Queria compartilhar minha trajetória profissional com os colegas. Iniciei minha carreira como estagiário em uma usina de açúcar no interior de São Paulo. Contra todas as expectativas, fui o último selecionado para um grupo de estágio remunerado. Admito que cometi erros no início, como não aprimorar meu inglês e não buscar estágios adicionais durante as férias. Mesmo sendo um estudante dedicado e com boas notas, percebi que isso não é tudo quando se entra no mundo corporativo.
Ainda assim, dei o meu melhor na usina. Foram sete anos intensos, de muito aprendizado, principalmente em gestão de pessoas – algo que, na minha visão, só se aprende na prática. Em meio a esse período, passei por cinco gestores diferentes. O setor é dinâmico, e uma simples divergência no planejamento pode resultar em uma troca de comando.
Em meu último posto na usina, enfrentei desafios éticos com um gestor que tentava favorecer certos fornecedores. Mantive minha integridade, priorizando sempre a qualidade e transparência do meu trabalho. Felizmente, um fornecedor externo notou meu empenho e me ofereceu uma proposta irrecusável em vendas técnicas. O salário era o dobro, e as oportunidades, vastas.
Ao longo desse período, iniciei meu mestrado e conheci minha esposa. A.partir de sua gravidez, senti a necessidade de buscar um emprego mais estável e próximo à nossa família. No entanto, encontrei resistência no mercado. Muitas empresas pareciam desconfiar da minha vontade de mudança de setor. Assim acabei precisando aceitar posições inferiores ao meu padrão anterior, tudo em prol da família.
Entrei numa multinacional de uma cidade pequena, onde o custo de vida era baixo, mas a estrutura praticamente inexistente. Apesar do salário ser metade do que eu ganhava antes, havia um equilíbrio, principalmente por estarmos perto da família, o que diminuía nossos gastos com viagens.O desafio? Trabalhar em turnos e a falta de infraestrutura. Imagine precisar viajar quilômetros para serviços básicos.
Mas com um filho recém-nascido, isso não era inicialmente um problema. No trabalho, dei o meu melhor. Era visivelmente proativo, e frequentemente me sobressaía. No entanto, mesmo tendo as qualificações, fui passado por alto em algumas oportunidades internas. Essa falta de reconhecimento, depois de um tempo, desmotivou-me. Curiosamente, enquanto a empresa não me valorizava eu comecei a receber propostas de outras empresas via LinkedIn, sem estar enviando nenhum currículo. Até que uma dessas ofertas trouxe o que eu estava procurando: uma posição melhor, em horário comercial, numa cidade com boa infraestrutura e com um salário muito melhor. Aceitei sem hesitar.
Ao comunicar minha saída, descobri que, de certa forma, me viam como insubstituível na posição que eu estava, e era mais facil, na visão deles, trazer gente de fora para ocupar as vagas em horário administrativo e com salários maiores (e olha que eu ja tinha 02 sucessores treinados que faziam muito bem as minhas ferias e folgas). Ironia, né?
Na outra empresa comecei a todo o vapor, sendo muito respeitado e conseguindo melhorar a produtividade e as condições de trabalho do pessoal.
Vinha tudo bem até que algo inesperado aconteceu. No auge da minha carreira no setor privado, recebi o telegrama de convocação para a Petrobras. Para qualquer engenheiro, é o sonho. Sabia que, eventualmente, as propostas do setor privado diminuiriam com o avanço da minha idade, então agarrei essa chance com ambas as mãos.
Muitos dos meus colegas entrantes são acadêmicos sem experiência na área, enquanto eu trago ambos: academia e experiência. E isto esta abrindo horizontes para mim. Embora tenha trilhado um caminho diferente deles, não me arrependo e sei que se não fosse tudo o que passei não teria chegado aqui.
E como um conselho para o pessoal que está no início ou no meio do caminho, dediquem-se sempre. Não se limitem a uma só empresa ou setor. Busquem ser interessantes para o mercado, invistam em aprendizado contínuo e evitem mudar de emprego frequentemente. Tenho notado que muitos dos novos estão fazendo isso e pode não ser benéfico a longo prazo. Obrigado por lerem até aqui e espero que minha história inspire ou ajude alguém de alguma forma!