importante para nós. Além disso, enquanto formos ignorantes a respeito de num suposto plano maior para nossas vidas — e certamente somos ignorantes a esse respeito — não temos como saber qual é o nosso papel neste plano e, portanto, ele não é capaz de fazer nossa vida ter sentido. Nossas atividades são válidas por elas mesmas, e não porque atendem a algum propósito transcendental desconhecido.

Estas considerações mostram que nós devemos criar nosso próprio sentido para nossas vidas, independentemente de essas vidas servirem ou não a um propósito maior. Se nossas vidas têm ou não sentido para nós depende de como as julgamos. A ausência ou presença de algum propósito superior é tão irrelevante quanto a finalidade da morte. A alegação de que nossas vidas são “em última análise” inúteis não faz sentido porque elas teriam ou não sentido independentemente do que fizéssemos. Questões sobre o sentido da vida são questões sobre valores. Nós atribuímos valores para coisas na vida em vez de descobri-los. Não pode haver sentido na vida senão aquele que criamos para nós mesmos, pois o universo não é um ser consciente que pode atribuir valores para as coisas. Mesmo se um deus consciente existisse, o valor que ele atribuiria às nossas vidas não seria o mesmo que nós atribuiríamos e, portanto, seria irrelevante.

O que faz nossas vidas terem sentido é acharmos que as atividades que fazemos valem a pena. Nossa determinação para levar adiante projetos que criamos para nós mesmos dá sentido às nossas vidas. Sentimos que a vida é inútil quando a maior parte dos desejos que julgamos importantes é frustrada. Achar nossa vida importante ou não depende de quais objetivos importantes são frustrados. O julgamento que fazemos de nossas vidas nestes pontos é igualmente independente de a vida ser ou não eterna ou de ela fazer ou não parte de um propósito maior. Talvez o segredo de uma vida com sentido seja dar importância a aqueles objetivos que podemos atingir e minimizar aqueles que não podemos — desde que saibamos a diferença entre eles.

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Fonte: Ateus
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Obra de Edmond Dulac.

“A Filosofia — diante do abismo. A filosofia é uma estrada que percorre os pontos mais elevados dos Alpes; para chegar até lá, é preciso galgar uma senda abrupta, que atravessa rochas pontiagudas e espinhaços poderosos; é um caminho solitário que se torna cada vez mais desolado a medida em que nos aproximamos do cume; quem o segue, não deve temer o assombro, mas deixa-lo inteiramente atrás de si, enquanto abre seu próprio caminho com perseverança através da fria neve. Com frequência o filosofo se depara subitamente diante um abismo hiante e, descendo ao longo dele, consegue dirigir o olhar até o vale verde que se estende muito além, lá embaixo nas planuras. Sofre então uma terrível sensação de vertigem; mas precisa superá-la, mesmo que para isso tenha de fixar as solas de seus pés sobre as rochas com o adesivo de seu próprio sangue. Passado esse momento, verá que todo o mundo se encontra abaixo de si, perceberá como desaparecem todas as terras pantanosas e a multidão dos desertos de areia, como se afastam todas as irregularidades, como todas as discordâncias ficam contidas no conjunto e não sobem até ele e é então que percebe realmente como o mundo é redondo. Enquanto isso, ele permanece sempre no ar puro e frio das alturas e pode contemplar o Sol, enquanto o mundo inferior domina ainda a negra escuridão da noite.” [“Primeiros manuscritos”, Arthur Schopenhauer]​
“Estou cansado da História com maiúsculas, dos Grandes Feitos, dos Heróis, das Tragédias. Cansado da história que se deixa reger por hierarquias e sistemas de dignidade e indignidade que nunca são postos em discussão... Tal como eu penso, a intimidade é o espaço para anular essas hierarquias e privilégios." (...) "O terrorismo de Estado produziu muitas vítimas na Argentina. A justiça tem que se encarregar de reparar essa situação e julgar os responsáveis por ela. O problema com a “cultura da vitimização” é que funciona como um princípio de autocomplacência e chantagem, ou como uma limitação para desenvolver uma vontade de poder. Há na condição de vítima algo que bloqueia toda a discussão, todo o exercício de linguagem, a invenção de horizontes. Frente a uma vítima, como frente a alguém que chora, não podemos fazer muito mais que nos apiedarmos, consolar, compadecer. O problema é que muitas vezes isso só faz consolidar o lugar de vítima.” (...) “Não acredito que a literatura atual seja mais individualista que a de décadas anteriores. Acho apenas que tenha entrado para o regime de hiper-visibilidade que define a sociedade contemporânea. Ao longo dos séculos, a literatura sempre tem dito “eu”. Isso não é sinônimo de individualismo: os “eus” da boa literatura são plurais e povoados. A diferença, agora, é que esse “eu” se vê de imediato e circula como um raio por essa grande tela em que se converteu a vida. Quanto ao fenômeno “blog”, gosto de ler blogs no seu contexto eletrônico, nessa espécie de promiscuidade segura onde tudo coexiste ou está próximo. Salvo exceções, transformados em livro me decepcionam. Os vejo inconsistentes, infantis, ávidos como novos ricos que acabam de comprar uma casa maior ou mais luxuosa. Nenhum deles [blogs transformados em livros] jamais poderia me dar o que todo livro me promete. Porque nasceram e brilharam – se foram inventivos – na internet, um campo que espuma e centelha de maneira fugaz.” [Alan Pauls]
 
Alguém acredita nesse tópico?
 
Bem... alguém aí colocou uma video do Deleuze, né... Se soubessem bem como o pensamento dele e do Guattari são permissíveis da legitimação daquilo que o ocidente moderno chama de "crenças" e "superstições"...
"Capitalismo e Esquizofrenia" é, para mim, o limite do tolerável na Filosofia Contemporânea e digo o mesmo para a "Virada Ontológica" nas Ciências Sociais... De qualquer forma, Deleuze, Guattari, Wagner, Latour, Viveiros de Castro, Ingold, Favret-Saada... todos são exemplos de como a Academia moderna não descredita mais o pensamento que, outrora, se dava como tradicional ou primitivo, até porque, esses mesmos autores defendem a simetria... a Ciência seria, então, tão "ilusão" quando a Religião ou... para aplicar o Multinaturalizmo de Viveiros de Castro, tão real quanto...
Acho que uma boa leitura desse assunto seria interessante para ambos aqueles grupos que vêm postando nesse tópico... partidários de uma visão materialista/secularista ou aqueles que pregam uma perspectiva metafísica/religiosa da realidade...
 
“Quem quiser nascer tem que destruir um mundo; destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a consequente dolorosa busca da própria razão do existir: ser é ousar ser.” [Hermann Hesse]
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Alguém acredita nesse tópico?

Esse tópico existe - está aqui para todos perceber (e ler; e refletir; e criticar; e opinar...), agora seu objeto de investigação... não é passível de observação (e experimentação). :haha3:

Talvez a pergunta mais importante: alguém acredita em você? :hmm2:

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Pintura de Edvard Munch

Você acredita em si mesmo? :hmm2:

“O mundo proclamou a liberdade, sobretudo ultimamente, e eis o que vemos dessa liberdade deles: só escravidão e suicídio! Porque o mundo diz: "Tens necessidades e por isso satisfaze-as, porque tens os mesmos direitos que os homens mais ilustres e ricos. Não temas satisfazê-las e até procura multiplicá-las" - eis a atual doutrina do mundo. É nisso que veem a liberdade. E o que resulta desse direito à multiplicação das necessidades? Para os ricos o isolamento e o suicídio espiritual, para os pobres, a inveja e o assassinato, porquanto esses direitos foram concedidos mas ainda não se indicaram os meios de satisfazer as necessidades. Asseguram que, quanto mais tempo passar, mais o mundo irá unir-se, irá constituir-se num convívio fraterno porque isso reduz as distâncias, transmite as ideias pelo ar. Ai, não credes nessa união dos homens. Compreendendo a liberdade como a multiplicação e o rápido saciamento das necessidades, deformam sua natureza porque geram dentro de si muitos desejos absurdos e tolos, os hábitos e as invenções mais disparatadas. Vivem apenas para invejar uns aos outros, para a luxúria, a soberba. Dar jantares, viajar, possuir carruagens, posição social e criados escravos eles já consideram uma necessidade, e para saciá-la sacrificam até a vida, a honra, o amor ao homem, e até se matam se não conseguem saciá-la. Vemos a mesma coisa naqueles que não são ricos, e entre os pobres o não saciamento das necessidades e a inveja ainda são abafados pela bebedeira. Em breve, em vez do vinho haverão de embebedar-se com sangue, para isto estão sendo conduzidos. Eu vos pergunto: esse humano é livre?” [“Os irmãos Karamázov - Segunda parte - Livro VI: Um monge russo” - trechos, Fiódor Dostoiévski]​

(...) "Capitalismo e Esquizofrenia" é, para mim, o limite do tolerável na Filosofia Contemporânea e digo o mesmo para a "Virada Ontológica" nas Ciências Sociais... De qualquer forma, Deleuze, Guattari, Wagner, Latour, Viveiros de Castro, Ingold, Favret-Saada... todos são exemplos de como a Academia moderna não descredita mais o pensamento que, outrora, se dava como tradicional ou primitivo, até porque, esses mesmos autores defendem a simetria... a Ciência seria, então, tão "ilusão" quando a Religião ou... para aplicar o Multinaturalizmo de Viveiros de Castro, tão real quanto (...)
(...) Meu interesse acadêmico, nos últimos anos, está no surgimento e manutenção da mente e do comportamento religioso, ou seja, na origem e evoluçãodaquilo que, comumente tratamos como Religião. Para tais ideais, utilizo, sempre que cabível, os paradigmas da Ciência Cognitiva (Neurociência, Psicologia Cognitiva, Antropologia Cognitiva, Filosofia e Linguística) e da Psicologia Evolutiva (Etologia e Teoria Evolucionista) para traçar os subprodutos cognitivo-mentais, adaptações evolutivas e comportamento memético envolvidos na composição dos ditos "fenômenos religiosos".


Não há nada de errado em acreditar em mitos (ou estudar as mitologias). Estou ciente de que os mitos fazem parte de determinadas áreas do conhecimento humano (que explicam circunstâncias que o pensamento lógico não pode descrever diretamente). Em geral, são ideias que trazem sentido e conformação diante do mundo.

Tem gente que acredita que a Terra é plana e que o sol gira em torno dela; que esse planeta e toda sua biodiversidade foi criada em poucos dias por alguma(s) entidade(s) divina(s); que a posição dos planetas influenciam a vida das pessoas - do nascimento a morte, e serve de bússola para as relações políticas e sociais; que existem almas penadas interferindo nas vidas das pessoas e de espíritos que nos auxiliam (ou nos atormentam...); que o Nazismo é de esquerda, que no Brasil nunca houve ditadura e de que há até bancos comunistas*... Podemos afirmar que há elementos míticos no nosso senso comum? O que você pode ou tem a dizer sobre a proliferação dessas ideias? :hmm2:

Ideias e crenças infundadas que as pessoas se apoiam para justificar seus preconceitos e atitudes; erros, incertezas e dúvidas são inevitáveis para quem escolheu a razão e fazem parte do empreendimento científico. o_O

“A incerteza na Ciência é um dos elementos integrantes do processo de conhecimento e sua avaliação faz parte do método científico. A incerteza pode ser categorizada e abordada de vários pontos de vista, lógicos, matemáticos, filosóficos ou estatísticos, e é especialmente relevante quando a ciência faz previsões. A incerteza, em suma, é um elemento complexo que se refere à probabilidade de um evento ocorrer dentro de certos parâmetros, levando em conta, em proporções variáveis, o acaso, a imprevisibilidade, o desconhecimento de certos fatores envolvidos no fenômeno estudado ou deficiências inerentes ao método empregado em sua análise e interpretação. Apesar dos problemas gerados pela incerteza na ciência, ela não invalida previsões, pois levá-la em consideração torna as previsões de eventos futuros mais realistas e confiáveis do que as que a ignoram.” (...) “Desta maneira, fica evidente que a apresentação pública da ciência por trás de muitos desafios contemporâneos não está sendo eficiente, a incerteza tem sido um obstáculo maior do que deveria em todos os níveis, em vez de alavancar avanços e estimular a prudência, e a mensagem não está chegando ao seu público de forma clara e persuasiva o bastante para desencadear as respostas que os cientistas julgam necessárias. Porém, se são dados incentivos adequados e o debate é conduzido numa base ética de transparência e responsabilidade, as respostas adequadas aparecem e vastas mudanças podem ser produzidas em pouco tempo, como atestam inúmeros exemplos históricos.”


Bem... alguém aí colocou uma video do Deleuze, né... Se soubessem bem como o pensamento dele e do Guattari são permissíveis da legitimação daquilo que o ocidente moderno chama de "crenças" e "superstições" (...)
(...) Primeiramente eu vou tentar fazer aquilo que (segundo creio) nunca se deve fazer e procurar justificar qualquer posição que eu tome com base em minha formação acadêmica: Sou Historiador da Religião, formado pela UFMG, com formação complementar em Antropologia e Arqueologia da Religião e (podem acreditar) Matemática. Atualmente sou estudante do Mestrado em Ciência da Religião da UFJF, onde estudo Ciência Cognitiva e Psicologia Evolutiva da Religião, além de ser um futuro aspirante a uma vaga de Doutorado no Laboratório de Estudos Experimentais em Religião da Universidade de Masaryk, na República Checa. (...)

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Prazer em conhecer, meu nome é Alguém. :vinho:

Era um trecho duma entrevista (“O Abecedário de Gilles Deleuze”) que complementa a matéria da minha postagem (e todo o conteúdo atrelado); amizade, personalidades, peculiaridades dos indivídulos-amigos e a perspectiva-significado dos relacionamentos humanos. :D

Vamos considerar, didaticamente, que há basicamente três tipos de indivíduos com seus respectivos conhecimentos e maneiras de interpretar a realidade - que é a mesma para ambos: há os que veem a realidade como manifestação divina ou de “forças estranhas” a própria natureza física; há os que veem a realidade como apenas natureza física - sem tantas contradições entre seus objetos; e há aqueles que veem a realidade não só como natureza física - com suas variadas contradições, e que a interpretam como uma rede intrincada de relações entre sujeitos, e entre sujeitos e objetos. Você se enquadra em qual tipo? :hmm2:

Ou se discorda da forma que coloquei a questão, tudo bem, vou ser ainda mais preciso (e incisivo) no questionamento: qual seria a razão de estudar Religião e a se tornar Historiador da Religião? :hmm2:


(...) minha opinião sobre a religião fica pra depois, mas já vou avisando que não sou um teísta fanático, Cruzado de Deus ou coisa assim (afinal, sou humanista, ateu), sou apenas alguém que preza que toda e qualquer afirmação deve ser respeitosa e pautada na razão e embasamento.(...)

Complementando as perguntas anteriores: trata-se de puro interesse nas “forças ocultas”? Ou considera a atividade apenas um ofício (ou meio para melhorar de vida)? Ou melhor, uniu o útil ao agradável? :hmm2:


(...) Acho que uma boa leitura desse assunto seria interessante para ambos aqueles grupos que vêm postando nesse tópico... partidários de uma visão materialista/secularista ou aqueles que pregam uma perspectiva metafísica/religiosa da realidade (...)
(...) Em curtas palavras, sou um acadêmico humanista-ignóstico (ateu) que procura analisar as possibilidades de existência de uma teoria materialista (antropocêntrica) para isso que são as Religiões. (...)
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(...) “Presume-se, com frequência, que os intelectuais têm pouco ou nenhum poder político. Empoleirados em uma privilegiada torre de marfim, desconectados do mundo real, envolvidos em debates acadêmicos sem sentido sobre minúcias especializadas ou flutuando nas abstrusas nuvens da teoria dos grandes pensadores, os intelectuais são frequentemente retratados não apenas como isolados da realidade política como incapazes de ter qualquer impacto significativo nela. A Agência Central de Inteligência pensa o contrário. De fato, a agência responsável pelos golpes de Estado, os assassinatos direcionados e a manipulação clandestina de governos estrangeiros não só acredita no poder da teoria, como também dedicou recursos significativos para ter um grupo de agentes secretos dedicados a se debruçar sobre o que alguns consideram ser a mais recôndita e intrincada teoria já produzida.” (...) “A imagem de espiões americanos se reunindo em cafés parisienses para estudar assiduamente e comparar notas acerca dos sumos sacerdotes da intelligentsia francesa pode chocar quem presuma que um tal grupo de intelectuais seja luminar cuja sofisticação ultramundana jamais poderia ser capturada por uma batida policial tão vulgar, ou quem os assuma como sendo, ao contrário, charlatães de retórica incompreensível com pouco ou nenhum impacto sobre o mundo real.” (...) “Ao invés de proclamar ou lamentar a impotência dos intelectuais, devemos aproveitar a capacidade de falar a verdade ao poder trabalhando em conjunto e mobilizando nossa capacidade de criar coletivamente as instituições necessárias para um mundo aberto... Pois é somente em tal mundo, e nas caixas de ressonância que a inteligência crítica produz, que as verdades faladas podem realmente ser ouvidas e assim mudar...” [Gabriel Rockhill]


(...) Na sua obra “Uma Confissão”, Tolstoi descreve que, quando tinha 50 anos de idade e no auge de sua carreira, a convicção de que a vida não tinha sentido o angustiou profundamente:

“Há cinco anos, começou a acontecer-me algo muito estranho; ao princípio era dominado por minutos de perplexidade e depois uma paragem da vida, como se eu não soubesse como viver ou o que fazer, e ficava perdido e deprimido. Mas isso passou e eu continuei a viver como antes. Então esses momentos de perplexidade repetiram-se cada vez mais e sempre exatamente da mesma forma. Estas paragens da vida expressavam-se sempre através da mesma questão: “Porquê? Bem, e então?”

Ao ler (e ilustrar) o trecho, pensei que essa era simplesmente uma questão despropositada e inapropriada. Pareceu-me que era uma questão bem conhecida e que se quisesse dar-me ao trabalho de procurar a solução, não me custaria muito labor e se quisesse encontraria respostas adequadas. Mas as questões começaram a repetir-se cada vez mais e eram exigidas respostas cada vez mais complexas - que se tornavam outros pontos (ou os mesmos pontos) do mesmo plano até cair tudo num buraco negro...

Senti que tudo aquilo em que acreditava e que estava apoiado tinha desaparecido e que não tinha mais alguma base em que me apoiar; aquilo que aprendi e para que tinha vivido já não existia - e de fato nunca existiu, e que não tinha nada para que viver... apenas sobreviver.

Talvez quase todas as pessoas sensíveis e reflexivas tenham tido pelo menos alguns momentos de medo e angústia, e questões similares tenham aparecido em suas vidas. Minhas experiências não foram tão extremas quanto as de Tolstoi, mas foram marcantes... Não há resposta definitiva para a questão da origem e o sentido da vida.

Algumas pessoas em algum momento da existência já devem ter perguntado: Qual é o sentido da vida? Tem ela algum sentido? Qual o propósito de tudo isto? Qual a razão de ser de tudo isto? Parece evidente, então, que a questão do sentido da vida é uma das questões mais importantes. E é importante para todas as pessoas e não apenas para os filósofos. (...)
(...) Não estamos brincando de viver e há mais vida entre o céu e a terra, como disse Darwin. Até onde vai... ainda não se sabe... mas isso nunca impediu o homem de inventar deuses, seres míticos, ídolos e quimeras, e viver cegamente até encontrar um abrigo (ou um abismo). Abrimos as portas do pensamento para voarmos sobre idiossincrasias, paradigmas e teorias, acerda das coisas do mundo e de nós humanos - que existem e apenas isso. Cada um é um universo, uma perdição de subjetividade. Todos temos direito a SER! Mesmo jogados nesse mundo que não conhecemos, não podemos afirmar e nem mesmo negar muita coisa. Só sabemos que o mundo esta aí e somos algo que pensamos - o que pensar diante disto? O que fazer?(...)
O existencialismo de Sartre, por Adriano Pedroso.
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O existencialismo de Sartre é um projeto ambicioso: a interpretação total do mundo. Baseado principalmente na fenomenologia de Edmund Husserl e em “Ser e Tempo” de Martin Heidegger, o existencialismo sartriano procura explicar todos os aspectos da experiência humana. A maior parte deste projeto está sistematizada em seus dois grandes livros filosóficos: “O ser e o nada” e “Crítica da razão dialética”.

O Em-si

Segundo a fenomenologia e o existencialismo, o mundo é povoado de seres Em-si. Podemos entender um Em-si como qualquer objeto existente no mundo e que possui uma essência definida. Uma caneta, por exemplo, é um objeto criado para suprir uma necessidade: a escrita. Para criá-lo, parte-se de uma ideia que é concretizada, e o objeto construído enquadra-se nessa essência prévia. Um ser Em-si não tem potencialidades nem consciência de si ou do mundo. Ele apenas é. Os objetos do mundo apresentam-se à consciência humana através das suas manifestações físicas (fenômenos).

O Para-si

A consciência humana é um tipo diferente de ser, por possuir conhecimento a seu próprio respeito e a respeito do mundo. É uma forma diferente de ser, chamada Para-si. É o Para-si que faz as relações temporais e funcionais entre os seres Em-si e ao fazer isso constrói um sentido para o mundo em que vive. O Para-si não tem uma essência definida. Ele não é resultado de uma idéia pré-existente. Como o existencialismo sartriano é ateu, ele não admite a existência de um criador que tenha predeterminado a essência e os fins de cada pessoa. É preciso que o Para-si exista, e durante essa existência ele define, a cada momento o que é sua essência. Cada pessoa só tem como essência imutável, aquilo que já viveu. Posso saber que o que fui se definiu por algumas características ou qualidades, bem como pelos atos que já realizei, mas tenho a liberdade de mudar minha vida deste momento em diante. Nada me compele a manter esta essência, que só é conhecida em retrospecto. Podemos afirmar que meu ser passado é um Em-si, possui uma essência conhecida, mas essa essência não é predeterminada. Ela só existe no passado. Por isso se diz no existencialismo que “a existência precede e governa a essência”. Por esta mesma razão, cada Para-si tem a liberdade de fazer de si o que quiser.

A liberdade

Em decorrência disso, uma das afirmações mais conhecidas de Sartre é que “o ser humano está condenado à liberdade”. Isso significa que cada pessoa pode a cada momento escolher o que fará de sua vida, sem que haja um destino previamente concebido. Ao invés disso, as escolhas de cada um são direcionadas por projetos. Há vários tipos de projeto, como escrever um artigo na Wikipedia ou comprar uma casa, mas Sartre considerava que todas as pessoas são movidas por um projeto fundamental, o projeto de auto-realização, da transcendência. Todos temos o sonho de sermos pessoas que já realizaram todas as suas potencialidades, todos os projetos. Um ser que realizou tudo o que podia esgota suas potencialidades, torna-se um Em-si. Isso pode acontecer, por exemplo quando morremos. Nesse momento a consciência deixa de existir, e nos tornamos um ser de essência conhecida, completo e acabado. Mas a morte é uma contingência, algo que acontece sem que possamos evitar e impede a concretização de nossos projetos. Não é a morte a transcendência desejada. Sartre nos diz que o projeto fundamental é tornar-se um ser que já realizou tudo, mas preserva sua consciência, um ser Em-si-Para-si. Tal ser corresponde à noção que temos de Deus, um ser completo, sem limitações e com todas as suas potencialidades já realizadas, mas ainda consciente de si e do mundo. Em outras palavras, para Sartre, “o homem é um ser que "projeta tornar-se Deus”.

A liberdade é que torna possível escolher dentre todas as alternativas possíveis, aquela que vai nos levar a um caminho mais curto em direção ao projeto fundamental. Obviamente as pessoas estão sujeitas a limitações e contingências. Ela não pode sobrepujar seu limite físico e escolher que a partir de agora pode voar, mas pode agir, apesar destas limitações. Sartre explica que isso não diminui a liberdade. Pelo contrário, são as limitações que tornam a liberdade possível, pois se pudéssemos realizar instantaneamente qualquer coisa que quiséssemos, nós estaríamos no universo do sonho. No mundo real, são as limitações que me impõem escolhas. Mesmo um homem preso a uma cama pode ter a liberdade de querer se curar e andar. Esta é, para Sartre, a verdadeira liberdade da qual nenhum homem pode escapar: “não é a liberdade de realização, mas a liberdade de eleição. O importante não é o que o mundo faz de você, mas o que você faz com aquilo que o mundo fez de você”. Uma conhecida fala de Sartre sobre a liberdade é esta: “Uma vez que a liberdade explode no peito de um homem, contra este homem nada mais podem os deuses”.

A responsabilidade

Cada escolha carrega consigo uma responsabilidade. Se escolho ir a algum lugar, falar alguma coisa, escrever um artigo, tenho que ter consciência de que qualquer consequência desses atos terá sido resultado de minha própria escolha. E cada escolha ao ser posta em ação provoca mudanças no mundo que não podem ser desfeitas. Não posso, segundo o existencialismo, atribuir a responsabilidade por estes atos a nenhuma força externa, ao destino ou a Deus. Em cada momento, diante de cada escolha que faço, torno-me responsável não só por mim, mas por toda a humanidade. E faço isso por minha própria escolha, para que o mundo se torne mais como eu o projetei. Eis a essência da responsabilidade segundo os existencialistas: eu, por minha vontade e escolha ajo no mundo e afeto o mundo todo. É uma responsabilidade da qual não podemos fugir. Ser livre também tem que ser responsável, liberdade so dá certo quando o indivíduo age com responsabilidade.

A angústia

A responsabilidade por todo o mundo é um fardo pesado para qualquer pessoa. A angústia existencial decorre da consciência de que são as escolhas dessa pessoa que definem o que ela é ou se tornará. E também por saber que estas escolhas podem afetar, de maneira irreparável, o próprio mundo. A "angústia" decorre portanto, da consciência da liberdade e do receio de usar essa liberdade de forma errada.

É muito mais fácil acreditar que existe um plano, um propósito no Universo, e que nossos atos são guiados por uma mão invisível em direção a esse propósito. Neste caso, meus atos não seriam responsabilidade minha, mas apenas o meu papel em um roteiro maior. Mas Sartre nos dá mais um de seus conceitos em oposição a essa crença: Não há um propósito ou um destino universal. E o homem diante desta constatação se desalenta. O desalento é a constatação de que nada fora de nós define nosso próprio futuro. Apenas nossa liberdade.

A má-fé

Segundo Sartre, a má-fé é uma defesa contra a angústia e o desalento, mas uma defesa equivocada. Pela má-fé renunciamos à nossa própria liberdade, fazendo escolhas que nos afastam do projeto fundamental, atribuindo conformadamente estas escolhas a fatores externos, ao destino, a Deus, aos astros, a um plano sobre humano. Sartre também considerava a idéia freudiana de inconsciente como um exemplo de má-fé.

Ma-fé, no existencialismo, não é mentir para outras pessoas, mas mentir para si mesmo e permitir-se fugir de sua própria auto-determinação.

Quando Sartre refere-se à má-fé, ele o faz no sentido de que a mesma compreende mentir para si próprio. Porém, o fato de não utilizá-la leva o indivíduo à angústia uma vez que ele não mente mais para si, tendo consciência de que tudo aquilo que lhe ocorrera em vida é atribuído às suas escolhas, somadas evidentemente às suas limitações naturais, socilógicas, econômicas, históricas e culturais. Assim, não há como responsabilizar o destino ou qualquer providência divina pelos acontecimentos de sua vida. Diria Sartre: "Estamos sós e sem desculpas".

Ao abandonar a má-fé, o homem passa a viver em angústia, pois ele deixa de se enganar. Esta passagem do estado de má-fé para a o de angústia é extremamente importante para que o sujeito possa encontrar sua liberdade no âmbito metafísico.

Sartre e Kant: convergências

Immanuel Kant afirma que o ser racional tem a causalidade na vontade da mesma maneira como nos irracionais é a necessidade natural. Isso porém não serve para demonstrar a essência da liberdade do ser racional (Fundamentos da Metafísica dos Costumes, p. 101). Partindo da física mecânica onde a relação causa-conseqüência é dado universal, a vontade autônoma seria a causa, e a liberdade, a conseqüência. Assim, a vontade está submetida à lei moral ou o imperativo categórico, e, desta forma Kant, define sua máxima “age de modo que a máxima de tua vontade possa valer sempre, ao mesmo tempo, como princípio de legislação universal” tornando o dever uma possibilbidade. Num hipotético diálogo entre Sartre e Kant, o pensador francês diria ser mera ilusão a natureza humana, pois o homem é projeto inacabado de si mesmo, inserido num mundo absurdo e fadado a uma condição intransponível: ser livre! Partindo disso, deve-se entender que o ser livre é condição universal humana e esta condição não resulta em outra coisa senão o querer, sujeito livre, almejar a liberdade de todos os homens. Ambos colocam o ser humano na condição de sujeitos que não podem agir em conformidade com a má-fé, seja pelo dever ou pela liberdade: “O inferno são os outros”.

Críticas ao existencialismo sartriano

O existencialismo ateu de Sartre, por sua natureza avessa aos dogmas da igreja e da moral constituída, atraiu muitos grupos que viam na defesa da liberdade e da vida autêntica um endosso à vida desregrada - obviamente, por um erro na compreensão do que há de essencial na concepção de liberdade elaborada pelo filósofo francês. Por razões semelhantes foi vista por muitos como uma filosofia nociva aos valores da sociedade e à manutenção da ordem. Seria uma filosofia contra a humanidade. Esta é uma das razões porque toda a obra de Sartre foi incluída no Index de obras proibidas pela Igreja Católica.

Sartre responde a isso na conferência "O existencialismo é um humanismo" em que afirma que o existencialismo não pode ser refúgio para os que procuram o escândalo, a inconseqüência e a desordem. O movimento, segundo este texto, não defende o abandono da moral, mas a coloca em seu devido lugar: na responsabilidade individual de cada pessoa. O existencialismo prega uma moral laica em que nossas escolhas não são determinadas pelo medo da punição divina, mas pela consciência de nossa responsabilidade.

No meio acadêmico, o existencialismo foi criticado por tratar exclusivamente de questões ontológicas, e por sua defesa da auto-determinação. O existencialismo seria uma filosofia excessivamente preocupada com o indivíduo, sem levar em conta os fatores sócio-econômicos, culturais e os movimentos históricos coletivos que, segundo o marxismo e o estruturalismo, determinam as escolhas e diminuem a liberdade individual.

Em resposta a esta crítica, Sartre fez alterações ao seu sistema, e escreveu "A crítica da razão dialética" como tentativa de compatibilizar o existencialismo ao marxismo. Dos dois tomos planejados, apenas o primeiro foi publicado em vida em 1960. O segundo tomo, inacabado, foi publicado postumamente. Neste texto, afirma que "o marxismo é a filosofia insuperável de nosso tempo", e admite que enquanto a humanidade estiver limitada por leis de mercado e pela busca da sobrevivência imediata, a liberdade individual não poderia ser totalmente alcançada.

Não se pode negar sua duradoura influência sobre os mais variados ramos do conhecimento humano. Por ser muito voltado à discussão de aspectos formadores da personalidade humana, o existencialismo exerceu influência na psicologia de Carl Rogers, Fritz Perls, R. D. Laing e Rollo May. Na literatura, influenciou a poesia da Geração Beat, cujos maiores expoentes foram Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William S. Burroughs, além dos dramaturgos do chamado Teatro do absurdo. Sartre prova sua relevância até na TV contemporânea, onde o cultuado produtor Joss Whedon costuma inserir o existencialismo em seus projetos Buffy, a Caça Vampiros, Angel e Firefly - o que, através da repetição descontextualizada dos jargões existencialistas, acaba por contribuir para a incompreensão e reforça preconceitos já existentes. Através de suas contribuições à arte, Sartre conseguiu inserir a filosofia na vida das pessoas comuns. Esta continua a ser sua maior contribuição à cultura mundial.

Fonte: AB
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“Não existe nada tão mau, selvagem e cruel, na natureza, quanto os humanos normais.” (...) “Um ser humano só cumpre o seu dever quando tenta aperfeiçoar os dotes que a natureza lhe deu.” (...) “A verdadeira profissão do homem é encontrar seu caminho para si mesmo.” [Hermann Hesse]
 
“O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida.” (...) “Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.” [Carl Sagan]

Talvez a pergunta mais importante: alguém acredita em você? :hmm2:
Ao contrário de deuses, não dependo de crença para existir :cool:

E por curiosidade, depende do que para existir? :hmm2:

Tem alguma motivação existencial além de trabalhar para ganhar dinheiro, se alimentar, se vestir, pagar as contas e sobreviver? :hmm2:


Alguém acredita nesse tópico?
Esse tópico existe - está aqui para todos perceber (e ler; e refletir; e criticar; e opinar...), agora seu objeto de investigação... não é passível de observação (e experimentação). :haha3:

Alguém descobriu algo importante nesse tópico? :coolface:

“Para mim, é muito melhor compreender o Universo como ele realmente é do que persistir no engano, por mais satisfatório e tranquilizador que possa parecer.” (...) “Eu não quero acreditar, eu quero conhecer.” [Carl Sagan]
 
Bom... em Deus como é visto na Bíblia, não.

Mas acredito em um (ou mais ) arquitetos universais. Podemos partir do mundo microscópico, mas não vemos a olho nu; então vamos ao que podemos enxergar de fato. Percebamos por exemplo nossa disposição de órgãos, nervos, vasos... tudo isso, na minha visão, foi construído por alguém; fomos projetados, pois é tudo ajustado, muito planejado. Lógico, tem os "bugs" como doenças, anomalias... mas será que não seriamos uma versão beta de algo maior?

Se foi Deus, anjo, demonio, Alá que nos fez não sei. Mas que alguém fez, isso fez. E não é perfeito não...
 
Podemos afirmar que há elementos míticos no nosso senso comum? O que você pode ou tem a dizer sobre a proliferação dessas ideias?

Vamos considerar, didaticamente, que há basicamente três tipos de indivíduos com seus respectivos conhecimentos e maneiras de interpretar a realidade - que é a mesma para ambos: há os que veem a realidade como manifestação divina ou de “forças estranhas” a própria natureza física; há os que veem a realidade como apenas natureza física - sem tantas contradições entre seus objetos; e há aqueles que veem a realidade não só como natureza física - com suas variadas contradições, e que a interpretam como uma rede intrincada de relações entre sujeitos, e entre sujeitos e objetos. Você se enquadra em qual tipo? :hmm2:

Ou se discorda da forma que coloquei a questão, tudo bem, vou ser ainda mais preciso (e incisivo) no questionamento: qual seria a razão de estudar Religião e a se tornar Historiador da Religião? :hmm2:




Complementando as perguntas anteriores: trata-se de puro interesse nas “forças ocultas”? Ou considera a atividade apenas um ofício (ou meio para melhorar de vida)? Ou melhor, uniu o útil ao agradável? :hmm2:

Cara, não sei se entendi bem quais pontos do seu texto se direcionavam à minha pessoa (você o escreveu de uma forma "continentalista", pouco direta e nada pragmática, na minha opinião). Mas acho que (e corrija-me se estiver errado), somente, os quatro pontos destacados na "citação" que abre esta postagem se referem aos meus posts...

Primeiramente, e se entendi bem, acho que você se equivoca em seu uso dos termos mito e mitologia, aproximando-os daquilo que, hoje-em-dia, tratamos como crendice, conhecimento falacioso, ignorância e erro (tal uso do termo, se compreendi bem, é extremamente limitado e simplificador e já existe muita literatura boa a respeito da temática que refutaria, com toda a propriedade, essa intepretação). Agora, quanto ao estudo da existência e proliferação de ideologias e interpretações massificadas e contextualizadas de assuntos específicos, eu costumo utilizar e indicar aquelas análises que se valem da Teoria Memética ou da Epidemiologia das Representações, de Dan Sperber. Tratam-se de teorias robustas, advindas da Biologia e da Ciência Cognitiva, que tentam explicar como conceitos e ideias surgem e se proliferam (outra boa teorização seria a dos Conceitos Minimamente Contraintuitivos, de Pascal Boyer, mas tal perspectiva tem sido fortemente rebatida por experimentos e estudos contemporâneos)

Então, eu realmente acho que sua segunda colocação foi feita de forma muito simples e superficial (aliás, acredito que muito do que se tem conversado nesse tópico tem sido feito de forma extremamente simples e superficial, principalmente o uso deliberado de conceitos extremamente complexos, como Religião, Ciência, Racionalismo, ente outras coisas). Não acredito que seja possível, simplesmente, tal redução em apenas três tipos de indivíduos, embora seu terceiro "modo" (que parece se fundamentar, primariamente, na Teoria Ator-rede e na Simetria Universal de Latour) talvez se assemelhe mais à forma como "credito" a realidade (entretanto, na minha opinião, me identifico mais com a maneira como Ingold dissolve a relação entre sujeitos e objetos, ficando, apenas, com o conceito de "coisas", sem uma hierarquia de atuação bem-estabelecida).

Quanto à sua terceira pergunta, é difícil estabelecer um motivo claro para minha atuação acadêmico-profissional, mas eu acho que, como historiador e antropólogo (que são as formações que mais marcaram minha perspectiva atual) o tema da Religião acaba por ser tão visto em minha área que, de uma forma ou de outra, é natural surgir certo interesse por seu estudo. Mais pessoalmente, eu sempre tive grande curiosidade pelas questões das "origens" do ser humano, tanto quanto espécie como quanto ser social (sempre trabalhei com questões relacionadas à Antiguidade ou à Pré-história). Com isso em mente, e principalmente, sob a perspectiva histórico-antropológica vigente, é notório que duas das características definidoras do ser humano moderno foram o início das práticas ritualizadas de teor imaginativo (na "Revolução Criativa" do Paleolítico Superior, que definiu aquilo que chamamos de "comportamento moderno do Homo Sapiens") e a Institucionalização dos Sistemas Religiosos (na virada do Neolítico, que possibilitou a coesão grupal necessária para o estabelecimento das primeiras civilizações). Assim, minha "tara" pelas origens do ser humano acabou por me levar ao estudo das origens dos hábitos rituais e dos sistemas religiosos - que é o que faço desde o final de minha graduação (passando por minha Especialização e por meu Mestrado)

No que tange à sua última pergunta, eu não sei se a entendi bem. Não sei o que seriam as "forças ocultas" que você fala, até porque tenho uma visão naturalista do Universo e o mais perto que posso conceber de tal conceito seria algo como as vibrações energéticas dos blocos unidimensionais fundamentais que compõem tanto a energia quanto a matéria existentes (estou usando, aqui, uma simplificação da Teoria das Cordas). Se for isso, eu diria que minha resposta seria "não", até porque não sou físico teórico ou coisa do tipo. Agora, eu tenho interesse no estudo das crenças e hábitos que definiram o ser humano moderno e isso acabou por me levar à pesquisar ritual e religião, e eu gosto do que estudo (principalmente quando feito sob o paradigma cognitivo-evolucionista, que é o que aplico, tanto para a Historiografia das Religiões, quanto para a Antropologia das Religiões e para a Ciência Cognitiva e Psicologia das Religiões).

De certa forma, por ter estudado ritual e religião de uma forma acadêmica séria e metodologicamente rigorosa por tanto tempo, quando vejo tópicos que simplificam os conceitos e contextos de maneira tão grave eu acabo por tentar comentar a respeito, principalmente quando vários usuários se baseiam em argumentos de cientistas e filósofos que não estudam tais hábitos e fenômenos e, dessa forma, possuem, apenas, uma opinião informal sobre tais questões. O que proponho é que vocês tentem ler alguns estudos vindos do campo dos Estudos Rituais e dos Estudos da Religião, que são as áreas modernas e seculares de pesquisa nesse assunto (evitando se basear unicamente em textos teológicos, para a defesa de argumentos religiosos, ou em textos físicos e filosóficos, para seu detrimento).

Quando se trata do conceito de Ciência, também sugiro que leiam o que o campo da História da Ciência e da Filosofia da Ciência vem produzindo sobre o assunto. Acredito que muitos aqui tem em "Ciência" algo muito diferente daquilo que os estudos do campo concebem.

Minha dica final, principalmente no que tange aos Estudos da Religião (mas também aos Estudos da Ciência e da Produção Científica) é a de não se limitar ás leituras mais tradicionais (História, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Fenomenologia, Estudos Literários e Psicologia), mas que se aventurem nos novos campos da Ciência Cognitiva e dos estudos Evolutivos dos rituais, do fenômeno religioso e, até mesmo, da Ciência e da Produção Científica (principalmente se o leitor gostar de aplicar um olhar mais científico-naturalista na área - que é o meu caso).
 
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Bom... em Deus como é visto na Bíblia, não.

Mas acredito em um (ou mais ) arquitetos universais. Podemos partir do mundo microscópico, mas não vemos a olho nu; então vamos ao que podemos enxergar de fato. Percebamos por exemplo nossa disposição de órgãos, nervos, vasos... tudo isso, na minha visão, foi construído por alguém; fomos projetados, pois é tudo ajustado, muito planejado. Lógico, tem os "bugs" como doenças, anomalias... mas será que não seriamos uma versão beta de algo maior?

Se foi Deus, anjo, demonio, Alá que nos fez não sei. Mas que alguém fez, isso fez. E não é perfeito não...

Não vou entrar em mérito de religião mas para realmente contribuir com algo aqui eu ia entrar nesse mérito mesmo.

Alguns cientistas apareceram no Morning Show, que é um programa da Jovem Pan, para falar da teoria de um "ser inteligente" que poderia ter criado o planeta ou até mesmo o universo.

Ocorre que esses cientistas partem do principio que a teoria da evolução nunca foi comprovada o suficiente para se tornar uma "verdade cientificia incontestável". Continua sendo uma teoria que já tem mais de século que se tenta comprovar.

O legal dessa entrevista foi a fala deles no seguinte sentido. Esqueça um pouco a questão de "Deus". Pense na possibilidade de algo superior, dotado de inteligencia o suficiente para tornar as coisas deste planeta possíveis. Não é só ter as condições climáticas para a formação da vida, mas como ela se formou, como tão bela ela é como as coisas funcionam em um nivel detalhe impressionante.

Basicamente o que Dino comentou. Qual a probabilidade de se formar o ser humano puro e simplesmente do acaso e do caos? Para eles é mais fácil, e eles estão tentando fazer metodologia de estudo sobre isso, que tenha realmente uma mente superior. Daí isso ser Deus é outra questão. Não vou colocar a minha visão aqui pois só vai poluir a idéia que eu queria colocar.
 
(...)
Alguns cientistas apareceram no Morning Show, que é um programa da Jovem Pan, para falar da teoria de um "ser inteligente" que poderia ter criado o planeta ou até mesmo o universo.
Eu vou entrar na questão do que é uma teoria científica, uma "verdade científica" e como uma teoria é comprovada, então, eu acho que é necessário marcar a diferença aqui também. Os cientistas podem ter apresentado uma hipótese, porque não há nenhuma evidência nem mesmo um encadeamento lógico para explicar a existência de um ser inteligente anterior ao Universo. Aí entra a questão da Navalha de Occam, pensamento circular e outros problemas de lógica. Perceba que eu não estou falando que tal ser não exista, mas sim que não há nenhum motivo que corroborem a possibilidade de tal existência. TODAS, absolutamente TODAS, teorias científicas podem ter uma explicação absurda acrescentando pontos sem evidência ou demonstração. Exatamente por isso, pedimos primeiro a evidência, depois a correlação, depois a comprovação e, finalmente, elaboramos a causalidade. A hipótese de um ser superior criador de qualquer coisa não tem nenhum dos pontos, apenas, no melhor dos casos, um apelo à ignorância.

Ocorre que esses cientistas partem do principio que a teoria da evolução nunca foi comprovada o suficiente para se tornar uma "verdade cientificia incontestável". Continua sendo uma teoria que já tem mais de século que se tenta comprovar.
Nada é uma "verdade científica incontestável". Seja a Teoria da Evolução, a Teoria da Gravitação, a Teoria dos Vírus... nada é incontestável ou absoluto na ciência. Mas, para se contestar algo, precisa, primeiro, ter um bom embasamento (o que essa ideia do ser superior não tem), explicar coisas que não são explicadas pela teoria vigente (o que também não é o caso) e explicar onde estava o erro na compreensão anterior (que também não é o caso). Além disso, a Teoria Sintética da Evolução é uma das teorias mais "fortes" que existem, no sentido de ter muita comprovação, sim, não só verificando suas premissas (como a hereditariedade), como também suas previsões (como a genética, doenças congênitas e diversidade). Basicamente, tudo o que sabemos sobre Biologia, Medicina, Agronomia e, ainda em desenvolvimento, mas muito promissor, até na Psicologia, é uma comprovação da Teoria da Evolução.

O legal dessa entrevista foi a fala deles no seguinte sentido. Esqueça um pouco a questão de "Deus". Pense na possibilidade de algo superior, dotado de inteligencia o suficiente para tornar as coisas deste planeta possíveis. Não é só ter as condições climáticas para a formação da vida, mas como ela se formou, como tão bela ela é como as coisas funcionam em um nivel detalhe impressionante.
Essa ideia de "esquecer da questão de Deus" foi a mesma abordagem do Criacionismo quando eles "trocaram" o nome para Design Inteligente (que é um nome pomposo para essa ideia da inteligência superior). Mas a questão de "beleza da vida", funcionamento impressionante, são muito subjetivos, e qualquer pessoa que conheça Biologia ou Medicina, vai dizer que precisa olhar para um conjunto muito pequeno e limitado para concluir que há qualquer coisa planejada ou bela na forma como as coisas funcionam.

É claro que pode sempre se pensar que o que parece ser uma imperfeição, seja, na realidade, deliberado. Um ser inteligente superior poderia ter criado a espécie humana com uma coluna que não funciona bem em posição ereta, um sistema celular que tende ao surgimento de câncer e um sistema de sobrevivência baseado, em última instância, no predatismo desregrada. Particularmente, eu nunca vi ninguém defendendo essa ideia de um ser inteligente amoral, ou até mesmo imoral...

Basicamente o que Dino comentou. Qual a probabilidade de se formar o ser humano puro e simplesmente do acaso e do caos? Para eles é mais fácil, e eles estão tentando fazer metodologia de estudo sobre isso, que tenha realmente uma mente superior. Daí isso ser Deus é outra questão. Não vou colocar a minha visão aqui pois só vai poluir a idéia que eu queria colocar.
"Simplesmente" do acaso e do caos, ninguém acredita - porque a Teoria da Evolução explica muito bem como isso funciona, sem precisar apelar para o mero acaso e caos. Mas mesmo que esse fosse o caso, uma coisa que as pessoas esquecem é que uma probabilidade de ocorrência muito baixa só serve para estimar as chances de um evento FUTURO ocorrer. Porém, se o evento já ocorreu, essa probabilidade não serve para mais nada. As chances de acertar na mega sena são ínfimas - isso ajuda quem está indeciso se deveria jogar ou não, mas não diz nada sobre o sortudo que acertou os números do último jogo. Aliás, mesmo sendo tão pequenas as chances, já houve casos de mais de uma pessoa inclusive acertar.

Partir do princípio que a tal inteligência superior já exista não é ciência. E não, não é "mais fácil" elaborar uma teoria científica na qual uma inteligência superior exista anterior à criação do universo.
 
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Não vou entrar em mérito de religião mas para realmente contribuir com algo aqui eu ia entrar nesse mérito mesmo.

Alguns cientistas apareceram no Morning Show, que é um programa da Jovem Pan, para falar da teoria de um "ser inteligente" que poderia ter criado o planeta ou até mesmo o universo.

Ocorre que esses cientistas partem do principio que a teoria da evolução nunca foi comprovada o suficiente para se tornar uma "verdade cientificia incontestável". Continua sendo uma teoria que já tem mais de século que se tenta comprovar.

O legal dessa entrevista foi a fala deles no seguinte sentido. Esqueça um pouco a questão de "Deus". Pense na possibilidade de algo superior, dotado de inteligencia o suficiente para tornar as coisas deste planeta possíveis. Não é só ter as condições climáticas para a formação da vida, mas como ela se formou, como tão bela ela é como as coisas funcionam em um nivel detalhe impressionante.

Basicamente o que Dino comentou. Qual a probabilidade de se formar o ser humano puro e simplesmente do acaso e do caos? Para eles é mais fácil, e eles estão tentando fazer metodologia de estudo sobre isso, que tenha realmente uma mente superior. Daí isso ser Deus é outra questão. Não vou colocar a minha visão aqui pois só vai poluir a idéia que eu queria colocar.

Muito pertinentes suas colocações.

O interessante é que a cada ano que passa a ciência tende a corroborar a ideia desse "ser inteligente", donde surgiu toda a forma de vida, sendo um dos pontos marcantes a semelhança entre os DNA's das espécies, uma marca registrada desse veio comum.

A formação de um ser humano é muito complexa, o ato sexual, a tempestade, o universo, é toda uma estrutura muito bem organizada.
 
Simples: uns dizem em buracos negros, outros em Big Ben, mas ambos não são seres vivos com intenções, logo, para existirem precisariam da criação de alguém, por isso creio em Deus. Como um filósofo que eu gosto disse e eu concordo: não adianta fazer o bem para garantir lugar no paraíso ou para não ir para o inferno, você deve ser do bem porque quer, porque é, não porque quer recompensa. Outra: só você sabe das suas intenções. Outra: muita gente pode perguntar: onde está Deus?? Na verdade, e se ele não age porque ele acredita na nossa espécie, que ele criou, logo, se ele ajudasse em todo problema, isso mostra que somos seres fracos, se ele deixa a gente melhorar as coisas por nós mesmos, mostramos força, se as coisas estão muito complicadas, aí sim ele intervém, eu penso assim. Agora, independente da crença, julgarmos uns aos outros é complicado. Podemos julgar atos extremos, errados, mas nunca a crença de alguém, somos o que somos, sabemos o que somos e podemos mudar as nossas ideias, somos humanos, somos falhos, mas somos muitos em acerto também, se não acreditamos em nós o que seremos? Sobre Deus, creio, sinto ele, me faz bem, o amo, e é isso. Tudo de bom para todos!
 
“A Igreja é exatamente aquilo contra o qual Jesus pregou e contra aquilo pelo qual ensinou os discípulos a lutarem.” (...) “As civilizações industriais modernas são a mais vulgar forma de existência que foi possível de se ver até hoje. Se você quer viver, você é obrigado a se vender.” (...) “A necessidade nos obriga ao trabalho, e com o produto deste a necessidade é satisfeita; o contínuo redespertar das necessidades nos acostuma ao trabalho. Mas nos intervalos em que as necessidades estão satisfeitas e dormem, por assim dizer, somos assaltados pelo tédio. O que é o tédio? É o hábito do trabalho mesmo, que se faz valer como uma necessidade nova e adicional; será tanto mais forte quanto mais estivermos habituados a trabalhar, e talvez quanto mais tivermos sofrido necessidades. Para escapar ao tédio, ou o homem trabalha além da medida de suas necessidades normais ou inventa o jogo, isto é, o trabalho que não deve satisfazer nenhuma outra necessidade a não ser a de trabalho. Quem se fartou do jogo, e não tem novas necessidades que lhe deem motivo para trabalhar, é às vezes tomado pelo desejo de uma terceira condição, que está para o jogo assim como o pairar para o dançar, e o dançar para o caminhar, uma movimentação jubilosa e serena: é a visão da felicidade que têm os artistas e filósofos.” (...) “Já não sinto como vós: essa nuvem que vejo abaixo de mim, essa coisa negra e pesada da qual eu rio, justamente isso é vossa nuvem de tempestade. Olhais para cima quando buscais a elevação. Eu olho para baixo, porque estou elevado. Quem, entre vós, pode ao mesmo tempo rir e sentir-se elevado? Quem sobe aos montes mais altos, ri das tragédias do palco e da vida.” (...) “A minha ambição é dizer em dez frases o que os outros não foram capazes de dizer em livros inteiros.” [Nietzsche]
Ou se discorda da forma que coloquei a questão, tudo bem, vou ser ainda mais preciso (e incisivo) no questionamento: qual seria a razão de estudar Religião e a se tornar Historiador da Religião?
Quanto à sua terceira pergunta, é difícil estabelecer um motivo claro para minha atuação acadêmico-profissional, mas eu acho que, como historiador e antropólogo (que são as formações que mais marcaram minha perspectiva atual) o tema da Religião acaba por ser tão visto em minha área que, de uma forma ou de outra, é natural surgir certo interesse por seu estudo. Mais pessoalmente, eu sempre tive grande curiosidade pelas questões das "origens" do ser humano, tanto quanto espécie como quanto ser social (sempre trabalhei com questões relacionadas à Antiguidade ou à Pré-história). Com isso em mente, e principalmente, sob a perspectiva histórico-antropológica vigente, é notório que duas das características definidoras do ser humano moderno foram o início das práticas ritualizadas de teor imaginativo (na "Revolução Criativa" do Paleolítico Superior, que definiu aquilo que chamamos de "comportamento moderno do Homo Sapiens") e a Institucionalização dos Sistemas Religiosos (na virada do Neolítico, que possibilitou a coesão grupal necessária para o estabelecimento das primeiras civilizações). Assim, minha "tara" pelas origens do ser humano acabou por me levar ao estudo das origens dos hábitos rituais e dos sistemas religiosos - que é o que faço desde o final de minha graduação (passando por minha Especialização e por meu Mestrado)
E por curiosidade, depende do que para existir? :hmm2:

Tem alguma motivação existencial além de trabalhar para ganhar dinheiro, se alimentar, se vestir, pagar as contas e sobreviver? :hmm2:

Grato pelas respostas. É notável a sua sinceridade e honestidade intelectual. Espero que não leve nada do que eu disse (e estou dizendo) para o lado pessoal, é só minha maneira de expressar. E também, sou do tipo de gente que gosta mais de cooperar do que competir. :)

Sinceramente, tenho facilidade de dizer o motivo de ter feito processamento de dados (curso técnico do ensino médio) e ciência da computação (curso superior): na época, o foco era trabalhar em multinacional, ganhar bem e ter um bom padrão de vida.

Sobre o que tange as Ciências Humanas (e seus temas tratados), sempre foram meus objetos de investigação (nos momentos de lazer). Além é claro da Literatura e as Artes.

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“The philosopher in meditation” - 1632, Rembrandt.

Cara, não sei se entendi bem quais pontos do seu texto se direcionavam à minha pessoa (você o escreveu de uma forma "continentalista", pouco direta e nada pragmática, na minha opinião). Mas acho que (e corrija-me se estiver errado), somente, os quatro pontos destacados na "citação" que abre esta postagem se referem aos meus posts...
Não há nada de errado em acreditar em mitos (ou estudar as mitologias). Estou ciente de que os mitos fazem parte de determinadas áreas do conhecimento humano (que explicam circunstâncias que o pensamento lógico não pode descrever diretamente). Em geral, são ideias que trazem sentido e conformação diante do mundo.

Tais frases (ou pontos se assim preferir) foram para se ter certa “perspectiva continentalista, indireta e pragmática” (sim, pragmática) de tua pessoa. :coolface:

O ato de filosofar (ou melhor, pensar por si mesmo se sem ater em demasia a ideologias, conceitos, teorias, escritores e correntes filosóficas) é um hobby que complementa a existência (e tenho uma maneira peculiar não apenas de expressar, mas de interpretar e encarar a sociedade capitalista em que vivemos).

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“Sorrowing Old Man (At Eternity's Gate)” - 1890, Vincent van Gogh

Podemos afirmar que há elementos míticos no nosso senso comum? O que você pode ou tem a dizer sobre a proliferação dessas ideias?
Primeiramente, e se entendi bem, acho que você se equivoca em seu uso dos termos mito e mitologia, aproximando-os daquilo que, hoje-em-dia, tratamos como crendice, conhecimento falacioso, ignorância e erro (tal uso do termo, se compreendi bem, é extremamente limitado e simplificador e já existe muita literatura boa a respeito da temática que refutaria, com toda a propriedade, essa intepretação). Agora, quanto ao estudo da existência e proliferação de ideologias e interpretações massificadas e contextualizadas de assuntos específicos, eu costumo utilizar e indicar aquelas análises que se valem da Teoria Memética ou da Epidemiologia das Representações, de Dan Sperber. Tratam-se de teorias robustas, advindas da Biologia e da Ciência Cognitiva, que tentam explicar como conceitos e ideias surgem e se proliferam (outra boa teorização seria a dos Conceitos Minimamente Contraintuitivos, de Pascal Boyer, mas tal perspectiva tem sido fortemente rebatida por experimentos e estudos contemporâneos)

Teoria Memética, Epidemiologia das Representações, Conceitos Minimamente Contraintuitivos, Pascal Boyer e Dan Sperber: dei uma pesquisada e li um pouco sobre essas teorias e esses autores. Grato pela contribuição e sugestões. ;)

Então quer dizer que não há qualquer similaridade entre os termos “mito” e “mitologia”, e os termos “crendice”, “conhecimento falacioso”, “ignorância” e “erro”? Qual a diferença fundamental entre essas “gamas de mentiras”, ou se assim preferir, entre esses “termos”? :hmm2:

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“Self-Portrait (in distress)” - 1919, Edvard Munch.

Vamos considerar, didaticamente, que há basicamente três tipos de indivíduos com seus respectivos conhecimentos e maneiras de interpretar a realidade - que é a mesma para ambos: há os que veem a realidade como manifestação divina ou de “forças estranhas” a própria natureza física; há os que veem a realidade como apenas natureza física - sem tantas contradições entre seus objetos; e há aqueles que veem a realidade não só como natureza física - com suas variadas contradições, e que a interpretam como uma rede intrincada de relações entre sujeitos, e entre sujeitos e objetos. Você se enquadra em qual tipo?
Então, eu realmente acho que sua segunda colocação foi feita de forma muito simples e superficial (aliás, acredito que muito do que se tem conversado nesse tópico tem sido feito de forma extremamente simples e superficial, principalmente o uso deliberado de conceitos extremamente complexos, como Religião, Ciência, Racionalismo, ente outras coisas). Não acredito que seja possível, simplesmente, tal redução em apenas três tipos de indivíduos, embora seu terceiro "modo" (que parece se fundamentar, primariamente, na Teoria Ator-rede e na Simetria Universal de Latour) talvez se assemelhe mais à forma como "credito" a realidade (entretanto, na minha opinião, me identifico mais com a maneira como Ingold dissolve a relação entre sujeitos e objetos, ficando, apenas, com o conceito de "coisas", sem uma hierarquia de atuação bem-estabelecida).

Disse para considerar, e não criticar... mas tudo bem... e prosseguindo, suas críticas foram bem recebidas e vou dar minha contribuição (você é livre para concordar, discordar ou ignorar; acho que o mais importante é haver liberdade nos nossos diálogos e que cada um expresse da maneira que achar adequada).

Considerando que não sou professor de universidade, e não estamos no meio acadêmico, e sim num fórum - especificamente no tópico sobre a crença (ou descrença) em Deus (contendo inúmeras controvérsias, contradições e as opinião dos membros), considere que a Verdade, o Absoluto, o conceito puro ou a objetividade são vagos ou inexistentes (não estamos lidando com objetos das ciências naturais, exatas e nem com objetos das linguagens de programação), então que cada “alma-corpo” ou indivíduo-consciência expresse sua subjetividade-relatividade, manifeste a vontade ser o que é, e de seguir seu próprio caminho em função dos atos e valores que julgar mais elevados: acho que isso é tudo (ou nada; ou o suficiente). Mas posso aqui, sugerir um critério (e termos) que talvez soe bastante interessante aos “Espíritos Livres”: enquanto uns tendem a colocar a autoridade dos valores e conceitos fora de si mesmos, outros fazem exatamente o oposto - pois aqueles que são capazes de compreender e se fazer entender aos demais, a seu bel prazer e naquilo que desejarem expor, são muito mais livres do que aqueles cuja integridade intelectual limita sua percepção e ponto de vista àquilo que seu horizonte permite.

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“Portrait of Dr. Gachet” - 1890, Vincent Van Gogh.

Complementando as perguntas anteriores: trata-se de puro interesse nas “forças ocultas”? Ou considera a atividade apenas um ofício (ou meio para melhorar de vida)? Ou melhor, uniu o útil ao agradável?
No que tange à sua última pergunta, eu não sei se a entendi bem. Não sei o que seriam as "forças ocultas" que você fala, até porque tenho uma visão naturalista do Universo e o mais perto que posso conceber de tal conceito seria algo como as vibrações energéticas dos blocos unidimensionais fundamentais que compõem tanto a energia quanto a matéria existentes (estou usando, aqui, uma simplificação da Teoria das Cordas). Se for isso, eu diria que minha resposta seria "não", até porque não sou físico teórico ou coisa do tipo. Agora, eu tenho interesse no estudo das crenças e hábitos que definiram o ser humano moderno e isso acabou por me levar à pesquisar ritual e religião, e eu gosto do que estudo (principalmente quando feito sob o paradigma cognitivo-evolucionista, que é o que aplico, tanto para a Historiografia das Religiões, quanto para a Antropologia das Religiões e para a Ciência Cognitiva e Psicologia das Religiões). De certa forma, por ter estudado ritual e religião de uma forma acadêmica séria e metodologicamente rigorosa por tanto tempo, quando vejo tópicos que simplificam os conceitos e contextos de maneira tão grave eu acabo por tentar comentar a respeito, principalmente quando vários usuários se baseiam em argumentos de cientistas e filósofos que não estudam tais hábitos e fenômenos e, dessa forma, possuem, apenas, uma opinião informal sobre tais questões. O que proponho é que vocês tentem ler alguns estudos vindos do campo dos Estudos Rituais e dos Estudos da Religião, que são as áreas modernas e seculares de pesquisa nesse assunto (evitando se basear unicamente em textos teológicos, para a defesa de argumentos religiosos, ou em textos físicos e filosóficos, para seu detrimento).

“Sempre tive a curiosidade de entender por que se acredita na existência de deus. Quero dizer, eu sei que deus não existe, mas sei também que se acredita nele. E, se se acredita, deve haver algum motivo para isso — algum motivo humano.

Porém, como os próprios indivíduos que creem nesse tipo de “entidade” parecem ignorar esse tipo de detalhe, e como os ateus em geral contentam-se com refutações conceituais da existência divina, nunca foi fácil distinguir o melhor caminho a ser tomado para investigar esse tipo de questão.

Seria fácil demonstrar que crenças religiosas estão equivocadas quanto ao mundo exterior. Porém, a ideia nunca foi simplesmente rotulá-las como “equivocadas” e encerrar a discussão. Queria também entendê-las quanto àquilo em que estão certas — isto é, quanto ao nosso mundo interior. Noutras palavras, por que a crença religiosa funciona, se sabemos que é falsa?”
(...) [“Decifrando a crença religiosa”, André Cancian]

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“De Astronoom” - 1668, Johannes Vermeer.

Minha dica final, principalmente no que tange aos Estudos da Religião (mas também aos Estudos da Ciência e da Produção Científica) é a de não se limitar ás leituras mais tradicionais (História, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Fenomenologia, Estudos Literários e Psicologia), mas que se aventurem nos novos campos da Ciência Cognitiva e dos estudos Evolutivos dos rituais, do fenômeno religioso e, até mesmo, da Ciência e da Produção Científica (principalmente se o leitor gostar de aplicar um olhar mais científico-naturalista na área - que é o meu caso).

(...) “Sem a menor dúvida, a luta do cético é ingrata; ele estará sempre em minoria. Existem muito mais colunas sobre astrologia do que sobre astronomia ou ciência nos jornais e revistas do Brasil e do mundo. Mas, sem ceticismo, a sociedade estaria fadada a ser controlada por indivíduos oportunistas que se alimentam dessa necessidade muito humana de acreditar.

Ela existe para todos não há dúvidas. Mesmo o cético deve acreditar no poder da razão para desvendar os muitos mistérios que existem. A paixão que o alimenta é a mesma do crente, mas direcionada em sentido oposto.

Devido a esse ceticismo, muitas vezes os cientistas (incluindo este que lhes escreve) são acusados de insensibilidade. De jeito nenhum. Eu tenho grande respeito pelos que acreditam. O que me é difícil aceitar é a exploração que existe em torno dessa necessidade, a exploração da fé.”
(...)

“A religião não deve existir para tapar os buracos da nossa ignorância. Isso a desmoraliza. É verdade, não podemos ainda explicar de forma satisfatória a origem do Universo. Existem inúmeras hipóteses, mas nenhuma muito convincente.

Mesmo se tivéssemos uma explicação científica, sobraria uma outra questão: o que determinou o conjunto das leis físicas que regem este Universo? Por que não um outro? Existe aqui uma confusão sobre qual é a missão da ciência. Ela não se propõe a responder a todas as questões que afligem o ser humano.

A ciência, ou melhor, a descrição científica da natureza, é uma linguagem criada pelos homens (e mulheres) para interpretar o Cosmo em que vivemos. Ela não é absoluta, mas está sempre em transição, gradativamente aprimorada pela validação empírica obtida através de observações. A ciência é um processo de descoberta, cuja língua é universal e, ao menos em princípio, profundamente democrática: qualquer pessoa, com qualquer crença religiosa ou afiliação política, de diferentes classes sociais e culturas pode participar desse debate. (Claro, na prática a situação é mais complexa.)

Ela não terá jamais todas as respostas, pois nem sabemos todas as perguntas. O cético prefere viver com a dúvida do que aceitar respostas que não podem ser comprovadas, que são aceitas apenas pela fé. Para ele, o não-saber não gera insegurança, mas sim mais apetite pelo saber. Essa talvez seja a lição mais importante da ciência, nos ensinar a viver com a dúvida, a idolatrá-la. Pois, sem ela, o conhecimento não avança.”
(...) [“O Ceticismo do Cientista”, Marcelo Gleiser]

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“Melting Watch” - 1954, Salvador Dali.

Quando se trata do conceito de Ciência, também sugiro que leiam o que o campo da História da Ciência e da Filosofia da Ciência vem produzindo sobre o assunto. Acredito que muitos aqui tem em "Ciência" algo muito diferente daquilo que os estudos do campo concebem.

“O homem é um animal racional — pelo menos foi o que me ensinaram. No decurso de uma vida longa, procurei diligentemente indícios que apoiassem esta afirmação, mas até agora não tive a sorte de os encontrar, embora tenha percorrido vários países em três continentes. Pelo contrário, vi sempre o mundo afundar-se cada vez mais na loucura. Vi grandes nações, outrora líderes de civilização, transviadas por pregadores do disparate altissonante. Vi a crueldade, a perseguição e a superstição ganharem terreno, gradualmente, até quase chegarmos ao ponto em que, por elogiar a racionalidade, uma pessoa é tida por antiquada, como se, para seu infortúnio, tivesse sobrevivido a uma era obsoleta. Tudo isto é deprimente, mas a tristeza é uma emoção inútil. A necessidade de a evitar levou-me a estudar o passado com maior atenção do que antes lhe dedicara, tendo-me apercebido, como Erasmo, de que embora a loucura seja uma constante em todas as épocas, a humanidade sobrevive. Os excessos do nosso próprio tempo tornam-se mais toleráveis quando examinados contra o pano de fundo das loucuras do passado. Talvez o resultado deste esforço nos ajude a perspectivar o nosso próprio tempo, a vê-lo como não muito pior do que outras eras, em que os nossos antepassados viveram sem sucumbir à catástrofe.

Aristóteles foi, tanto quanto sei, o primeiro homem a declarar explicitamente que o ser humano é um animal racional. O seu motivo para defender tal ponto de vista não causa agora grande impressão; não era senão o fato de algumas pessoas serem capazes de fazer somas. Aristóteles pensava que há três tipos de alma: a alma vegetal, partilhada por todos os seres vivos, plantas ou animais, ligada apenas à nutrição e ao crescimento; a alma animal, relacionada com a locomoção e partilhada pelo homem com os animais inferiores; finalmente a alma racional, ou intelecto, que é a mente divina, mas na qual os seres humanos participam em maior ou menor grau, na razão direta da sua sabedoria. É em virtude do intelecto que o homem é um animal racional. O intelecto manifesta-se de várias maneiras embora isso seja mais evidente no domínio da aritmética. O sistema numérico grego era bastante mau, o que tornava a tabela de multiplicação bastante difícil, de modo que só as pessoas mais inteligentes conseguiam fazer cálculos complicados. Hoje em dia, contudo, as máquinas de calcular fazem somas melhor do que as pessoas mais inteligentes e no entanto ninguém argumenta que estes instrumentos tão úteis são imortais ou que funcionam por inspiração divina. À medida que a aritmética se foi tornando mais fácil, tornou-se menos respeitada. O resultado é que, apesar de muitos filósofos continuarem a tentar convencer-nos de como somos uns tipos porreiros, já não o fazem com base nas nossas aptidões aritméticas.

Como o espírito da época já não nos permite exibir as crianças que sabem somar como prova de que o homem é racional e a alma, pelo menos em parte, imortal, procuremos noutros sítios. Onde devemos procurar primeiro? Entre os distintos homens de estado, que tão triunfalmente conduziram o mundo ao estado em que se encontra? Ou devemos eleger os homens de letras? Ou os filósofos? Todos têm as suas pretensões, mas julgo que devemos começar por aqueles a quem todas as pessoas de bom senso reconhecem como os mais sábios, além de os melhores entre os homens, nomeadamente, o clero. Se eles se mostrarem incapazes de racionalidade, que esperança resta a nós, meros mortais? E infelizmente — embora o diga com todo o respeito — momentos houve em que a sua sabedoria não foi muito óbvia e, por estranho que pareça, foi precisamente nesses momentos que o clero teve mais poder.

A idade da fé, que os nossos neo-escolásticos tanto admiram, era o tempo em que o clero de tudo dispunha à sua maneira. A vida quotidiana andava cheia de milagres forjados por santos e feitiços perpetrados por demônios e espíritos. Queimaram-se muitos milhares de bruxas na fogueira. Os pecados humanos eram punidos com a pestilência e a fome, com terremotos, inundações e pelo fogo. E no entanto, por estranho que pareça, os homens eram ainda mais pecaminosos do que são hoje em dia. Muito pouco se sabia do mundo, em termos científicos. Alguns homens de letras conheciam argumentos gregos que defendiam que a terra é redonda, mas na sua maioria as pessoas troçavam da ideia dos antípodas. Era heresia supor que existiam seres humanos nos antípodas. Era letra comum (embora os católicos modernos adotem um ponto de vista mais moderado) que a maioria dos seres humanos estava condenada. Acreditava-se que em cada esquina espreitavam perigos. Os demônios metiam-se na comida que os monges estavam prestes a ingerir, apoderando-se dos corpos daqueles incautos que se esquecessem de fazer o sinal da cruz antes de cada colherada. As pessoas mais antiquadas têm ainda o hábito de exclamar “Santinho!” quando alguém espirra, mas a razão de tal hábito caiu no esquecimento. Isto devia-se à crença de que a alma das pessoas saía com o espirro e antes que pudesse voltar ao corpo este poderia ser possuído por demônios emboscados; mas se alguém exclamasse “Santinho!”, os demônios assustavam-se.

Ao longo dos últimos 400 anos, em que o gradual progresso da ciência mostrou aos homens como obter conhecimento dos processos naturais e domínio sobre as forças da natureza, o clero travou uma batalha perdida contra a ciência, na astronomia e na geologia, na anatomia e na fisiologia, na biologia, na psicologia e na sociologia. Desalojados de uma posição, instalavam-se noutra. Depois de sofrer a derrota na astronomia, fizeram o possível para evitar a ascensão da geologia; lutaram contra o darwinismo na biologia e atualmente lutam contra as teorias científicas da psicologia e da educação. Em cada fase, tentam fazer que o público se esqueça do obscurantismo anterior, de maneira que não se reconheça como tal o seu obscurantismo presente. Debrucemo-nos sobre alguns exemplos de irracionalidade entre o clero desde a ascensão da ciência para ver então se o resto da humanidade vai muito melhor.”
(...)

“Há duas formas de evitar o medo: uma delas é convencer-nos de que somos imunes ao desastre, a outra é praticando abertamente a coragem. A última é difícil e torna-se impossível para todos, para lá de certo ponto. A primeira sempre foi portanto a mais popular. A magia primitiva tem a função de garantir a segurança, quer prejudicando os inimigos quer protegendo o próprio através de talismãs, feitiços e encantamentos. Sem qualquer mudança substancial, a crença em tais maneiras de evitar o perigo sobreviveu ao longo dos muitos séculos de civilização babilônia, espalhando-se da Babilônia através do império de Alexandre e adquirida pelos romanos quando estes absorveram a cultura helênica. Dos romanos passou à cristandade medieval e ao islã. A ciência desintensificou a crença na magia; contudo, muitas pessoas têm mais fé nos amuletos do que se dispõem a admitir, e a feitiçaria, embora condenada pela igreja, continua a ser oficialmente um pecado praticável.

A magia, contudo, era uma forma primitiva de fugir aos terrores e além disso não muito eficaz, pois os feiticeiros malvados podiam sempre mostrar-se mais poderosos do que os bons. Nos séculos XV, XVI e XVII, o terror às bruxas e feiticeiros levou à morte de centenas de milhares na fogueira, condenados por tais crimes. Mas as crenças mais recentes, em particular no que diz respeito à vida futura, procuraram formas mais eficazes de combater o medo. Sócrates, no dia da sua morte (a acreditarmos em Platão), exprimiu a convicção de que na vida seguinte iria desfrutar a companhia dos deuses e heróis, rodeado de espíritos justos que jamais levantariam objeções aos seus argumentos infinitos. Platão, na sua República, deixou claro que o estado tem de impor o otimismo acerca da vida futura, não por este ser verdadeiro, mas por fazer que os soldados fiquem mais dispostos a morrer em batalha. Platão não tolerava quaisquer dos mitos tradicionais acerca do Hades, pois estes representavam os espíritos dos mortos como infelizes.

O cristianismo ortodoxo, durante a idade da fé, estabeleceu regras muito concretas para a salvação. Em primeiro lugar, a pessoa tem de ser batizada; depois, tem de evitar todos os erros teológicos; por fim, antes de morrer, tem de se arrepender dos pecados e receber a absolvição. Nada disto a salvaria do purgatório, mas garantiria a sua eventual entrada no céu. Nem era necessário saber teologia. Um eminente cardeal afirmou peremptoriamente que os requisitos da ortodoxia seriam satisfeitos se a pessoa murmurasse no leito de morte: “acredito em tudo o que a igreja acredita; a igreja acredita em tudo o que eu acredito”. Tais orientações bastante precisas deviam assegurar aos cristãos que encontrarão o caminho para o céu. Não obstante, o pavor do inferno persistiu e provocou, em tempos mais recentes, uma suavização dos dogmas relativamente a quem será condenado. A doutrina, professada por muitos cristãos modernos, de que toda a gente irá para o céu devia suprimir o medo da morte, mas, na verdade, este medo é demasiado instintivo para que se possa vencer facilmente. F. W. H. Meyers, a quem o espiritualismo converteu à crença numa vida futura, questionou uma mulher, que recentemente perdera a filha, acerca do que pensava que tivesse sucedido à alma dela. A mãe respondeu: “Bem, suponho que esteja a gozar a felicidade eterna, mas preferia que não falasse em assuntos tão desagradáveis”. Apesar de tudo aquilo de que a teologia é capaz, o céu continua a ser, para maioria das pessoas, um “assunto desagradável”.

As religiões mais refinadas, como a de Marco Aurélio e de Espinosa, preocupam-se ainda com a conquista do medo. A doutrina estoica era simples: defendia que o único bem verdadeiro é a virtude, da qual nenhum inimigo me pode privar; consequentemente, não há necessidade de temer os inimigos. A dificuldade estava em que ninguém podia acreditar verdadeiramente que o único bem era a virtude, nem mesmo Marco Aurélio, que, como imperador, procurou não apenas tornar virtuosos os seus súditos, mas protegê-los contra os bárbaros, a peste e a fome. Espinosa ensinou uma doutrina semelhante. Segundo ele, o verdadeiro bem consiste na indiferença face às riquezas mundanas. Ambos procuraram escapar ao medo fingindo que coisas como o sofrimento físico não são verdadeiramente más. Esta é uma forma nobre de fugir ao medo, mas continua a basear-se numa crença falsa. Se fosse genuinamente aceita, teria o efeito negativo de tornar os homens indiferentes, não apenas ao seu próprio sofrimento, mas também ao de outros.

Sob a influência do medo intenso, quase toda a gente fica supersticiosa. Os marinheiros que atiraram Jonas borda fora imaginaram que a sua presença era a causa da tempestade que ameaçava o navio de naufragar. Imbuídos de um espírito similar, os japoneses, quando do terremoto de Tóquio, lançaram-se a massacrar coreanos e liberais. Quando os romanos alcançaram a vitória nas guerras púnicas, os cartagineses convenceram-se de que o seu infortúnio se devia a um certo laxismo para com o culto a Moloch. Moloch gostava que lhe sacrificassem crianças, e preferia as da aristocracia; mas as famílias nobres de Cartago adotaram a prática de substituir secretamente os seus próprios filhos por crianças plebeias. Isto, acreditava-se, desagradou ao deus, e nos piores momentos até as crianças da mais alta aristocracia foram devidamente imoladas pelo fogo. Por estranho que pareça, os romanos saíram vitoriosos apesar desta reforma democrática por parte dos seus inimigos.

O medo coletivo estimula os instintos gregários e tende a gerar hostilidade para com aqueles que se não considera membros do rebanho. Assim foi durante a revolução francesa, quando o pavor aos exércitos estrangeiros criou o reino do terror. É de temer que os nazistas, à medida que a derrota se aproxima, intensifiquem a sua campanha de exterminação dos judeus. O medo gera impulsos cruéis e portanto cria as superstições que parecem justificar a crueldade. Não se pode esperar que um homem, uma multidão ou uma nação ajam humanamente ou pensem de modo saudável sob a influência do medo intenso. Por esta razão, os covardes são mais dados à crueldade do que os homens corajosos e também mais dados à superstição. Quando digo isto, penso em homens que são corajosos em todos os sentidos, não apenas no que respeita a enfrentar a morte. Muitos homens terão coragem de morrer heroicamente, mas não terão coragem de afirmar, ou mesmo de pensar, que a causa pela qual se lhes pede que morram é indigna. A calúnia é, para os homens na sua maioria, mais dolorosa do que a morte; essa é uma razão por que, em tempos de exaltação coletiva, tão poucos homens se atrevem a discordar da opinião dominante. Nenhum cartaginês renegou Moloch, porque fazê-lo exigia mais coragem do que a necessária para enfrentar a morte na batalha.

Mas temos sido demasiado severos. As superstições nem sempre são cruéis e sombrias; muitas vezes contribuem para a jovialidade da vida. Uma vez fui contatado pelo deus Osíris, que me deu o seu número de telefone; nessa altura, vivia num subúrbio de Boston. Embora não me tenha juntado aos seus seguidores, a carta deles encheu-me de prazer. Recebi frequentemente cartas de homens que se apresentavam como sendo o messias, pedindo-me que não omitisse nas minhas palestras este fato tão importante. Durante a lei seca, havia uma seita que defendia que a celebração da comunhão com whisky em vez de vinho; esta crença deu-lhes o direito legal ao abastecimento de bebidas espirituosas e a seita cresceu rapidamente. Há uma seita em Inglaterra segundo a qual os ingleses são as dez tribos perdidas; há uma seita mais austera, que defende serem apenas as tribos de Ephraim e Manasseh. Sempre que encontro um membro de uma destas duas seitas declaro ser membro da outra, e daqui resulta uma argumentação muito agradável. Gosto igualmente dos homens que estudam a grande pirâmide, com vista a decifrar a sua sabedoria mística. Muitos bons livros se escreveram sobre este assunto, alguns dos quais me foram apresentados pelos seus autores. É um fato singular que a grande pirâmide prediga sempre com exatidão o curso da história mundial até a data de publicação do livro em causa, mas que após essa data se torne menos fiável. Em geral, o autor espera, muito em breve, a ocorrência de guerras no Egito, seguidas pelo Armageddon e a vinda do anticristo, mas por esta altura já se identificou tanta gente com o anticristo que o leitor se deixa levar relutantemente ao ceticismo.

Admiro em particular uma certa profetiza que vivia na margem de um lago, a norte do estado de Nova Iorque, cerca do ano de 1820. Anunciou aos seus vários seguidores que tinha o poder de caminhar sobre a água e que comprometeu-se a fazê-lo às onze horas, numa certa manhã. Na hora anunciada, os milhares de fiéis reuniram-se na margem do lago. Ela falou-lhes, perguntando: “Todos vós estão convencidos de que posso caminhar sobre as águas?” Todos responderam em uníssono: “Estamos”. “Nesse caso”, anunciou ela, “não há necessidade de que o faça”. E todos foram para casa muito comovidos.

Talvez o mundo perdesse algum do seu interesse e diversidade se tais crenças fossem completamente substituídas pela ciência fria. Talvez nos possamos alegrar com os abecedarianos, assim chamados porque, tendo rejeitado todo o ensino profano, consideravam imoral que se aprendesse o abc. E podemos apreciar a perplexidade do jesuíta sul-americano que se perguntava como foi possível a preguiça ter viajado, desde o tempo do dilúvio, do Monte Ararat até ao Peru — uma viagem que parecia quase incrível, dada a lentidão dos seus movimentos. Um homem sábio desfrutará os bens que há em abundância, e de lixo intelectual encontrará abundante dieta, no nosso tempo como em qualquer outro.”
(...) [“Um esboço do lixo intelectual”, Bertrand Russell]​

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“Saibamos que viver uma vida entre bilhões de idiotas com a sensibilidade de moléculas é em si uma Arte.” [“Os cães latem facas”, Charles Bukowski.]

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Obra de Gabriel Ritter von Max.

“O braço mais vigoroso, quando lança um corpo leve, não pode comunicar-lhe bastante movimento para que voe longe e atinja o alvo. O corpo logo cairá ao chão porque carecia de substância material própria para absorver a força externa. Tal será também a sorte dos pensamentos elevados e belos, das obras mestras do gênio, quando, para recebê-las, há apenas cérebros insignificantes, débeis ou equivocados.

Isso é o que os sábios de todos os tempos, em uníssono, têm deplorado sem cessar. Por exemplo, disse Jesus, filho de Sirach: Quem fala com louco, fala com um que dorme.

Quando houver acabado, esse pergunta: Que há? E Hamlet diz: Um discurso eloquente dorme no ouvido de um tolo.

Goethe, por sua vez:

O ouvido de um tolo zomba da palavra mais sábia.

Novamente:

Teu esforço é vão, tudo permanece inerte. Não te desconsoles! Nenhum sino dobra quando se joga pedras na lama.

E Lichtenberg diz: Quando uma cabeça e um livro colidem, e produz-se um som oco, isso provém sempre do livro? Novamente: Tais obras são como espelhos; quando um macaco olha nelas, não se pode ver um apóstolo. O belo e comovente lamento do velho Geller também merece ser lembrado:

Quantas vezes as melhores qualidades encontram menos admiradores. Quantos homens tomam por bom o mau! Esse é um mal que se observa todos os dias, porém, como evitar essa peste? Duvido que possa ser erradicada desse mundo. Não há mais que um só meio na terra, porém é infinitamente difícil. Que os tolos se façam sábios. Porém, como? Isso nunca serão. Desconhecem o valor das coisas. Julgam pela vista, não pela razão. Elogiam constantemente o que é pequeno, porque nunca conheceram o que é bom.”
[“O Leitor de Cérebro Insignificante” - Aforismos Para a Sabedoria de Vida, Arthur Schopenhauer]
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“Porque o mundo é redondo, eu fico excitado
Porque o mundo é redondo
Porque o vento está forte e sopra minha mente
Porque o vento esta forte
Amor é velho, amor é novo
Amor é tudo, amor é você
Porque o céu é azul, me faz chorar
Porque o céu é azul...”

“Em si mesma toda ideia é neutra ou deveria sê-lo, mas o humano a anima, projeta nela suas paixões e suas demências; impura, transformada em crença, se insere no tempo, adota a forma de acontecimento: o passo da lógica para a epilepsia está consumado… Assim nascem as ideologias, as doutrinas e as farsas sangrentas. Idólatras por instinto tornam incondicionados os objetos de nossos sonhos e de nossos interesses. A história não é mais do que um desfile de falsos Absolutos, uma sucessão de templos em honra de pretextos, um aviltamento do espírito ante o Improvável. Mesmo quando se afasta da religião, o homem permanece sujeito a ela; consumindo-se em forjar simulacros de deuses, os adota depois febrilmente: sua necessidade de ficção, de mitologia, triunfa sobre a evidência e o ridículo. Sua capacidade de adorar é responsável por todos os seus crimes: ele que ama indevidamente a um deus obriga os outros a amá-lo, planejando exterminá-los se recusam. Não há intolerância, intransigência ideológica ou proselitismo que não revelem o fundo bestial do entusiasmo. Que perca o homem sua faculdade de indiferença: converte-se num potencial assassino; que transforme sua ideia em deus: as consequências são incalculáveis. Nunca se mata tanto quanto se mata em nome de um deus ou de seus sucedâneos: os excessos suscitados pela deusa Razão, pela ideia de nação, de classe ou de raça são semelhantes aos da Inquisição ou da Reforma. As épocas de fervor se sobressaem nas façanhas sanguinárias: Santa Tereza não podia deixar de ser contemporânea dos autos de fé e Lutero da matança dos camponeses. Nas crises místicas, os gemidos das vítimas são paralelos dos gemidos de êxtase... Patíbulos, calabouços e masmorras nunca prosperam tanto quanto à sombra de uma fé, dessa necessidade de crer que tem infestado os espíritos para sempre. O diabo empalidece junto a quem dispõe de uma verdade, de sua verdade. Somos injustos com os Neros ou os Tibérios: eles não inventaram o conceito de herético: não foram senão sonhadores degenerados que se divertiam com as matanças. Os verdadeiros criminosos são os que estabelecem uma ortodoxia sobre o plano religioso ou político, os que distinguem entre o fiel e o cismático. Enquanto nos recusarmos a admitir o caráter intercambiável das ideias, o sangue corre... Debaixo das resoluções firmes se ergue um punhal; os olhos inflamados pressagiam o crime. Jamais o espírito da dúvida, afligido pelo hamletismo, foi pernicioso: o princípio do mal reside na tensão da vontade, na inépcia para o sossego, na megalomania prometeica de uma espécie que reinventa o ideal, que arrebenta debaixo de suas convicções e a qual, por haver-se comprazido em depreciar a dúvida e a preguiça — vícios mais nobres do que todas as virtudes —, se embrenhou num caminho de perdição, na História, nessa mescla indecente de banalidade e apocalipse… Ela está plena de certezas: suprime-as e suprimireis sobretudo as suas consequências: reconstituireis o paraíso. O que é a Queda senão a busca de uma verdade e a certeza de havê-la encontrado, a paixão por um dogma, o estabelecimento de um dogma? Disso resulta o fanatismo — tara capital que dá ao homem o gosto pela eficácia, pela profecia e pelo terror — lepra lírica que contamina as almas, as submete, as tritura e as exalta... Só escapam os céticos (ou os preguiçosos e os estetas), porque não propõem nada, porque — verdadeiros benfeitores da humanidade — destroem os preconceitos e analisam o delírio. Sinto-me mais seguro junto a um Pirro do que junto a um São Paulo, porque um saber de anedotas é mais doce do que uma santidade desenfreada. Em um espírito ardente encontramos a ave de rapina disfarçada; não poderíamos nos defender com êxito das garras de um profeta... Quando eleva a voz, seja em nome do céu, da cidade ou de outros pretextos, afastai-vos dele: Sátiro de vossa solidão, não os perdoa o viver sem as suas verdades e seus arrebatamentos; quer fazê-los compartilhar de sua histeria, do seu bem, impô-lo a nós e desfigurar-nos. Um ser possuído por uma crença e que não buscasse comunicá-la a outros é um fenômeno estranho ao mundo, donde a obsessão pela salvação torna a vida irrespirável. Olhem em torno de vós: Por toda parte vermes que predicam; cada instituição traz uma missão; os povoamentos têm seu absoluto como templos; a administração com os seus regulamentos: metafísica para uso de macacos… Todos se esforçam por remediar a vida de todos: aspiram a isto até os mendigos, inclusive os incuráveis; as calçadas do mundo e os hospitais estão cheios de reformadores. A ânsia de chegar a ser fonte de acontecimentos atua sobre cada um como uma desordem mental ou uma maldição livremente escolhida. A sociedade é um inferno de salvadores. O que buscava Diógenes com sua lanterna era um indiferente... Basta que eu escute alguém falar sinceramente de ideal, futuro, de filosofia, escutá-lo dizer “nós” com uma inflexão de segurança, convocar os “outros” e sentir-se seu intérprete, para que o considere meu inimigo. Vejo nele um tirano falido, quase um verdugo, tão odioso como os tiranos e verdugos de grande classe. É que toda fé exerce uma forma de terror, tanto mais temível quando os “puros” são os seus agentes. Suspeita-se dos ladinos, dos velhacos, dos trapaceiros, entretanto, não saberíamos imputar-lhes nenhuma das grandes convulsões da história; não acreditando em nada, não espionam vossos corações, nem vossos pensamentos mais íntimos; os abandonam a vossa acomodação, o vosso desespero ou a vossa inutilidade; a humanidade lhes deve os poucos momentos de prosperidade que tem conhecido; são eles os que salvam os povos que os fanáticos torturam e os “idealistas” arruínam. Sem doutrinas, não têm mais do que caprichos e interesses, vícios acomodatícios, mil vezes mais suportáveis do que o despotismo dos princípios; porque todos os males da vida vêm de uma “concepção de vida”. Um homem político educado deveria aprofundar-se nos sofistas antigos e tomar lições de canto; e de corrupção. O fanático é incorruptível: assim como mata por uma ideia, pode igualmente morrer por ela; nos dois casos, tirano ou mártir, é um monstro. Não há seres mais perigosos que os que sofreram por uma crença: os grandes perseguidores se recrutam entre os mártires aos quais não se cortou a cabeça. Longe de diminuir o apetite pelo poder, o sofrimento o exaspera: por isso o espírito se sente mais a gosto na companhia de um fanfarrão do que de um mártir; e nada lhe repugna tanto como esse espetáculo no qual se morre por uma ideia. Farto do sublime e de carnificinas sonha com um tédio provinciano a escala universal, com uma História cujo estancamento seria tal que a dúvida se apresentaria como um acontecimento e a esperança como uma calamidade.” [“Genealogia do fanatismo”, Emil M. Cioran]
 
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