- Não entendo que o assunto da dívida pública brasileira seja político. É uma questão econômica, fiscal, matemática e técnica, com grande repercussão em temas essenciais para nós gamers, como: dólar, inflação, poder de compra, interesse de grandes empresas (Sony, Microsoft, etc) no Brasil, etc.
- Minha divergência é com relação à dívida pública. Você traz outros assuntos paralelos como renúncia fiscal, mudança no sistema tributário, má gestão dos gastos, etc, que não vou comentar porque concordo com boa parte das críticas e porque não dizem respeito ao cerne da questão.
- Dizer que o refinanciamento da dívida consome boa parte do orçamento é uma meia verdade. O Brasil não gasta R$ 1,00 do que arrecada para refinanciar a dívida por um motivo muito simples: o que arrecada não consegue nem pagar os gastos correntes, resultando em déficit primário desde 2014. O que ocorre é uma questão contábil: as dívidas vencidas e o déficit primário entram no orçamento geral como despesas e as novas dívidas entram no no orçamento geral como arrecadação. Algumas pessoas tiram isso de contexto e fazem a afirmação falsa que muito do que o Brasil arrecada é destinado ao refinanciamento da dívida, o que é falso. O Brasil apenas refinancia dívida velha com dívida nova.
- Essa narrativa que a dívida pública brasileira nunca foi auditada e está cheia de irregularidades parece aquele discurso radical negacionista de que as mortes totais por COVID são falsas e estão inflando os números, sem nunca apresentarem qualquer prova. O orçamento geral e a dívida pública é auditada/analisada constantemente pelo Tribunal de Contas da União - TCU e pelo Ministério Público da União - MPU e nunca foi encontrada qualquer irregularidade que esses grupos negacionistas em economia alardeiam há tantos anos, mas nunca apresentaram uma prova sequer.
- A dívida externa brasileira é pequena. O grande problema é a dívida interna proveniente da emissão de títulos da dívida pública. Falar em quitar a dívida pública é piada. Hoje, a dívida é impagável. Na verdade até falar em amortizar a dívida é piada, visto que o que o Brasil arrecada não paga nem os gastos correntes da máquina pública que tem déficit primário há muitos anos. Ou seja, todo ano o Brasil faz novas dívidas para pagar as dívidas vencidas e ainda o déficit primário (os gastos correntes que a arrecadação não conseguiu pagar), aumentando a dívida numa proporção assustadora, uma bola de neve fiscal.
- A única maneira de amortizar a dívida pública brasileira seria privatizando grandes empresas públicas, mas geralmente para quem é negacionista com relação à gravidade da situação fiscal do país, a palavra privatização é o pior palavrão do dicionário.
- Para quem não sabe da gravidade do cenário fiscal brasileiro e de como isso prejudica o mercado de games, segue uns dados de 2020 e tabelas:
Arrecadação: R$ 1,479 trilhões
Despesa: R$ 2,256 trilhões
Déficit Primário: R$ 777 bilhões
Tamanho da dívida Pública: R$ 6,670 trilhões (90% do PIB), em números absolutos a maior da América Latina, só perdendo proporcionalmente para a da Argentina.
Esse assunto é muito importante, porque desde 2014 a situação está completamente descontrolada e se a dívida pública não for controlada, o Brasil vai para um buraco muito pior do que atualmente ele se encontra.
Fonte recomendada:
www.tesourotransparente.gov.br