Senhores, para distração, segue mais um conto do espaço.
A Escolta.
Sistema Wolf 1458, estação Townshand.
Sentado em sua cama, enquanto termina de arrumar sua bagagem, Thomas assiste às últimas notícias pós guerra, onde a facção da Blop acabou com a tirania e pacificou a região, expulsando ou destruindo os últimos traficantes e piratas da região.
Piloto de escolta, aprendeu a voar ainda jovem, quando acompanhava seu pai sobre os campos de trigo do planeta Wangkwan e em suas missões a bordo da T9 da família, fazendo mapeamento geológico com drones nos asteróides de gelo em Melingoi A3. Voar nos anéis lhe permitiu ganhar reflexos apurados e rápida resposta a imprevistos, inclusive ajudando no desenvolvimento do sistema de vôo dos modernos limpets de prospecção, o que lhe trouxe até alguma fama à época. Com a deterioração do sistema e a fuga dos investidores, viu no serviço de segurança uma saída para a crise e acabou tornando-se um dos melhores pilotos de escolta do sistema.
Com o fim da guerra e a retomada gradual da economia, fora contratado para fazer a segurança de uma Beluga Liner da nova cia de viagens , a Edge of Horizons, especializada em transporte de passageiros de alto luxo, dispostos a viajar para os locais mais ermos e exóticos da galáxia. As coisas estavam indo muito bem e mais três novas naves foram adquiridas para expansão do negócio e já estavam em produção.
Era sua quinta viagem com a empresa, com viagens tranquilas de três a quatro semanas, geralmente para o centro da galáxia, com viajantes querendo ver buracos negros ou passear pelos vales gelados nunca tocados de planetas próximos a beagle point. Neste período, a única ação foi quando um passageiro pagou a mais para voar em seu Condor ao redor da nave, pilotado por realidade virtual sináptica.
Bagagem pronta, chega a doca e a enorme nave de cruzeiro chamada Nebula já está na superfície, sem movimento de passageiros, o que é estranho, terão todos embarcado já? O comandante acena, esta na hora de partir.
Já em sua cabine, enquanto ainda terminava de vestir seu traje, dois guardas com uniforme da polícia planetária adentram e pedem que os acompanhe até a sala de briefing. Sem entender o que estava acontecendo, o capitão e dois oficiais o aguardavam e é informado da natureza de nossa missão. O capitão, um pouco constrangido, relata que por se tratar de um contrato ultra-secreto, não poderia revelar o que estava acontecendo antes de todos estarem a bordo. A Edge of Horizons fora contratada para transportar o temido criminoso e pirata Boca de Lata, nada menos que o braço direito do próprio Archon Delaine, o rei pirata e era este, o motivo de toda a segurança a bordo. A idéia era transportar furtivamente o prisioneiro, sem chamar a atenção, até o sistema penal de Hotis, o entregando na penitenciária de segurança máxima do planeta vulcânico de Astória. Ao menos, diz o capitão, o bônus será muito generoso.
Uma viagem longa, 10.000LY, não podendo transitar pela nave, ficando restrito basicamente ao refeitório, sua cabine e o hangar do fighter, sempre monitorado pelos guardas que praticamente estavam em todos os módulos da nave. Para passar o tempo, Thomas montava e desmontava o Condor, além de revisar os materiais e as placas da "impressora industrial" onde eram remontados caso sofressem algum acidente, milhares de componentes estocados eram a matéria prima para que os braços mecânicos e todo tipo de sensores "imprimissem" um novo em questão de minutos. Os soldados sempre se mostravam muito curiosos com os equipamentos e era um prazer explicar os detalhes, ajudava a passar o tempo.
Finalmente, o sistema prisional, a viagem transcorrera sem qualquer imprevisto e uma sensação de alívio tomou conta de todos quando a nave de cruzeiro alinhou com o planeta Astoria e adentrou sua atmosfera cáustica extremamente volátil, cuja superfície está constantemente em descompressão e a paisagem nunca é a mesma. Se existe um lugar no universo que se pareça com o próprio inferno, aqui é a referência e, pelo visto, é aqui que deixarão o diabo.
Uma sacudida e a nave entra em Glide, a 130 km da prisão, quando um impacto a arranca da planagem obrigando os motores, em potência máxima, a lutarem para compensar a força gravitacional, o alarme é acionado e tudo sacode violentamente para todos os lados os arremessando para o fundo do hangar. O impacto é forte, a nave toda range, explosões acontecem por todos os lados, pela escotilha, Thomas vislumbra o nome CÉRBERUS gravado no casco que emergia em meio à fumaça em uma enorme Anaconda preta e vermelha, a aranha estampada não deixa mais dúvidas, é o próprio Archon Delaine que esta a bordo, estão atrás do ilustre passageiro, é possível ver ainda diversas Vultures e Fer De lance, impossível descobrir o número correto . Sem defesas efetivas, nossa nave é rapidamente subjugada, e já é possível ouvir o casco rangendo, a porta do hangar já esta sendo derretida pelo hatch breaker, estão preparando para a abordagem.
Vários soldados se posicionam, fazendo a linha de defesa, sem saber para onde ir, encurralado, Thomas só vê uma saída, esconder-se dentro do Condor e torcer para não ser visto...
A porta sede, e o hangar é tomado pelo caos e destruição, lasers destroem tudo, os corpos já se amontoam pelo chão e tudo acaba rapidamente, os soldados foram massacrados e os que não caíram estão rendidos, malditos piratas, já estão atacando a comporta de contenção, em breve eles terão acesso ao restante da nave.
Thomas ainda não fora visto, pensa que se continuar ali não será descoberto e sobreviverá para contar essa história. Então ele escuta a conversa entre dois assaltantes, pretendem matar todos os que resistirem, os que se entregarem, serão feitos escravos nas minas de lítium , um destino pior que a morte e, ao partirem, o próprio boca de lata irá disparar os torpedos que porão fim a tudo, isso tudo em tom de deboche, típíco destes vermes.
Thomas esta possesso, que levem o desgraçado, mas a tripulação é inocente e olha para o laser caído próximo a nave, pensa que poderá levar alguns com ele... só que, ele tem uma "arma melhor", ele esta montado em uma!
Silenciosamente, se ajeita no assento do fighter, o combustível esta no máximo e as armas operacionais. Apesar de o sistema de lançamento estar destruído, todo o resto funciona. Ao ativar o sistema manual e acionar os motores, o Condor esta pronto para decolar. Imediatamente os escudos sobem e o pequeno bólido começa a flutuar. Os piratas à frente nem vêem o que os estraçalha, as metralhadoras cospem fogo e morte e Thomas é tomado pelo frenesi da vingança, as armas dos assaltantes são inúteis e os disparos ficam nos escudos, enquanto os projéteis fumegantes varrem todo o hangar, não restando nenhum assassino de pé.
Os soldados rendidos vibram com a reviravolta, até que mísseis passam como vespas mortais atingindo o que encontram pela frente, duas vultures se posicionam ao lado da nave e começam a destruir todo o hangar...
Thomas não tem escolha, a Beluga não resistirá a mais danos, precisa atrair o combate para longe da nave e rezar para que um milagre aconteça e assim o faz, disparando entre as naves inimigas em direção a superfície do planeta, sendo seguido pelos algozes. Duas vultures e uma Fer-de-Lance já estão ao seu encalço, os escudos estão críticos e só resta utilizar a agilidade do fighter para sobreviver, em uma súbita manobra, reverte os thrusters e se vira para seus oponentes, os alvejando em espiral e mergulhando ainda mais no planeta, conseguindo se afastar, em direção à prisão. Os contatos pelo rádio são inúteis, eles devem estar bloqueando o sinal e sua única esperança é conseguir chegar lá e buscar socorro. Seus perseguidores vão ficando para trás, não são páreos para a velocidade do Condor, até que explosões terminam com sua mísera esperança, em seu encalço um imperial fighter preto se aproxima, ele é mais rápido e seus pulse lasers já estão castigando o escudo. O combate se inicia e Thomas se volta para o fighter inimigo, agora é matar ou morrer.
Sem saída, um combate mortal se inicia, com os escudos já fracos, Thomas está em desvantagem e não consegue se livrar do maldito, aquela batalha o esta atrasando, permitindo que os outros inimigos se aproximem, ele precisa se livrar rápido do fighter imperial. Então mergulha ainda mais no planeta, e passa a pilotar a apenas alguns metros do solo planetário em direção a estação prisional, seguido de perto pelo bólido inimigo. Tudo passa muito rápido, um borrão lateral é tudo que se pode ver através do túnel formado pela velocidade. Os clarões dos lasers lambem o solo a sua frente, a saraivada das armas inimigas já atingem o hull, a qualquer momento tudo pode acabar, quando, duas bolas de fogo passam em sentido contrário e varrem o fighter negro, seguido por duas eagles, ele conseguira chegar ao alcance dos radares de curta varredura da estação prisional, logo em seguida, duas federal assault passam escoltando uma gunship e já dão engage em seus outros algozes.
A sensação de alívio é fugaz, Thomas sabe que os seus inimigos não chegarão perto das defesas da estação e a sua frota aérea não conseguirá deter os piratas. Com os escudos de volta, só lhe resta retornar para o combate.
Uma das eagles fora pulverizada e a outra estava em fuga, as Vultures já estavam em cima da nave líder e a fer-de-lance estava castigando uma das FAS.
Sem poder ajudar, com as multcannons falhando, dispara com o Condor em direção a Beluga liner, ao se aproximar, a Anaconda já esta se afastando, levando embora o maldito boca de lata.
Muito danificada, Nebula começa a desestabilizar, o rombo no casco não deixa dúvida que os piratas cumpriram sua promessa, os torpedos a "feriram de morte" e a enorme Beluga esta caindo.
Por este mesmo rombo, o pequeno Condor adentra a nave e Thomas sai a procura de sobreviventes, ao passar pelo corredor de manutenção, escuta sons surdos de socorro, a tripulação esta trancada deixada à mercê para afundar e queimar junto. Com uma barra consegue romper a trava que impedia o acesso ao botão de comando da porta libertando a todos. O capitão, muito ferido, e duas navegadoras são o que restou de toda a tripulação, os demais foram mortos ou levados como escravos.
Não há tempo, os alarmes estão todos disparados, a qualquer momento a nave pode tocar a superfície de rocha derretida, os pods de fuga foram feitas para suportar o frio do espaço ou para caírem em superfície, não suportarão o calor da lava derretida, só resta uma saída, o Condor.
Em uma maca improvisada, carregam o capitão para a doca da nave, os motores estão conseguindo retardar a queda, mas o solo de fogo se aproxima. Rapidamente o capitão e uma das navegadoras são colocadas na pequena cabine e remotamente o Condor voa acima do inferno levando os sobreviventes.
Ao mesmo tempo, Thomas inicia o processo de construção do novo fighter, enquanto pilota o capitão até a segurança da prisão. Então, um alerta de colisão é acionado, os motores da Beluga falharam e ela encosta no solo derretido e começa a afundar. O novo Condor ainda não esta pronto. Thomas entra no meio dos braços mecânicos com a navegadora em seus braços, se acomoda no cockpit que já estava pronto, ainda a tempo de ver baixar o vidro da cabine. A lava começa a entrar na nave, explosões em sequência são ouvidas por trás das portas de emergência que se fecham enquanto a lava sobe. Toda a estrutura esta em colapso enquanto Thomas pousa o capitão e sua passageira no hangar da prisão. A lava invade o hangar, não há mais tempo... olhando para a navegadora em pânico, Thomas a abraça e sereno, olha para ela e sem saber o que fazer, pergunta seu nome, enquanto a lava termina de cobrir todo o pequeno fighter ... quando ela abre a boca para falar, ele escuta "fighter assembled"
Por fora, três Kelbacks de resgate pairam acima da cauda que ainda esta de fora da Beluga, quando, diante dos olhos incrédulos dos pilotos, uma cachoeira de lava se ergue e dela surge o pequeno Condor, dentro dele, um longo beijo revela, estão a salvos...