Meritocracia é uma palavra formada por “mereo” (ser digno, ser merecedor) e o sufixo grego “kratos” (poder, força). Ou seja, trata-se do alcance do poder através do merecimento. Segundo essa linha de pensamento, os objetivos são atingidos por aqueles que se dedicam e se esforçam em medida suficiente
É um pouco mais que isso. A origem e definição semântica da palavra possuem um significado mais complexo. Trazendo texto do presente artigo (
Meritocracia: origens do termo e desdobramentos no sistema educacional do Reino Unido):
"O significado do termo meritocracia é complexo, mas sua origem semântica é atribuída ao sociólogo inglês Michael Young, em seu ensaio distópico The Rise of the Meritocracy, publicado em 1958. “Por centenas de anos a sociedade tem sido um grande campo de batalha entre dois grandes princípios, o princípio da seleção por família e o princípio da seleção por mérito” (Young, 1967, p. 30, tradução nossa)6. O autor, com isso, introduz a noção de que a meritocracia é um sistema que está em oposição àquele dos privilégios aristocráticos. O texto reconstrói, pela narrativa de um personagem situado no ano 2033, os passos que levaram a Grã-Bretanha a mudar seu critério de organização social, sendo fiel aos fatos até 1958, porém vai além, imaginando o futuro de um sistema que tivesse o mérito como fator de organização social.
Nesta distopia as lideranças britânicas passam a considerar, por volta da década de 1870, que se fazia necessário um sistema capaz de selecionar entre as massas os indivíduos de maior mérito, pela conjugação de um alto coeficiente de inteligência e esforço individual, para ocuparem os cargos políticos e as profissões de maior impacto social. Até o ano de 2033 os testes tornaram-se mais eficazes, ao ponto de prever o coeficiente de inteligência dos indivíduos pouco após o nascimento, determinando assim o futuro de cada pessoa. O sistema ficou tão eficaz que criou um novo tipo de empregabilidade, com o trabalho sendo distribuído conforme tais coeficientes. A estratificação definida pelo poder econômico, antes balizada nos laços de sangue, era amparada agora no mérito da “igualmente excludente”.
O fim da narrativa descreve uma revolta social contra o sistema meritocrático cuja fonte é inusitada: segundo o personagem da obra, defensor do sistema, as classes baixas se revoltavam porque o sistema meritocrático atingiu uma eficiência elevada, que na interpretação de Allen (2011) é qualificada de “sociedade justamente desigual”. Para Allen, a conclusão de Young afirma uma espécie de justificativa técnica para as desigualdades entre os indivíduos e grupos. O sistema baseado no nascimento era injusto, de acordo com a narrativa, pois as diferenças surgiam das contradições sociais. Era impossível no novo sistema, porém, atribuir o insucesso às contingências, tudo se tornou responsabilidade direta do indivíduo. As classes superiores classificaram tal revolta como fruto de ressentimentos, e ao fim somos informados que o personagem morreu em um dos confrontos das grandes revoltas do ano de 2034."
Tal como apontado no trecho do artigo, o termo tem sido usado como justificativa do sucesso e insucesso das pessoas. É como se a responsabilidade dos altos e baixos de cada um dependesse apenas de si, o que é claramente uma inverdade.
Eu acho que as pessoas usam a palavra mérito do jeito errado. Mérito tem a ver com cumprir objetivos (no caso de um emprego, os requisitos). Não tem nada a ver com esforço, dificuldades.
A definição trazida por você está bem equivocada, meu caro. Segue a etimologia da palavra:
"É identificada no latim como merĭtum, interpretado como valorização ou reconhecimento, procedendo de meritus, como particípio passado do verbo merēre, por merecer, relacionado à expressão grega meiresthai, aludindo a que a pessoa tem o que le corresponde, sobre a raiz Indo-europeu *s-mer-, para receber ou levar."
Um exemplo de mérito clássico está associado à atletas dos jogos olímpicos, onde recebem as medalhas aqueles que, dentre todos os competidores, e através de seus
esforços, ficam entre os três melhores. Isso é mérito.
Cumprir objetivos, como você bem descreveu, remete à requisitos e não mérito.
Fonte.
A meritocracia, no seu significado social, tem a ver com merecimento, o que é bem diferente. É algo mais subjetivo, às vezes romantizado, e tem a ver com o conceito de justiça e igualdade de oportunidades.
Aqui você acerta na primeira frase, pois meritocracia tem sim a ver com merecimento. No entanto, nada tem a ver com "igualdade de oportunidades". E aqui há diversos erros, dos quais exponho abaixo:
1. O conceito de justiça citado por você é justamente o da desculpa utilizada por quem "vence na vida", quando tenta opinar do porque outro "não venceu". É comum encontrarmos justificativas que descrevam o esforço de alguém que alcançou a segurança financeira, por exemplo, como se àquele que não a tivesse alcançado tivesse deixado de se esforçar o suficiente.
2. Igualdade de oportunidades é, por essência, irrelevante. Nenhum ser humano é igual a outro, logo, é impossível haver igualdade entre nós. Em um exemplo prático, se você tem três pessoas com alturas diferentes e dispõe aos três uma caixa de tamanhos iguais (igualdade), a diferença ainda persistirá. Em outras palavras, ao contrário do que aparenta, a igualdade apenas mantém as desigualdades de cada indivíduo.
Um exemplo mais crível está na tributação sobre consumo, maior fonte de renda do Estado sobre a sociedade. Ricos e pobres pagam exatamente o mesmo valor sobre um produto. Aqui o conceito de igualdade está mantido, mas, na prática, o pobre acaba dispendo uma fatia proporcionalmente maior de sua renda para adquirir os mesmos produtos que um rico. Quer ver?
Digamos que uma pessoa receba R$ 15.000,00 e outra R$ 2.000,00, mas ambas gastam mensalmente a mesma quantia de mercado, no valor de R$ 800,00. Nesse caso, enquanto a primeira consome apenas 5,33% da renda para alimentação, a segunda gasta 40%, um aumento de praticamente 8x.
A tributação sobre consumo segue o princípio da igualdade que você trouxe, mas, conforme explicado acima, ela apenas mantém as desigualdades de cada um. Talvez o que você tenha tentado trazer fora o conceito de equidade, que possui como princípio a distribuição de oportunidade conforme a necessidade de cada indivíduo. Os que possuem vantagem acabam recebendo menos auxílio daqueles que possuem menos vantagem.
Imagem ilustrativa: