JESUS HISTÓRICO
JOSEFO
Flávio Josefo (c. Jerusalém 37 ou 38 – Roma c. 100 ou 103) é um conhecido historiador judeu do século I.
Nesse link há para downlaod o livro de Flávio Josefo, " A História dos Hebreus", em português.
Filho Varão- Alegrete,RS
o historiador Flávio Josefo, tem duas citações que falam de Cristo, ou Jesus:
"(...) trouxe diante dele o irmão de Jesus, o que era chamado Cristo, cujo nome era Tiago e alguns outros (...)"
Antiquidades Judaicas, (XX, 200), Josefo apresenta Tiago, irmão de Jesus, chamado o Cristo.
Poderia falar sobre essa citação "irmão de jesus", mas não é caso agora. Sobre essa frase de Josefo, Gerd Thiessen e Annette
Merz, no livro "O Jesus Histórico, um Manual" (fl. 85)", dizem:
"A autenticidade da passgem pode ser dada como certa, é improvavel que tenhamos uma interpolação cristã"
Apontam como motivo, o fato do texto estar bem ligado ao contexto, não há interesse da passagem em Jesus, e o termo "tou legomenos Christos" (que e chamado Cristo) "não implica aprovação ou dúvida (cf. Mt: 1:16). O cognome "Cristo" aparece apenas para diferenciar Jesus das inúmeras pessoas com o mesmo nome".
Thiessen, em nota de rodapé, escreve (fl. 85):
"A autenticidade é aceita pela maioria dos pesquisadores, com uma excessão: E. Schürer, Geschichte I (4 edição, 1901), 581"
Um interpolador cristão dificilmente ficaria satisfeito com uma referência tão breve e neutra em relação a Jesus.
Além disso, J.P.Meier (Um Judeu Marginal, Vol I) apresenta outro argumento,
"em nenhum lugar da literatura extra-canônica (NT, Apócrifos, Nag Hammadi, Pais da Igreja) pré Origenes, existe há expressão "Tiago, irmão de Jesus, que é chamado Cristo". Sempre é "Tiago, o irmão do Senhor", Tiago o Justo, ou o irmão do Salvador, ou Tiago de Jerusalém. Um interpolador tende a usar padrões encontrados em escritos anteriores.
Por fim, Mueller, apresenta outro argumento, Origenes, citou a referência no início do sec. III, que é uma evidência textual de primeira ordem. Além disso, Origenes e outros pais citam a passagem bem mais embelezada (que tinha "Tiago o Justo", "um homem distinto por sua justiça" e diz que alguns acreditavam que a queda de Jerusalem foi por sua morte!!!!). É estranho que um interpolador não fosse direto para essa versão, muito mais "interessante" . E porque um interpolador (e os escribas que o seguiram) faria a passagem "bater de frente" com Hegesipo, Origenes, Eusebio, Jerônimo que disseram que Josefo disse, que os judeus diziam, que a queda de Jerusalém foi por causa da morte de Tiago? O fato da passagem estar como está hj, é forte argumento para sua autenticidade.
Mas a mais polêmica é a segunda passagem:
"Havia neste tempo Jesus, um homem sábio, se é lícito chama-lo de homem, porque ele foi o autor de coisas admiráveis, um professor tal que fazia os homens receberem a verdade com prazer. Ele fez seguidores tanto entre os judeus como entre os gentios. Ele era o Cristo. E quando Pilatos, seguindo a sugestão dos principais entre nós, condeno-o à cruz, os que o amaram no princípio não o esqueceram; porque ele apareceu a eles vivo novamente no terceiro dia; como os divinos profetas tinham previsto estas e milhares de outras coisas maravilhosas a respeito dele. E a tribo dos cristãos, assim chamados por causa dele, não está extinta até hoje."
("Antiguidades Judaicas", livro 18, capítulo 3, item 3, escrito em 93AD em grego.)
Sobre ela, temos diversas afirmações:
Peter Kirby cita Louis Feldmann (considerado uma das maiores autoridades em Josefo vivas), no link
Testimonium Flavianum
que analisou a literatura relevante sobre Josefo entre 1937 e 1980, em seu livro "Josephus and Modern Scholarship", e relata que dos 52 estudiosos que analisaram o Testemunho Flaviano no periodo, 4 o consideraram totalmente autentico, 13 como totalmente falso e 35 como parcialmente autêntico, fazendo uma contagem de 39 a 13 de que Josefo escreveu algo sobre Jesus nessa passagem.
O prórpio Kirby, "completa" o trabalho de Feldmann, de 1980 até 1996, dizendo que em sua própria leitura, o "placar" estaria em 10 a 3 para a autencidade parcial. Christopher Price
Did Josephus Refer to Jesus chega a um "placar" parecido, 15 a 1 para autenticidade parcial.
Thiessen e Metz dizem: "Nem os argumentos a favor da autencidade, nem os favoráveis à tese da interpolação são convincentes.
Os primeiros explicam de forma insuficiente os aspectos cristãos, os últimos não fazem justiça ao fato de que há claras ressonâncias da terminologia de Josefo no texto" (Jesus Histórico, um Manual, fl. 88-89).
Já Steve Mason, um dos principais estudiosos em Josefo no mundo, aponta a existência de variantes do texto, bem mais contidas, em Jerônimo, Miguel o Sirio, Agapio entre outros, que reforçam a hipotese de um texto de Josefo pré existente, que foi "cristianizado".
Mais interessante, é o estudo de J.P Meier em seu livro "Um Judeu Marginal", Ed. Imago, 3a. Ed., 1993, que propõe uma versão do Testimonium que é hoje é considerada a mais aceita:
"Por este tempo apareceu Jesus, um homem sábio, por que ele fazia feitos incríveis, um mestre de pessoas que recebiam a verdade com prazer. Ele ganhou muitos seguidores entre judues e gregos, e quando Pilatos, a sugestão dos nossos líderes, o crucificou, aqueles que o amaram não deixaram de faze-lo, e até esse dia a tribo dos cristãos não cessou de existir"
Poderia colocar todo o capítulo 3 desse livro de J. P. Meier, mas vou colocar apenas sua conlusão final:
"Pode parecer que, dedicamos muito espaço a uma passagem relativamente pequena, porém sua importância é imensa. Em conversas com jornalistas e editores que em várias ocasiões me pediram que escrevesse sobre o Jesus histórico, quase invariavelmente a primeira pergunta que ocorre é: mas é possível provar que ele existiu? Se eu puder reformular esta questão genérica para torná-la mais específica, ou seja, “Há alguma evidência extra-bíblica no século I A.D. quanto à existência de Jesus?”, então creio que, graças à Josefo, a resposta é sim. A simples existência de Jesus está demonstrada na breve e neutra referência no relato da morte de Tiago no Livro 20. O mais extenso Testimonium, no Livro 18, nos mostra que Josefo no mínimo tinha conhecimento de alguns fatos notáveis da vida de Jesus. Independente dos Quatro Evangelhos, embora confirmando sua apresentação básica, um judeu que escreveu nos anos 93-94 nos conta que sob o governo de Pôncio Pilatos (o contexto mais amplo de “naquele tempo”) – portanto entre 26-36 A.D. surgiu no cenário religioso da Palestina um homem chamado Jesus com uma reputação de saber que se manifestava na realização de milagres e nos seus ensinamentos. Conquistou muitos adeptos, mas (ou por causa disso?) os líderes judeus o acusaram perante Pilatos. Este mandou crucificá-lo, porém seus ardorosos seguidores recusaram-se a renunciar à devoção que lhe dedicavam, a despeito de sua morte indigna. Os cristãos, assim denominados por causa desse Jesus (que é chamado Cristo), continuaram a existir até os dias de Josefo. O tom neutro ou ambíguo, ou talvez um tanto desdenhoso, do Testimonium é provavelmente o motivo pelo qual os primeiros cristãos (em especial os apologistas do século II) mantiveram silêncio sobre essa obra, motivos das queixas de Orígenes, segundo as quais Josefo não acreditava que
Jesus fosse o Cristo, e o que levou algum interpolador, ou mais de um, a acrescentar afirmações no final do século III.
Quando, nos lembramos de que estamos à procura de um judeu marginal, numa província marginal do Império Romano, é surpreendente que um judeu mais proeminente do século I, sem qualquer ligação com os seguidores desse judeu marginal, tenha preservado uma descrição resumida de “Jesus que é-cognominado-Messias”. No entanto, quase ninguém estranha ou se recusa a
acreditar que, no mesmo Livro 18 das Antiguidades Judaicas, Josefo tenha decidido fazer uma descrição mais longa de outro judeu marginal, outro peculiar líder religioso da Palestina, “João, denominado o Batista”. Felizmente para nós, Josefo tinha um interesse mais do que apenas superficial por judeus marginais".
MEIER, J.P. "Um Judeu Marginal - repensando o Jesus Histórico". 3a. Edição. Editora Imago, 1993, RJ. Capítulo 03
Concluindo, a maior parte dos estudiosos atualmente rejeita tanto a idéia de que o Testemunho Flaviano é TOTALMENTE falso ou totalmente verdadeiro. A maioria crê que é um texto autêntico com algumas interpolações. Este ponto de vista é defendido não só pelo Meier, mas também pelo Crossan e N.T. Wright, estudiosos que representam um espectro amplo das posições no debate do Jesus Histórico.
Minha opinião: Embora possa existir interpolações cristãs, Josefo fala sim de Jesus em seus escritos, não como um crente, mas como um historiador. O que é surpreendente, afinal, porque colocar um texto falando de Jesus onde não existia nada? Mais sensato crer que foi-se adicionado "elogios" à jesus em sua passagem original de Josefo.